terça-feira, 30 de novembro de 2010

Na sua casa.

      Pessoas não são boas ou ruins simplesmente por serem pessoas, mas as pessoas moldam as suas personalidades de acordo com fatores genéticos e sociais que, ao longo do tempo, determinam o seu comportamento, e, como a água, sem barreiras para bloqueá-las, as pessoas expandem os seus limites. Deriva daí a necessidade de se criar regras para a convivência em grupos. Não há como atender a todos em tudo, e muitos deixam de serem atendidos, em muitos casos, em suas básicas necessidades, em outros, em caprichos. A insatisfação, seja por um ou outro motivo, às vezes faz com que comportamentos sejam radicalizados tornando pessoas oponentes da convivência civilizada, seja por distorções apenas morais ou também por coerção física, e nesse caso, resultando em violência. Nessa categoria encontram-se todos os envolvidos com a criminalidade, seja ela ligada ou não ao tráfico de drogas, e para combatê-los há o chamado estado de direito, que detém o poder de polícia e o seu respectivo departamento de justiça.

      Há uma comoção geral na imprensa sobre a ocupação de favelas e ações policiais que há pouco mais de uma semana enfrenta, com notadas vitórias, a bandidagem carioca. O balanço das operações mostra números superlativos de apreensão de drogas, armas e de delinquentes além de dezenas de mortes, sem dúvida trata-se de uma vitória para um estado desacreditado, que se via obrigado a pedir licença aos bandidos para fazer obras de infraestrutura nas favelas, situação que se mostrava extremamente vexatória. No entanto, tal cenário nos remete a alguns questionamentos. Como tal situação se estabeleceu? Como um poder paralelo pode atuar durante tanto tempo se, como se viu, uma ação para desalojá-los não foi nenhum bicho-de-sete-cabeças e que em uma hora estava concluída? Claro que foi com a conivência de autoridades corruptas e com membros da própria sociedade, que não vêem em delitos menores conexões com o crime organizado.

      Quando se compra um CD pirata, se faz um download não autorizado, ou até mesmo compras no comércio regular sem a devida emissão da nota fiscal, está se alimentando o crime. Não é possível se passar por inocente quando se sabe que em nosso país a carga tributária é escorchante, o que faz com que nossos produtos sejam caros, logo, se algo tem um valor muito baixo de revenda, é de suspeitar que algo está errado, e sim, algo está errado. Quem participa desse tipo de ação pode estar economizando míseros reais no curto prazo, mas está pagando muito caro durante toda a vida, pois o custo para manter uma máquina policialesca é alto, e a manutenção da população carcerária é exorbitante.

      Pior ainda é o caso daqueles que direta ou indiretamente estão ligados ao consumo de drogas ilícitas, pois além de porem em risco a própria saúde e pendurar parte dessa conta para toda a sociedade, está financiando o tráfico diretamente. Não dá para passar a mão na cabeça de um usuário só porque ele é legal, pois o fornecedor dele pode um dia vir a balear alguém da sua família. Aquele necessita de tratamento e não adianta pregar a ladainha que deveria haver campanhas de prevenção, clínicas públicas de recuperação, pois esperar esses benefícios de uma cadeia de governo que não consegue distribuir água e fazer rede de esgotos é tapar o sol com a peneira, tais pessoas precisam é da ajuda da própria família. É fácil constatar que a maior parte dos criminosos vem de famílias pouco estruturadas, mas grande parte dos financiadores faz parte de famílias regularmente constituídas, instruídas e com um relativamente alto poder de consumo, assim, não é apenas em sua estrutura a deterioração da família, mas, principalmente, em seus valores. Enfim, a solução não está apenas nas ações do estado ou da polícia, esses podem ser os pilares, mas a base está em sua casa.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Live & Let Die

      Eu ia descrever em detalhes a viajem que fiz para assistir ao show do Paul McCartney no Morumbi em São Paulo, e desde que saí de casa comecei a elaborar mentalmente um texto com todos os detalhes dos acertos e de todas as dificuldades: comprar ingresso, planejar a logística, tempo de espera e cansaço, sono, fome, sede, falta de banheiros e coisas assim, mas depois de assistir ao show todos esses detalhes se tornaram desimportantes. No Brasil a pontualidade britânica atrasou 5 minutos, mas no total foram 2:45h de boa música, equipamentos de boa qualidade, interpretação impecável e participação maciça da plateia.

