quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Reformas

      Assim como o capitalismo é o menos pior dos sistemas econômicos, a democracia é o menos pior dos sistemas políticos, até porque, a opção a esse é o autoritarismo. A democracia pode ser considerada a ditadura da maioria, pois ela aplica a vontade, o desejo e a opinião, e não a coerência e tampouco o melhor para o povo. Basta ver o que vem ocorrendo na Venezuela e mais recentemente também com a Bolívia. Através de artifícios legais e de plebiscitos, seus mandatários impõem a sua vontade de ditadores como se tratassem de democratas.

      Nas ditaduras as consequências são sempre mais rápidas, pois as ações não necessitam de negociação, mas sim de imposição, já nas democracias autênticas os processos são lentos e em muitas das vezes tem que se encontrar um meio termo, estando sempre sujeitos a serem revistos pela justiça, e isso impede rápidas transformações. E de mudanças é o que o nosso país mais precisa. É reforma tributária, fiscal, civil, penal, política e por aí vai. No meu entendimento, a política deveria preceder as demais, pois com políticos mais coerentes os avanços seriam mais rápidos.

      Em primeiro lugar: porque somos obrigados a votar? Porque o voto não é facultativo? O voto deve ser um direito e não uma obrigação. Vota quem quer. Qual é a necessidade do título de eleitor? Porque não temos apenas um documento e esse serve para tudo, inclusive para votar?

      Para que precisamos do senado se já temos a câmara dos deputados? A ideia embutida no sistema bicameral como o nosso apregoa que os deputados representam proporcionalmente a população, já o senado representa igualmente os estados. Claro, Brasília, que nada mais é do que uma cidade e também o pujante Amapá, tem 3 senadores como o estado de São Paulo, ou seja, o mesmo número de votos em questões importantes. Quem pé mais forte? O estado que tem 25% da população e responde por quase 40% da economia nacional ou um estado que tem uma população que é 1/5 do número de eleitores do nosso estado? Além disso, como se vota em um candidato a senador e ele, passando a exercer um cargo no governo, assume a vaga um suplente que normalmente é um parente ou financiador da campanha. Já houve caso que um senador que estava como ministro e cujo suplente votaria contra uma medida do governo, destituiu-se do ministério, voltou para o senado, votou e afastou-se novamente para exercer o ministério. Absurdo. Para mim não deveria haver o senado.

      Há uma pseudo proporcionalidade na câmara dos deputados, pois existe um limite máximo por estado, assim a região sudeste, a mais populosa, tem menos força que o nordeste que tem mais estados e a população menor. A regra deveria ser algo como um deputado para cada quinhentos mil habitantes com o arredondamento para mais. Assim, com quase duzentos milhões de habitantes, seriam cerca de 400 deputados ao invés dos 513 de hoje. Os estados deveriam ser subdivididos em distritos e cada distrito elegeria também um número proporcional, e com os deputados sendo da região, a cobrança seria mais direta. Além disso, caso o deputado vá para um cargo executivo, a vaga não deveria ficar para o partido, deveria ser extinta até a próxima eleição.

      Não há nem como falar nos partidos nanicos, sem representatividade e que alugam a legenda para os maiores ou para caciques. Deve-se criar um mecanismo para que todas as correntes que desejem participem da vida pública, mas de maneira que possam ir ganhando o direito de concorrer aos pleitos de acordo com a sua representatividade. Que comecem como vereadores e depois cresçam para deputados estaduais, federais e depois para as eleições majoritárias, o que não dá é ter 40 candidatos inexpressivos a presidente. Vários desses partidos são legítimos, mas a maioria é de um bando de espertalhões cujo único projeto é enriquecer a si próprios.

      Como diz a letra de um samba de enredo popular na década de 90, sonhar não custa nada.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sobre os tiriricas e os fichas limpas.

      Podemos pautar nossas vidas pela emoção, o que imagino ser uma maneira melhor de viver do que fazê-lo apenas pela razão. O custo que se paga depende do valor que se dá a cada momento, pois ela pode tornar-se por demais sofrida ou alegre, no entanto, para regular a sociedade, a razão deve prevalecer, ainda que para isso seja necessário tomar medidas antipáticas, e nessa semana dois casos chamaram a minha atenção como veremos a seguir.

