quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O Meu 2015.

      Após uma sequência de anos vitoriosos chegou a inflexão: 2015 não começou bem e terminou pior, agora a curva aponta para baixo. Eu posso dizer que para mim até que não foi dos piores se comparado com o de muita gente. O ano começou frenético e terminou se arrastando. Vi amigos e conhecidos perderem o emprego, tanto aqui, na Bahia, quanto no estado de São Paulo, e isso é péssimo. Alguns perderiam naturalmente, pois as estruturas precisam se renovar, mas a maioria foi por causa da crise econômica e política. As três esferas de poder estão contaminadas por ideologias rasteiras e por vigaristas de todas as espécies, e não há consolo, pois 2016 não parece que será alvissareiro.  A gente não merece isso, mas é o que temos.

      Não consegui cumprir as minhas promessas. Apesar de ter mantido o mesmo peso do final do ano passado não voltei a treinar com a regularidade necessária, e desde o final de setembro estou com uma lesão no joelho esquerdo que dói muito e me levará a uma cirurgia. Segundo o médico eu poderia viver assim, mas a vida de atleta estaria encerrada. Espero ser operado ainda no início do ano para logo aumentar a intensidade e a regularidade dos treinos, pois já estou ativo mas com baixa frequência. Além do que, vou praticar um esporte náutico, embora ainda não tenha decidido qual será.
Menisco Lesionado
      
      Não tenho problemas na família, a única preocupação é com minha mãe que mora sozinha e longe dos 3 filhos, e isso não está bom, precisamos discutir esse caso com mais assertividade. ( Eu fico em Salvador - BA, meu irmão em São Mateus - ES, e a minha irmã em Sorocaba - SP, a mais perto. O nome das 3 cidades começa com S ). Se em 2014 ganhamos um filho quando a nossa filha se casou, agora temos também um neto. Um garoto saudável, com habilidades motoras notáveis para a idade, bonzinho, e que acorda com um bom humor expressivo. A gente está “babando” por ele.
Na praia com o meu netinho. Em 8 meses é a terceira vez que ele vem aqui e a primeira que entra no mar.
      
      Não estudei e vai demorar para que eu encontre algo que eu precise e me atraia. Fiz apenas um curso rápido à distância que foi de pouca serventia, achei-o fraco. Eu leio com alguns propósitos: aprender, distrair e recordar e isso fiz bastante. Ainda que tenha pouco tempo disponível, aproveito-o bem, e esse é um ponto positivo. Novamente não assisti a shows, mas em setembro fiz uma viagem empolgante a Washington, até porque não paguei por ela como já contei em um post do dia 03 de maio. Visitamos, a Nega e eu, vários lugares, fomos a museus incríveis: de história natural, de arte, de escultura, de história e de ciências, além termos ido aos principais pontos turísticos ( a minha foto no blog foi tirada durante essa viagem no Lincoln Memorial ) e também a restaurantes típicos. Ficamos também alguns dias em Las Vegas onde nos encontramos com amigos. Lá passeamos e fizemos algumas compras. Viagem tranquila, o que estragou foi a desvalorização do Real frente ao Dólar, que saiu da casa dos dois e pouco por Dólar, para mais de quatro quando viajamos. Outra vez: eta governo incompetente!
Lidos em 2015. Faltam nessa foto uns dois que estão emprestados.
      
      Profissionalmente também foi um ano turbulento e a minha expectativa foi mudada em função das necessidades, mudou em janeiro e novamente em novembro. Apesar de ainda ter a televisão na veia, hoje o meu trabalho está ligado à infraestrutra de televisão. Aquilo que era figurante em meu trabalho hoje é protagonista, deixei de ser generalista para tentar ser especialista em duas disciplinas. O problema é que precisamos de resultado antes de ter uma equipe bem formada, e o meu estilo não é o “arrasa quarteirão”,  aquele que chega e arrebenta, trabalho melhor construindo aos poucos, mas de maneira sólida. Sinto que terei dificuldade, mas me conheço e sei que tenho uma enorme capacidade de me motivar, igualmente me motivam a dor e o prazer. Se não vou fazer o que mais gosto, vou fazer bem feito o que tem que ser feito porque é um desafio. Vamos, como diz a Ivete Sangalo, pra frente, pra frente...

Prá frente, prá frente...




domingo, 6 de dezembro de 2015

E o Mico Pagou o Pato

      Bem que eu gostaria de escrever só boas notícias, mas o post reflete o meu momento e também o momento que o país atravessa. Só tem más notícias. Ladrões, políticos e políticos ladrões, todos roubando e acusando-se mutuamente, tratando de se safar, mantendo seus mandatos, seus privilégios e nós pagamos a conta. Pagam os que trabalham e muito mais os desempregados. Todos os dias vemos as notícias sobre a redução da atividade econômica e a nação se empobrecendo. Já conseguimos atingir o mesmo resultado de 5 anos atrás, e como ainda vai piorar, tudo indica que essa será mais uma década perdida. Eta administração pública vagabunda!

      Trabalho em Salvador e moro na região metropolitana, aliás, saindo de casa e andando pela praia, em 15 minutos chego a Salvador. Aqui não tem rede de esgoto, tratamento de esgoto então nem se cogita, não há coleta seletiva de lixo e a cidade é suja. Uma boa referência é o meu carro. Não sou daqueles que “amam”carro. Para mim é apenas uma ferramenta, e como não o dirijo pelo lado de fora, não preocupo muito com a limpeza exterior. Em São Carlos eu costumava mandar lavá-lo, em média, a cada 2 meses. Aqui preciso lavá-lo toda semana. Tudo bem que a maresia tem a sua parcela de culpa, mas a poeira, a água nas ruas e o lixo fazem a maior parte do estrago. Como para cada choro tem que vende lenço, eu poderia estar distribuindo renda deixando-o em algum posto ou lava-jato (nome não tão apreciado atualmente), mas ainda não encontrei melhor modelo do que eu mesmo cuidar da limpeza, pois tudo fica longe e perco muito tempo. Estou me aprimorando e já consigo lavar o exterior de um sedam médio com 15 litros de água!

      A falta de tempo e a distância são circunstâncias, mas a falta de saneamento e o lixo na rua mostram o estágio de desenvolvimento das pessoas. Parece que se cuida apenas do que é seu, ou seja, do portão para dentro, o lado de fora não é de ninguém. Assim se acumulam pedra, areia, restos de construção, lixo doméstico e tudo aquilo que é para ser descartado. Há aqui aquilo que se chama de pontos viciados, ou seja, elegem um local para jogar o lixo e que se dane quem mora perto. A prefeitura de Salvador diz que paga cerca de 1 milhão de Reais por dia para qua haja a coleta, mas não resolve, ou seja, poderia ser ainda pior.


Ponto viciado - esse é um dos mais limpinhos

      O trânsito é travado, pois pode-se fazer qualquer barbaridade, óbvio que desrespeitando as regras elementares. Carro sobre as calçadas é o mínimo, e não importa se é na periferia ou em bairros ricos e centrais. Estacionar sobre praças públicas também pode.


Estacionar na praça?  Pode!

      Há uma cena que há muito eu não via, pessoas na rua carregando gaiolas com armadilhas para capturar pássaros. Aqui é normal, vejo isso constantemente, e não são crianças, são adultos mesmo! E nessa semana uma cena foi emblemática. Há nas matas e em muitas praças, pequenos micos, aqui mesmo em frente de casa aparecem vários, e no campus da Universidade Federal há muitos, e eles se utilizam da fiação elétrica para se deslocar. Há poucos dias houve a interrupção da energia elétrica, pois um desse micos causou um curto-circuito na rede de média tensão da rua que cortou um fio e o infeliz bichinho morreu. Caiu completamente desidratado e com membros amputados.

       Seria só mais um acidente, mas o pior foram os comentários, todos culpando o animal. Não é assim! Eles estão aqui porque aqui é o seu habitat. Eles não estudaram eletricidade, tampouco fizeram o curso da NR10 e sobre Sistemas Elétricos de Potência. É nossa obrigação protege-los. As instalações elétricas comercias devem considerar essa hipótese. Já li algo sobre o Pantanal, onde os cabos passaram a ser isolados, pois, devido a envergadura, os Tuiuiús também morriam ao tocar os fios com suas asas. 

      Entristece ver a pouca sensibilidade das pessoas com o meio ambiente, e assim, como dar boas notícias?

domingo, 22 de novembro de 2015

Mariana e Paris, a solução que une os dois casos.