      Paguei para assistir a uma pessoa cantando e ouvi 64.000. E esses não cantavam apenas o refrão, cantavam completamente todas as músicas; eu devia ser o único que não conhecia todas as letras. Dos 8 aos 80 anos, de todos os cantos do país e de alguns países vizinhos, de todos os tipos, de todas as tribos e sem confusão, esse foi o público presente. Apesar dos aproveitadores de sempre, como cambistas – Compro e vendo ingresso, dos ambulantes que vendiam produtos piratas como camisetas oficiais com fotos horríveis de outras turnês, dos tradicionais churrascos de filé Miau e dos vendedores de cerveja que fugiam do “rapa”, dentro do estádio foi tudo tranquilo, lógico que com preços superfaturados, como uma garrafa de meio litro de água por 3 reais, a cerveja em lata, quente, que não tomei mas meu sobrinho sim, por 5 reais, o mesmo preço do amendoim, do Doritos ou da batata frita.

      Fiquei longe, para mim o Paul é menor que o Nelson Ned, mas os dois telões tinham boa definição para aquela distância. Vendo do alto, os únicos locais onde não havia pessoas eram atrás do sistema de torres que suportava a iluminação e da cabana que abrigava as câmeras da Globo, de resto, o estádio estava tomado, e como diz a Renata, era até bonito de se ver. Eu nunca havia assistido, ao vivo, a um show dessa proporção, sempre os vi pela TV, DVD ou internet, e ouso dizer que a estrutura, apesar de compatível com a dimensão desse show era simples, o sistema de som também, mas todos eram corretos e funcionaram perfeitamente. A única falha foi do próprio artista que depois do segundo bis se despediu do público do nosso lado, correu para o extremo oposto do palco e fez o mesmo, pegou uma bandeira do Brasil e correu para o centro, mas nesse momento canhões jogavam papel picado e iluminado por luz verde e o Paul tropeçou, escorregou, derrubou a bandeira e caiu de barriga. Eu vi em tempo real a queda de um Beatle de 68 anos! Ele se levantou fez um aceno de positivo, apagaram-se as luzes e fomos todos embora.

      Acredito que ninguém tenha ido até lá para assistir a um Paul McCartney da carreira solo, tenho a impressão que todos foram para ver um dos líderes da banda mais famosa do mundo e por isso suponho que ele mesclava músicas das duas fases, sendo que no final do show só deu Beatles. Ele abriu cantando Venus and Mars seguida de Rock Show, Jet e o público adorou, e na sequência tocou All my Loving e o estádio tremeu de maneira alucinante com um hit de 40 e tantos anos. Em apenas uma música Live & Let Die, houve efeitos especiais, que se resumiram a um também correto número com fogos de artifício, porém nas demais teve apenas o ídolo cantando e tocando violão, guitarra, contra baixo, bandolim, creio eu, e piano. A banda era composta por apenas 4 instrumentistas, mas o resultado foi sensacional.

      Acho que o melhor elogio que posso fazer ao show é dizer que para colocar em êxtase todo o público o Sir Paul McCartney só precisou tocar e cantar, ao contrário de todos aqueles que conhecemos que necessitam de extrema pirotecnia, como pintar o corpo e o rosto, utilizar roupas estapafúrdias, arrancar cabeça de galinha com os dentes, jogar sangue na plateia, se atirar sobre o público ou quebrar a guitarra no palco. Eu que tenho a mesma idade e segui a carreira de dois também Mega Stars: a Madonna e o Michael Jackson, posso afirmar sem medo de errar, somados, os dois não são a metade do que foram os Beatles, e se há uma possibilidade de se equiparar ao McCartney, apenas o John Lennon, se esse ainda vivesse.

      Que inveja de quem tinha ingresso para o show da segunda-feira!

      Gravei esse video com câmera fotográfica amadora, com zoom limitado, com o ruído do público e trepidação minha, da arquibancada e esbarrões. Live & Let Die.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Conhecimento.