      Mesmo perdendo três eleições seguidas e ganhando duas consecutivas, o nosso presidente não desceu do palanque para exercer a função para a qual foi autorizado pelo povo, e por isso não teve tempo nem capacidade para nomear o ministro do Supremo Tribunal Federal em substituição a um que se aposentou, o que gerou a notícia dessa semana: empate em 5x5 sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições desse ano. Houvesse ele feito a nomeação, o empate não seria provável, logo vocês podem imaginar a quem imputo a culpa, mas como o estrago está feito, podemos tirar algumas lições do caso.

      Imagino que a maioria da população apóie a aplicação da lei ainda esse ano, eu inclusive, mas trata-se de um regulamento que foi aprovado quando o processo eleitoral estava em curso, logo, sua validade está sujeita a interpretação, pois ninguém discute a sua aplicação para 2012, mas sim para o atual pleito, e por isso a discussão do mérito foi levada ao órgão máximo da magistratura que tem competência legal para julgar a sua constitucionalidade, assim, gostemos ou não, a decisão deve ser acatada, pois creio que as senhoras e os senhores, ministros do tribunal, têm capacidade técnica para decidir. O fato gerador da ação foi a eleição ao governo do Distrito Federal, onde um ex governador e atual candidato, enrolado com a justiça, recorreu da decisão do Tribunal Regional Eleitoral, mas para não ficar sujeito à decisão, para ele inesperada, resolveu sua situação argentinamente (vejam o caso dos Peróns e dos Kirchners), renunciou à sua candidatura em favor da sua esposa. Ainda bem que não deram essa ideia ao nosso presidente, do contrário, seria candidata a dona Marisa, não a senhora Dilma.

      Ontem postei o link da reportagem da Revista Época que denuncia uma suposta irregularidade no registro da candidatura do Tiririca, pois ele seria analfabeto. Li diversos comentários sobre isso, tanto a favor quanto contra, e o que chamou a minha atenção foram alguns que contém o seguinte teor: mensaleiros, aloprados, sanguessugas e corruptos de toda espécie podem se candidatar, já um humilde, honesto, trabalhador, ainda que folclórico, não pode. Não concordo, mas até que encontro alguma razão, pois o caráter da pessoa é o mais importante, e não saber ler ou escrever é um detalhe, pois se ele estiver bem assessorado não irá cometer barbaridades. Em outro nível podemos dizer que nosso presidente é analfabeto em idiomas estrangeiros, mas a sua assessoria faz com que ele disponha de todas as ferramentas para avalizar os acordos internacionais. No entanto, trata-se aqui também de uma questão técnica, e preconiza a lei vigente que analfabeto não pode se candidatar, e se for constato ser esse o seu estado, a candidatura deve sim ser impugnada.

      Embora todos os holofotes estejam nas eleições majoritárias, são as proporcionais as mais importantes, porque aguentar um administrador ruim por quatro anos é possível, mas ter que viver sob um deficiente sistema jurídico tem um custo muito mais alto. Se quisermos uma sociedade melhor, devemos saber escolher aqueles que farão as nossas leis.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O verde amarelou.

      Como diria um conhecido político profissional e presidente de plantão, nunca antes nesse país houve um início de primavera tão seco. Sem irrigação artificial não há em nossa região pastos, gramados ou jardins verdes, estão todos completamente desidratados. O fogo arde por todos os lados e rios da Amazônia estão desaparecendo. Aqui na região voltei a ver fogo nas laterais das pistas em quantidade, coisa que há muito tempo eu não via. O verde se tornou amarelo ou preto.

      Ver o verde Palmeiras amarelar não é novidade, ocorre com mais frequência do que a mudança de lua, e espero que continue assim até que o sol desapareça, daqui a uns 6 bilhões de anos.

