domingo, 25 de maio de 2014

Se você pergunta como vai, ele responde, e explica!

      Minha mudança para Salvador se dará em etapas. A primeira é ficar morando temporariamente em um flat e mergulhar no trabalho. Como eu já iria trocar de carro resolvi não trazê-lo e comprar um aqui, e durante os finais de semana em que permaneço na cidade conhecer um pouco da região e aprender a me orientar. Depois disso trazer a Nega para escolhermos um local para morar, contratar o aluguel e, enfim, fazer a mudança. Nesse período volto a São Carlos a cada duas semanas e passamos o final de semana fazendo planos e preparativos.

      Minha mobilidade está limitada, pois somente terei um carro à disposição em 10 dias, e por enquanto faço o que posso à pé ou de taxi. Aqui tem um sistema bem organizado, há taxistas autônomos e afiliados a alguma empresa e há, que eu saiba, pelo menos três delas. Todas oferecem ao cliente, ou passageiro, o mesmo tipo de serviço. Liga-se para o telefone da empresa, identifica-se, deixa-se um número de telefone para contato, uma descrição para ser reconhecido e informa-se o local de origem e o de destino. A atendente dispara um sinal que é recebido pelos taxistas, e aquele que estiver livre e mais próximo, em poucos toques em um celular customizado se oferece para o serviço. A central então envia para o celular do passageiro um SMS dizendo o tempo previsto para a chegada do taxi e a identificação do mesmo, não apenas com o modelo do carro mas também com um número de registro que fica estampado na lateral do carro. Até agora só me utilizei dos serviços de uma empresa e estou satisfeito, mas não com a despesa.

      Já tomei muito taxi nessas três semanas em que estou aqui, e os taxistas são a minha referência, mas reconheço, o baiano é engraçado. Mais do que os brasileiros em geral, se você pergunta como vai, ele responde, e explica. Ao final da corrida você já é íntimo, irmão, quase indo para o churrasco ou pelada no final de semana. Aqui a pelada se chama baba. E tem de tudo.

      Tem aquele que quer te mostrar que conhece a cidade, aqui é isso, ali é aquilo, depois do entroncamento é Rio Vermelho e assim vai…

      Tem o torcedor do Bahia, ou Baea!, e também do Vitória, o leão, esses dirigem mais calmos ou mais agressivos de acordo com o último resultado do time.

      Tem o político, que não se conforma com a aliança do prefeito com um ex adversário, ah se fosse no tempo do avô dele, isso jamais aconteceria…

      Tem o “esperto” que conhece os atalhos… vou te levar por um lugar que você não deve ter passado, esse é mais perto e mais barato, por onde foi que te levaram? Pela Garibaldi? Só aquele retorno dá mais de um quilômetro… e vai se enfiando por uns becos e vielas. E ao invés da corrida custar R$ 14,00 sai por R$ 13,50.

      Tem o economista, o carro é meu, mas é vantagem me associar, pois trabalhando sozinho tiro uns R$ 3.000,00 por mês, associado consigo uns R$ 5.500,00 livres e trabalho menos, e tem mais, ser taxista não tem glamour, mas advogado e engenheiro que começa a trabalhar ganha, no máximo, R$ 1.500,00.

      Tem o estressado. Bibibiiiii, vai seu burro, não tá vendo que aqui pode entrar à direita mesmo com o farol fechado? Mas se ele não é daqui e não sabe disso? Ponderei. Tem placa, lá atrás tem uma placa. Realmente tem, mas já passei por aqui umas 4 vezes e só agora eu a vi, ela é pequena, fica escondida e está mal colocada. É, mas se ele tem medo que fique em casa! Vixe, hoje me dei mal!

      Tem o malandro. Não sai do celular enquanto dirige e isso vai me deixando irritado. Oi, onde você está? Estou indo aí deixar um cliente. Você está com os convites? Não? Preciso dele, o forró é hoje à noite, olhe... eu só vou trabalhar até às quatro. Depois vou tomar uma cerva. Comer um acarajézinho. Não,... tem umas moças lá… Com esse nem quiz conversa, como dizem aqui, só assuntei!

      Tem o intelectual. Estou aqui há 42 anos, desde que vim estudar na UFBA, e essa juventude está sem rumo, está sem referência. Ninguém quer trabalhar e se não ganhar dinheiro fácil vai roubar. Também o governo dá tantas bolsas que o povo só quer fazer menino. Há cada duas semanas vou para o interior, de onde vim, e lá, pagava-se R$ 40,00 por dia de trabalho durante a colheita, hoje se paga R$ 100,00, isso se encontrar alguém para trabalhar, e esses só trabalham até o meio dia. A maioria só quer ficar em casa recebendo do governo, e nós pagando os impostos…

      Só há uma unanimidade entre eles. O governador será apeado do governo nas próximas eleições, pois não fez nada pela Bahia nesses 8 anos. O Candidato que deverá ser eleito também é fraco, mas é o menos ruim entre todos. O prefeito está com aprovação altíssima e o anterior foi péssimo, abandonou a cidade e a população.