      Já comprei algumas brigas que não eram minhas, mas o fiz em situações em que pessoas simples estavam em desvantagem, pois os supostamente esclarecidos exerciam a sua deseducação para sobrepor-se aos primeiros, então desde cedo percebi a importância do conhecimento, da informação bem processada e da educação geral. Apesar de estar sempre buscando o conhecimento, formulo algumas teorias que se não são científicas, pelo menos, para mim, é cômodo acreditar nelas, e uma dessas é sobre a duração da vida.

      Suponho que para um grupo geneticamente avantajado o tempo de vida do indivíduo é determinado na concepção e não é possível, com a tecnologia atual, aumentá-lo, mas para reduzi-lo é muito fácil, cada atitude errada tem o seu peso, assim: é fumante, alguns anos a menos, é alcoólatra, reduz mais um pouco, usa outras drogas lícitas ou não, tira mais um pouco, e assim sucessivamente. Há, porém, um grupo que pode desenvolver alguma doença determinante, seja por transmissão genética ou por exposição a alguns fatores de risco, como câncer de pele, de mama ou de próstata, que se não forem precocemente detectadas podem levar a óbito, mas com a qualidade dos exames, dos diagnósticos precisos, das intervenções cirúrgicas e tratamentos de qualidade, podem estender, em muito, o período de vida.

      Esse tipo de enfermidade sempre aparece como coisa de cinema, novela ou noticiário, e parecem ser daqueles casos que só acontecem com os outros, mas muitas vezes o outro pode estar muito próximo. Em 2005, com 47 anos, a minha esposa teve o diagnóstico de câncer de mama que era do tipo carcinoma ductal incito, que foi descoberto após exames de rotina e detectado pela habilidade da sua médica. Obviamente depois do susto e dos questionamentos foi realizado o tratamentos, as reconstruções e acompanhamentos, e agora, cinco anos depois, a vida segue. Há duas semanas, também com 47 anos, minha irmã teve o mesmo diagnóstico e está seguindo o mesmo roteiro. Ontem foi feito o agulhamento e hoje pela manhã a primeira cirurgia, aquela que os médicos denominam quadrante, e a próxima etapa será a radioterapia.

      Como esse tipo de doença não se escolhe, pois é a doença que te escolhe, o que se deseja é que seja eliminada, e vale aqui ressaltar a importância dos exames de rotina e lembrar que sim, todos estamos sujeitos, e apesar do constrangimento de certos exames, para quem deseja viver por mais algum tempo e ter, nesse período, boa qualidade de vida, o diagnóstico feito precocemente simplifica os procedimentos além de torná-los mais baratos. E mesmo que o conhecimento não sirva para nada em muitas situações, nessa vale, e muito.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

As provas da lei.

      Há poucos dias vi uma notícia a qual dizia que o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a um motorista que havia se negado a fazer o teste de dosagem alcoólica utilizando o argumento que ninguém está obrigado a produzir provas contra si mesmo. Depois de ter perdido em todas as instâncias inferiores ele obteve a decisão favorável do Supremo, o que pode agora se tornar jurisprudência, assim, todos os bafômetros adquiridos pelos estados podem ser jogados fora. A despeito do gasto inútil, a maior perda reside na qualidade da sociedade que está sendo criada, pois se os direitos individuais estão sendo mantidos, a impunidade está sendo agravada. Os doutos ministros da maior corte nacional podem ter entendido que o cidadão está protegido, mas a sociedade não está, pois não é difícil encontrar casos e mais casos de acidentes automobilísticos causados por pessoas embriagadas. Por outro lado, é difícil encontrar algum motorista embriagado que tenha causado um acidente e que tenha sido condenado por isso. Como é possível justificar isso a uma família que tenha sido vítima?

      Uma das manchetes de hoje é totalmente distinta, mas trilha pelo mesmo caminho. O deputado federal eleito com a maior votação no país, o Tiririca, se negou a fazer o teste grafotécnico que iria livrá-lo de um processo de entrega de documento falso ao Tribunal Regional Eleitoral utilizando a mesma alegação. Como o então candidato não apresentou provas de sua escolaridade como exige a lei para que a sua candidatura fosse homologada, ele apresentou uma declaração, supostamente de próprio punho, de que não é analfabeto, e a promotoria quer provas de que o documento tenha sido por ele produzido. Por ter se negado a reescrever o texto o deputado eleito foi submetido a um exame simples perante um juiz, onde escreveu o seguinte texto: “A promulgação do Código Eleitoral, em fevereiro de 1932, trazendo como grandes novidades a criação da Justiça Eleitoral”. Segundo o Promotor Maurício Antônio Ribeiro Lopes, de cada 10 palavras escritas o deputado errou 9, e segundo a imprensa, o Tiririca teria lido e comentado as seguintes manchetes de jornal: "Procon manda fechar lojas que vendem produtos vencidos" e "O tributo final a Senna". O absurdo é que para produzir essas pérolas foram necessárias mais de 12 horas de audiência, evidentemente pagas com o nosso dinheiro.