      Não sou índio, xiita ou abraçador de árvores, mas considero ser, o Partido Verde, muito importante em nossa política. Apesar de seu radicalismo atrasado em algumas questões, seu contraponto é importante para equilibrar as forças legislativas. O seu ativismo e capacidade de mobilização da juventude e de organizações não governamentais locais e internacionais são capazes de reduzir o impacto das facções desenvolvimentistas irresponsáveis.

      Não pretendo, em nome do conservacionismo, voltar a viver no período da pedra lascada pois gosto de conforto e não abro mão do desenvolvimento tecnológico, e por isso sei que as nossas academias e empresas de pesquisa têm condições de responder com desenvolvimentos que, apesar da superpopulação do planeta, possam minimizar em um primeiro momento a agressão à natureza, e depois reverter vários processos, assim como ocorreu com o rio Potomac em Washington DC, que de tão poluído pegou fogo e hoje é novamente um rio de águas limpas. Se o sabão polui a água, muda-se para o biodegradável, se a energia provinda de fontes fósseis produz derivados tóxicos, cria-se energia de células de hidrogênio, se o plástico ou polietileno não se degradam facilmente, substitui-se por polímeros derivados de material orgânico como a cana de açúcar, se for necessário cortar 100 árvores aqui, planta-se 10.000 acolá, e assim por diante, solução tem, basta pagar por ela. Dinheiro para isso também tem, mas é necessário que a sociedade queira que isso seja feito, porque aqueles que lucram com os processos atuais não irão largar o osso, a não ser que sejam legalmente obrigados. O problema, portanto, é criar a legislação adequada, e é aqui que entra o nosso glorioso PV.

      Em nome de uma ilusão executiva foi decretada a morte temporária do partido, e não importa que eu venha a votar no seu candidato ao senado e também a deputado estadual, os melhores quadros do partido, e que são os únicos que têm possibilidade de agregar, em profusão, votos legislativos à legenda, estão se arvorando numa empreitada inútil, pois além de não ganharem as eleições majoritárias, irão destruir a sua força proporcional. E mesmo que remotamente tivessem a possibilidade de se elegerem aos postos executivos, não conseguiriam governar, pois pelo modelo presidencialista proporcional que temos nenhum partido consegue governar sozinho, e o único que têm militantes é o PT. Assim, o Collor, que foi um fenômeno de votos e se elegeu por um partido nanico, foi apeado do governo pela Folha de São Paulo e a revista Veja que denunciaram as irregularidades, e pelo PT, que naquela época não era tão mobilizado, não tinha tanto dinheiro, e nem estava incrustado no aparato estatal como hoje, e que colocou o bloco na rua e criou a indignação geral. E olhe que o tal escândalo da era Collor era da ordem de 5 milhões de dólares de um empréstimo fajuto chamado operação Urugai, de uma reforma na casa da Dinda e de um Fiat Elba, ou seja, dinheiro de troco perto dos escândalos atuais.

      Não importa qual partido seja, para governar tem que vender a alma ao diabo, ainda mais o PV que nem mesmo tem sustentação própria. Se ao invés de se aventurar na corrida presidencial a Senadora Marina tivesse mudado o seu domicílio eleitoral para São Paulo, seria a senadora mais votada do país com capacidade para exercer a liderança no senado. O Fernando Gabeira, no Rio, também ganharia, aumentando a capacidade de articulação e pressão, isso sem falar nos deputados federais, como o Fábio Feldman, que é candidato sem votos a governador de São Paulo, mas que se elege facilmente para deputado e ainda arrasta mais alguns, ou seja, abriram mão da real possibilidade por um sonho inútil, e perdemos todos nós.

      Por erro de estratégia o Partido Verde vai tornar-se tão irrelevante quanto a grama seca, mas espero que, como essa, tenha forças para, voltando as chuvas, reviver.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Simplismo político.

      Política é a arte de distorcer a realidade. Para vencer as eleições vale qualquer coisa, como aliar-se a adversários, fazer coligação com partidos nanicos sem possibilidade real de se eleger mas que têm poder de difamar e propagar factóides para infernizar a vida dos adversários, arruma-se personagens folclóricos que se elegem com um caminhão de votos e arrastam um sem-número de sem-votos, e ainda, tem o poder da purificação. De repente o corrupto se transforma em realizador, visionário e patriota.

