Contrariando o que dizem, muitos político tem que ter bons
salários. Se altos executivos e empresários têm remuneração compatível com a
dimensão de suas empresas, o mesmo vale para os altos cargos governamentais.
Não é possível que o salário do presidente do país seja da ordem de R$
20.000,00, isso é muito pouco pela responsabilidade que o cargo exige.
Não é errado ter bons salários, errado é não haver
transparência no trato do dinheiro público. Errado são os desmandos, o mau uso,
a corrupção. Errado é o despreparo dos servidores públicos, o compadrio, o
nepotismo. Errado está o nosso sistema político que permite a eleição de
pessoas sem voto, que não permite saber quem foi realmente eleito com seu voto,
já que é possível votar em um candidato e eleger outro da coligação. Errado é
não se ver representado por uma das quase trinta legendas partidárias, e errado
estamos nós que elegemos políticos de baixa qualidade e que nunca pensarão no
país, mas sim neles mesmos.
A virtude das manifestações dos últimos dias está em mostrar
o descontentamento com o sistema atual e a resposta dada pelas autoridades é
pífia e desconexa. Das propostas feitas pelo executivo ninguém se lembra e nem
serão implementadas e a mais bizarra foi a da Assembléia Constituinte Exclusiva
para a reforma política. Tal proposta já nasceu morta e não será executada.
Ninguém foi à rua pedindo plebiscito ou referendum. Ninguém
saiu de casa para discutir se o financiamento de campanhas deve ser público ou
privado e tampouco alguém se manifestou querendo voto em lista, voto distrital
puro ou misto. O que o todo mundo quer é uma vida melhor. Com rendimento digno,
segurança, saúde, educação e que ninguém roube o sacrificado dinheiro dos
impostos.
Ou nossas autoridades se fazem de surdas ou são tolas ou nos
consideram idiotas, pois inventam situações estapafúrdias para desviar a
atenção e, mesmo tendo o país em chamas, em alguns casos, literalmente, cometem
certos absurdos, como o profissional que penteia e maquia a presidente e que em
nove faturas cobrou R$ 400,00 e na décima passou para R$ 3.125,00. E tem também
a turma da FAB (Farra Aérea Brasileira), que graças à imprensa livre ficamos
sabendo que o Presidente da Câmara dos Deputados voou com jato da Força Aérea de Natal ao Rio com
parentes e amigos e no fim de semana todos foram assistir à final da Copa das
Confederações. Achou normal, pois já que iria almoçar com políticos, não tem
nada demais dar carona com o dinheiro alheio. Após a gritaria devolveu R$
9.700,00 liquidando a fatura. O Ministro da Previdência Social também
requisitou avião da FAB para assistir ao mesmo jogo, porém foi de Brasília à
Natal para, segundo ele, compromisso oficial, e ao invés de voltar à Brasília,
foi ao Rio de Janeiro. Já o Presidente do Senado, que não deve gostar desse
tipo de bola, utilizou do mesmo serviço para ir de Maceió a Porto Seguro
assistir ao casamento da filha de um deputado. O primeiro pagou pouco, pois não
está considerado o custo de aluguel do avião a jato, mas deve ter feito alguma
conta com o custo de voo comercial, os outros dois não pagaram nada, pois se
consideram no direito de usar tais recursos.
Será que eles não nos entendem ou não estamos desenhando
direito?