Mudei-me para São Carlos em janeiro de 1.991 e tive que alugar um telefone, pois quem é novo não se recorda, mas naquele tempo o serviço de telefonia fixa era estatal, em São Paulo feito pela Telesp, e o serviço não atingia a todos. Dessa maneira, telefone era um bem passível de ser declarado no imposto de renda, e alguns investidores tinham tantas linhas que sua administração era feita por imobiliárias. No mercado informal o custo corrente de uma linha era de cinco mil dólares e o aluguel mensal girava em torno de meio salário mínimo, não estou considerando a tarifa pelo uso do serviço. E não adiantava querer comprar uma linha diretamente da concessionária, pois não havia. Era necessário se cadastrar em um plano de expansão que demorava vários anos para ocorrer e o pagamento era feito em, no mínimo, 12 parcelas. Telefone celular então ainda não existia, e esse serviço passou a ser oferecido por volta de 1.993 pela então chamada Telesp Celular. No primeiro semestre de 1.984 comprei nos Estados Unidos meu primeiro aparelho que era, claro, o famoso PT 100, da Motorola. Esse tinha a dimensão de meio tijolo, pesava mais de meio quilo e a bateria não durava mais que duas horas, e o pior, não havia linha disponível. Aguardei pelo segundo plano de expansão e no dia de seu início fui até Araraquara para habilitar o aparelho, pois foram disponibilizadas apenas 700 linhas para São Carlos que se somaram às 700 habilitadas no ano anterior.
A Telesp foi privatizada, sendo comprada pela Telefonica e o custo de uma linha fixa gira em torno de cem reais e a compra pode ser feita pela internet, que naquele tempo também não existia. A telefonia móvel da Telesp foi vendida para a Vivo e como sou um típico consumidor burro, continuei fiel à marca e mantive o mesmo número. E devo confessar, as empresas adoram idiotas como eu, mesmo que a minha conta não seja elevada, a receita é certa e constante. Como utilizo pouco o telefone, pago pela disponibilidade, e a Vivo é a companhia que me dava maior área de cobertura, e acredito que até hoje ainda seja assim, e como não havia ainda a lei da portabilidade, eu não queria perder o meu número. Além disso, há apenas uns 3 anos eu tive um único e pequeno problema, passaram a tarifar alguns trocados por pacote de SMS. Reclamei alguns meses depois e resolveram.
Faz uns quatro anos que tenho smartphone sem ter contratado plano de dados, acesso apenas em rede wireless. No ano passado comprei um tablet e reduzi em muito o uso do smartphone, mas na conta telefônica de do mês passado, que pago com débito automático, veio debitado R$ 102,00 por dados excedentes. Demorei alguns dias mas fui à loja da Vivo me informar. A atendente buscou uma listagem no banco de dados de todos os meus supostos acessos, inclusive constava o dia 13 de agosto no qual pedalei das 5 da manhã às 5 e meia da tarde. Para mim estava mais do que caracterizado que a tarifação era indevida. Questionei-a a respeito mas ela se limitou a mostrar a evidência: a listagem. Eu disse então que eles são os donos do banco de dados e eles podem colocar o que quiserem. Polidamente, mas firme, ela me respondeu que a Vivo não precisa disso. No mesmo tom retruquei: não precisa mas está fazendo. De qualquer maneira não tive a minha demanda atendida, era necessário ligar para o um determinado número. Não o fiz de imediato e na conta desse mês veio o débito de R$ 318,00, mas com a greve dos correios não recebi a fatura e por isso demorei para reclamar, mas o fiz, e esse foi o calvário.
Às 11:37h da quarta-feira fiz a ligação e fiquei esperando por 12 minutos sem ser atendido. Desliguei, liguei novamente e fiquei mais 15 minutos até ser atendido. Foi um procedimento burocrático longo e para resumir permaneci ao telefone até às 13:45 e não sei se resolvi o problema. Insisti que não solicitei o serviço, não o utilizei, exigi que o bloqueassem e me devolvessem o dinheiro. Autorizei que se fizesse em crédito nas contas futuras. Deixei claro para a atendente que, aliás, foi simpática, solícita e que aparentemente tentava a solução, que o meu problema era com a empresa e não pessoal.
A minha reflexão a respeito é a seguinte: uma empresa que tem 20 milhões de assinantes e que quer fazer caixa pode proceder dessa maneira com apenas 10% de seus clientes distribuídos geograficamente. Se eles forem taxados em apenas R$ 200,00 cada um estamos falando de um montante de 400 milhões, que reclamados apenas no mês seguinte representa um empréstimo sem juros por um mês. Se apenas 50% exigirem o ressarcimento imediato em dinheiro, serão 200 milhões em caixa por mais um mês e sem o pagamento de juros. Essa é uma boa maneira de se administrar uma empresa. Capital de giro sem mexer no fluxo de caixa e financiado sem juros.
Visto dessa forma vocês podem pensar que sou contra a privatização, mas não sou. As estatais são mais ineficientes e os custos que nos impõem são muito maiores, haja vista a situação inicial que descrevi, sem telefones e serviço ruim. Ou seja, o governo não é provedor e nem regulador, é incompetente.
E para encerrar, me parece que o problema é sistêmico, pois em casa quando falei com a minha filha sobre o caso, ela, no mesmo dia, ficou tentando resolver a taxação de aproximadamente R$ 500,00 em débito em sua conta corrente pela operadora Claro que lhe taxava por 900 torpedos supostamente enviados no mês anterior.
Se não tivermos as nossas demandas atendidas iremos reclamar formalmente junto a Anatel.
ISLAND? Qual é a pronúncia adequada?
Há 4 meses