      O marketing político utiliza a capacidade da redução, diminuindo o debate sério ao simplismo emocional, não importa a realidade, mas os votos a serem conseguidos. Dois exemplos me chamam a atenção, um deles em nível estadual e outro no pleito federal.

      O Celso Russomano levantou a bandeira, agora também defendida por todos opositores do Geraldo Alkimin, sobre a redução das tarifas de pedágio, demanda, aliás, que considero justa, mas não precisam mentir. Há cerca de 20 anos quando foram iniciados os processos de concessão à iniciativa privada, as estradas eram uma lástima. Lembro-me que eu não conseguia sequer ouvir um CD enquanto dirigia, pois ele era interrompido a todo instante pelos solavancos provocados pelos buracos, e hoje as 10 melhores estradas do Brasil estão em São Paulo. Quando eu bati o carro na Serra dos Padres, logo aqui entre Rio Claro e São Carlos, em 2 minutos tinha um carro de resgate e em 5 minutos, 4 carros. Eu assistia quase que diariamente matérias veiculadas sobre as condições de trabalho dos policiais rodoviários que não tinham viaturas, quando as tinham estavam quebradas ou nem mesmo combustível tinham para fazer o patrulhamento, isso sem falar nas armas enferrujadas, hoje ninguém se dá conta disso. Os candidatos propagam ainda a ideia de que o patrimônio público foi dado de graça aos capitalistas, o que é outro erro, o que existe é um contrato com prazo de vencimento, mas a estrada continua sendo do estado. Alguns candidatos falam em rever os contratos, e aqui há um problema sério que é o cumprimento dos contratos, o que dá segurança jurídica a quem trabalha. Ora, trabalhar custa, e quem investe quer retorno, e se o contrato foi mal feito, quando expirar não deve ser renovado, mas quebrar contrato é algo inadmissível. Como vários desses contratos estão próximos do vencimento, basta estabelecer novos parâmetros para a renovação já que a questão da infraestrutura está equacionada, por exemplo: incluir como meta a redução do número de acidentes, a duplicação de estradas secundárias e, inclusive, o valor do pedágio.

      Outra piada é a propaganda ufanista que diz que no tempo do FHC o Brasil era devedor ao FMI e hoje, além de não dever, ainda emprestamos dinheiro, ou seja, somos credores. Isso não é mentira, mas é um erro crasso. As reservas cambiais nunca estiveram tão altas, são mais de 200 bilhões de dólares depositados no banco central, logo, o suficiente para manter estável a taxa de câmbio, o que significa que é melhor dever em dólar do que em real. O custo do empréstimo no exterior é uma pequena fração do custo interno, pois temos uma taxa Selic de 11% aa, que é a maior taxa de juros do mundo. Assim, quando o governo toma dinheiro emprestado está aumentando a dívida pública o que pode gerar inflação. Se tomássemos dinheiro emprestado no exterior teríamos folga orçamentária, reduzindo a taxa de juros e expandindo o mercado, sendo a Selic utilizada apenas como instrumento de controle da demanda e não como redutora da produção.

      Mas como explicar isso a uma população iletrada e que tem ojeriza aos debates econômicos e políticos? Talvez, com razão, o povo esteja correto também reduzindo os políticos a uma só categoria, são todos sem-vergonha.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Que inveja do Arnaldo Jabor!

Quando as instalações dos equipamentos digitais chegavam ao fim, concedi cerca de 15 entrevistas para portais de internet e veículos regionais de comunicação como jornais, revistas, emissoras de rádio e TV. Ontem recebi, como cortesia, um exemplar de uma das revistas com o artigo para o qual passei as informações. Trata-se da revista Boemia, de Araraquara, (www.revistaboemia.com.br ou www.revistaboemia.blogspot.com ), e de longe, foi o artigo melhor escrito, mérito para o editor Rodrigo Brandão, que não sei se é pelo parentesco com o escritor também Araraquarense, Ignácio de Loyola Brandão, tem também o dom da palavra. Para aumentar a responsabilidade, o texto está ao lado da coluna do Dr. Sócrates, sim, o médico e ex jogador do Corinthians e da seleção brasileira que faz uma ligação entre o esporte, a educação e a saúde, ou da falta desses. A capa da revista trás o cineasta e escritor Arnaldo Jabor, e a minha inveja aumentou!

