sábado, 21 de abril de 2018

Professor Ganha Mal. De Quem É A Culpa?


      É recorrente nas midias sociais a associação de uma imagem do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, a uma frase a ele atribuída na qual ele teria afirmado que o professor trabalha por vocação, não pelo dinheiro, se o professor quisesse ganhar dinheiro pediria demissão e iria para a iniciativa privada. É claro que acompanham xingamentos e afirmações óbvias quanto à necessária valorização da carreira de professor. Não pretendo aqui discutir política e nem filosofar sobre o sistema capitalista. Não importa nem mesmo a minha opinião sobre os dois, mas sim a realidade como essa se impõe.
      
      Que professor da rede pública estadual e municipal é mal remunerado não há dúvida, mas as críticas ao governo só demonstram o conhecimento rasteiro que se tem sobre economia. O salário é estabelecido pela raridade, não pela importância. Simples assim: professor ganha mal porque há muito. O exemplo primário é fazer a comparação com jogador de futebol. É fácil responder à pergunta: quem é mais importante, o professor que ensina a seu filho ou determinado craque do time A ou B? Esse é o problema, estamos comparando um professor de escola pública a um craque da iniciativa privada.

      Mesmo no meio do futebol a vida não é tão glamurosa. Uma pesquisa realizada em 2016 com 14.000 jogadores de 54 países mostra que 60% deles ganha menos que USD2,000.00 por mês, e no Brasil, 83% ganha menos de USD 1,000.00 por mês. (http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2016/11/pesquisa-com-14-mil-jogadores-mostra-realidade-de-salarios-e-contratos.html) e que 0,9% ou seja, cerca de 6.700 jogadores no mundo ganha mais de USD 100,000.00 por mês. Só a rede pública estadual de São Paulo possui  mais de 482.000 docentes (https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_em_S%C3%A3o_Paulo), isso é, são 7,2 vezes mais professores na rede estadual de São Paulo que o total de jogadores profissionais no mundo que é algo em torno de 67.000.

      Portanto não esperem que qualquer governo vá dar aos professores o valor salarial compatível com a sua importância. Só mesmo os professores podem fazer isso e não será fazendo greve, nem jogando cadeiras na entrada do palácio do governo ou invadindo o ministério. É preciso atacar a causa, não a consequência. É necessário ter compromisso com a solução, não com o problema.

      Se paga-se mal porque há muito, deve-se reduzir o número de professores. Poderia começar exigindo que escolas ruins de formação sejam fechadas e que os cursos de escolas consideradas boas ofereçam maior dificuldade para o ingresso e para a conclusão do curso. A realidade aponta que é muito fácil se formar professor hoje em dia. No Blog do Enem (https://blogdoenem.com.br/notas-de-corte-sisu-pedagogia/)  pode-se encontrar os seguintes dados sobre a nota de corte:

       
CURSO NC MIN. NC MÁX.
MEDICINA 880 900
ENGENHARIA ELÉTRICA 780 910
PEDAGOGIA 450 740

      Também são recorrentes na internet as imagens sobre as ideologias políticas pregadas nas consideradas escolas de bom nível em detrimento às técnicas de ensino. Aos professores cabem ensinar e apenas complementar a educação, pois essa deve ser obrigação dos pais e das famílias. Essa estória de formar cidadão integral e consciente é a melhor desculpa para quem não quer trabalhar. Ensinar dá trabalho, já fazer proselitismo político, é fácil.

      Além disso, a atuação dos representantes da classe, os tais sindicatos, deveria ser no sentido de estabelecer parâmetros de diferenciação para saber quem são os craques e quem são os comuns. Aos craques, salário de craque, aos comuns, rendimentos comuns. Em meus mais de 20 anos de estudos vi de tudo. Professor bom e produtivo e professor péssimo, enrolador, nem produzia e nem atendia direito aos estudantes. Certa vez ouvi de um professor na pós graduação, que respondendo a um comentário que a universidade fica triste com os alunos em férias, que há muitos professores que assim a preferem, ou seja, sem os alunos.

      Hoje, para atender aos quase 9 milhões de estudantes da rede pública estadual de São Paulo há 482 mil docentes, se esse número for reduzido em 30%, com certeza haverá um contingente desse tamanho de reserva, portanto é preciso reduzir drasticamente o número de professores formandos a fim de que haja escassez, e que a lei da oferta e da procura funcione a favor do professor, pois hoje está plenamente pendendo para o baixo salário.