      Como já manifestei anteriormente, não tenho nada contra o Sr. Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, aliás, nem o conheço e até posso acreditar que ele seja uma boa pessoa, que tenha bons valores, que possa contribuir construtivamente na elaboração das nossas leis, mas com certeza esse não é um bom começo, e nem é isso o que estou discutindo, está em questão a qualidade e o cumprimento da lei.

      Se o próprio Supremo desautoriza as instâncias inferiores considerando irregular a obrigatoriedade da submissão ao teste do popular bafômetro nos casos de suspeita de embriaguês, e o TER dispensa o deputado de submeter-se à perícia, eles assim procedem de acordo com as próprias leis, ou seja, essas, da maneira como estão redigidas, não estão cumprindo o seu papel e o seu benefício é unilateral, pois se elas valem para inocentar os suspeitos, não servem para defender a sociedade. Essa baixa qualidade é o retrato do nosso congresso que as produzem, justamente onde quer estar no próximo ano o Tiririca, cuja estreia não poderia se dar de maneira pior, pois se hoje ele é uma autoridade eleita, deveria dar o exemplo sendo o primeiro a cumprir a lei. Não posso e nem aceito ser representado por quem não respeita as leis que eles mesmos produzem.

      E o Enem? Nem me diga!

domingo, 7 de novembro de 2010

Quatro motivos para não gostar do SAAE.

      Quando pensei em escrever esse artigo eu tinha apenas dois motivos para não gostar do SAAE, mas depois de visitar-lhe, ainda que superficialmente, a web page, as razões elevaram-se a quatro. Tenho até medo de inteirar-me de todos os detalhes, pois se o cheiro já não é bom, imaginem a substância. SAAE e o acrônimo da autarquia municipal do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Carlos, cuja especialidade é fazer o mesmo serviço várias vezes além de esburacar as já mal cuidadas ruas da cidade.

      As mountain bikes são confortáveis, possuem suspensão, pneus macios com apenas 40 libras de pressão, e são construídas para percorrer trilhas, passar por buracos e dar alguns saltos, já as speeds são projetadas para atingir alta velocidade, são duras, pneus com 100 libras, freios ruins e pouca aderência, logo, para provocar queda, uma pequena irregularidade no terreno é suficiente, e isso é o que não falta em São Carlos, pois o SAAE, travestido de agente de trânsito, se encarrega de reduzir a nossa velocidade. Aconteceu na minha rua o que se vê em toda a cidade. A prefeitura concluiu o serviço de recapeamento em uma sexta feira e na terça o SAAE já tinha aberto um buraco em toda a largura da rua, a poucos metros da minha casa. E o serviço é padrão: interdita-se a rua, utiliza-se ferramentas de cortes, de perfuração, de escavação, empesteia-se de lama o local e mais umas duas quadras à frente, coloca-se terra, deixa-se que os carros façam a compactação e depois aplica-se uma camada asfáltica vagabunda com uma compactação pior ainda que deixa um caroço no asfalto, e que após as primeiras chuvas já começa a perder as bordas. Dessa maneira, caroço após caroço, transitar de speed, além de arriscado, gera dor de cabeça de tanto chacoalhar o cérebro. Está bem, esse público é minoria, mas o que falar dos carros? Um carro que tenha apenas um ano de uso nesse piso dá a impressão que ira desmontar, pois a partir de 40 km por hora apresenta toda a sorte de ruídos e não ha encaixes ou fixações que resistam. O SAAE além de não nos deixar divertir ainda acaba com o nosso patrimônio.