Muitos dos textos bem elaborados que aparecem na internet vêm com a suposta assinatura do Jabor ou do Luis Fernando Veríssimo. Digo suposta porque não sei como e nem quero conferir a autoria e, justamente por não saber, é melhor não dar-lhes a paternidade, mas em alguns casos, fica patente o DNA do autor. Excetuando-se os comentários sobre cinema e literatura em geral, coisas que aprecio apenas como consumidor pois classifico meu senso estético como duvidoso e meu conhecimento literário como primário, me encontro nas falas sobre atualidades, especialmente sobre o momento político. De maneira clara, direta e elegante, está ali tudo o que sinto e que gostaria de dizer e, principalmente, da maneira como eu gostaria de dizer e não consigo. Às vezes utilizo pirotécnica demais para dizer coisas de menos, e isso me aborrece. A minha inveja cresce porque não tenho esse dom, e sinto que isso me faz falta.

Meu coração já andava meio balançado, pois a Veja dessa semana nos brinda com dois textos magnificamente escritos: O Livro dos Porquês, do Claudio de Moura Castro, que trata de atitudes incoerentes e perguntas sem respostas, e o artigo Uma Meta Para O Próximo Presidente, de Gustavo Ioschpe, que mostra que a educação é o diferencial para impulsionar o desenvolvimento do país e distribuir renda. Leio diariamente sobre esses assuntos, comento sobre isso todos os dias, concordo e discordo sobre partes dos mesmos, mas esse não é o foco do momento, meu desejo é ser capaz de expressar as ideias de maneira correta, organizada, direta e de forma elegante como eles o fazem, mas desejo apenas não basta, além do talento é necessário que se tenha a formação adequada, coisas que jamais terei.

Digo aos meus amigos que tenho dois traumas na vida: não sei tocar nenhum instrumento musical, nem mesmo berimbau que tem uma só corda, e nunca consegui “enterrar” uma bola de basquete. O primeiro até que posso resolver se não fosse o preguiçoso que sou, mas o segundo, é impossível, pois no alto dos meus 1,73m e o aro a 3,05m, só se eu subisse em uma escada. Aos dois, agora vai sendo somado o terceiro: por mais que eu tente, não sei escrever, e nem estou considerando a falta de criatividade, mas simplesmente a organização e a estrutura ,e aqui não funciona a lógica do não comparar para não se sentir ridículo, porque ler me faz bem, e ler coisas ruim só iria me tornar pior, logo, vou continuar sofrendo e diminuindo-os: nenhum deles pedala tanto quanto eu.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

É paixão ou obrigação?

      Sou torcedor do São Paulo Futebol Clube e não escondo isso de ninguém. Trata-se de uma questão de identificação desde a infância, talvez influenciado por um dos meus tios, já que meu pai era Corinthiano, tenho dois tios Palmeirenses e outros dois, Saopaulinos. Não há a menor necessidade de ser racional quando se é torcedor, basta torcer e pronto. Mesmo utilizando alguma lógica para justificar as vitórias e as derrotas, isso não passa de proselitismo, ninguém muda de lado se for realmente torcedor, e nem é necessário apresentar justificativas, aliás, é melhor mesmo que nem haja justificativas. Não tenho outra paixão assim, talvez uma quedinha pela Beija Flor de Nilópolis quando o assunto é carnaval, mas que não me desperta tanta atenção. Nem mesmo nos esportes que pratico os faço desinteressadamente, pois os utilizo para a manutenção da saúde mental, física e pela redução no uso de medicamentos para o combate às taxas de triglicérides. No entanto, tanto no trabalho quanto na política não tenho paixão, é racionalismo puro.

      Trabalho porque preciso e não vejo outra vida que não seja com uma atividade produtiva. Sou engenheiro porque não tive muita opção e a condução da atividade profissional me levou a isso, já que é uma tarefa de fáceis aprendizado e desempenho, além de razoável remuneração, mas já que faço isso a tanto tempo, até me divirto e não permito que se torne um fardo.

