domingo, 29 de abril de 2012

( I ) Responsabilidades.


      Há cerca de 10 anos vendi o meu carro e fiquei quase dois sem comprar outro e isso me fez ver com outros olhos os espaços públicos. Passei a me preocupar com a dificuldade de locomoção, a segurança, a sujeira e a aparência. Quando passei a pedalar a minha insatisfação só fez piorar. O desrespeito e o descaso são muito grandes e quando falta muito, a beleza é o que menos importa. Entendo que criticar é fácil e que ser gestor com poucos recursos é uma tarefa hercúlea, porém os gestores públicos o são por opção própria e por delegação popular, logo eles devem responder por isso.

      Enquanto cidadão a nossa responsabilidade não termina dentro dos nossos muros, mas somos também responsáveis pelos próprios muros. A foto abaixo mostra o muro de um clube localizado no centro de São Carlos, no lado de dentro há um campo de futebol society onde centenas de pessoas, inclusive crianças jogam todos os dias. Será que nenhum diretor vê que essa fissura e inclinação podem fazer vítimas? Onde estão os fiscais do município que não prevêem o problema?


      Também no centro há uma chácara com aproximadamente 10.000 metros quadrados e em vários lugares o muro está inclinado e com atestado de perigo, pois foram feitos remendos para mantê-lo em pé. A dúvida aqui não é se parte do muro irá ou não cair, mas apenas quando isso ocorrerá.


      Como o que é ruim pode piorar, no lado de dentro desse muro há um barranco e na parte de baixo funciona uma creche. São muitas as crianças circulando por esse espaço diariamente. Só resta torcer para que não haja vítimas quando o muro vier abaixo.


      Não são apenas os riscos de acidentes. Nesse ano a prefeitura está fazendo a implantação de rampas de acesso em muitas das esquinas centrais. Nenhuma administração municipal anterior fez tantas, porém nem sempre prevalece o bom senso. Quando na esquina há um bueiro, a rampa é deslocada, ou seja, o idoso, cego ou cadeirante que desvie, quando o correto seria mudar o bueiro. Mas isso custa mais caro e não fazer a rampa implica em um número menor na estatística, o que é ruim, principalmente em ano de eleição. Aplica-se aqui o mesmo princípio das passarelas para pedestres sobre as rodovias. Sempre vejo reportagens de atropelamentos e campanhas para que o pedestre as usem, mas nem sempre elas estão onde há o maior fluxo de pessoas, além do que, as rampas de acesso são longas dos dois lados, o que obriga o transeunte a uma caminhada adicional. O melhor seria fazer a passarela no nível do solo e desviar os carros, mas isso também é mais caro.


      O motorista também tem responsabilidade. No outro lado da rua estacionaram um carro na frente da guia rebaixada. Precisa fazer isso?


       E há muito mais. Essa proteção na obra em andamento impede a passagem das pessoas. Ela existe para atender a dois requisitos: a obrigação legal e a proteção da obra contra vândalos e ladrões, mas não há nenhuma preocupação com a população. Já vi em outros países a proteção adequada. O piso é regularizado, o lado da construção é todo fechado, a passagem é coberta em toda a sua extensão e no lado da rua há também a proteção física, às vezes com blocos de concretos. Mas fazer o certo tem custo.


       A administração municipal tem que regulamentar, fiscalizar e fazer cumprir a lei. Se não tem estrutura suficiente para vistoriar todo o município, que sejam criados mecanismos para que a população faça a denúncia permitindo que a fiscalização ocorra nos locais citados, enfim, não é necessário ser muito criativo para ser mais eficiente.

sábado, 14 de abril de 2012

Veja Bem


      Vi, ainda há pouco, um post no Facebook onde apareciam duas capas da Veja, uma com a foto do Geisel com a frase: Geisel um comando firme, e outra com a silhueta do Fidel Castro, e nessa, também a frase: Já vai tarde. Logo abaixo havia um comentário: a Veja...desde 1968 manipulando a opinião pública. Lembrei-me então que há algum tempo comentei sobre uma reportagem da Veja e me disseram: é da Veja? Veja bem... Na edição que saiu na semana passada, em suas páginas amarelas, há a entrevista com próximo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Carlos Ayres Britto, e é claro que há a intenção de manipular a opinião pública e o próprio Ministro para que seja realizado ainda nesse ano o julgamento do caso conhecido como Mensalão, pois, caso contrário, muitos dos 40 implicados podem ser inocentados pela prescrição das possíveis irregularidades cometidas, e aqui vai a minha pergunta: não é bom que a sociedade se mobilize e que a imprensa cobre o esclarecimento dos fatos? Que se inocente a quem de direito e se puna os responsáveis?