      Quando temos que refazer algum trabalho costumo perguntar aos meus colegas se nós aprendemos a trabalhar no SAAE, pois esse, de cada quatro buracos que fazem nas ruas, três são em locais onde já haviam sido esburacados. Das duas uma, ou a rede subterrânea está podre e a administração não toma a decisão correta de refazê-la ou o serviço de manutenção corretiva é de péssima qualidade. Além do que, o tempo de resposta a um problema é longo. A rua à frente da minha casa é plana, mas as laterais são bastante inclinadas, e em uma delas, a umas 3 quadras acima da minha surgiu um vazamento. Dez dias depois ainda havia uma forte correnteza passando pela esquina. Adivinhem como ficou o local do vazamento após esse ter sido consertado. Adivinhem também se não quebraram no mesmo lugar onde isso já havia ocorrido. A aposta agora é quanto tempo se passará até que um novo vazamento venha ocorrer naquele local.

      Esses foram os meus desapontamentos iniciais, mas vendo o balanço financeiro da empresa, concluí que 81milhões de reais é compatível com o serviço em uma cidade com cerca de 230 mil habitantes. Quatrocentos e vinte e dois funcionários efetivos me parece ser pouco para fazer todo o trabalho, o que justifica o longo prazo para a solução dos problemas, 14 funcionários afastados por licença médica e licença gestante, OK, normal, mas 39 aposentados por invalidez, não sei avaliar, talvez haja alguma explicação plausível, no entanto, 88 funcionários comissionados! Imperdoável, um descalabro! A cada 5 contratados para trabalhar tem um contratado para receber. Não bastaria que os diretores e uns dois assessores para cada diretoria fossem nomeados? Um grupo executivo com cerca de 10 pessoas já seria suficiente, e não há nada no mundo que justifique moralmente essa quantidade de apaniguados. Para mim isso é revoltante.

      Verificando o fluxo de caixa vi um pagamento de R$ 326 mil reais para uma agência de publicidade sob a rubrica "propaganda", mas para que? Essa empresa é a única concessionária do serviço público na cidade, não tem concorrência, logo, qualquer cidadão que deseje a conexão à rede de água ou esgoto deve a ela se dirigir, além disso não há nenhuma campanha educativa em andamento, qual seria o real motivo da tal propaganda? Eu nem considero a tarifa tão cara assim, costumo gastar muito mais com supérfluos do que com esse serviço essencial, mas quando assim o faço, eu tomo a decisão e uso o meu dinheiro, mas não os autorizei a utilizar o também meu dinheiro dessa forma. O que realmente houve eu não sei, mas que isso tem cheiro de campanha política, isso tem.

      Ainda que a qualidade da água seja boa, o que é obrigação, e que está em início de operação a usina que irá tratar 100% do esgoto doméstico, aliás, o que já não era sem tempo, o que se discute é a qualidade dos demais serviços e a qualidade administrativa, está faltando respeito para com aqueles que pagam a conta e que são, em última análise, os donos da empresa, ou seja, nós, a população.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Exagerado.

      Exagerado, talvez esse seja um termo que me define bem, pois possuo a chatice dos virginianos e, como diriam os mais polidos, a intensidade dos escorpianos, característica que descrevo mesmo como exagerado. Mesmo em minhas relações sociais, pessoais e profissionais não há meio termo, se gosto, gostar é pouco, eu amo, se não gosto, desgostar é muito pouco, eu odeio. Quando resolvi estudar matemática eu poderia ter me contentado com a licenciatura, mas para mim não bastava, fui fazer o bacharelado, onde já se viu, eu? Na licenciatura? Isso é pouco para mim! Pois sim, quase entrei pelo cano. Estive a um passo da desistência, decisão que cheguei a tomar, mas voltei atrás graças à Adriana, que foi um anjo salvador, além de me fazer mudar de ideia, me ensinou, e assim consegui concluir. Exemplos como esse transbordam em minha vida, e hoje não foi diferente.

