No Brasil muitos lutaram para substituir a ditadura de
direita por outra de esquerda, outros tantos lutaram pela democracia e esses
venceram. Não houve na história da humanidade nenhum sistema econômico que
produzisse melhores resultados que o capitalismo, mas o conjunto democracia e
capitalismo podem não ser a melhor solução e talvez haja ainda muito a ser
descoberto, mas isso é o que temos e que permite um ordenamento social.
Há em muro perto de casa uma pichação antiga que reivindica
o passe livre nos ônibus, que em São Carlos é sinônimo de transporte público.
Oras, todos os que têm um carro sabem que a despesa de manutenção está
associada ao desgaste, logo, não existe transporte gratuito, alguém deve pagar
a conta, e se o serviço é provido pelo governo, é com o dinheiro dos impostos,
e excluindo-se a má administração e a roubalheira, ou corta-se outros serviços
ou aumenta-se os impostos. Mas isso também ninguém deseja, aliás, as demandas
são por melhorias de todos os serviços.
O Movimento Passe Livre teve a ousadia de iniciar um
movimento que deu certo, pois houve a aderência de diversos segmentos incluindo
grupos políticos, apolíticos e baderneiros que engrossaram o coro e deixou as autoridades
em pânico. Não há partido político em condição de atacar o outro e chamar para
si a responsabilidade da manifestação. Nos tempos do “Fora Collor” esse papel
coube ao PT que aproveitou o movimento estudantil que tomou as ruas após as
denúncias feitas pela revista Veja e pelo jornal A Folha de São Paulo.
Não será a redução de alguns centavos no preço da passagem
de ônibus o maior legado dessa manifestação, mas sim o alerta às autoridades
que eles devem se por em seu devido lugar. Em última instância devem servir ao
povo e não se servir desse, e ainda mais, botar na cara um sorriso de escárnio.
Aos manifestantes cuja maioria tem viés pacifista devemos o
nosso respeito, e que eles utilizem a autoridade que conquistaram para banir
aqueles que apenas querem ver o circo pegar fogo, o que trará seriedade às
reivindicações e evitará o confronto com as forças de segurança, permitindo
assim que as perdas se reduzam apenas a cargos políticos inúteis e
ineficientes.