sexta-feira, 30 de março de 2012

Assim está difícil.


      Ulisses Guimarães disse que o congresso que entra é sempre pior do que o que sai, e ele sabia o que estava dizendo, pois até hoje não pude contestar essa afirmação. Como resultado de uma legislação política inadequada uma celebridade pode se eleger e levar junto vários com poucos votos. Foi assim com o ex-deputado Enéas (meu nome é Enéas!) Carneiro, e na última eleição com o palhaço Tiririca. Em recente entrevista à Revista Veja o ex-jogador e atual deputado federal Romário comprou uma briga com seus pares afirmando que eles trabalham pouco. E nós podemos dizer, sem medo de errar, que eles trabalham mal.

      Além daqueles de pouca ou nenhuma expressão há os que são mais conhecidos pela sua ficha policial do que pelos projetos encaminhados. Há também os notórios que prestaram um grande desserviço à nação, como os senadores e ex-presidentes José Sarney, que fez um governo extremamente ruim, e o Fernando Collor, que renunciou para não ser cassado. Ambos implantaram políticas econômicas desastrosas, o primeiro, o demagogo e ineficiente Plano Cruzado, e o Segundo, o confisco chamado Plano Collor. Apesar de tudo houve dois pontos positivos no governo Collor, a abertura das importações, que colocou novamente o país no rumo da modernidade tecnológica, e o encerramento do programa nuclear para fins bélicos, fechando os poços para testes subterrâneos de até 320m na Serra do Cachimbo, mas foi só.

      Como não podemos contar com os malandros vamos depositando as esperanças naqueles que parecem virtuosos, mas aos poucos a esperança vai morrendo.

      Eu admirava, tanto que fui seu eleitor, o senador Eduardo Suplicy. As suas convicções e posições me convenciam, mas a sua atuação com o alinhamento incondicional ao partido me desiludiu. O senador pelo Rio Grande do Sul Pedro Simon, que parece ser um dos mais sábios e experientes políticos e sempre combativo, recentemente se viu entre duas posições possíveis, ou mantinha a reputação ou a aposentadoria de ex-governador que acumula com a função de senador. Ainda que pequena, apareceu uma mancha.  E por fim, o senador por Goiás Demóstenes Torres, que foi pilhado em conversas com um empresário de má reputação.

      Não vem ao caso se o senador será condenado ou não após as investigações encaminhas pela polícia federal, uma autoridade que se mostrava defensora da ética e um dos principais expoentes da já fragilizada e inepta oposição não deve manter relacionamento estreito com pessoas ligadas a práticas condenáveis.

      Está ficando difícil manter a esperança.

sábado, 17 de março de 2012

Arquitetura

      Não sou arquiteto e nem tenho um apurado senso estético, mas considero feias todas as nossas cidades. Já morei em sete delas e conheço muitas outras, e nenhuma é bonita. Algumas têm alguns lugares bonitos, mas as cidades em si são um horror. A avenida Paulista em São Paulo? Horrível. A avenida Atlântica no Rio de Janeiro? Terrível.

      Talvez seja a cidade a maior invenção humana, uma maneira simples de se comunicar, de se proteger e de se sustentar, mas os quesitos organização, eficiência e beleza foram deixados de lado. Não há como negar a importância econômica, política, cultural e turística de certos lugares, mas o que determina a arrumação das cidades é o ganho ou o menor gasto de dinheiro e por isso produzimos esses Frankensteins urbanos.

      Nossa história é pequena se comparada a outros lugares do mundo assim o nosso patrimônio é de poucas centenas de anos e aqui em São Carlos especificamente, de pouco mais de 150 anos e nem isso conseguimos conservar. Vejam esse prédio na área central da cidade, ninguém nota a parte de cima que está mal preservada mas é possível perceber a sua beleza, ainda que escondida por esse maldito poste e suas ligações que mais parecem um “gato”. O que chama a atenção é a descaracterização da parte debaixo por um pequeno aglutinado de comércio inexpressivo.