      Li e ouvi muita coisa sensata e muita discussão inútil sobre o rompimento da barragem em Mariana e do massacre em Paris. Notei que a gente diz muita besteira justamente por achar que sabe muito, e eu continuo errando. Aprendi, ouvindo a CBN, com o professor e filósofo Mário Sérgio Cortella a diferença entre tragédia e drama. Eu achei que conhecia os significados, e que, aliás, eram sinônimos, mas não são. Ao contrário dos dramas, as tragédias, como furacão e terremoto, não dependem da ação humana, assim os dois eventos recentes são dramas, pois o rompimento da  barragem poderia ter sido evitado e os atentados foram premeditados.

      Há um mês estávamos cheios das notícias do petrolão, da possibilidade de impeachment da Dilma e da possível cassação do Eduardo Cunha, veio então a tsunami provocada pelo rompimento da barragem e disseram que era obra da imprensa para desviar a atenção, depois dos atentados em Paris disseram que a imprensa mudou o foco porque a Vale, uma das controladoras da mineradora Samarco, é anunciante. É uma enorme idiotice. 

      Não gosto de muita coisa na cultura americana, mas gosto de outras tantas, entre elas a possibilidade de se manifestar. Lá um órgão da imprensa escolhe um lado e o defende e como sempre tem pessoas inteligentes em todos os lados, o debate é saudável. Eles são mestres na teoria da conspiração. Até hoje o Elvis não morreu, o Kennedy foi morto pela CIA, os atentados de 11 de setembro foram feitos pelo próprio governo que queria invadir o Iraque para ficar com o petróleo, e coisas assim. Em 2013 estive em Washington com um amigo que não defende os americanos como eu, e conversávamos exatamente sobre o 11 de setembro. Ele me contava sobre as leituras e documentários sobre a possibilidade dessa ação ter sido mesmo produzida pelo governo e eu discordava. Ao chegarmos ao hotel liguei a TV e havia um documentário exatamente sobre isso. Para cada alegação a favor eles reuniam cientistas dos dois lados e simulavam a ação seja com programas de computador, seja com atores, locações, maquetes, e ensaios físicos. Isso me agrada, a liberdade e a inteligência.

      Não dá para consertar o que se perdeu a partir do desastre em Mariana, mas pode-se apurar as falhas, ressarcir algumas das despesas e punir quem tiver responsabilidade. Já sobre os atentados, a estória é outra. Pode-se matar uma meia dúzia de militantes, soltar umas bombas na Síria matando militantes e civis inocentes, mas não vai se atingir nenhum resultado efetivo. Os países mais abertos e democráticos não têm como se defender, serão sempre mais vulneráveis. Os radicais se utilizam das liberdades e ferramentas democráticas, que eles combatem, para se expandir e recrutar seguidores, apoio e dinheiro. Os países mais fechados se defendem melhor. Estive em Moscou, também em 2013, após o desembarque, antes de passar pela imigração, passei por um scanner e por um detector de metais manual, isso não é comum nos desembarques. Ao sair de Moscou o motorista de taxi me deixou no terminal da companhia aérea, o aeroporto era enorme, mas a porta era pequena, havia uma sala de uns 3x5m e ninguém à vista, voltei à rua mas não havia outra entrada. Retornei à tal sala e foi então que vi, que havia oficiais e um detector de metais, primeiro eu passei por essa barreira, depois entrei no saguão. Depois do checkin houve o procedimento de segurança de sempre. Lá, os hotéis são obrigados a informar à prefeitura a identidade e o período de estadia dos hóspedes. Quem recebe um hóspede em casa também tem essa obrigação. Os moradores locais, se forem se ausentar da cidade por mais de um mês, também devem comunicar às autoridades. Imaginem se isso funcionaria aqui!

      O progresso impõe modificações ambientais, mas cada vez mais há ciência, assim não se pode condenar toda a atividade de mineração, há que se ter controle e compensação. Da mesma maneira não se pode radicalizar sobre as questões de etnias e religiões, pois bandidos há em todas as sociedades. Ainda que nos dois casos houve perdas significativas, é tosca a comparação entre um drama e o outro. Cada um tem a sua dor e a sua dimensão. Claro que as mortes provocadas pela inundação e o desastre ambiental são graves, mas são decorrentes de imperícia ou negligência, não foram planejados, ao contrário dos ataques a vidas na França. A solução que une os dois casos é o conhecimento.

sábado, 7 de novembro de 2015

Ribeirão Preto - A escola.

      Sai do colégio técnico em 1976 direto para o trabalho, me afastei dos estudos e senti falta. Não que eu goste de estudar, gosto de aprender e se possível do jeito mais fácil. Em Ribeirão Preto comecei umas três vezes a estudar inglês e desisti antes de completar o segundo livro, pois também não sirvo para ficar fazendo simulaçõezinhas com grupo de alunos. Só voltei a estudar formalmente em 1987 mas interrompi após o primeiro ano do curso de Administração de Empresas porque me mudei em 1988. No entanto, mesmo no ambiente profissional tive duas experiências que valeram por um curso. A gente trabalhava muito, éramos muito responsáveis e produtivos, mas gostávamos de nos divertir e o ambiente era muito bom. Assim também nos lançávamos em outras searas.

      A empresa adianta o salário quando se tira férias, e quando retornávamos ao trabalho só tínhamos contas. Criamos um caixa com contribuição mensal durante um ano fazendo depósitos em uma caderneta de poupança. Após o período de carência passamos a fazer empréstimos a nós mesmos sob algumas regras que criamos e pagávamos parcelado com juros de poupança a nós mesmos. Como era um grupo de umas 8 pessoas e todas camaradas, o resultado foi muito bom. O sucesso pôs fim no negócio, tínhamos tanto dinheiro em caixa que não sabíamos mais o que fazer com ele. Compramos alguns trecos que queríamos para uso coletivo e ao final cada um ficou com a sua parte corrigida monetariamente e com juros. Fiquei com menos dinheiro mas guardo até hoje uma luneta que compramos para ver o Cometa Halley em 1986. Tentei repetir essa experiência mais tarde com outro grupo mas não deu certo, pois essa turma não estava tão unida. Ironicamente esse projeto tinha o carinhoso nome de Pró-Sufoco.

      Havia a turma do futebol que jogava, jogava, jogava e não ganhava nada. Participava das Olimpíadas do Trabalhador, organizada pelo Sesi e as equipes de futebol e futebol de salão eram desclassificadas e na classificação geral era um desastre, a empresa ficava nas últimas colocações. Veio então a ideia de se criar um grêmio primordialmente esportivo. Articulei com um companheiro de cada área e formamos uma comissão provisória com 10 representantes e organizamos um plebiscito no qual propusemos duas questões:
1 - Se os funcionários apoiariam a criação de um grêmio esportivo.
2 - Se eles aprovariam a Comissão Provisória para organizar as regras de uma eleição.
É claro que fomos aprovados em ambas as questões com taxa de sucesso maior que 90% e a saga começou.

      Imediatamente, ainda como comissão provisória e sem dinheiro tínhamos que participar da famigerada olimpíada. Nos desdobramos, participamos de muitas modalidades envolvendo a maioria dos funcionários. A participação deixou de ser apenas dos times de futebol, mas contávamos entre outras modalidades com atletismo, natação, vôlei, basquete, tênis de campo e mesa, xadres, enfim, o máximo que podíamos. Éramos de uma empresa pequena, com pouco mais de 100 funcionários e disputamos com empresas grandes, algumas10 vezes maior do que a nossa, e entre a média de 30 empresas começamos a figurar entre os 5 melhores classificados.

      Organizamos as eleições e a comissão provisória formou uma chapa. Participamos e ganhamos também com mais de 90% dos votos. Foi um ano difícil e de muito trabalho. Criamos um sistema de arrecadação mensal com 3 faixas de valores onde quem ganhava mais pagava mais, e também revendíamos umas camisetas e o caixa começou a aumentar. Com a ajuda de um advogado criamos um estatuto que não chegou a ser registrado, mas o processo foi uma experiência enriquecedora.

