quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Supermercado.

      Serviço doméstico é mesmo terrível. Ninguém é capaz de desmerecer a sua importância, mas quanto a fazê-lo é outra estória. Limpar, lavar, passar, organizar são atividades que se reconhece apenas quando não são feitas, do contrário, é apenas rotina, invisível e maçante. Acrescento ainda a ida ao supermercado e me pergunto: como pode, com a tecnologia de hoje, ser uma atividade tão arcaica?

      Quando a contra-gosto vou ao supermercado utilizo o carro. Paro no estacionamento. Pego um carrinho e o empurro por entre os corredores e prateleiras. E as ações vão se repetindo: pegar o produto, verificar, comparar, escolher e decidir: ou o devolve-lo à prateleira ou o colocá-lo no carrinho. Ajeitar o carrinho. Cuidado para não amassar. Separar os produtos de limpeza dos comestíveis. Pegar os produtos gelados no final, mas não colocar os pesados sobre os delicados. Sobre alguns produtos ainda tem aquela dúvida, é por peso ou por unidade? Porque os produtos mais caros estão à altura dos olhos e as promoções são com aqueles cuja data do vencimento está tão próxima?

      Corredor de supermercado é um horror, não tem ordem, cada um estaciona onde bem entende. Quem gosta e se diverte fazendo compras pára para conversar com os amigos, e sempre no seu caminho! Se você aguarda para que alguém se movimente e você passe, outro passa na sua frente, enfim, a educação é uma beleza.

      Chegamos ao caixa. Tirar os produtos do carrinho, passá-los um a um pelo leitor de código de barras – o que já é uma inovação, pois num passado nem tão remoto era necessário digitar todos os preços – colocar os produtos em sacolas plásticas, ajeitar as sacolas no carrinho. Empurrar o carrinho até o estacionamento. Tirar as sacolas do carrinho e colocá-las no porta-malas. Volto para casa onde moro no quarto piso de um prédio de apartamentos. Tirar as sacolas do porta-malas e as colocá-las novamente em outro carrinho. Tiro o carro da garagem, pois na interna fica o carro da minha filha, o meu fica na externa. Volto e coloco o carrinho no elevador. Paro no andar de casa mas não entro com o carrinho na cozinha, pois as rodas sujam e marcam o piso. O paro na porta. Tirar as sacolas do carrinho e colocá-las na mesa ou pia até esvaziar o carrinho. Esse volta logo para o elevador porque a maioria dos vizinhos vai ao supermercado aos sábados pela manhã e estão precisando do carrinho. Volto para a cozinha e tiro todos os produtos das sacolas. Guardo as sacolas plásticas para uso futuro e ainda resta um monte de produtos para serem colocados nos armários ou geladeira. Alguém merece? E vejam que nem estou reclamando dos preços.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Telemarketing.

      Em uma certa segunda-feira às oito e meia da noite na cozinha de casa:


Trim, trim, trim...

- Alô,

- Posso falar com o senhor Cesar Augusto An...

- Sou eu.

- Boa noite senhor Cesar, aqui é a A da consultoria B.

- Pois não,

- Então senhor Cesar, como o senhor sabe, hoje o mercado de trabalho está muito competitivo e para ter um bom emprego é preciso ter qualificação.

- Realmente,

- Então senhor Cesar, nós estamos trazendo ao senhor uma oportunidade única e com grande vantagem para que o senhor possa melhor se posicionar no mercado de trabalho atual.

Sim.

Nós temos vários cursos que...

- Um momento,

- Sim,

- Sou técnico em eletrônica, graduado em duas faculdades, já fiz um MBA, mestrado (que é mentira, pois cursei mas não concluí), além do português sou também fluente em espanhol e inglês ( o que é meio verdade ou meio mentira – pode escolher). Qual qualificação a mais você pode me oferecer? Mandarim?

- Então senhor Cesar,

- Vocês estão precisando de professor para os seus cursos?