      As licenças para taxistas são limitadas e concedidas pelo poder público e não há novas concessões há muito tempo. As licenças são permanente e podem ser passadas como herança, mas não podem, oficialmente, ser vendidas, mas no mercado negro, com “contrato de gaveta" elas custam R$ 100.000,00.

      Tomando-se um taxi no aeroporto para o centro o valor é fixo, R$ 116,00, mas se não comprar o tíquete e negociar na porta pode-se conseguir por R$ 80,00. Já o percurso de volta depende do taxímetro, e como há muito engarrafamento pode custar até mais, mas também dá para negociar um valor antecipado que varia de R$ 70,00 a R$ 80.00.

      Amanhã tem mais… 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Parece Piada

      Há muito eu queria cancelar a conta da TV por assinatura que ninguém em casa assistia. Tomei a decisão depois da greve dos correios, pois como a conta não podia ficar em débito automático a fatura não chegou a tempo pelo correio e tive que pagar juros sobre um valor já inútil. No mês seguinte fiquei na fila para pegar o código de barras pois o site é muito ruim, e a perda de tempo, paciência e dinheiro levaram-me ao escritório. Eu sabia que poderia fazer isso por telefone, mas como a loja é próxima de casa fui pessoalmente achando que resolveria. Não. O cancelamento é feito exclusivamente por telefone. Ok, paciência. Liguei e até que foi rápido, não mais de 10 minutos e a maior parte do tempo foi para recusar as propostas mirabolantes para continuar como assinante e com “descontos incríveis” e todas foram recusadas. O destaque ficou para a última frase, mais uma daquelas ensaiadas e regadas de “gerundismo”: o sinal estará sendo desligado entre 20 minutos e 24 horas podendo ser de imediato. Por acaso não seria melhor algo do tipo: em até 24 horas o sinal será desligado?

      Eu havia decidido resolver algumas pendências e em seguida fui até o CREA, que é a associação de classe dos engenheiros. Fui me informar sobre quais providências eu devo tomar para exercer a profissão em outro estado. Aqui não preciso fazer nada, mas em outro estado preciso me registrar no escritório local que pode pedir alguns documentos daqui, porém posso consegui-los através do site. Ótimo, resolvido. Não! Ao me registrar em outro estado aquele passará também a me cobrar a anuidade. Devo decidir qual delas pagarei e sempre informar ao outro a que escolhi pagar, ou seja, arrumei um trabalho até o fim da vida. Todo ano vou ter que enviar um e-mail para um dos escritórios com a cópia do recibo de pagamento que fiz no outro estado. Isso significa que estou constando como inadimplente no CREA de Minas Gerais há 23 anos. Inaceitável para uma associação que é nacional e que congrega profissionais da área de tecnologia.

      Como passei 2 semanas viajando tive menos tempo para preparar a minha declaração de imposto de renda. Deixei-a quase completa no último final de semana, mas faltavam alguns detalhes e entre eles o CNPJ da Caixa Econômica Federal, pois eu havia retirado o extrato no caixa eletrônico e nele não constava o tal número, mas havia, com destaque, um telefone para atendimento ao cliente. Trata-se de um “zero oitocentos”, gratuito. Fácil? Não. Primeiro é a ladainha do disque x para isso, disque y para aquilo e z se não tiver mais paciência. Depois a primeira atendente que faz várias perguntas e gera um número de protocolo deeeessssseeeee tamanho, e depois passa para outra, que faz mais um monte de perguntas e te deixa um tempão esperando na linha. Mas consegui. Foram mais de 10 minutos para obter um simples 00.360.305/0001-04. Número esse que deveria fazer parte do estrato. Simples assim.

      Passei por essas três situações no mesmo dia e esses são apenas alguns exemplos de como nossos processos precisam ser aprimorados. Não precisamos das melhores leis do mundo, precisamos de procedimentos que funcionem e que estejam orientados para a solução dos problemas dos usuários, não para as métricas das entidades. Essas utilizam tais contagens para dar satisfação, atendemos a tantos milhares de chamados, resolvemos dezenas de situações por minuto e assim por diante, mas e o cliente, esse está satisfeito? Eu não. O atendimento ao consumidor parece piada.