Eu jogando futebol de salão no SESC em um campeonato interno - 1985

      Tínhamos uma oposição ferrenha, shiita, hoje eu diria: petista, que era formada por aqueles 10% que perderam as eleições. Eles não nos davam sossego, e pasmem, eram nossos amigos! Tudo que fazíamos era motivo de críticas severas, daquelas de se desconstruir tudo, e houve uma falha grotesca da minha parte. Nosso diretor Financeiro cuidava do caixa e dos investimentos. Certa vez um diretor da empresa me perguntou sobre o grêmio e a conversa foi para o lado do dinheiro. Eu falei de quanto dispúnhamos e que estava aplicado no Banco Comind que melhor nos remunerava e cobrava uma menor taxa de administração. Ele me disse: tire o dinheiro de lá que o banco vai quebrar. Fiquei apavorado e por cerca de um mês cobrei isso diariamente do Diretor Financeiro mas sempre havia um contratempo da parte dele e não íamos até banco. No dia 19 de novembro de 1985 o banco sofreu uma intervenção federal e as contas foram congeladas. Eu que costumava chegar cedo ao trabalho naquele dia me atrasei. Fui com o Diretor Financeiro a outro banco e abrimos uma conta com o mesmo valor que estava aplicado. Entrei com 70% e ele com 30%. Para fazer esse depósito utilizei dinheiro emprestado do Pró-Sufoco. Quando cheguei na empresa havia um "batalhão de inquérito" e sustentei que o dinheiro estava a salvo no Itaú. Depois de muito tempo o dinheiro retido no Comind foi devolvido em 10 parcelas.

      Participamos de mais um campeonato e dessa vez melhor estruturado e graças a diversos talentos individuais ficamos em terceiro lugar na classificação geral, fomos campeões em várias modalidades e finalistas em outras tantas, isso foi um grande feito reconhecido pelo próprio Sesi e pelas outras companhias. Realizamos campeonatos internos e fomos campeões no torneio de verão do Sesc, foto abaixo. Mas não nos limitávamos aos esportes, participávamos de algumas campanhas e queríamos fazer diversos convênios que estavam sendo alinhados mas não foram concluídos pela falta do estatuto registrado. Editávamos um jornalzinho que era feito à base de tesoura, cola e xerox. Tínhamos a colaboração de um artista de renome nacional, o cartunista Pelicano, que é irmão do também cartunista Glauco. Pelos editoriais que eu escrevia, certa vez recebi um elogio do grande jornalista e escritor João Garcia, o que me deixou muito feliz. Sei que tenho um exemplar do jornal, quando eu o encontrar edito essa postagem.
Campeões do Torneio de Verão do SESC 1985

      Já decorria um ano e meio e seu estava cansado. A oposição não me dava trégua e decidi que perderíamos a próxima eleição. Como, pelas regras que criamos eu não podia mais me candidatar à presidência, montamos uma chapa apenas para participar. Dito e feito. Perdemos as eleições, a nova administração fez algumas festas, nas olimpíadas do Sesi o resultado voltou a ser pífio e em seis meses o grêmio estava morto. Há muitas outras estórias nesse enredo e os colegas contemporâneos que lerem esse artigo irão se lembrar.

      Valeu por um curso. Foi um aprendizado intenso de administração, de administração de projetos, de administração de pessoal, de desenvolvimento de talentos, de como conter a ansiedade, de não matar ninguém mesmo estando com vontade :), de política, enfim, não estudei mas aprendi muito, e do jeito que eu gosto. Aquele foi mais um tempo feliz da minha vida e em Ribeirão Preto.

domingo, 18 de outubro de 2015

Ribeirão Preto - O trabalho

      Como se diz aqui na Bahia, pense! Pense em algo que deu certo! Essa foi a minha passagem por Ribeirão Preto. Em Ribeirão nasceu o meu filho, a minha filha foi alfabetizada, minha esposa voltou a estudar, construí amizades excepcionais, montamos uma emissora de televisão, a atualizamos tecnicamente algumas vezes e lá comprei a minha primeira casa. Em Ribeirão cheguei técnico e saí gerente. Nada mal para uma carreira de apenas 12 anos de técnico em eletrônica com curso de nível médio. Foram oito anos intensos e incríveis.

Com os filhos em Ribeirão Preto

      Ainda em Campinas, concomitantemente com os dois primeiros anos como técnico de retransmissão e o primeiro como técnico de manutenção de TV, trabalhei em uma empresa que produzia transmissores e antenas para transmissão de sinais de TV, de onde herdei do meu primeiro pai profissional a obrigação de se fazer tudo com qualidade. Do meu segundo pai profissional ganhei a liberdade de criar o conceito de serviço bem feito, e que foi aperfeiçoado, e muito, graças a dois amigos que trabalhavam em uma equipe de instalação. A esses quatro amigos, já mortos, tenho muito a agradecer.

      Comecei como técnico e logo passei a conduzir a equipe, que para a época foi muito bem montada e se tornou eficiente e altamente qualificada. Era um tempo em que todos equipamentos eram importados, e a importação, além de ser um processo difícil, era muito cara, e isso nos obrigava a ser criativos. Os videotapes amassavam as fitas e essas eram reaproveitadas eliminando-se a parte ruim. Era um trabalho manual e lento. Criamos, com madeira e peças usadas, uma máquina simples para rebobinar as fitas e o trabalho ficou eficiente. As baterias de câmeras e VTs tinham vida útil muito baixa, criamos um equipamento que analisava cada célula das baterias, assim reuníamos as melhores células, montávamos novas baterias e dávamos uma sobrevida a cerca de 60% delas. Havia 8 VTs e apenas 2 equipamentos para a estabilização de imagens que eram muito caros, os Time Base Correctors (TBCs) em cuja entrada os sinais dos VTs eram comutados, no entanto eram sub utilizados, pois a comutação não contemplava a radiofrequência para a correção dos sinais  quando o defeito era causado por amassados ou perda de óxido das fitas. Criamos dois equipamentos que associados às matrizes que comutavam o sinal de entrada comutavam também a radiofrequência e disponibilizamos esse recurso.

      A inventividade sempre foi nosso forte. O primeiro prêmio de jornalismo de relevância  nacional que a a empresa ganhou era sobre a piracema no rio Mogi Guaçu e que mostrava imagens subaquáticas. Não dispúnhamos de equipamento para isso e nós desenvolvemos uma caixa blindada na qual enfiávamos uma câmera grande e extraíamos o seu sinal. A dificuldade foi fazê-la afundar e torná-la manobrável. Fizemos dezenas de testes com esse aparato na caixa d’água da empresa antes de disponibilizá-lo para a operação.

      A transmissão dos evento era um capítulo à parte. Desmontávamos metade da emissora, enfiávamos tudo dentro de uma Kombi, viajávamos para o local da transmissão e fazíamos a instalação. Dava muito trabalho, cansaço e estresse pois a possibilidade de algo dar errado era muito grande. Surgiu então a necessidade de se construir uma unidade móvel e a empresa apostou na nossa capacidade. Comprou um furgão e, a nosso pedido, ferramentas de serralheria e fizemos a integração do carro para transmissão dos eventos. Era uma estrutura fixa, com o cabeamento já posicionado, os locais dos equipamentos já determinados, criamos multicabos e disponibilizamos energia para os equipamentos e comunicação para os operadores. Mesmo assim tínhamos que desmontar metade da emissora, mas os instalávamos no carro ainda na emissora, os testávamos e chegávamos ao local do evento com a instalação praticamente pronta. A estreia foi em uma corrida de rua em Campinas e foi um sucesso. Entre um evento e outro o carro era utilizado para o transporte de equipamentos pesados de iluminação para as gravações externas de comerciais.

      Essas foram apenas algumas das muitas as vitórias técnicas, porém a principal foi o amadurecimento. Eu não tinha visão clara de carreira profissional, mas percebia que não haveria muita competição e tudo foi dando certo e eu me tornando arrogante. Eu “protegia os meus” e atirava em todas as direções com empáfia e com força desnecessária, mas tive tempo de me recuperar. Eu dispendia muita energia para sempre estar alerta, pois da mesma maneira que disparava eu levava chumbo. Aos poucos fui percebendo a minha ignorância, curando feridas e remendando situações. Finalmente compreendi que o importante não é “causar” quando se chega, mas o que de bom foi construído antes de sair. Assim me sinto feliz sabendo que lá deixei um bom legado e amigos melhores ainda. É um daqueles lugares em que posso sempre retornar e ser bem recebido. Faço, portanto, a minha homenagem a todos que trabalharam comigo, me suportaram nos dois sentidos: me ajudaram e aguentaram a minha bizarrice, pois em todas as coisas boas que foram criadas eles fizeram a maior parte. Muito obrigado amigos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Lula Venceu e votarei nele nas próximas eleições.

      O Lula Venceu e votarei nele nas próximas eleições.

      O Lula teve o meu voto contra o Collor e não sei se fiz bem ou mal, porque ele perdeu as eleições, mas nunca mais votei nele apesar de ter votado em alguns candidatos do PT, porém ele terá o meu voto nas próximas eleições.