- Senhor Cesar, a consultoria B agradece a sua atenção, boa noite.

- Boa noite.

Bip, bip, bip.
 
      Essa foi uma das últimas ligações de telemarketing que recebi, pois me cadastrei na lista dos que não aceitam esse tipo de ligação.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Oportunidade.

      A presidente Dilma já entrou para a nossa história como sendo a primeira mulher a governar o país, mas isso é pouco. Ser homem ou mulher a comandar uma nação não muda em nada a vida de ninguém, o que importa é fazer um bom governo, e nesse quesito ela está perdendo uma oportunidade ímpar.

      Às voltas com tantos escândalos de corrupção a sensação é que essa aumentou, mas pode ser apenas isso, sensação, pois não existe medida oficial, existe somente a percepção, e em sendo esses cada vez mais apresentados ao público, é justo imaginar que tenha havido o incremento dessas atividades. Faz tempo que o governo está apagando um incêndio por dia, trocam-se os protagonistas mas a estória não muda, ou muda pouco. Primeiro faz-se de conta que não é comigo, depois passa-se para o processo de explicações, segue-se trocando as personagens até que esse seja esquecido por causa de um escândalo mais recente.

      Em todo o mundo rouba-se. O roubo e a corrupção não foram inventados aqui e nem ocorrem aqui somente, o que muda são os processos de como fazê-los e como combatê-los. E aqui está claro que o nosso sistema judiciário é parte do problema, talvez nem seja por causa das pessoas, mas pelo próprio sistema no qual quem pode protela até que a punição não mais ocorra, ou quando ocorra não seja reparadora e muito menos inibidora, enfim, aqui o crime compensa.

      Além do risco brando os processos e respectivos controles são risíveis. Por não ter maioria no congresso o poder executivo, para aprovar os projetos de seu interesse, se utiliza de um grupo de partidos que cobra pelo apoio, e o preço são cargos em ministérios e autarquias, principalmente naqueles de grande orçamento, onde é grande a chance de “faturar algum”. Assim, hoje no Brasil são mais de vinte mil cargos comissionados, sendo que nos Estados Unidos, a maior economia do planeta, com um PIB 7 vezes maior que o nosso, são cerca de 10% disso.

      Se considerarmos que a economia não vai tão bem quanto querem nos mostrar os discursos e propagandas oficiais, pois a inflação mensal já atingiu limite superior do previsto, a taxa de juros SELIC continua elevadíssima, a moeda está supervalorizada, continuamos exportando matéria prima e importando produtos de alto valor agregado e sabendo que a economia mundial não irá voar em céu de brigadeiro como ocorreu nos 6 primeiros anos do governo anterior, esse é o momento certo para tomar certas medidas certas!

      A presidente deveria reduzir o tamanho do estado mostrando, ao povo, austeridade. Não seriam necessários mais do que cerca de uns 15 ministérios, ao invés dos mais de 30 atuais, e, além disso, cortar as verbas oficiais de publicidade, pois a melhor propaganda de um governo é governar seriamente. Deveria ainda profissionalizar a administração reduzindo os cargos comissionados, e, ao invés de culpar a imprensa a cada novo escândalo, se aproveitar dela para, a cada denúncia, afastar os partidos que se aproveitam do governo. O poder executivo não pode ser refém dos partidos, pois quem lhe dá legitimidade é o voto popular.

      Mal se passaram 7 meses do atual governo e já vimos escândalos na chefia da casa civil, no ministério dos transportes, no da agricultura e no ministério do turismo. Dois ministros já foram substituídos, dezenas de funcionários foram demitidos e hoje mais de 30 foram presos. Até quando o governo irá tapar o sol com a peneira e nós ficaremos indiferentes? Não, a presidente, ou presidenta como ela gosta de ser chamada, não pode deixar escapar essa oportunidade de passar para a história com a fama de boa administradora que ela tem.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Símbolos Nacionais.

