Não sei se Marketing é arte ou ciência, mas seus profissionais buscam interpretar as necessidades de um público, qualifica-las, quantifica-las e oferecer produtos, campanhas, promoções entre outras atividades de modo a maximizar as vendas e os resultado. Assim vale tanto para empresas quanto para organizações sociais, cujo resultado nem sempre é pecuniário e a venda pode ser de conceitos. Também não sei até que ponto pode-se creditar ao Marketing determinadas ações e definições. Por exemplo, simplificar algumas ideais de modo que fiquem compreensíveis ao seu público, mesmo que não estejam corretas. Vejamos:
Velocidade é um conceito físico que é a relação entre distância percorrida e tempo dispendido, por exemplo, metros por segundo ou quilômetros por hora. No entanto, qual é a velocidade que a sua operadora de telefonia móvel oferece no seu plano de acesso? Nesse caso o termo velocidade, tecnicamente, não está bem empregado, mas todo mundo entende pois está relacionado a quanto tempo se dispende para receber arquivos. Simples assim, quanto menor o tempo dispendido, maior é a velocidade. A velocidade de uma rede está ligada ao tempo que um impulso elétrico (ou luminoso) leva para percorrê-la, e aqui há uma série de considerações a serem feitas, mas o tempo para receber determinado arquivo está muito mais relacionado à taxa de transferência, não somente à velocidade da rede. Ainda nesse tema utiliza-se a não existente forma plural de alguns termos, por exemplo: minha conexão tem velocidade de 40 Megas e a franquia é de 500 Gigas. Está errado. A minha conexão tem uma taxa de transferência de 40 Mega bits por segundo e uma franquia de 500 Giga Bytes. O plural fica nos bits e Bytes, não no Mega e Giga. Pode ser aceitável do ponto de vista comercial, mas não está ajudando a ciência nem a língua culta, enfim, não está ajudando a ensinar o correto.
Também nessa linha houve uma campanha publicitária, necessária, utilizada durante o carnaval desse ano chamando os homens para respeitarem as mulheres e que utilizava a seguinte frase: Respeita as Mina. É clara, é direta, e podem até mesmo dizer que comunicação é o que se compreende, não o que se emite, mas é mesmo necessário agredir a língua portuguesa? Primeiro porque isso não é um pedido, não é um incentivo, não é um favor, é uma ordem. Existe uma lei que obriga a se respeitar, portanto, é um imperativo. Como se trata de respeitar a todas as mulheres o artigo foi corretamente colocado no plural, porém a quem se desejava respeitar e que de forma carinhosa foi chamada de Mina, ficou no singular. Não vejo o porquê de não ter sido utilizado Respeite As Minas. Talvez o fizeram buscando uma identidade com as comunidades mais carentes, mais jovens, menos instruídas, mas será que também utilizariam por esses mesmos pretextos os termos pobrema ou imbigo?
Nesses tempos em que se enfrenta de tudo, da física à língua portuguesa, e, principalmente, os adversários políticos, outra palavra, com igual poder de marketing, chama minha atenção: facista. Duvido que a maioria que a emprega sabe o que ela significa, mas um xingamento com palavras compostas ou polissilábicas dificilmente atingiria o objetivo. Dizer neoliberal, comunista ou mesmo imperialista dá trabalho, mas uma trissilábica paroxítona, é música na voz de quem quer agredir. Ainda mais quando se pode reforçar a sílaba intermediária: faciiiiiissssta!
O Facismo é um regime que nasceu na Itália como um movimento e chegou ao poder em 1922 como partido político liderado por Benito Mussolini, sendo esse nomeado Primeiro Ministro. São características do Fascismo: líder forte, viés autoritário, antiliberal, prega a autossuficiência e o protecionismo, atua com a mobilização de massas apoiado por sindicatos e movimentos sociais, é contrário ao capitalismo e ao socialismo Marxista, seus membros são provenientes da classe operária e de pequenos burgueses urbanos e rurais, e no poder, se alia ao grande capital impedindo que as organizações operárias estimulem a luta de classes. Qual é a agremiação política brasileira que mais se enquadra nas características acima? Bingo! É aquela que xinga todos os outros de faciiissssta. Isso é puro marketing, inverteu a lógica.
No final de janeiro um amigo replicou no Facebook uma postagem cujo texto continha a frase ” ... a maioria são de esquerda...” Nos comentários eu coloquei: “a maioria é de esquerda” e uma terceira pessoa me censurou: “Ideologicamente está correto”. Nem me dei ao trabalho de responder. Entendi que não era uma simples questão de ignorância, o caso era mais sério!