      O Lula já venceu e, para mim, o seu maior legado foi ter dividido o país entre nós e eles. O ser nós ou eles depende da conveniência. No palanque nós somos os pobres, e eles, as elites que são contra os pobres, mas na hora de tomar o governo em um projeto perpétuo de poder e de enriquecimento de pessoas e do partido, somos parte da elite mas não contem nada a ninguém. Afinal, que as relações foram muito estreitas com donos e diretores das maiores empreiteiras do país lá isso foram.

      O Lula não pode ser preso, pois irá virar mártir, o que seria ruim para a própria presidente que acabaria sendo perseguida por um cadaver insepulto. Pelo mesmo motivo ele não pode morrer, pois não será enterrado tão cedo. Assim a ele só resta a próxima eleição, pois vencendo continuará acobertando os desmando das administrações petistas. Não existe possibilidade dele não ser candidato em 2018.

      O Lula ainda controla os chamados movimentos sociais. Pois esses grupos, um dos quais ele chamou de exército do Stédile, não estariam tão calados em face às medidas adotadas pelo Ministro da Economia Joaquim Levy, que são frontalmente contra as do antecessor. Tais movimentos já teriam ocupado as ruas, estradas, fazendas, repartições e autarquias.

      O Lula não pode perder as próximas eleições, pois o país ficará ingovernável. Se a atual presidente conseguir terminar o mandato a economia estará muito ruim, porque ruim já está faz tempo. Qualquer um terá que tomar medidas drásticas e haverá recessão forte por alguns anos. Depois de sofrer por tanto tempo ninguém aguentará e com a paciência esgotada, com a pressão militante que só PT sabe fazer, com os tais movimentos sociais ativos e com a divisão nós, os pobres perseguidos, não há quem governe, assim a alternativa seria a ditadura, e adeus democracia, o que seria uma lástima.

      O Lula, presidente, terá que fazer os ajustes que os outros não serão capazes de fazer, logo entendo que é a única esperança para o Brasil sair do buraco.

      O Lula já me humilhou quando, logo após a posse do primeiro mandato mandou construir uma estrela vermelha nos jardins do palácio do Planalto. Para mim já era caso de impedimento, pois o palácio é a residência do presidente do Brasil e não propriedade de um partido. Também me humilhou com atitudes fascistas como na tentativa de expulsão do jornalista americano e na dos pilotos também americanos. Ainda que eu não goste da figura do Lula, das suas atitudes e dos seus governos, não vejo alternativa. O Lula venceu e terá o meu voto nas próximas eleições.

domingo, 9 de agosto de 2015

De Que Lado Você Está?

      A humanidade se desenvolveu mas não foi sem dor, e isso fica evidente quando um grande e barulhento grupo começa a perder. Há situações em que se é fácil tomar partido, outras, nem tanto. Ser contra a escravidão? É fácil. Ser contra o racismo? É fácil. Defender a escola pública, gratuita e de qualidade? Nem se diga. Mas defender o auxílio reclusão? E defender a pena de morte? E quando somos nós ou alguém próximo que está perdendo? Dá para ser imparcial? Por exemplo, todo mundo sabe que o frete é um dos grandes componentes do chamado custo Brasil. Em sendo reduzido, muitos preços poderiam ser menores, seríamos mais competitivos na exportação e isso geraria riqueza, para isso o transporte ferroviário e o hidroviário deveriam ser incentivados. Isso traria um efeito colateral, muitas empresas de transporte rodoviário fechariam, muitos motoristas perderiam os seus empregos e o mesmo ocorreria com a industria de caminhões. Em qual lado devemos ficar?

      A revolução industrial foi dolorosa para os artesãos, a tecnologia mudou radicalmente a agricultura e a sociedade da informação está acabando até mesmo com as ligações telefônicas. Hoje as empresas de telecomunicações ganham mais com dados do que com voz. Muita coisa desaparece, muita coisa se transforma e independente do lado que queiramos defender, nem sempre seremos atendidos. A televisão não acabou com o rádio, mas esse se reinventou, deixou de ser mundial e passou a ser local. A internet ainda não acabou com o jornal, com a televisão nem com o rádio e nem sei se acabará, mas a televisão está voltando a ser como no início, tempo em que não havia gravadores de vídeo, cada vez mais a programação está sendo transmitida “ao vivo”. Hoje a própria Globo entra no ar “ao vivo” às 5 da manhã e segue assim até o final do Video Show, próximo das 15 horas.

      O CD praticamente matou o vinil, e hoje o download de musicas praticamente matou o próprio CD. As fotos eletrônicas acabaram com os filmes e reduziram em muito as impressões, e em todas essas mudanças alguém sempre ganhou e alguém sempre perdeu. Há cerca de um ano escrevi sobre os taxis de Salvador e elogiei o serviço das cooperativas, ele modificou o processo porém manteve os mesmos atores, mas agora a estória já não é a mesma. O aplicativo Uber, o mais conhecido, e seus similares vieram para modificar a estrutura e vai conseguir. Citei no mesmo post que o alto custo das licenças para se dirigir um taxi era produto do numero limitado de licenças, o que não existe na lógica do Uber. Para se trabalhar são poucas as exigências, mas o bom atendimento é o que o diferencia do taxi comum ou até mesmo do chamado especial, que de especial só tem o nome e o preço.

      Nessa luta eu não tomo partido e nem me afeta muito, porém sei que o barulho que a categoria faz, e que não é pouco, não vai dar em nada, pois essa é uma briga perdida. Pode ganhar o primeiro round e até nem ser nocauteada, mas, no final perderá. Não dá para brigar com a tecnologia, ela continuará se desenvolvendo independente da nossa vontade.

domingo, 19 de julho de 2015

Os Meus Nomes

      Antigamente não se registravam os récem nascidos imediatamente como ocorre hoje e isso aconteceu comigo. Passei a existir oficialmente quando foi feito o registro de nascimento da minha irmã, quatro anos após meu nascimento. Também havia o nome de batismo, que poderia ser diferente do nome de registro, mas esse não foi o meu caso. Antes do registro, por ser pequeno, tive uma variação de apelidos que partiram de pequenininho, pequetitico, tico, kiko. Esse foi o meu primeiro nome e alguns parentes próximos e amigos de infância assim me chamam até hoje, e há um tio que me chama de Chico.

      A partir dos sete anos, quando entrei na escola, passei a ser chamado pelo meu primeiro nome, e por um período curto e apenas por algumas poucas pessoas fui chamado pelo segundo nome. Alguns também me chamam pelo sobrenome, o que não é difícil, pois meu sobrenome é o primeiro de muitas pessoas, ou seja, tenho três nomes. Também me chamaram de Tato e outros apelidos que não pegaram, pelo menos que eu saiba.

      Logo no início da minha carreira de técnico meu nome passou a ser o diminutivo, Cesinha, pois havia outro César que além de ser meu chefe tinha um porte físico maior do que o meu. Vários amigos continuam me chamando assim. Depois que passei a ter cargos de liderança e passei a ter relacionamento com o mercado ganhei um sobrenome, o da própria empresa, pois sempre que se telefona, após o nome sempre vem a pergunta: Cesar, de onde? Para facilitar já é comum dizer logo, é o Cesar da …. Esse é um fato corriqueiro na vida profissional, todos têm esse hábito e já ouvi estórias de conhecidos que tiveram problemas depois de sairem das empresas onde trabalhavam pois perderam a identidade.

      Muitos nomes são utilizados simultaneamente. Durante a vida também sou cliente, paciente, contribuinte e aluno. Já fui chamado de namorado, sou marido há 36 anos, também sou pai e, desde abril, avô, ou se quiserem, vovô. Eu não imaginava que eu iria gostar tanto do último.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sim, Faz Sentido

      Há um repórter na Globo que na primeira vez que o vi percebi que ele era diferente, e o meu comentário foi: vai fazer escola, pois a narrativa dele é diferenciada e bem construída. Já vi outros repórteres mais antigos o imitando. Mesmo quando assisto um jornal morno, se ele aparece, presto atenção, pois sei que ele faz um bom trabalho. Até acredito que ele não trabalha mais que os outros para ser melhor, pois o talento me parece ser inato. Hoje assisti a uma matéria dele no Bom Dia Brasil, mas mesmo o Pelé tem o seu dia de Mané. Seria uma matéria trivial para o nível dele se ele não tivesse se arriscado a fazer perguntas do tipo: para que? Ou ainda, Isso faz sentido? Explico.

