domingo, 13 de julho de 2014

A regra é perder.

      Já ouvi muitas vezes dizer que o futebol é coisa mais importante entre as coisas desimportantes, e talvez seja mesmo, pois movimenta anualmente milhões de pessoas e bilhões de dólares, trazendo consigo uma indústria que emprega e paga impostos, mas como em todas as atividades existe o lado ruim, a desonestidade e a corrupção. Ainda que tenha a relativa importância, o futebol é apenas isso, só mais um esporte. Entendo que o esporte de competição, dentro de suas regras, é a atividade que tornou civilizado o comportamento belicoso do ser humano. Ao invés das guerras, das matanças e das caçadas, disputa-se alguma bobagem com regras estabelecidas e, supostamente, condição inicial igual para as partes.


      Eu gosto de esportes e apóio as competições, inclusive a própria realização da copa do mundo no Brasil. Vejo que em qualquer atividade esportiva a regra é perder. Perde-se sempre. Perde-se muito. Qualquer campeão, por melhor que seja, e por mais longevo que se torne, perdeu e perdeu muito. Perdeu no início da carreira, perdeu durante os períodos de glória e perdeu em seu ocaso. Também perdeu outras oportunidades enquanto se preparava e sofreu. Sofreu muito. Para ser campeão é preciso treinar, e treinar dói. Treinar cansa, treinar enjoa e quem treina sofre. O melhor sempre será o alvo, ganhar do melhor é o troféu que ou outros almejam, e o melhor, mais cedo ou mais tarde, fracassa. Assim, não é possível dizer que há o melhor, mas apenas dizer que há alguém que está melhor.

      Há muito as competições esportivas de alto nível deixaram de ser feitas apenas com paixão, hoje há ciência, há planejamento. Não há mais espaço para o “jeitinho”, para a malandragem. Nome não ganha jogo e talento só não basta. Às vezes, e em poucas oportunidades, e em competição individual, um talento pode superar outro de mesmo nível porém mais preparado, mas em competições por equipe é difícil que isso ocorra. A competência e a determinação supera o talento puro e a fama.

      Em qualquer competição as regras são feitas para que haja um campeão, mas no fundo ela diz que a regra, aquela que vale mesmo, é perder. Na copa do mundo são 32 equipes e somente uma será a vencedora, logo, são 31 perdedores. Assim, perder faz parte do jogo, aliás, esse é o próprio jogo, pois ganhar é que é a excessão. O problema não é, portanto, perder, o problema é como se perde. Perder sem lutar, perder sem determinação, perder sem preparo, isso sim é humilhante, e esse foi o retrato da nossa seleção, naquela que deveria ser a nossa consagração. Ganhar o sexto título em um campeonato feito em nossa terra. Fomos mal em todos os jogos iniciais e péssimos nos dois finais.

      Não adianta ficar discutindo de quem é a culpa, pois sempre em nossa cultura, depois dos desastres aparecem os engenheiro de obra pronta, aqueles que já previam, os que tudo sabiam, e os que, com nada, concordavam. Há os que tinham as receitas mas que não foram ouvidos e os que ficaram de fora e queriam ter estado lá, pois, “comigo seria diferente”. Todos esses podem estar certos, estar errados, ou qualquer mistura disso, porém o fato é: em alto nível não dá para improvisar. Ou se estuda, se prepara e se planeja, ou fica de fora para não ser humilhado.