quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sim, Faz Sentido

      Há um repórter na Globo que na primeira vez que o vi percebi que ele era diferente, e o meu comentário foi: vai fazer escola, pois a narrativa dele é diferenciada e bem construída. Já vi outros repórteres mais antigos o imitando. Mesmo quando assisto um jornal morno, se ele aparece, presto atenção, pois sei que ele faz um bom trabalho. Até acredito que ele não trabalha mais que os outros para ser melhor, pois o talento me parece ser inato. Hoje assisti a uma matéria dele no Bom Dia Brasil, mas mesmo o Pelé tem o seu dia de Mané. Seria uma matéria trivial para o nível dele se ele não tivesse se arriscado a fazer perguntas do tipo: para que? Ou ainda, Isso faz sentido? Explico.

      É apresentada uma pesquisa sobre o que irrita os passageiros em voos e aeroportos, até aí, tudo bem, todos podem se irritar pelo que quiserem, mas a principal resposta, e que ele não deu, é a falta de educação. Em uma cena o repórter se pergunta e entrevista um passageiro, se o número do assento é marcado, por que se forma fila muito antes do início do embarque? Faz sentido? Faz sim. A regra diz que em voos domésticos cada passageiro pode levar dois itens de mão, por exemplo uma mala e uma mochila, ou uma mala e uma bolsa feminina, ou que sejam duas malas, embrulhos ou pacotes, mas há limite. Individualmente não pode ultrapassar 5kg ou ter dimensão somados largura, altura e profundidade de 115cm, nos internacionais pode ser 125cm, mas também com 5kg. Sempre há perto dos balcões de embarque um gabarito para verificar se o volume está aderente à norma. Ocorre que isso não é respeitado por muitos passageiros e as companhias, muitas vezes, toleram. Isso piorou com o checkin por internet. Assim é comum você estar na poltrona 10 e ter que colocar a sua mala sobre a poltrona 27. Quem já tomou avião de Miami para cá sabe que isso é verdade. Quem já saiu de Salvador já dividiu o bagageiro com um (ou mais) berimbau! Quem entra primeiro garante que sua mala fique perto de você. Em voo longo você pode precisar de um colírio, de uma blusa, enfim, pegar o cabo para carregar a bateria do telefone e a mala estará próxima. Não costumo sair correndo ou ficar muito tempo em pé, mas também não gosto de ser o último.

      Outra pergunta foi, se para sair da aeronave há que se esperar até que as portas sejam abertas, porque o avião mal estacionou e muitos ficam em pé no corredor? Porque os outros ficam em pé eu não sei, mas eu me levanto e pego a minha mala. Costumo carregar um computador, um tablet e uma câmera fotográfica e não vou ficar sentado e dar a oportunidade para que roubem a minha mala. Na própria Globo já assisti a uma matéria sobre a prisão de uma quadrilha que roubava malas em voos que partiam de Brasília. Eram passageiros que pegavam malas no bagageiro e desapareciam.

      Teve outra, porque todos se apertam junto à esteira de liberação da bagagem? Pelo mesmo motivo acima. As malas costumam ser muito semelhantes e, no mínimo, um erro é possível. Por duas vezes eu peguei uma mala que não era a minha, verifiquei e a coloquei de volta na esteira. Qualquer um pode pegar uma mala e sair de qualquer aeroporto, pois não há verificação. É pegar e sair. É sim irritante ficar em torno da esteira, principalmente porque além das pessoas há os carrinhos que tomam muito espaço. Como não há outro sistema e isso não vai mudar, mesmo com esteira ainda desligada verifico em que direção ela vai se mover e vou logo para o início. Costumo pegar a minha mala na primeira passada.

      Sim, a pesquisa mostra a realidade, há muito com que se irritar, mas insisto, é a falta de educação o principal motivo. Fico irritado ainda nas salas de embarque pois as cadeiras são insuficientes e os folgados se sentam e colocam malas nas poltronas ao lado. Se você quiser se sentar tem que pedir. Não respeitam idosos, grávidas, enfermos. Já vi muito disso. E há aqueles que se sentam em uma poltrona, colocam a mala na outra e os pés, calçados, lógico, em outra. Como diz a letra de uma música: é tudo nosso, nada deles.

      Dentro do avião prefiro me sentar no corredor, pois não gosto de incomodar os outros, mas sempre tem aqueles que ao andar nos corredores se apoiam nos encostos das cadeiras, pronto: batem em minha cabeça e puxam os cabelos. E aqueles na poltrona de trás que ficam empurrando a da frente, ou então resolvem brincar com a mesinha? É um tal solta e deixa cair. Prende e bate com força. É uma maravilha quando você quer dormir.

      E os espaçosos? Aqueles que ocupam mais do que a área da própria poltrona? Te apertam seja com os ombros, braços e pernas, e além da disputa pelo encosto de braços eles ainda podem roncar! Sim, para o pior não tem limite. Tem aquele que fica te tocando querendo conversar e te catequizar, seja com política ou religião. Já passei por tudo isso.

      Outra regra é não seguir a regra. Após o pouso anuncia-se para manter o cinto atado até que o sinal seja apagado. Basta fazer esse anúncio e se ouve: clac, clac, clac, muitos soltando o cinto. Também se pede para não utilizar equipamentos eletrônicos, principalmente os celulares. Inútil. Hoje, apesar de proibido eles são usados durante a decolagem, o pouso e dentro do avião. Não acredito que com tecnologia de hoje os sistemas de WiFi e Bluetooth dos celulares possam derrubar um avião, mas acho sim possível que um expert possa usar um celular e entrar em um sistema de controle de um avião.

      O repórter é bom, aliás, é ótimo, mas não pode acreditar naquilo que na faculdade de jornalismo se fala dos médicos e esses falam dos jornalistas: uns pensam que são deuses, os outros, têm certeza. Para um engenheiro virginiano, sim, tem explicação e faz sentido.