      É apresentada uma pesquisa sobre o que irrita os passageiros em voos e aeroportos, até aí, tudo bem, todos podem se irritar pelo que quiserem, mas a principal resposta, e que ele não deu, é a falta de educação. Em uma cena o repórter se pergunta e entrevista um passageiro, se o número do assento é marcado, por que se forma fila muito antes do início do embarque? Faz sentido? Faz sim. A regra diz que em voos domésticos cada passageiro pode levar dois itens de mão, por exemplo uma mala e uma mochila, ou uma mala e uma bolsa feminina, ou que sejam duas malas, embrulhos ou pacotes, mas há limite. Individualmente não pode ultrapassar 5kg ou ter dimensão somados largura, altura e profundidade de 115cm, nos internacionais pode ser 125cm, mas também com 5kg. Sempre há perto dos balcões de embarque um gabarito para verificar se o volume está aderente à norma. Ocorre que isso não é respeitado por muitos passageiros e as companhias, muitas vezes, toleram. Isso piorou com o checkin por internet. Assim é comum você estar na poltrona 10 e ter que colocar a sua mala sobre a poltrona 27. Quem já tomou avião de Miami para cá sabe que isso é verdade. Quem já saiu de Salvador já dividiu o bagageiro com um (ou mais) berimbau! Quem entra primeiro garante que sua mala fique perto de você. Em voo longo você pode precisar de um colírio, de uma blusa, enfim, pegar o cabo para carregar a bateria do telefone e a mala estará próxima. Não costumo sair correndo ou ficar muito tempo em pé, mas também não gosto de ser o último.

      Outra pergunta foi, se para sair da aeronave há que se esperar até que as portas sejam abertas, porque o avião mal estacionou e muitos ficam em pé no corredor? Porque os outros ficam em pé eu não sei, mas eu me levanto e pego a minha mala. Costumo carregar um computador, um tablet e uma câmera fotográfica e não vou ficar sentado e dar a oportunidade para que roubem a minha mala. Na própria Globo já assisti a uma matéria sobre a prisão de uma quadrilha que roubava malas em voos que partiam de Brasília. Eram passageiros que pegavam malas no bagageiro e desapareciam.

      Teve outra, porque todos se apertam junto à esteira de liberação da bagagem? Pelo mesmo motivo acima. As malas costumam ser muito semelhantes e, no mínimo, um erro é possível. Por duas vezes eu peguei uma mala que não era a minha, verifiquei e a coloquei de volta na esteira. Qualquer um pode pegar uma mala e sair de qualquer aeroporto, pois não há verificação. É pegar e sair. É sim irritante ficar em torno da esteira, principalmente porque além das pessoas há os carrinhos que tomam muito espaço. Como não há outro sistema e isso não vai mudar, mesmo com esteira ainda desligada verifico em que direção ela vai se mover e vou logo para o início. Costumo pegar a minha mala na primeira passada.

      Sim, a pesquisa mostra a realidade, há muito com que se irritar, mas insisto, é a falta de educação o principal motivo. Fico irritado ainda nas salas de embarque pois as cadeiras são insuficientes e os folgados se sentam e colocam malas nas poltronas ao lado. Se você quiser se sentar tem que pedir. Não respeitam idosos, grávidas, enfermos. Já vi muito disso. E há aqueles que se sentam em uma poltrona, colocam a mala na outra e os pés, calçados, lógico, em outra. Como diz a letra de uma música: é tudo nosso, nada deles.

      Dentro do avião prefiro me sentar no corredor, pois não gosto de incomodar os outros, mas sempre tem aqueles que ao andar nos corredores se apoiam nos encostos das cadeiras, pronto: batem em minha cabeça e puxam os cabelos. E aqueles na poltrona de trás que ficam empurrando a da frente, ou então resolvem brincar com a mesinha? É um tal solta e deixa cair. Prende e bate com força. É uma maravilha quando você quer dormir.

      E os espaçosos? Aqueles que ocupam mais do que a área da própria poltrona? Te apertam seja com os ombros, braços e pernas, e além da disputa pelo encosto de braços eles ainda podem roncar! Sim, para o pior não tem limite. Tem aquele que fica te tocando querendo conversar e te catequizar, seja com política ou religião. Já passei por tudo isso.

      Outra regra é não seguir a regra. Após o pouso anuncia-se para manter o cinto atado até que o sinal seja apagado. Basta fazer esse anúncio e se ouve: clac, clac, clac, muitos soltando o cinto. Também se pede para não utilizar equipamentos eletrônicos, principalmente os celulares. Inútil. Hoje, apesar de proibido eles são usados durante a decolagem, o pouso e dentro do avião. Não acredito que com tecnologia de hoje os sistemas de WiFi e Bluetooth dos celulares possam derrubar um avião, mas acho sim possível que um expert possa usar um celular e entrar em um sistema de controle de um avião.

      O repórter é bom, aliás, é ótimo, mas não pode acreditar naquilo que na faculdade de jornalismo se fala dos médicos e esses falam dos jornalistas: uns pensam que são deuses, os outros, têm certeza. Para um engenheiro virginiano, sim, tem explicação e faz sentido.

sábado, 23 de maio de 2015

Servir ao Povo

    Dizem que há duas coisas certas na vida, a morte e os impostos. Pode ser que algum dia escapemos da morte, mas dos impostos, com certeza não. Cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto - que é a soma de tudo o que é produzido no país durante um ano) do Brasil é arrecadado em impostos. Deus e todo mundo indicava que a política econômica do governo estava sendo mal conduzida, menos o próprio e os que dele se aproveitavam. Agora estamos ladeira abaixo com aumento do desemprego, da taxa de juros, do câmbio e da inflação que já está beirando os 8,5% anual e que penaliza justamente os mais pobres. Passadas as eleições o governo anuncia a mudança de rumo da economia e apela mais uma vez para quem paga aumentando os impostos ao invés de cortar suas despesas. Tem governo demais e governança de menos. Só para iniciar é impossível ser eficiente com 38 ministérios. Se começasse reduzindo para 15 já seria uma boa sinalização e excelente economia, além do mais, já que não conseguem estancar a corrupção haveria menos pessoas tentadas a nos roubar.

      O chamado contingenciamento de 70 bilhões irá reduzir a verba essencial para a saúde, segurança e educação, ou seja, o que está ruim ficará pior, e nesse momento de crise temos absurdos criados como o projeto do novo prédio para abrigar parlamentares (e um shopping center). Eu proponho deixar o prédio atual como está e reduzir o número de parlamentares, e mais, reduzir a quantidade de assessores dos parlamentares, com certeza iria sobrar espaço. Para que temos 513 deputados? Não precisamos de mais que 200, um apara cada um milhão de habitantes. Para que 81 senadores? Bastariam 26, um por estado e não conte o distrito federal. Para que suplente? Saiu, perdeu! Deixou o congresso para ser ministro? Fica vago até a próxima eleição, assim acaba com essa promiscuidade. Há senador que é nomeado ministro e o suplente assume, e se o governo não confia no suplente para uma votação específica exonera o ministro e esse volta ao senado apenas para votar e em seguida é novamente reconduzido ao ministério. Isso é o cúmulo da desfaçatez. É rir na nossa cara.

    Para que existem as emendas parlamentares? Para os políticos venderem favores aos eleitores de "suas bases eleitorais"? Parlamentar precisa é fazer lei, não arrumar verba para quadra de esporte. Acabar com essas emendas  faria reduzir, e muito, a vontade de muito picareta se candidatar. Que se acabe com essa excrescência já!

      Para que pagamos por mais de 30 partidos políticos se apenas meia dúzia é que dá as cartas? Não precisamos de mais do que 5, os dois de extrema direita e esquerda, os dois moderados de esquerda e de direita e um de centro e chega! Para que pagamos imposto sindical? Para sustentar pelegos? É bom também rever a questão dos subsídios a muitas das entidades ditas não governamentais mas que vivem apenas de verba pública, ou seja, um contra-senso. Uma coisa é ajudar a APAE, outra é sustentar o MST. Não dá para ficar pagando diária para manifestante ( e arruaceiro ) profissional que vai para manifestação de apoio ao governo com diária, alimentação e ônibus com ar condicionado pagos com o nosso dinheiro. Isso não é informação da pseudo "imprensa de direita" eu vi, e mais de uma vez. Congestionamento de ônibus e fila para receber refeição, todos com a camiseta vermelha e bandeirinha do PT e do MST.