      Em um dos trajetos que faço para o trabalho foi inaugurada uma floricultura. Não foram as flores e plantas que chamaram a minha atenção, mas sim uma bandeira do Brasil que constantemente está hasteada. Eu tive aulas de Educação Moral e Cívica (EMC), que depois foram substituídas por OSPB (Organização Social e Política do Brasil), nas quais além da propaganda favorável ao governo militar havia também o patrulhamento ideológico. Nos era sugerida a demonização dos comunistas e dos subversivos. Nós, crianças, não sabíamos o que eram uns nem os outros, mas aprendemos quais são os Símbolos Nacionais. Não encontrei nenhuma pesquisa nesse sentido, mas o meu “achismo” garante que 9 entre 10 pessoas na rua não responderiam corretamente a essa questão: quais são os símbolos nacionais? Você sabe? Também acredito que 8 em 10 acertariam a bandeira e o hino, mas se esqueceriam do selo e das armas, também conhecido como brasão das armas. Saber então que no brasão tem um ramo de café e outro de fumo, esse florido, já é demais.
      Também aprendemos que quem ouviu o brado forte e retumbante foram as margens plácidas do Ipiranga, que, aliás, na última vez em que fui ao Museu do Ipiranga, hoje Museu Paulista, há cerca de 3 anos, fui novamente às margens concretadas daquele esgoto a céu aberto. Um absurdo, seja real ou fictício, pelo simbolismo que representa aquele local deveria ter melhor sorte. Também revi a tela de Pedro Américo e não me importo se foi inspirada ou plagiada da tela  Friedland de Ernest Meissonier, pela sua enormidade, beleza e representatividade, fiquei arrepiado só de vê-la. Mas voltando ao hino, também aprendi que:  “um sonho intenso” vem na primeira parte, na segunda é “de amor eterno”; que é com braço forte, assim, no singular e não braços fortes, no plural, e também que é “em teu seio” e não “no teu seio”, e tem mais, para entoar o hino devia-se estar em posição respeitosa e não podia bater palmas ao final. Mas é sobre a bandeira que tenho mais recordações.

      Em minha casa havia uma bandeira enorme, linda, em tecido bordado, mas para descaracterizá-la, se é que isso é possível, meu pai arrancou as tiras com a inscrição “Ordem e Progresso”, pois era proibido ter bandeira em casa. E foi com essa bandeira que o vi, sobre um caminhão comemorando a vitória do Brasil na copa do mundo de 70. Também me cobri com essa bandeira por várias vezes quando o frio era intenso e não tínhamos cobertores suficientes. Ela no meio de lençóis cumpria muito bem o seu papel. Para hastear ou arriar a bandeira deveria haver uma cerimônia com hora certa para acontecer e ela nunca poderia ficar hasteada se não estivesse iluminada e em perfeito estado. As bandeiras danificadas deveriam ser entregues ao exército que as incinerariam durante a cerimônia do dia da bandeira, 19 de novembro. Já adolescente eu imaginava que tanto rigor reduzia o patriotismo, pois eu já tinha ouvido o hino americano sendo tocado pelo Jimmy Hendrix com um solo de guitarra. Via os próprios americanos se vestindo com bandeiras estilizadas e bandeiras americanas sendo queimadas em toda parte do mundo. Eles, americanos, espontaneamente patriotas, e nós, brasileiros, patriotas obrigados, nem ter uma em casa podíamos.

      Foi há muito tempo e não me lembro em que evento ocorreu, mas desde que pela primeira vez a Fafá de Belém entoou o Hino com uma melodia mais lenta, e para utilizar um termo atual, a relação com os símbolos foi flexibilizada. Hoje não temos mais a ditadura, e se depender de Brasília nem educação, nem moral e muito menos, civismo.

      Em tempo, o logotipo da tal floricultura é uma bandeira estilizada e tem o sugestivo e patriótico nome de Garden Brasil.