      Não existe opinião isenta, e o princípio democrático embute a possibilidade de expressão de valores e intenções, seja por parte das pessoas, das organizações e dos organismos de imprensa. Quem critica a Veja está exercendo esse seu direito, assim como a revista, a dela. Isso é facilmente compreensível e defensável, porém a argumentação contrária pode se basear no poder econômico, fazendo parte de um grupo poderoso é grande o poder de persuasão  fechando os espaços para a oposição. Balela! Hoje o que seria considerado oposição ideológica está no poder manipulando licitações e enchendo os bolsos dos companheiros e dos partidos, além do que, há a roubalheira institucionalizada feita pelos sindicatos e centrais sindicais. Todo empregado, no mês de março de cada ano, tem o valor de um dia de trabalho retido e repassado como imposto sindical. Assim o sindicato não precisa arregimentar filiados, pois esses o são compulsoriamente, e esse dinheiro, quando não é utilizado para enriquecer os dirigentes, é suficiente para criar mecanismos de divulgação de princípios e intenções.

      Antes de assinar a revista eu a comprava nas bancas e achava que eles não gostavam de ninguém, pois batiam em todo mundo. Tive outras revistas como a Época e a Isto É, e também a Carta Capital, da qual nunca gostei, e pelo meu discernimento a mais completa e mais afinada com o meu pensamento é mesmo a Veja, mas não a considero perfeita, e por algumas vezes fui seu crítico contumaz. Também não leio muitas de suas reportagens, pois vários assuntos não me interessam, porém gosto da abordagem de alguns colunistas e de algumas das suas reportagens, e, com certeza, os próprios críticos gostaram quando a Veja, junto com a Folha, através de suas denúncias, ajudaram a derrubar o governo Collor.

      O que deve ser entendido é que nenhuma informação é completa, nenhuma opinião é livre de preconceitos, e que as pessoas devem buscar a informação de forma plural, de várias fontes, e fazer o seu próprio juízo de valor. O que não dá para admitir é que as informações sejam obtidas de maneira ilegal, com documentos forjados ou acusações infundadas. Para combater esses desvios existe o poder judiciário.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Complemento


      Política é coisa séria e por isso não se deve escolher um lado como se fosse torcer para um time de futebol, e a legislação eleitoral caótica que temos não me permite escolher um partido, por isso voto nas pessoas de acordo com as minhas convicções e observações. No último artigo destilei o meu desapontamento com a nossa classe política, mas me esqueci de dois fatos e por isso volto agora ao tema.

      Fui eleitor do José Serra em muitas eleições, para deputado federal, governador, senador e duas vezes para presidente e não fiquei desapontado. Dadas as circunstâncias creio que ele até teve um bom papel, inclusive como ministro do planejamento e da saúde no governo FHC, mas há poucos dias uma de suas declarações me irritou profundamente. Durante a campanha na qual se elegeu prefeito de São Paulo, instado pelos jornalistas em um programa de entrevistas o então candidato assinou um documento afirmando que cumpriria o mandato até o fim e não deixaria a prefeitura para concorrer na eleição que ocorreria daí a dois anos. Naquela época até as carcaças dos carro dentro do lodo, no fundo do rio Tietê, sabiam que ele entregaria a prefeitura ao seu vice como ocorreu,  e que a tal assinatura não passava de um jogo de cena para não perder votos naquele momento. Agora, cobrado por essa atitude disse que não passava de um papelzinho que não tinha valor pois não foi um documento firmado em cartório. Papelzinho foi essa atitude. Faltou grandeza para assumir o fato e deixá-lo transparente, pois como disse a Madre Teresa, “Honestidade e transparência te deixam exposto, mas de qualquer maneira seja honesto e transparente”.

      Já está decidido, nas próximas eleições presidenciais o candidato do PSDB será o senador Aécio Neves. Sim aquele que declarou na Voz do Brasil, e eu ouvi, que o voto não pode ser facultativo porque a democracia brasileira ainda é incipiente. É a mesmíssima desculpa do período da ditadura militar, que não poderia haver democracia porque o povo não estava preparado para votar. Quem é o senador para dizer se estou ou não apto a decidir se quero ou não votar? O estado não pode tutelar a consciência da população.

      Pelo andar da carruagem, se nenhum fato novo surgir em nosso horizonte político, nenhum dos que citei terá o meu voto.