      Faz um ano que comecei a pedalar, saí do zero, comprando uma boa mountain bike e me preparando para o caminho da fé, aliás, o que fiz bem, mas só trilhas, é pouco, é social demais, grupos, passeios, fotografias, não me bastava, comprei uma speed que é para treinar sozinho, correndo, se possível voando. Comecei a andar relativamente bem, mas não basta, troquei várias peças para obter melhor rendimento e estou conseguindo, mas tempo com a bunda no selim e pés nos pedais também conta muito, por isso eu estava angustiado, queria ir até Rio Claro, são cerca de 120km contando a ida e a volta e isso ainda é inatingível para mim, decidi ir até o trevo de Corumbataí que é no mesmo caminho, isso implica em descer a Serra dos Padres e subir de volta. Medi a distância no Google Earth, 80km, um bom percurso. Mentalizei o caminho, que já percorri de carro muitas vezes e senti, na barriga, a ansiedade. Pronto, era o que faltava. Seria hoje, pois aqui é feriado, aniversário da cidade.

      Levantei às 5:15h, comi um lanche de pão integral com queijo branco e peito de peru e tomei um copo de suco de uva. Preparei mais dois lanches iguais a esse para levar, 2 caixinhas de 250ml de suco de laranja ligth, um pacotinho de biscoito Club Social e uma alfarroba de banana, coloquei tudo na mochila chamada Kamel Back, uma garrafinha de água, e depois de barbear-me e tomar banho, às 6:10h lá estava eu na rua começando a pedalar.

      Me surpreendi, após 1:26h e 41,350k eu já estava fazendo o contorno no trevo de Corumbataí. Em uma hora eu havia percorrido 28km, uma boa média, haja vista que eu não estava forçando, pois teria que voltar, e assim, a maior velocidade atingida foi cerca de 60km/h. Resolvi parar para comer apenas após subir a serra, que em 4km tem uma elevação de pouco mais de 200m, e lá estou eu a 11kkm/h quando olho para trás, e a cerca de 4m vejo um rapaz de menos de 20 anos, todo paramentado, com luvas, capacete, óculos, Jersey, como dizem os americanos, sapatilhas, pedalando forte e que passou por mim muito rapidamente. Invejoso e competitivo resolvi acelerar prá não vender barato a ultrapassagem, mudei rapidamente a velocidade para 16 km/h mas o infeliz ficou em pé e se distanciou mais e mais. Desisti, afinal, aquele magricelo, pois devia pesar menos de 50kg, só podia ser da equipe de competição de ciclismo de Rio Claro e esse não é o meu nível, confesso, a contra-gosto. Prossegui em meu ritmo lento e ele sumiu das minhas vistas no trecho sinuoso. Alguns minutos depois, já depois do topo, há uma mureta de concreto e o vi sentado lá. Resolvi parar para conversar e comer o lanche.

      Fui chegando e prestando atenção no rapaz, ele era mais novo do que eu pensava e também mais magro, ele não era muito claro, e como se dizia ainda nos tempos em que não precisava ser politicamente correto, passou das 6 é boa noite, e ele beirava as 6 e meia, mas estava meio desbotado. Tudo bem? Perguntei. Ele apenas assentiu com a cabeça. Você está vindo de onde? De Rio Claro, foi a resposta, curta e seca. Você faz parte da equipe de ciclismo de lá? Novo aceno positivo com a cabeça. Você está se sentindo bem? Não, foi a resposta, estou com ânsia. Estava justificada a sua palidez. Ele trazia somente água e tinha tomado um pouco. Continuamos a conversar e ele tem 15 anos, treina com os profissionais, tinha percorrido apenas 22km e eu 45, ele faz aquele trajeto diversas vezes por mês, inclusive subir aquela serra por 8 vezes seguida faz parte do treinamento, e a velocidade dele naquela subida é de 18km/h. Fiquei tomando conta do equipamento enquanto ele foi vomitar no mato, depois continuamos a conversar e reparti o meu lanche, o suco e a bolacha, só guardei a alfarroba para comer mais tarde. Como ele já havia se recuperado, pedalamos 1,5 km juntos até um retorno e ele voltou para Rio Claro e eu vim embora.

      Acho que o vento nasce em São Carlos e se espalha em todas as direções, pois sempre pego vento contra quando estou voltando, não importa para que lado eu tenha ido, e dessa vez não foi diferente, e isso prejudica muito, pois ao voltar estou mais cansado. A velocidade média caiu, o que é natural, pois no trajeto de volta predomina a subida, e quando eu estava perto dos 75 km o pneu furou. Fazer o que? Parar e consertar. Fiz um serviço de porco, pois ficou um caroço, mas como já estava perto e eu não tinha força para correr, decidi continuar devagar. Cheguei em casa após 3:22h e 82,750km.

