Gosto muito da frase de Descartes que inicia o meu blog: "O bom senso é a coisa melhor dividida no mundo..." e creio que rivaliza com essa verdade o senso de liberdade. Todos desejam e procuram ser livres, porém, livres de fato, poucos são.
Outro conceito que me prende é o da igualdade, pois, vivendo em um meio capitalista a desigualdade espanta e indigna. Quando estabeleço uma relação entre liberdade e igualdade torço para estar errado em minha conclusão. Não há convivência possível entre esses dois valores. Sociedades como foram as comunistas e nas que hoje ainda são como a Coréia do Norte e Cuba se busca a igualdade, mas essas são sociedades totalitárias nas quais a população não exerce nem mesmo o direito básico de sair do país. Nos demais, ditos democráticos, a desigualdade é monstruosa. A riqueza não espanta pelo que consegue produzir para seus proprietários, porém é vexatória quando se trata dos miseráveis. Mesmo nos países ditos ricos, a miséria existe, e só não é maior porque em todos eles o inverno é rigoroso e o frio mata muito mais do que o calor.
É fácil defender o conceito de igualdade, pois ele embute algo como justiça. No entanto não é justo tratar igualmente os desiguais. Nem mesmo os nosso filhos tratamos de maneira idêntica, e quando fazemos isso erramos, cometemos injustiça, ou os dois simultaneamente. Talvez fosse justo que as oportunidades fossem igualmente distribuídas, porém o reconhecimento pelo esforço, trabalho e desenvolvimento devesse ser mesmo dado por mérito.
Se não é possível conciliar por si só a justiça, a igualdade e a liberdade, a solução deve estar na política. Hoje o chamado mercado comanda, mas não pode ser dele a última palavra, há que haver mecanismos de controle estabelecidos por um governo forte, e que esse realmente represente a sociedade. Em sistemas grandes e complexos como os de hoje não é possível que algum partido ou líder, mesmo que carismático, acerte sempre e possa ditar as regras pelas quais a população deva ser conduzida. A sociedade deve ditar as regras e aos partidos cabe segui-las organizando assim a estrutura social. Essa é uma solução que conceitualmente parece acertada, mas a prática mostra que a desigualdade carrega, em seu bojo, a desinformação, logo, a organização para tomada de decisão não é uma tarefa fácil.
As tendências vem dos mais ricos para os mais pobres, e as ondas estatizantes ou liberalizantes chegam ao Brasil sempre depois de terem passado pela Europa ou pelos Estados Unidos. Da mesma maneira ocorre dentro do Brasil. Falando apenas daquilo que vivi, os estados mais ricos foram os primeiros a apoiar a ditadura militar, também foram os primeiros a lutar pela democratização, aderiram primeiro às candidaturas do PT e são os primeiros que as está abandonando, já os estados mais pobres estão ainda na fase anterior como vimos nas últimas eleições.
A diferença do que vivi e do que estou vivendo é a velocidade com que as mudanças ocorrem. A cultura digital acelerou os processos e os governos, de forma geral, não estão capacitados para acompanhar as mudanças, assim corre-se o risco de ruptura, pois o carro pode passar à frente dos bois. Ou os governantes passam a ouvir e entender os recados das ruas cibernéticas ou serão atropelados.