      Eu gostaria que alguém me desse uma justificativa plausível para que o governo gaste com propaganda. Esse dinheiro seria muito bem gasto se fosse utilizado em campanhas educativas de diversos temas, e o principal deles é a do controle da natalidade. As pessoas têm o direito de ter quantos filhos quiser, mas devem ser instruídas para não ter os que não desejam, pois como se dizia antigamente, a família é a célula da sociedade.  Eu também gostaria de saber por que pagamos por uma TV pública que ninguém assiste e que não produz nada de interessante, a ressalva foi a TV Cultura que hoje não é nem sombra do passado, que embora tivesse baixa audiência fazia produções primorosas. Para que mantemos uma TV Câmara? Uma TV Senado? A Voz do Brasil? Entre embaixadas e representações, o Brasil mantém 138 Missões Diplomáticas, para quê? Sabemos que muitas são um luxo só, mas com salários e aluguéis muitas vezes atrasados. Será que umas 50 não seriam suficientes? Não é hora de priorizar aquelas onde há a necessidade de assistência a mais brasileiros e que possuem grande apelo comercial?

      Vem de longe a cultura da ineficiência do governo na gestão de obras públicas. É um tal cartel para cá, superfaturamento para lá, aditivos de contratos que não têm fim, obras mal feitas, inacabadas, mal geridas e desnecessárias. Isso em todas as esferas. É tempo de acabar com a ideologia e deixar para o governo apenas a regulação. A execução tem que ser do setor privado que é quem emprega, produz e paga imposto. Uma faxina nos contratos existentes também viria a calhar.

      Se começar a desenrolar esse novelo com certeza poderiam cortar os impostos da cesta básica e dos medicamentos o que iria, em muito, melhorar a vida dos mais necessitados, e ainda sobraria dinheiro. Acho que está na hora do governo deixar de pensar em si e pensar no povo. Ter coragem para fazer o certo que é servir ao povo e não servir-se desse.

domingo, 3 de maio de 2015

Sorte?

    Eu nunca havia tido a sorte de ter sido agraciado, escolhido, sorteado em loteria, sorteio, raspadinha, bingo, cartela, rifa ou coisa assim. Me lembro de ter comprado todos os 100 números de uma rifa feita na escola, doei 50 e perdi com os outros 50 na mão. Apenas no bolão da copa do mundo de 2010 fui o maior pontuador mas, ainda assim, tive que dividir o prêmio.

      Em minha mudança para Salvador trouxe poucos móveis, mobiliei a casa comprando quase tudo aqui. Antes da mudança fiquei por meses namorando um televisor 4K de tela curva, mas o achava muito caro. Até que veio a mudança e eu não podia mais esperar, fui à loja disposto a resolver. Olhei, pesquisei, comprarei e não o comprei. Comprei outro, tão grande quanto, também 4K, porém com custo menor, mas ainda assim, caro. Instalei-o em casa e me registrei no site por causa da garantia e, ao fazer isso, recebi uma promoção da Netflix, três meses gratis, e para mim que já era assinante, foram 3 meses sem pagar a fatura, algo em torno de R$ 55,00 no total. A minha decepção veio já na semana seguinte. Estava lendo a Veja e havia uma promoção de uma loja na qual o televisor de tela curva havia tido uma redução de quase 40% no preço, e o pior, não era apenas uma promoção, o preço caiu mesmo. Nem me atrevi a pesquisar para quanto teria sido mudado o preço do televisor que comprei, não queria me chatear mais.

      Havia algo interessante na caixa do televisor, um circuito eletrônico avulso que pesquisei e se tratava de um rastreador de carga. Ele vem com um chip de celular que deve funcionar com a tecnologia GPRS e tem uma bateria que dura cerca de 30 dias. Aliado ao número de série permite que o aparelho tenha seu itinerário rastreado desde a saída da fábrica. Testei o equipamento porém ele não estava mais ativo. Me peguei até pensando se nisso não há alguma violação de privacidade, mas ficou só no pensamento.

      Sempre recebo em meu celular e conta de e-mail aqueles spans dizendo que acabei de ganhar alguma coisa que deleto sem abrir, mas que leio sempre as primeiras linhas ou o remetente, e foi assim no final de novembro. Havia um que se repetia insistentemente e que metodicamente era apagado. Recebi também duas ou três ligações que partiam dos Estados Unidos e que eu não atendia, pois não costumo atender a ligações de número que não conheço, até que algo me chamou a atenção em uma mensagem e resolvi abri-la sem clicar em macrolinks. Tal mensagem dizia que eu havia sido contemplado pelo fabricante do equipamento em conjunto com a Netflix e indicava um telefone para contato. Também não dei importância por um tempo. As mensagem se repetiam até que procurei o manual do televisor e vi que o número de telefone indicado na mensagem era o mesmo do fabricante. Pronto, encontrei um vínculo de seriedade. Liguei para o tal número e me direcionaram para outro. Conversei com uma moça, trocamos algumas mensagens, informei alguns dados e passei a me comunicar com uma agência nos Estados Unidos.

      A tal promoção do televisor 4K e da Netflix era para que eu assistisse, assim como fiz, a série produzida especialmente para ser assistida via streaming: House of Cards, que trata de um político desonesto que chega a ser presidente americano e, evidentemente, se passa em Washington. Pois é, foram sorteadas no Brasil duas viagens com acompanhante para Washington e eu ganhei uma delas. Para as minhas próximas férias em setembro já tenho as passagens, a reserva de hotel, algumas despesas pagas, incluindo transporte e guia para várias atrações. Pagarei apenas por um trecho a mais, pois resolvi estender a viagem em alguns dias.

      Eu não estava excessivamente contente com isso, mas apenas alegre por ter uma estória de sorte para contar, até que na última quinta-feira o televisor quebrou. Me parece haver um problema simples de fonte, daqueles que se consertam com facilidade e, além do mais, em garantia, porém já vai me dar trabalho e me fazer perder tempo, ou seja, estou pagando até para ter sorte. 

terça-feira, 21 de abril de 2015

Para Ler Dostoiévski

      Fazia muito que eu estava acordado e não eram ainda seis da manhã em São Carlos. A Nega dormia ao meu lado em um hotel simples mas bem equipado. Ao invés do barulho do televisor preferi ler as mensagens e acessar a web até que ela acordasse. Às sete tomamos café e exagerei no carboidrato pois sabia que o dia seria longo e as refeições irregulares. Após me barbear, tomar banho e arrumar as malas deixamos o hotel para nos encontrar com nossa filha, genro e neto.

Romeo dormindo em meu colo.
      
      Entre conversas e planos recebemos a visita de uma amiga que há um ano eu gostaria de ver. Foi rápido, mas acalentador, pois é bom saber que ela está bem. Às dez da manhã e após ter tomado banho, o neto, de uma semana, se pôs a chorar e parou no colo do avô babão, que andava feito tonto pela casa e conversava com ele assistindo àqueles olhinhos admirados. Foram quarenta e cinco minutos curtos e com os três quilos mais leves que há tanto tempo eu não carregava. Chegou nova visita, uma família de amigos que já são de casa. O meu prazo se esgotou. É hora de ir para a rodoviária, não sem antes me lamentar pelas despedidas.

      Com cinco minutos de atraso chegou o ônibus, novo, limpo, refrigerado e confortável. Veio cheio de estudantes, principalmente garotas que dormiam esparramadas pelas poltronas. Como é linda a juventude, e seria mais ainda se não se excedesse nas bebidas alcoólicas. A parada de vinte minutos é mais do que suficiente para uma alimentação de bom sabor e baixa qualidade. Mas o posto, assim como atestei na ida, quanta diferença com os da realidade da Bahia. Grande, limpo, decorado, confortável, refrigerado, com muita opção, inclusive de comida saudável, onde o wifi funciona, o 3G funciona, e sob a marquise de 80m x 5m não se fuma. Apesar de ser dia de retorno do feriado prolongado o movimento foi tranquilo e as estradas, Washington Luis, Anhanguera e Bandeirantes são boas.

