sábado, 15 de abril de 2017

Chamem o Batman

      O brasileiro é um povo interessante. Primeiro todo mundo foi  técnico de futebol, com a hiperinflação todo mundo virou economista, e desde o mensalão todo mundo é procurador de justiça, advogado e juiz. Mas como quem faz tudo não faz nada certo, se interpretam as informações açodadamente.

      Ainda que eu ache que algumas penas sejam pequenas pelo estrago que fizeram, a tal “delação premiada” está trazendo à luz anos e anos de contínuo descalabro e daquilo que já se sabia que existia mas que ninguém conseguia provar. Nesse caso teremos que nos contentar com o mal menor: pena pequena mas crimes expostos. Mas não se pode perder de vista que o delator é um criminoso que procura, entregando a mãe, Deus e o diabo, reduzir a sua condenação e, quem sabe, ter até mesmo a sua absolvição.

      Nos depoimentos que passaram a ser conhecidos integralmente nessa semana, (o que foi bom, porque estava me irritando a tal desculpa do “vazamento seletivo”) e olhem que essa é só a ponta do iceberg, pois trata-se de uma única organização que colocou em um só pacote todos os seus executivos envolvidos, e haverá outras pessoas e organizações buscando pelo mesmo recurso, apareceram cerca de duas centenas de pessoas citadas. O nosso senso de urgência, e por que não, de vingança, já considera todos os citados como sendo culpados, e mais, generaliza o comportamento criminoso: todo mundo é igual! Não é bem assim.

      Ainda que a gente não concorde plenamente, fazer justiça é fazer cumprir a lei, e na lei há várias possibilidades que às vezes são frustrantes, como a falta de provas e o decurso de prazo. Um conhecido criminoso contumaz pode não vir a ser condenado porque não se encontrou evidências do crime, houve erros técnicos na condução do processo ou a culpabilidade se extinguiu pelo tempo decorrido e, nesses casos, sim, o “ladrão" é inocente.

      É bom a gente ir se acostumando, pois várias dessas acusações não serão provadas e alguns implicados vão bater no peito e dizer que a justiça foi feita. Não devemos tomar tudo como verdade, mesmo quando os crimes foram narrados com tanta naturalidade, com tanta informalidade, com tanta desfaçatez  como se estivessem comentando sobre o clássico do domingo passado. O fato de aparecer na lista não significa condenação imediata.

      O moment é ruim? É, é péssimo, mas é melhor agora do que mais tarde, e poderia ter acontecido antes, o que seria melhor ainda, mas precisamos tomar cuidado, pois não devemos tomar o todo pela parte podre.  Pelo raciocínio rasteiro de relativizar as ações e colocar todos sobre a mesma pecha de ladrão, de bandido, a pergunta que fica é: sim e vai fazer o quê?

      Ainda confio que haja pessoas boas e bem intencionadas, e a gente sabe, e tem mesmo que saber que a nossa vida segue e que uma organização precisa haver, e que as instituições devem continuar funcionando. Quem está preparado para liderar? Eu não sei, mas só tenho uma certeza, não será o Batman.