É recorrente nas midias sociais a
associação de uma imagem do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, a uma
frase a ele atribuída na qual ele teria afirmado que o professor trabalha por
vocação, não pelo dinheiro, se o professor quisesse ganhar dinheiro pediria
demissão e iria para a iniciativa privada. É claro que acompanham xingamentos e
afirmações óbvias quanto à necessária valorização da carreira de professor. Não
pretendo aqui discutir política e nem filosofar sobre o sistema capitalista.
Não importa nem mesmo a minha opinião sobre os dois, mas sim a realidade como
essa se impõe.
Que professor da rede pública estadual e
municipal é mal remunerado não há dúvida, mas as críticas ao governo só
demonstram o conhecimento rasteiro que se tem sobre economia. O salário é estabelecido
pela raridade, não pela importância. Simples assim: professor ganha mal porque
há muito. O exemplo primário é fazer a comparação com jogador de futebol. É
fácil responder à pergunta: quem é mais importante, o professor que ensina a
seu filho ou determinado craque do time A ou B? Esse é o problema, estamos
comparando um professor de escola pública a um craque da iniciativa privada.
Mesmo no meio do futebol a vida não é tão
glamurosa. Uma pesquisa realizada em 2016 com 14.000 jogadores de 54 países
mostra que 60% deles ganha menos que USD2,000.00 por mês, e no Brasil, 83%
ganha menos de USD 1,000.00 por mês. (http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2016/11/pesquisa-com-14-mil-jogadores-mostra-realidade-de-salarios-e-contratos.html)
e que 0,9% ou seja, cerca de 6.700 jogadores no mundo ganha mais de USD
100,000.00 por mês. Só a rede pública estadual de São Paulo possui mais de 482.000 docentes (https://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o_em_S%C3%A3o_Paulo),
isso é, são 7,2 vezes mais professores na rede estadual de São Paulo que o
total de jogadores profissionais no mundo que é algo em torno de 67.000.
Portanto não esperem que qualquer governo
vá dar aos professores o valor salarial compatível com a sua importância. Só
mesmo os professores podem fazer isso e não será fazendo greve, nem jogando
cadeiras na entrada do palácio do governo ou invadindo o ministério. É preciso
atacar a causa, não a consequência. É necessário ter compromisso com a solução,
não com o problema.
Se paga-se mal porque há muito, deve-se
reduzir o número de professores. Poderia começar exigindo que escolas ruins de
formação sejam fechadas e que os cursos de escolas consideradas boas ofereçam
maior dificuldade para o ingresso e para a conclusão do curso. A realidade
aponta que é muito fácil se formar professor hoje em dia. No Blog do Enem (https://blogdoenem.com.br/notas-de-corte-sisu-pedagogia/)
pode-se encontrar os seguintes dados
sobre a nota de corte:
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Também são recorrentes na internet as
imagens sobre as ideologias políticas pregadas nas consideradas escolas de bom
nível em detrimento às técnicas de ensino. Aos professores cabem ensinar e
apenas complementar a educação, pois essa deve ser obrigação dos pais e das famílias.
Essa estória de formar cidadão integral e consciente é a melhor desculpa para
quem não quer trabalhar. Ensinar dá trabalho, já fazer proselitismo político, é
fácil.
Além disso, a atuação dos representantes
da classe, os tais sindicatos, deveria ser no sentido de estabelecer parâmetros
de diferenciação para saber quem são os craques e quem são os comuns. Aos craques,
salário de craque, aos comuns, rendimentos comuns. Em meus mais de 20 anos de
estudos vi de tudo. Professor bom e produtivo e professor péssimo, enrolador,
nem produzia e nem atendia direito aos estudantes. Certa vez ouvi de um
professor na pós graduação, que respondendo a um comentário que a universidade
fica triste com os alunos em férias, que há muitos professores que assim a
preferem, ou seja, sem os alunos.
Hoje, para atender aos quase 9 milhões de
estudantes da rede pública estadual de São Paulo há 482 mil docentes, se esse
número for reduzido em 30%, com certeza haverá um contingente desse tamanho de
reserva, portanto é preciso reduzir drasticamente o número de professores
formandos a fim de que haja escassez, e que a lei da oferta e da procura
funcione a favor do professor, pois hoje está plenamente pendendo para o baixo salário.