quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Marketing, Velocidade, Megas, Gigas, Pobrema, Imbigo, Facista

 Não sei se Marketing é arte ou ciência, mas seus profissionais buscam interpretar as necessidades de um público, qualifica-las, quantifica-las e oferecer produtos, campanhas, promoções entre outras atividades de modo a maximizar as vendas e os resultado. Assim vale tanto para empresas quanto para organizações sociais, cujo resultado nem sempre é pecuniário e a venda pode ser de conceitos. Também não sei até que ponto pode-se creditar ao Marketing determinadas ações e definições. Por exemplo, simplificar algumas ideais de modo que fiquem compreensíveis ao seu público, mesmo que não estejam corretas. Vejamos:
      Velocidade é um conceito físico que é a relação entre distância percorrida e tempo dispendido, por exemplo, metros por segundo ou quilômetros por hora. No entanto, qual é a velocidade que a sua operadora de telefonia móvel oferece no seu plano de acesso? Nesse caso o termo velocidade, tecnicamente, não está bem empregado, mas todo mundo entende pois está relacionado a quanto tempo se dispende para receber arquivos. Simples assim, quanto menor o tempo dispendido, maior é a velocidade. A velocidade de uma rede está ligada ao tempo que um impulso elétrico (ou luminoso) leva para percorrê-la, e aqui há uma série de considerações a serem feitas, mas o tempo para receber determinado arquivo está muito mais relacionado à taxa de transferência, não somente à velocidade da rede. Ainda nesse tema utiliza-se a não existente forma plural de alguns termos, por exemplo: minha conexão tem velocidade de 40 Megas e a franquia é de 500 Gigas. Está errado. A minha conexão tem uma taxa de transferência de 40 Mega bits por segundo e uma franquia de 500 Giga Bytes. O plural fica nos bits e Bytes, não no Mega e Giga. Pode ser aceitável do ponto de vista comercial, mas não está ajudando a ciência nem a língua culta, enfim, não está ajudando a ensinar o correto.
      Também nessa linha houve uma campanha publicitária, necessária, utilizada durante o carnaval desse ano chamando os homens para respeitarem as mulheres e que utilizava a seguinte frase: Respeita as Mina. É clara, é direta, e podem até mesmo dizer que comunicação é o que se compreende, não o que se emite, mas é mesmo necessário agredir a língua portuguesa? Primeiro porque isso não é um pedido, não é um incentivo, não é um favor, é uma ordem. Existe uma lei que obriga a se respeitar, portanto, é um imperativo. Como se trata de respeitar a todas as mulheres o artigo foi corretamente colocado no plural, porém a quem se desejava respeitar e que de forma carinhosa foi chamada de Mina, ficou no singular. Não vejo o porquê de não ter sido utilizado Respeite As Minas. Talvez o fizeram buscando uma identidade com as comunidades mais carentes, mais jovens, menos instruídas, mas será que também utilizariam por esses mesmos pretextos os termos pobrema ou imbigo?
      Nesses tempos em que se enfrenta de tudo, da física à língua portuguesa, e, principalmente, os adversários políticos, outra palavra, com igual poder de marketing, chama minha atenção: facista. Duvido que a maioria que a emprega sabe o que ela significa, mas um xingamento com palavras compostas ou polissilábicas dificilmente atingiria o objetivo. Dizer neoliberal, comunista ou mesmo imperialista dá trabalho, mas uma trissilábica paroxítona, é música na voz de quem quer agredir. Ainda mais quando se pode reforçar a sílaba intermediária: faciiiiiissssta!
      O Facismo é um regime que nasceu na Itália como um movimento e chegou ao poder em 1922 como partido político liderado por Benito Mussolini, sendo esse nomeado Primeiro Ministro. São características do Fascismo: líder forte, viés autoritário, antiliberal, prega a autossuficiência e o protecionismo, atua com a mobilização de massas apoiado por sindicatos e movimentos sociais, é contrário ao capitalismo e ao socialismo Marxista, seus membros são provenientes da classe operária e de pequenos burgueses urbanos e rurais, e no poder, se alia ao grande capital impedindo que as organizações operárias estimulem a luta de classes. Qual é a agremiação política brasileira que mais se enquadra nas características acima? Bingo! É aquela que xinga todos os outros de faciiissssta. Isso é puro marketing, inverteu a lógica.
      No final de janeiro um amigo replicou no Facebook uma postagem cujo texto continha a frase ” ... a maioria são de esquerda...” Nos comentários eu coloquei: “a maioria é de esquerda” e uma terceira pessoa me censurou: “Ideologicamente está correto”. Nem me dei ao trabalho de responder. Entendi que não era uma simples questão de ignorância, o caso era mais sério!

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Pro Nordeste O País Vira as Costas... Será?

