quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O Meu 2014

     Há tempos fui informado, embora eu não saiba o que isso significa (nem procurei saber), que sou filho de Xangô, e nos primeiros dias do ano que Xangô iria reger 2014, portanto, um ano de mudanças, e elas vieram, e vieram forte. Mas vamos começar pelo que não deu certo.

      Ao contrário dos anos anteriores perdi o meu condicionamento físico, perdi massa muscular e ganhei peso, comecei com 72,8 kg e terminei com 77,7 kg. Ganhei também uma alergia, que pela primeira vez em 55 anos me levou a um plantão médico sem ter sido por acidente. Me exercitei apenas 111 horas em 92 exercícios e pedalando 10% do que fiz em anos anteriores, muito pouco para a minha vontade. Não estudei, não assisti a shows e fui, em um bate-e-volta, aos Estados Unidos sem nenhum lazer.

      Por outro lado, tive logo no início do ano três demonstrações de que há sensação, como o reconhecimento, que dinheiro algum compra. Em anos anteriores, por falta de opção, fui escalado para apresentar alguns temas em encontros de engenheiros, fui bem avaliado pelos organizadores que me convidaram para fazer outra apresentação, dessa vez em um treinamento, e acho que me saí bem. Um projeto criado pela equipe da qual eu fazia parte em São Carlos foi o vencedor de um concurso nacional de desenvolvimento tecnológico. Esse merecia ter sido patenteado. Por fim, fui convidado pela empresa para a qual eu trabalhava a mudar de emprego, cidade e estado. Roubando o título de um blog que eu costumava ler posso dizer que hoje "Eu moro onde você tira férias". Tudo isso junto logo no início do ano me deu a sensação de que a minha carreira fez sentido, que estou no bom caminho.

                                                                 Igreja de São Francisco

      Profissionalmente não foi um ano de entregas, mas de aculturação. Estou me adaptando às demandas, processos e estrutura, mas já deixando algumas marcas, e a característica que me apontaram é que sou paulistanamente, “muito direto”, logo, preciso me policiar. Não posso dizer que esteja feliz profissionalmente, estou é inquieto, mas com muita vontade e determinação. Uma das melhores partes da mudança é saber que deixei amigos por onde passei e que estou fazendo amigos onde estou. Sempre admirei as equipes com as quais trabalhei e aqui também conheci profissionais competentes, inteligentes, dedicados e que me receberam com muita hospitalidade. Não dá ainda para saber se a minha proposta de trabalho será vitoriosa, mas já estou contente por ter o sentimento de pertencer a mais uma boa equipe.

      Há três lugares que conheço bem aqui na Bahia, a casa onde moro, o meu local de trabalho e o aeroporto de Salvador. Por ter voado mais de 60.000km gastei muito tempo em aeroportos, o que me deu tempo para leitura. Ao contrário dos últimos anos voltei a ler e a reler, mas não voltei a estudar. Estudar não me dá prazer, mas ler e saber, sim.

      Eu achava feia a cidade de São Carlos, mas as daqui são piores. Estou morando em Lauro de Freitas, cidade vizinha a Salvador, onde trabalho, e não podia imaginar que em pleno século XXI eu iria viver em um local que não tem rede de esgotos, tratamento de esgotos e coleta seletiva de lixo. Tratamento de resíduos, então, nem pensar. Essa é a realidade, ainda que eu esteja na parte mais rica do estado, assim concluí que para São Carlos falta apenas o mar. Como eu já havia dito quando visitei São Francisco, na Califórnia, o mar conserta tudo. Aqui não tem um mar apenas, tem um oceano, o que propicia lugares maravilhosos apesar da falta de infraestrutura adequada. Por ser uma região metropolitana, tive que me adaptar ao trânsito, longas distâncias, congestionamentos e ao planejamento para sair de casa, essa é a parte ruim, mas também tive que aprender a ver, além da previsão do tempo, a tábua das marés, prá saber quando a praia está melhor. Que chato!

                           É melhor um dia ruim na praia do que um dia bom no escritório

      A pior parte da mudança foi ter deixado a minha filha. Ela, que se casou, seguirá o seu destino longe da gente, mas entendo que assim é a vida. A parte boa foi o apoio do meu filho e da minha esposa. Essa sim paga um preço alto, pois nós todos deixamos o conforto, a estabilidade, a rotina e os amigos, mas eu tenho a atividade profissional que me ocupa, mas ela, a princípio, só tem a mim e é quem nos dá suporte, e nos incentiva.

      Não costumo fazer promessas para o ano vindouro, mas dessa vez, além do empenho para fazer tudo dar certo, não irei tomar refrigerantes até o próximo natal e voltarei a treinar, pois já estou ficando preguiçoso e sentindo falta, também continuarei ensaiando, já falei um “Oxi” quase espontaneamente. De qualquer maneira me sinto privilegiado, assim, novamente, nada a pedir, mas muito, e a muitos, agradecer.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Com muita sede ao pote

      É estarrecedor ver a notícia que, nessa semana, um bando de malucos criminosos no Paquistão fuzilou mais de 130 crianças e adolescentes. Além da barbárie, a notícia impressiona pela quantidade, mais de uma centena de mortes de uma só vez, e também pela idade das vítimas. No entanto não gera comoção saber que cerca de 50.000 mortes são causadas anualmente no trânsito brasileiro e que essa também é a ordem de grandeza dos crimes violentos em nosso país, que ceifam, principalmente, a vida de jovens com menos de 30 anos.

      Sob qualquer ângulo são cifras absurdas, e embora eu não saiba dimensionar, imagino que sejam ainda em quantidade inferior a quanto se mata, se destrói, ou se deteriora a nossa sociedade com o produto da corrupção a que estamos assistindo, e que parece cada vez mais com a ponta de um iceberg, ou seja, o que virá amanhã será muito maior do que vimos hoje.

      Cansa ver todos os dias o cartel dos trens, o mensalão que nunca acaba, os roubos na Petrobras e até na direção do voleibol nacional. Um rápido olhar nas notícias e já se especula com investigações na Eletrobras e já falaram também do BNDES, enfim, onde tem dinheiro público há suspeita de roubalheira, mas como se diz, não existe dinheiro do governo, existe dinheiro de quem paga imposto, ou seja, nosso. O dinheiro é nosso mas o benefício é de quem?

      O saber que muitos daqueles que recebem a nossa autorização para nos conduzir para uma sociedade melhor, mais justa, mais igualitária, estão envolvidos nessas falcatruas não produz apenas o sentimento de perplexidade, mas também de desamparo e desesperança. Não dá para criticar aqueles que durante toda a vida trabalharam arduamente e que, nesse momento, perdem até o sentimento de indignação, pois parece mesmo que não tem jeito, e que somente o crime compensa.

      Os nossos valores estão deteriorados e a nossa sociedade corrompida. Somos uma nação de percepção infantil, egocêntrica, na qual não importa o outro, não importa o futuro, importante sou eu e agora. É triste dizer, mas não sei se dá para desejar um bom Natal e um feliz ano novo.