      Aproveito o conforto e o tempo para ler Dostoiévski enquanto ouço uma sequência em ordem alfabética das quase mil músicas armazenadas no telefone. Entre estrangeiras e nacionais comecei onde havia parado, na letra I e terminei na M, muito antes de Metamorfose Ambulante, do baiano Raul Seixas. A chegada a São Paulo foi com chuva e trânsito bom. Tudo muito rápido no Terminal Rodoviário do Tietê, por onde o Brasil inteiro passa. Só dá para ficar contrariado com o preço do taxi, R$ 120,00 para ir até o aeroporto de Guarulhos. Há outras opções, mas para não perder tempo, é melhor pagar. Sem problemas cheguei à sala de embarque com uma hora de antecedência o que me fez ler um pouco mais. Os terminais 1 e 2 foram ampliados, remodelados e não estão dos piores, mas falta sinalização, escadas rolantes e fingers, pois ainda há embarques em que se toma um ônibus para se chegar até o avião. Como não ia ter janta em casa, tive que morrer com o preço elevado da comida ruim daqui mesmo.
Área de embarque doméstico do aeroporto de Guarulhos.

      Quando você for de São Paulo a Salvador aconselho a pegar uma poltrona na janela do lado direito. Durante o dia e mesmo à noite, a chegada é bonita. O sobrevoo na Ilha de Itaparica, em grande extensão da Bahia de Todos Os Santos, a vista do Farol da Barra, da orla, da via Paralela são de se admirar. Durante o dia, se olhar bem vai aparecer muita coisa feia, mas a parte bonita se sobressai. O estacionamento contíguo ao aeroporto de Salvador é prático, mas além de ruim é caro, nunca vi um atendimento tão ruim. Ali não se faz jus à fama de ser, o povo baiano, acolhedor. Das muitas dezenas de vezes que passei por lá em apenas uma a atendente me cumprimentou. Dessa vez utilizei um estacionamento mais distante por ser mais barato, mas que disponibiliza um serviço de van para os clientes. Não é tão prático, mas para estadias mais longas o preço compensa o desconforto. A via de saída da área do aeroporto sob os arcos de bambus é particularmente bonita durante o dia e até mesmo à noite tem seu charme.

      Tempo bom, trânsito tranquilo e rapidamente cheguei à nossa casa para rever e conversar com nosso filho. Saber e contar as novidades, jogar um pouco de conversa fora, ler as mensagens e dormir cedo para acordar cedo que amanhã é dia de voltar a trabalhar, e trabalhar muito. No próximo dia cinco completarei um ano trabalhando em Salvador e essa foi a primeira vez que deixei de trabalhar por quatro dias seguidos. Por várias pessoas eu faria isso, mas dessa vez foi especial, foi pela filha e pelo neto. Chego ao final do dia cansado, já com saudade mas muito feliz.

domingo, 5 de abril de 2015

Não Está Fácil Para Ninguém

      Tenho ouvido muito a frase “não está fácil para ninguém” e como para mim não está, não deve estar mesmo. Um sintoma é que tem muito jovem clamando pela ditadura militar sem saber ao certo o que isso significa. Com certeza eles não sabem que a liberdade tem um valor inestimável, e não sabem porque são livres. Eles não experimentaram a repressão e a que eles conhecem é só a que aparece nos noticiários, longe da gente. Outro sintoma vem dos próprios jornais, só desgraça. Não há notícia acalentadora, apenas tragédias, crimes e bobagens.

      A inquietação provém da falta de esperança. É chover no molhado, mas a educação é uma piada, poucos chegam a um nível de excelência; a maioria apenas consegue um grau sofrível. Faz tempo que observo isso no ambiente profissional e nos atendimentos de serviços, muita gente se expressa mal mesmo em linguagem coloquial, nota-se que o conhecimento é parco e o raciocínio é primário, pouco elaborado. Some-se à isso a violência. Hoje pode-se dizer que o crime compensa. O grande exemplo vem das autoridades. Cada grande escândalo é esquecido quando se descobre o próximo. É muita gente roubando, é muita gente se aproveitando do poder para servir-se. Se o crime compensa para nossas autoridades qual é o exemplo que eles dão aos jovens? Estudar para trabalhar? Isso é coisa de otário, “se dar bem” é o que importa. O caminho mais fácil é o que é valorizado.

      Também vivemos um tempo de muito mi mi mi. Nesse tempo do politicamente correto sempre há quem se sinta ofendido por coisas óbvias. Os valores são confusos e o patrulhamento ideológico é perverso. Basta a defesa de um tema polêmico para ser perseguido, principalmente nas redes sociais que tem rápida e profunda penetração. Para expressar aquilo que lhe é correto deve-se pensar muito para que não seja processado ou moralmente linchado.

      Sim, análise superficial e crítica, assim como eu, todos são capazes de fazer, mas como resolver? Há saída? Claro que sim, na democracia sempre é mais difícil atingir os resultados, mas com certeza há pessoas capacitadas a nos liderar e nos conduzir por um bom caminho.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Miserável Sexta-feira 13

      Salvador não é exatamente uma cidade pacífica, ao contrário dos 15 homicídios que ocorrem anualmente em São Carlos, aqui são mais de 2000, assim como também é grande o número de furtos e roubos, o que exige prudência. Com trânsito complicado existem em certos cruzamentos pessoas que vendem de tudo, comida, água, escova de dentes, suporte para GPS, protetores para painel de carros, o “must desse verão: o pau de selfie” e há também os lavadores de parabrisas. Mal o semáforo se fecha e lá vem uma turma com garrafas plásticas cheias de água misturada com sabão, e, sem pedir, jogam esse visgo no vidro do seu carro, vão passando um rodinho e pedindo dinheiro. Dentro do carro parado, abrir os vidros e segurar uma carteira ou outro objeto de valor pode ser perigoso, assim não costumo aceitar nenhum desses serviços, não que eu não pudesse ajudar, mas não quero me expor.

      Da minha casa ao trabalho são cerca de 34km que, com o trânsito livre e trafegando no limite da velocidade permitida, gasto mais ou menos 45 minutos, mas o retorno às sextas-feiras é mais complicado, pois esse também é o caminho para o litoral norte, e hoje é sexta-feira 13.

      No final da tarde das duas últimas sextas-feiras houve problemas sérios em meu trabalho, logo, deixei a empresa mais tarde do que o normal, porém hoje, como eu estava cansado, resolvi sair mais cedo e consegui: 40 minutos antes. 

      Ainda lá perto há uma passagem estreita na qual é possível passar dois carros simultaneamente, mas não pode ser de qualquer jeito. Quando eu estava passando veio um carro no sentido oposto e pelo aspecto do motorista logo imaginei: vai dar m…, e deu. Eu já estava parado, ele saiu acelerando e raspando no meu carro. Nem pude parar para ver o que ocorreu, pois estava interrompendo o trânsito.

      Pouco depois na região do Iguatemi, ao parar no semáforo fui abordado por um dos lavadores de parabrisa, e como não me dignei a dar-lhe algumas moedas fui chamado insistentemente de miserável e de coisas piores.

      Eu já tinha percorrido cerca de 20km e estava na centro das 5 faixas da pista quando o fluxo foi reduzindo lentamente até que parei. Um motorista não parou no tempo certo e abalroou a traseira do meu carro. Desci em um local perigoso para analisar, mas como o estrago não era visível resolvi vir embora, não sem antes notar que o motorista do outro carro estava embriagado, não completamente, mas visivelmente.

      A partir desse momento eu só queria chegar em casa, o que ocorreu 1:10h após ter deixado a empresa. Em casa pude ver, apesar da pouca luz, que se houve estragos, esses são pequenos. Por não ter ocorrido nada sério nem posso dizer - miserável sexta-feira 13. Mas, pensando bem, ainda restam algumas horas...

domingo, 22 de fevereiro de 2015

A Gripe do Ano

      Em alguns momentos o carnaval fez parte da minha vida. Na infância, adolescência e mesmo adulto, frequentei alguns clubes em épocas de carnaval e agora me vejo em Salvador, reconhecidamente um dos centros brasileiros do carnaval, porém agora não mais como participante, mas como trabalhador. Não estive nos circuitos e nem nos camarotes no período das festas, mas estive antes, na preparação, o resto assisti pela TV ou senti no trânsito.

      Não tenho conhecimento de outra cidade brasileira que conviva tão bem com o carnaval e não o digo pela participação popular, mas pela mudança na vida das pessoas, principalmente na dos moradores. Há 3 circuitos oficiais, o do Pelourinho, onde tem festa o ano todo e não recebe muita intervenção física, mas o fluxo de pessoas se expande enormemente nessa época. O do Campo Grande que é uma praça em frente a qual se localiza o famoso Teatro Castro Alves (TCA) e cujas laterais são tomadas pelas estruturas metálicas. Em uma das laterais fica uma arquibancada com 30.000 lugares e na outra alguns camarotes, pequenos para os padrões locais, e a estrutura para a cobertura das rádios e TVs. Os trios e os blocos passam por essas duas ruas e seguem em direção à Praça Castro Alves, e, por fim, o circuito Barra - Ondina de aproximadamente 3km que os trios levam cerca de 4 horas para percorrer. Nesse circuito ficam localizados os principais camarotes, alguns muito grandes, cuja lotação é de aproximadamente 2.000 pagantes e 300 funcionários.