      Um amigo me ensinou que só há dois tipos de música: a boa e a ruim. A boa é a que eu gosto. A Nega gosta daquelas que tem um som agradável à ela e cuja letra traga algum sentido positivo. Eu não. Não sou sofisticado. Gosto do conjunto, mesmo que o sentido não seja construtivo ou nem mesmo faça sentido algum. Se eu gostar de cantar eu gosto dela e pronto. Às vezes nem entendo direito a letra, mas mesmo assim eu gosto. Em muitas das vezes concordo com maioria das pessoas e gosto de um sucesso, e em muitas outras, detesto aquele sucesso. Assim tenho várias centenas de músicas no telefone que ouço enquanto dirijo, corro, caminho, pedalo, estou sozinho, enfim…ouço sempre.

      Hoje pela manhã estava sozinho e fui caminhar, percorri quase 13 km (se alguém quiser conferir veja o link do Strava: https://www.strava.com/athletes/20418723) e, portanto, ouvi várias delas, e entre as quais estava uma gravação da Banda Mel de 1998, Protesto do Olodum, também conhecida por E Lá Vou Eu. Pode ser ouvida no link:    https://www.youtube.com/watch?time_continue=8&v=U4vcfptLLWU, e a letra segue abaixo. Bem, os artistas têm, assim dizendo, uma liberdade poética, e eu poderia contestar diversas afirmações, mas me fixei em uma apenas: Pro o Nordeste o País Vira as Costas... Será?

      Fugi das aulas de Metodologia de Pesquisa Científica e as estatísticas brasileiras não são tão apuradas, organizadas e as séries nem sempre são tão históricas, mas fiz uma rápida busca na internet para entender o por quê. Ainda que a gravação seja de 1998, esse bordão ainda é muito ouvido por aqui como um mantra. Vejamos:

      Esse é um ano de eleição importante, vamos eleger presidente, deputados, senadores e governadores e se dá muita importância à presidência, que pode muito, mas não pode tudo. Ninguém faz nada sem o congresso, e por isso eu acho que esse deveria ter muito mais atenção. O Nordeste tem 27,5% da população do país (dado do IBGE) e possui 29,43% dos deputados e 33,33% dos senadores. O Sudeste, por exemplo, que tem 41,86% da população tem 34,89% dos deputados e 14,81% dos senadores, ou seja, o Nordeste com população 35% menor manda mais que o Sudeste, pois tem praticamente o mesmo número de deputados: 151 x 179 e mais que o dobro de senadores, são 27x12.

      O governo federal repassa aos estados cerca de 29% do imposto que arrecada (dados de 2015) e o Nordeste contribui com 7,96%, recebe 37,53% e tem um superávit efetivo de 35,6%, ou seja, recebe 35,6% a mais do que recolhe. O Sudeste, por sua vez, recolhe 68,1% de todo o imposto e recebe 29,68% isso é, recebe efetivamente, 12,54% do que paga. Ou seja, o Nordeste é superavitário.

      Das quase 50 milhões de pessoas contempladas com o programa Bolsa Família, 49,30% estão no Nordeste, enquanto 24,54% estão no Sudeste (dados no site do programa). Apesar do valor médio do programa ser de cerca de R$180,00, ou seja, baixo, há maior transferência para o Nordeste. 

      Há 36 universidades federais no Brasil, 27,78% estão no Nordeste e no Sudeste, 36,11%, pois somente em Minas Gerais há 7 delas, mas em São Paulo, apenas duas. Porém há que se considerar que no Sudeste há 30 milhões de pessoas a mais do que no Nordeste, nesse há 57 milhões contra 87 milhões no Sudeste.

      Se estendermos as comparações com as demais regiões, o Nordeste continua levando vantagem, portanto, não entendi quem exatamente vira as costas para quem. Posso estar errado, como estou em muitas das vezes, mas me parece muito mais um caso de ser “Bom em Marketing e Ruim em Administração”.


E Lá Vou Eu.
Banda Mel - Ao vivo. 1998

Força e pudor,
Liberdade ao povo do Pelô.
Mãe que é mãe no parto sente dor,
E lá vou eu…

Declara a nação
Pelourinho contra a prostituição
Faz protesto, manifestação,
E lá vou eu…

AIDS se expandiu
E o terror já domina o Brasil
Faz denúncia Olodum, Pelourinho
E lá vou eu…

Brasil liderança
Força e elite na poluição
Em destaque o terror Cubatão
E lá vou eu…

Ioioioioio
Lálalálálá
E lá vou eu

Lá e cá Nordescópia
Na Bahia existe Etiópia
Pro nordeste o País vira as costas
E lá vou eu…

Moçambique, hei
Por minuto um homem vai morrer
Sem ter pão nem água prá beber
E lá vou eu…

Mas somos capazes
O nosso Deus a verdade nos traz
Monumento da força e da paz
E lá vou eu…

Ioioioioio
Lálalálálá
E lá vou eu

Desmond Tutu
Contra o apartheid na África do Sul
Vem saudando ao Nelson Mandela
O Olodum

Ioioioioio
Lálalálálá
E lá vou eu