sexta-feira, 18 de março de 2011

A Voz Do Brasil.

      Nessa época do ano costumo ficar estressado, pois é quando vejo com todas as letras, ou melhor, com todos os números no meu informe de rendimentos o quanto paguei de imposto de renda. Aquilo que nos roubaram nós ficamos sabendo diariamente e tudo vai ficando tão repetitivo que nem nos importamos. Nesse momento tomo um susto e fico irritado.

      Vocês sabem o que é A Voz do Brasil? É um programa de rádio jurássico que a mais de 70 anos vai ao ar todos os dias úteis e hoje é apresentado às 19 horas através de uma cadeia nacional obrigatória, mas que algumas emissoras calçadas em uma liminar não estão mais transmitindo. A introdução do programa é feita com parte da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, mas o programa não está à altura de sua abertura, pois se trata apenas de propaganda do executivo, legislativo, judiciário e do tribunal de contas federais travestido de notícia. Essa esculhambação é produzida por jornalistas que arrumaram ali um lugar para amarrar os seus burros. Vocês sabem qual é a audiência desse programa? É de apenas duas pessoas no país todo. Uma eu não sei quem é, e a outra sou eu, que às vezes o ouço por alguns instantes para ficar com mais raiva, e ontem não foi diferente.

      O senado instalou uma comissão para tratar da reforma política, que é tratada como a mãe de todas as reformas. Ontem deliberaram sobre dois assuntos: o voto obrigatório, que não foi aprovado por unanimidade porque o senador Aloysio Nunes Ferreira, que teve o meu voto, optou pelo voto facultativo, e o fim da reeleição para os cargos executivos, esses passariam a ter mandato de 5 anos e só valeria para quem fosse eleito em 2014, o que também foi aprovado.

      Quanto à reeleição não tenha ainda opinião formada, pois acho que deveríamos ter o sistema parlamentarista, que foi rejeitado por quase 70% dos votos no plebiscito de 1993, ao invés do presidencialista, no entanto sou diametralmente oposto ao voto obrigatório. Para mim o voto é um direito e não uma obrigação, mas os nossos senadores não concordam. Eles acham que se o voto for facultativo o número de votos será muito pequeno, o que é fato, e o eleito não terá legitimidade, o que considero errado. Em muitas democracias é assim, quem não quer votar respeita a escolha daqueles que os outros fizeram.

      Porém fiquei mais irritado ainda quando o presidenciável, playboy e senador por Minas Gerais Aécio Neves justificou seu voto dizendo que a incipiente democracia brasileira não estava preparada para fazer escolhas, e que a falta de legitimidade, nesse caso, poderia causar instabilidade política. E não foi ninguém que me contou isso, ouvi da boca dele em entrevista à gloriosa Voz do Brasil. Ora senador, o senhor está me comparando a quem? O senhor tem o direito de me nivelar por baixo? Tenho certeza que com o voto facultativo teríamos um congresso muito mais limpo e ativo, e não essa corja de raposas tomando conta do galinheiro onde investigados fazem parte da comissão de ética.

      É por causa dessa mentalidade tacanha que estamos nessa situação patética onde o povo nem mesmo se lembra em quem votou na última eleição proporcional e a eleição majoritária é feita com a paixão de torcida de futebol e não com consciência política. Senador, por favor, siga a recomendação que o Capitão Nascimento dava a seus comandados no primeiro filme Tropa de Elite, peça prá sair.

segunda-feira, 7 de março de 2011

É Carnaval.

      É incoerente, mas apesar de normalmente ser contido, tímido e não gostar da convivência em grandes grupos, sempre me senti bem em estádios de futebol e sempre gostei de carnaval. Desse, me vejo como participante desde as infantis matinês, aos salões na adolescência e já adulto também.

Há dias um sobrinho me perguntou:

-Você gosta de carnaval, tio?

- Sim.

-Da bagunça?

-Não.

      É verdade, gosto da diversão e da alegria, mas não das brigas, depredações e da sujeira promovidas por muitos.

      Há vinte anos, quando por causa do trabalho mudei-me para São Carlos, tomei três atitudes na seguinte ordem: escolhi a escola e matriculei os filhos, aluguei um apartamento para morar e comprei o título do clube. Sendo aprovado como associado imediatamente participei do carnaval e fiquei impressionado com a qualidade. Bom som, boa banda, clube bonito, lotado, animado, bom serviço, enfim, fui surpreendido, e mais ainda fiquei quando soube que o do clube concorrente era tão bom quanto. Com o passar do tempo e a proliferação do axé e das dancinhas coordenadas o clube foi se esvaziando e o carnaval sumindo. Hoje, uma das sedes de um dos clubes foi vendida a uma igreja evangélica e o nosso clube foi impedido de realizar bailes por ordem judicial, que atendeu à reclamação dos moradores de um prédio localizado em frente ao salão. A ironia é que toda a área em frente ao clube e que hoje é residencial pertencia ao próprio clube, e que uma administração antiga vendeu para fazer caixa. Hoje não há mais um bom carnaval em São Carlos.

      Também sempre gostei dos desfiles, e apesar do meu bairrismo, sou obrigado a admitir, o do Rio de Janeiro é imbatível. Antes financiado pelo dinheiro do jogo do bicho e atualmente com dinheiro público, é aquilo que se pode chamar de espetáculo. Os desfiles têm se profissionalizado e embora seja uma overdose diária, tem a sua importância econômica. Apesar das críticas de que não é mais uma festa popular, que a paralisação do país reduz a atividade econômica, que há exageros, alto custo para a saúde pública no atendimento às vítimas dos acidentes e dos bêbados, a indústria turística tem muito a ganhar com o evento. A minha crítica é para a qualidade musical. Embora os atuais samba-de-enredo atendam às demandas comerciais, ninguém, fora os profissionais, consegue na semana seguinte lembrar uma letra ou uma música.

      Nas capitais do nordeste os blocos comandados pelos trios elétricos reinam absolutos, principalmente para a população jovem que tem energia para percorrer os chamados circuitos. Quem pode paga e se espreme no interior do território demarcado pelas cordas, quem não pode fica do lado de fora e recebe o nome de pipoca. Pode até ser um som animado e dançante, mas as músicas são fracas e descartáveis.

      De uns três de anos para cá tem me surpreendido o renascimento dos blocos de rua que estão se proliferando nas grandes cidades e mobilizando um número maior de participantes. Estão também resgatando o bom humor que caracterizava os inocentes corsos com nomes criativos como “Que Merda é Essa?” que critica a tudo e a todos.

      Sem carnaval no clube, com a atual condição meteorológica e nas palavras da minha amiga que não gostou de ser chamada de “assessora para assuntos nada a ver” em um post anterior, o que tenho esse ano é o Carnachuva e o bloco Sofacama.