      Quanto à política, bem, a vejo como uma questão de necessidade. Só há uma alternativa para a manutenção da vida, que é caminhar para frente, e a condição básica é organizar o espaço e os recursos para que todos participem dos custos e dos bônus, e desde a Grécia antiga, o fórum mais adequado é a política. Por isso procuro acompanhar os movimentos políticos permanentemente e não apenas nos períodos eleitorais e me utilizo de alguns princípios para definir o meu voto: logicamente o candidato não pode estar envolvido em corrupção, ou em conduta que afronte justiça, não apenas aquela exercida pelo poder judiciário, mas também a das minhas convicções, pois basta que eu o julgue culpado que ele o será, e nem terá chance de recorrer a instâncias superiores. Além disso, procuro analisar se ele pode ser exercer melhor a administração ou ser um legislador. Esse é o caso típico da Marina Silva e do Fábio Feldman, o segundo, aliás, já teve o meu voto para deputado. Os considero excelentes para ocupar uma cadeira no poder legislativo, pois contrapõem com propriedade, as forças empresariais que possuem capital e sempre elegem uma grande bancada, assim, com oposição, não haverá o radicalismo em nenhum dos lados, e todos ganharemos, porém, como executivos, os dois não teriam meu voto nem para síndico do prédio onde resido, pois não os vejo como administradores.

      Para os cargos executivos procuro por aqueles com capacidade de liderança e organização e considero serem poucos aqueles que podem fazer parte dos dois poderes, como o fez o Fernando Henrique Cardoso e o Nilton Lima, que terá o meu voto para deputado federal. Embora eu não tenha votado nesse em seu primeiro mandato, e apesar da arrogância PTniana, gostei da sua primeira administração e votei nele para a reeleição, e acho que ele tem bagagem e capacidade intelectual suficiente para nos representar bem, e espero não decepcionar-me com ele como fiquei com o Mercadante e o Suplicy.

      Há tempos, quando falo de política, blasfemo contra o aparelhamento do estado pelos militantes petistas, e hoje vi um dado que me estarreceu, pois odeio pagar impostos. São cerca de 22.000 cargos de confiança na administração federal, ou seja, são aproximadamente 20.000 parasitas gastando o nosso dinheiro, pois o governo não precisa do trabalho de mais que 2.000 deles. Isso significa que estamos pagando 20.000 militantes partidários enquanto o governo apregoa que tirou 20.000.000 de pessoas da pobreza. Tirou coisa nenhuma, foram as forças produtivas que pagaram as contas, logo são os verdadeiros distribuidores de renda. Assim, a melhora da renda não se deu por causa do governo, mas apesar do governo. Governo esse que zomba das leis e comete irregularidades que vão desde o mensalão, da quebra de sigilo do caseiro, do dossiê encomendado pelos aloprados quando vimos pela primeira vez dólares na cueca e depois virou moda, pelo escândalo dos cartões corporativos, pela recente quebra do sigilo fiscal de diversas pessoas, além da farsa do estádio do Corinthians que custará cerca de 15% do valor dos 2.200.000.000,00 em obras em diversos estádios no Brasil já encomendados a essa empreiteira, ou seja, há algo de muito podre no reino da Dinamarca!

      Tenho algumas perguntas, por onde anda aquele procurador público chamado Luis Francisco, figura singular que a psicologia mominava como cerebrotônico, sujeito alto, magro, desconjuntado, esverdeado pela falta de sol, inteligente, perspicaz, estudioso e que diariamente estava na mídia com uma acusação e exigia: fora FHC? Por que será que ele desapareceu assim que o PT assumiu o poder? Seria ele militante? Será que o governo atual chegaria ao fim com tão empedernida oposição, ou cairia como ocorreu com o Collor? Se esse governo caísse e tendo à frente um presidente com tal grau de aprovação, o que ocorreria? Teríamos um novo golpe de estado a la Venezuela?

      Sempre tenho mais perguntas que respostas, mas pagar por militância arrogante já é demais.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tristeza!