      Na próxima vez não precisarei levar tanto peso, mas nessa o exagero foi bom, pois ajudei a um colega de pedal.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Senhor Fernando Henrique Cardoso

      Senhor Fernando Henrique Cardoso, ou como acostumamos chamá-lo, Fernando Henrique ou simplesmente FHC, fui seu eleitor ao senado, primeiramente de maneira indireta, pois votei no Franco Montoro, do qual o senhor foi suplente, e com a renúncia desse para assumir o governo paulista o senhor foi alçado ao senado, depois diretamente em 1986, e também nos dois mandatos consecutivos de presidente. Confesso que acompanhando a sua vida pública de longa data, me envergonhei em alguns momentos, nem sei dizer se foi por fatos ou boatos, mas houve o episódio de sentar-se na cadeira de prefeito e perder a eleição no dia seguinte, ou o da maconha com o tal fumei mas não traguei, teve ainda aquela estória de ser ou não ateu muito bem explorada pelo Jânio Quadros, ou aquele sobre a mudança na idade mínima para a aposentadoria onde se referiu a alguns como vagabundos, e ainda ter que, em campanha, comer buchada de bode. Esses são momentos que a imprensa destaca para glorificar-se, e a oposição os utiliza como armas, mas são apenas questões menores, o pior foi ter que se aliar, a fim de que suas propostas fossem aprovadas, a um congresso adesista típico do PMDB que se serve do governo. Apesar de saber que não existe outra maneira a não ser ceder os dedos para salvar os braços, não me é fácil aceitar.

      Senhor Fernando Henrique, ainda que seus detratores digam que o senhor não foi exilado, mas que apenas fugiu para o exterior durante a ditadura, o que importa é o legado, e desde a sua notada participação na defesa das Diretas Já e na Assembleia Nacional Constituinte, passando depois pelo Ministério das Relações Exteriores e, para minha surpresa e incredulidade, como Ministro da Fazenda, pois juro que não acreditava que aquilo desse certo, principalmente em um governo de início pífio do titubeante Presidente Itamar Franco, no entanto aquela gestão foi a chave para a modernização do país. Ainda que tenha havido erros, como a demora na liberação do câmbio, ou a supervalorização do Real por um longo período, ou ainda a elevada taxa de juros que apesar de ser nociva se fazia necessária, além de alguns escândalos isolados como o vazamento de informações da desvalorização cambial e daquela estória mal contada do Sivam, o senhor mostrou autoridade quando não interveio no processo de liquidação do banco da família de sua nora, além disso, na crise conhecida como apagão, gerada por sucessivos descasos, falta de planejamento e prolongada estiagem, a atuação do seu governo como gabinete de crise foi determinante, ainda que impopular.

      Senhor Fernando Henrique, qualquer partidário do PSDB poderia cantar loas às suas realizações, mas a mim foram destaque as diretrizes, como o absurdo de ter que editar a lei de responsabilidade fiscal e a reforma do estado com a implementação das agências reguladoras, livrando os setores produtivos dos destemperos políticos, ganho que o atual governo enterrou submetendo-as à incompetência do corporativismo e do sindicalismo. Além disso, a visão de estado e de futuro, que alçou o Brasil de coadjuvante a protagonista das economias emergentes e membro do acrônimo BRIC cunhado pelo mercado financeiro e, principalmente pela estatura moral, fazendo-nos um postulante direto e legítimo a ser membro permanente do conselho de segurança da ONU. Sem falar é claro, da liderança política na América Latina e trânsito em todo o hemisfério norte.

      Senhor Fernando Henrique, hoje que saímos de uma eleição, na qual o populismo venceu, e a oposição débil além de ser incompetente, não fez jus aos avanços conseguidos em suas gestões, sou obrigado a reconhecer, eu que o critiquei durante todo o seu governo agora vejo que para o pior não tem limite, e afirmo que em nosso cenário político há falta de pessoas com a sua qualidade, formação e caráter, por isso, junto a outras poucas pessoas vejo o senhor como sendo uma daquelas a quem eu gostaria de conhecer pessoalmente e poder apenas dizer-lhe: obrigado por existir.