domingo, 26 de junho de 2016

Governabilidade Em Cheque

 No livro Diários da Presidência, 1995 / 1996 - O ex presidente FHC relata, na página 507, o dia 22/03/1996, no qual ele recebe alguns deputados do Rio de Janeiro. Segue o texto: …"Na verdade o que eles querem é nomear o Eduardo Cunha diretor comercial da Petrobras! Imagina! O Eduardo Cunha foi presidente da Telerj, nós o tiramos de lá no tempo de Itamar porque ele tinha trapalhadas, ele veio da época do Collor… e que há, sim, problemas com esse nome. Enfim, não cedemos à nomeação".

      Não creio que o deputado e presidente afastado da câmara, Eduardo Cunha, vá manter o mandato. Ele será cassado. Para o processo pode ser relevante saber se ele mentiu ou não ao dizer que as contas em bancos Suíços não são deles mas de um trust. O que posso afirmar é que o mar dele não está para peixe. Já são cinco as investigações contra ele autorizadas pelo Supremo Tribuna Federal, que embora corram sob segredo de justiça, o que se comenta é que se tratam de crimes como corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Em março passado ele se tornou réu na operação Lava Jato por supostamente ter recebido cinco milhões de dólares por operações que envolveram a Petrobras, e há também algum imbróglio com o Porto Maravilha. A situação fica pior ainda quando se sabe que na atual conjuntura, o vice-presidente da república é justamente o presidente da Câmara.

      Apesar da relevância da situação, da necessidade de esclarecimentos e do respectivo julgamento, a importância do caso Cunha é ínfima se comparada ao desgoverno e falcatruas geradas durante as administrações do PT. Quando o ex-presidente Lula ainda fazia parte da “esquerda raivosa” e perdeu a eleição para o ex-presidente Collor, o que se dizia era que se o PT tivesse ganhado as eleições economizaríamos 4 anos. Hoje isso faz sentido, pois eles teriam feito em 4 anos o estrago que agora levaram 13 anos para fazer. Quando a liderança do partido deixou de ser de militantes sindicalistas e passou a ser de pragmáticos funcionários públicos o partido se popularizou, ganhou eleições e montou um plano de permanência no poder e deu no que deu. Cada escândalo que é descoberto supera o anterior em valores desviados, em número de envolvidos e sofisticação. Esquema que funcionou até que alguns presos começaram a abrir o bico e as entranhas da corrupção vão ficando expostas.

      Dói, como brasileiro, chegar à conclusão que fomos ludibriados, e o pior é ver que para muitos o crime compensa. Para que a delação ocorra estão sendo concedidos muitos benefícios e ladrões confessos devolvem parte do que roubaram, pegam penas simbólicas e vão continuar levando uma vida luxuosa, tendo apenas poucas restrições e por pouco tempo. Espero que pelo menos diante desse quadro, outros presos que até aqui estão calados como o Marcos Valério, o José Dirceu e o João Vaccari, se não pela própria consciência, mas pelo benefício que pode ser atingido, escancarem de vez as portas e denunciem todos os envolvidos, não importando a qual partido pertençam e muito menos a qual cargo ocupem.

      A governabilidade está em cheque, em todos os poderes há gente envolvida em falcatruas, mas que a justiça seja feita e um redesenho político seja encontrado, pois a democracia precisa ser mantida.