Camarotes e estruturas de rádios e TVs no Campo Grande

      Tais estruturas começam a ser montadas em janeiro e terminam de ser desmontadas 15 dias após a quarta-feira de cinzas. São centenas de operários, máquinas, caminhões e guindastes trabalhando, fechando ruas, impedindo acessos e bloqueando calçadas. Nos dias da folia apenas moradores conseguem acesso, desde que apresentem comprovante de residência, mesmo assim se não houver bloco passando, pois nesse horário nem ambulância passa. Mãos de direção são mudadas e as ruas são invadidas por milhares de ambulantes, que montam seus minúsculos quiosques e por lá permanecem por uma semana, se alimentando e dormindo nas próprias ruas, calçadas, marquises e onde mais for possível. Não dá para falar disso sem esquecer dos mais de 2.300 sanitários químicos instalados. De repente pode ter uns 10 colocados em frente ao seu prédio, e como eles são poucos frente a quantidade de cerveja que é vendida, e todos conhecem as propriedades diuréticas do álcool, imaginem o que ocorre e o cheiro que fica.

Unidades móveis de produção e transmissão de TVs estacionadas na lateral do Campo Grande

      Os músicos e as bandas tocam de tudo. Todas as misturas são permitidas, de sertanejo, passando por funk a axe misturados no mesmo trio elétrico, e sem esquecer a MPB e clássicos do roque nacional e internacional. As apresentações também são ecléticas, desde algumas até talentosas a aquelas que fazem um esforço danado para aparecer, vestidos ou nem tanto. Algumas apresentações não não muito honestas, pois o público quer música para festejar, cantar e dançar e o músico balbucia 2 ou 3 palavras e fica “na mãozinha para cima” ou “tira o pé do chão”, pouco para quem pagou caro pelo Abadá.

      Nesse ano o Axé Music completou 30 anos e o carnaval começou um movimento de volta ao popular, aumentando o número dos trios sem cordas e as festas que ocorreram também em 6 bairros com mais de 200 shows. Há também os blocos com pequenas bandas que desfilam sem trios fora dos circuitos oficiais. Já se estuda, para o próximo ano, aumentar o carnaval em um dia e extender as festividades para 10 bairros. Segundo divulgado pelos veículos de comunicação, mais de 700.000 turistas vieram a Salvador nesse carnaval, e em algumas reportagens no aeroporto vários prometendo voltar no próximo ano e alguns chorando porque o desse ano acabou.

      Não sei dizer se a cidade ganha ou perde com o carnaval, mas muitos ganham mais nessa época, como os motoristas de taxi, ambulantes, hotéis e restaurantes. Muitos ganham dias livres, de sexta-feira de uma semana à quarta-feira da semana seguinte, outros como eu, recebem trabalho extra, e para a cidade fica a gripe do ano que recebe o nome da música escolhida como a mais popular do carnaval, nesse caso, o bi-campeão Márcio Víctor, que durante o carnaval foi operado do apêndice e 14 horas depois estava sobre o trio elétrico. Ele emplacou a música (e a gripe) do ano passado como Lepo-Lepo e a desse como Xenhenhém. É provável que em pouco tempo ninguém vá se lembrar dessas músicas, mas por hora, cumpriram o seu papel. 2016 promete!

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Na minha vez, muda!

      No trânsito, se estou em uma faixa ela segue mais devagar do que a vizinha, se troco, a nova pára e a antiga anda. Como diz um colega, na minha vez, muda. O mesmo ocorre na fila do banco e no caixa do supermercado, aliás, aqui em Salvador fila do caixa de supermercado é um martírio, mas na minha vez, muda.

      Quem, como eu, cresceu no tempo da ditadura militar passou do período do tudo é proibido aos dias de hoje onde tudo é permitido, na minha vez, muda!

      Naquele tempo aprendíamos na escola a ter respeito para com os mais velhos. Me lembro claramente da professora da segunda série dizendo que deveríamos respeitar os pais, que não devíamos perturba-los quando eles chegavam em casa, pois estavam exaustos trabalhando para nos dar o melhor. Hoje é diferente, ai do pai que ao chegar em casa não dê atenção ao filho. Será rotulado como ausente. Na minha vez, muda. Havia o almoço de domingo, e a comida era especial: macarrão com frango. A coxa, evidentemente, era para o pai. Hoje essas não são os pratos especiais, mas a coxa também não é do pai, na minha vez, muda.

 Meu avô, meu pai, meu filho e eu em 1988

      Na semana passada meu pai teria completado 82 anos e eu conversava com o meu filho e dizia da saudade que tenho dele. Meu pai nunca me levou à escola, nunca fez a minha matrícula e nunca sabia em que série eu estava, mas me dava um conselho: se você não quiser ficar como eu, estude. Meu pai nunca leu uma estória para mim, nunca me levou a festas e nem a viagens, no máximo fomos nadar no rio Tietê onde também pescamos juntos umas poucas vezes. Me lembro, ainda na fase dos 3 anos, que ele almoçava em casa e se deitava após o almoço e eu me deitava com ele, depois, quando ele saia para trabalhar me levava de bicicleta até a esquina de onde eu voltava correndo. Me lembro também das 3 vezes em que apanhei dele e da correia de couro que ficava atrás da porta da cozinha que era usada para castigar mim e aos meus irmãos. Essas são situações hoje inadmissíveis e ainda que na minha vez tenha mudado, não posso esquecer da bondade que meu pai tinha, não se tratava de fazer caridade ou oferecer o que sobrava, mas dividir o pouco que se tinha. Também não posso me esquecer do comprometimento com o trabalho. Para quem como ele ficou muito tempo desempregado depois de ter participado de uma greve no período da ditadura, fazia questão de me mostrar a importância do trabalho e da retidão de caráter, talvez meu maior patrimônio, e espero que isso não tenha mudado.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Entre carros e o ENEM

      Tenho uma boa relação com carros, mas não sou aficionado, os vejo como ferramentas e me sinto bem quando estou dirigindo. Hoje dirijo diariamente mais que nos últimos anos, e andava considerando ter um carro pequeno para poluir menos, pela facilidade para estacionar e, por fim, para economizar mesmo. No entanto, após o último acidente, passei a dar mais valor à segurança, por isso tenho um que é um pouco mais pesado. Não vou generalizar para não incorrer em erro, mas a maioria dos carros que passa por mim em alta velocidade, costurando no trânsito e executando manobras ilegais é de carro pequeno ou velho, até mesmo porque esses são a maioria. Também, na maioria, dirigido por jovens. Creio que vários fatores estão associados, a pouca maturidade, o senso de poder, o relativo baixo custo, e, claro, a educação. Mesmo não sabendo identificar as motocicletas, percebo que a maioria dos condutores também é formada por jovens, e isso justifica as estatísticas de serem, os jovens, justamente os que mais sofrem mortes no trânsito brasileiro.
      Os costumes variam com o tempo, às vezes evoluem, às vezes não, mas sempre causam impacto em nossas vidas. A seta dos carros não serve mais para indicar a direção que o condutor pretende ir, mas sim para te dizer: saia da frente que eu vou passar. Da mesma forma, a buzina não é um alerta de perigo, mas serve para te dizer, seu burro! Não sabe dirigir? Essa involução decorre da perda de valores, da falta de educação.
      A educação é responsabilidade da sociedade, da escola e, principalmente, da família. A família deveria educar e a escola ensinar, e hoje ambas estão em baixa. Há duas semanas o resultado do ENEM mostrou que cerca de 529 mil estudantes, 8,5% do total de inscritos obtiveram nota zero na redação.
      Na comparação com estudantes de outros países os brasileiros sempre disputam os últimos lugares, também pudera, a escola de ensino fundamental passou a ser um depósito de crianças e muitas delas têm estrutura precária que culmina com a baixa qualidade e que só faz se propagar para as séries superiores. No ensino médio há disciplina demais e exige-se conhecimento amplo, mas falta o básico, escrever, ler, entender e fazer contas simples.
      Com uma geração mal educada e mal formada fica fácil entender o porquê do aumento da criminalidade, que associada aos acidentes de trânsito geram mais de cem mil mortes anualmente. Assim fica difícil vislumbrar um bom futuro para o nosso país.