      Na mesma rua um pequeno edifício foi recentemente restaurado e teve a sua fachada preservada, mas na lateral foram instalados dois aparelhos condicionadores de ar. Oras, não dá para negar a utilidade dos mesmos, mas será que não daria para escondê-los?


      Nesse caso trata-se de dinheiro privado e o proprietário pode não querer gastar, mas e quando o patrimônio é público como é o edifício que abriga a câmara municipal e que homenageia o escritor Euclides da Cunha que morou ali perto e foi o engenheiro construtor do prédio ao lado que abriga a escola Paulino Carlos? O Edifício Euclides da Cunha foi restaurado em 1995, mas recentemente fizeram a porquice de autorizar instalação de alguns condicionadores de ar na fachada, isso é um atentado ao patrimônio. Quem instalou pensou apenas na facilidade e no custo, e quem autorizou, bem, não acredito que esse possa pensar em alguma coisa boa.



      Além disso há um bom exemplo de como não se deve fazer uma instalação elétrica.


      Não bastassem os problemas culturais, estruturais e políticos, ainda conseguimos tornar horrível o que já era feio.

      Nota: já escrevi aqui que o SAAE refaz mal o que já havia sido mal feito. Tirei essa foto ainda há pouco aqui perto de casa. Há poucos meses eles já haviam remendado esse mesmo local e a água está novamente vazando, ou seja, o nosso dinheiro está literalmente escorrendo para o bueiro.


sexta-feira, 9 de março de 2012

Tempo Tempo Tempo Tempo.


      O tempo sempre existiu ou é uma invenção dos homens? Havia contagem do tempo antes do Big Bang? O universo está em expansão e o tempo possui um sentido estabelecido, do passado para o futuro, mas e se o universo, a partir de um ponto, começar a encolher até o Big Crunch, o sentido do tempo mudará? Se mudar, iremos reviver ao contrário? Nasceremos velhos e morreremos criança?
Parece-me que para o universo tanto faz o sentido de tempo, tê-lo ou não, não deve fazer diferença, pois somos insignificantes diante da grandeza do cosmos, mas como uma invenção para ordenar as nossas vidas ele é extremamente importante. Imagine viver em um mundo onde não existe a contagem de tempo. Na literatura é possível, mas na vida real seria um transtorno, e tenho certeza que se ele não existisse alguém o inventaria.

      Como já existe ele nos é um bem muito valioso, principalmente porque não sabemos a duração das nossas vidas, o problema ocorre quando alguém decide que o tempo dele é mais valioso do que o nosso. Ou não?

      Ontem eu tinha um horário marcado com um dentista e cheguei seis minutos adiantado e fui atendido 46 minutos depois do horário marcado, e com um detalhe, eu era o primeiro paciente. Tudo bem que durante a espera eu fiquei lendo e não posso dizer que o tempo foi totalmente desperdiçado, mas naquele horário eu poderia fazer outras atividades que eu considerasse mais propícias, já que estabeleço meus horários para a leitura. Nesse caso não escolhi, essa atividade me foi imposta.

      Alguns profissionais da saúde são mestres na arte de valorizar o seu tempo em detrimento do tempo dos pacientes, nesse caso, literal e necessariamente pacientes. Seguem o raciocínio que eles não podem perder tempo, mas quem está necessitando de seus préstimos pode. Para eles tempo é dinheiro, para nós, é só um atestado. Mas eu não quero atestado, não preciso de atestado, quero o meu tempo para fazer o que eu quiser e a única coisa que não quero é ser refém da falta de respeito.

      O mesmo ocorre nas filas dos bancos, dos cartórios, das repartições públicas e também no trânsito. E pior ainda para aqueles que dependem da fila do INSS e do SUS. Eu poderia citar também a fila dos transplantes, mas considerando que a fila que existe é justa, o problema passa a ser a capacidade de coleta, que é uma questão de organização, administração e recursos, e depois, da boa vontade dos doadores.

      Quando os problemas são estruturais podemos nos indignar, exigir e protestar, mas e quando a relação é pessoal entre o profissional e o cliente, o que devemos fazer? Que atire a primeira pedra quem nunca se enfureceu com coisas desse tipo.