      Tenho muitas dúvidas e poucas certezas e por isso tenho alguma facilidade para elaborar diversas visões sobre o mesmo fato, evento ou situação, claro que são apenas opiniões, pois não tenho a competência de cientistas sociais. Porém faço uma afirmação: sou a favor da tecnologia, inclusive, no meu primeiro emprego regular, em que comecei emitindo notas fiscais em máquinas de datilografia, tive o meu primeiro contato com computador. Era um aparelho enorme, com vários módulos, leitor óptico de cartões e leitor magnético de fitas impressas em cartões de papel, além de muita mecânica para manipulação de fichas, impressão em formulários e perfuração dos cartões. Era uma máquina alugada da Borroughs que ocupava uma sala inteira super gelada, e cuja capacidade era uma pequena fração do que faz hoje qualquer telefone celular. O efeito colateral foi que dos 12 funcionários do departamento, 10 foram demitidos após essa implantação, ficaram apenas o chefe e eu.

      Aquela tecnologia já começava a modificar os fluxos de trabalho, mas não era acessível à população e nem produzia acesso às informações. Eu, que naquela época eu tinha 17 anos, ganhava 10% mais que o salário mínimo, cursava o último ano do curso técnico em eletrônica e vivia em cidade pequena, tinha contato limitado com o mundo. Em minha casa não havia receptor de televisão, logo, ouvíamos rádio, para ler revistas e jornais eu visitava bancas de conhecidos ou recorria a locais públicos como as bibliotecas, mas eu lia muito. A partir dos 12 anos, graças ao grupo de conhecidos do meu irmão, passei a ter contato com livros e pessoas esclarecidas e engajadas na luta contra a ditadura militar, e tive acesso à literatura nacional, internacional, filosofia e política. Meu comportamento era eclético, então conheci de Machado de Assis, a Jorge Amado, passando por José Mauro de Vasconcelos. Li Tolstoi, Dostoievski, Fernando Pessoa, alguma coisa de Shakespeare, Waldo Emerson, Maquiavel, Kant, Hegel, Sócrates, Platão, Marx e muitos outros. Como preguiçoso e invejoso que sou, eu não estudava, mas procurava entender as ideias e perguntava muito. Isso refletiu no meu gosto musical e em minha comunicação, que, de tímido, passei a ser tagarela, pois eloquente é muito para mim, e me arvorei a escrever, fazendo parte da editoria de um jornalzinho dedicado à juventude.

      Apesar de tantas atividades, apenas hoje vejo como o meu mundo era pequeno. Eu poderia saber de muita coisa do passado, mas não vivia intensamente o presente e muito menos poderia interagir com ele, pois não havia essa maravilha que é a internet, ferramenta que hoje está disponibilizada em praticamente todas as residências da classe média e em centros gratuitos para os de menor poder aquisitivo. Nem preciso listar todas as virtudes da rede, pois vocês que me lêem através dela a conhecem muito bem. Da mesma maneira que se diz que o mal não é o que entra pela boca, mas o que sai dela, não há mal na internet, mas o mal é o que se faz dela. Tenho uma conta de e-mail do Yahoo e por isso acesso esse portal todos os dias, e no lado direito da página inicial há um quadro com os 10 assuntos mais buscados e, se considerarmos que os que mais acessam a rede são pessoas que possuem um certo grau de escolaridade, são em sua maioria jovens, estão em idade ativa e produtiva, me dá enorme tristeza quando vejo os “top ten”

1. Horóscopo
2. Resumo das novelas
3. Robinho
4. Mineiros Chilenos
5. Eliana
6. Miley Cyrus
7. Sabrina Sato
8. Mariah Carey
9. Telelistas
10. Justiça Federal.

      Será que não há uma maneira melhor de aproveitar esse extraordinário recurso?

Obs. Não li Os Lusíadas, apenas algumas passagens. É claro que li Vidas Secas e Os sertões dentre outros. O José Mauro de Vasconcelos conheci pessoalmente, levei uma coleção de seus livros que pertencia a um amigo para que ele autografasse quando do lançamento de Chuva Crioula.