domingo, 23 de outubro de 2011

A VIVO e Eu.

      Mudei-me para São Carlos em janeiro de 1.991 e tive que alugar um telefone, pois quem é novo não se recorda, mas naquele tempo o serviço de telefonia fixa era estatal, em São Paulo feito pela Telesp, e o serviço não atingia a todos. Dessa maneira, telefone era um bem passível de ser declarado no imposto de renda, e alguns investidores tinham tantas linhas que sua administração era feita por imobiliárias. No mercado informal o custo corrente de uma linha era de cinco mil dólares e o aluguel mensal girava em torno de meio salário mínimo, não estou considerando a tarifa pelo uso do serviço. E não adiantava querer comprar uma linha diretamente da concessionária, pois não havia. Era necessário se cadastrar em um plano de expansão que demorava vários anos para ocorrer e o pagamento era feito em, no mínimo, 12 parcelas. Telefone celular então ainda não existia, e esse serviço passou a ser oferecido por volta de 1.993 pela então chamada Telesp Celular. No primeiro semestre de 1.984 comprei nos Estados Unidos meu primeiro aparelho que era, claro, o famoso PT 100, da Motorola. Esse tinha a dimensão de meio tijolo, pesava mais de meio quilo e a bateria não durava mais que duas horas, e o pior, não havia linha disponível. Aguardei pelo segundo plano de expansão e no dia de seu início fui até Araraquara para habilitar o aparelho, pois foram disponibilizadas apenas 700 linhas para São Carlos que se somaram às 700 habilitadas no ano anterior.

      A Telesp foi privatizada, sendo comprada pela Telefonica e o custo de uma linha fixa gira em torno de cem reais e a compra pode ser feita pela internet, que naquele tempo também não existia. A telefonia móvel da Telesp foi vendida para a Vivo e como sou um típico consumidor burro, continuei fiel à marca e mantive o mesmo número. E devo confessar, as empresas adoram idiotas como eu, mesmo que a minha conta não seja elevada, a receita é certa e constante. Como utilizo pouco o telefone, pago pela disponibilidade, e a Vivo é a companhia que me dava maior área de cobertura, e acredito que até hoje ainda seja assim, e como não havia ainda a lei da portabilidade, eu não queria perder o meu número. Além disso, há apenas uns 3 anos eu tive um único e pequeno problema, passaram a tarifar alguns trocados por pacote de SMS. Reclamei alguns meses depois e resolveram.

      Faz uns quatro anos que tenho smartphone sem ter contratado plano de dados, acesso apenas em rede wireless. No ano passado comprei um tablet e reduzi em muito o uso do smartphone, mas na conta telefônica de do mês passado, que pago com débito automático, veio debitado R$ 102,00 por dados excedentes. Demorei alguns dias mas fui à loja da Vivo me informar. A atendente buscou uma listagem no banco de dados de todos os meus supostos acessos, inclusive constava o dia 13 de agosto no qual pedalei das 5 da manhã às 5 e meia da tarde. Para mim estava mais do que caracterizado que a tarifação era indevida. Questionei-a a respeito mas ela se limitou a mostrar a evidência: a listagem. Eu disse então que eles são os donos do banco de dados e eles podem colocar o que quiserem. Polidamente, mas firme, ela me respondeu que a Vivo não precisa disso. No mesmo tom retruquei: não precisa mas está fazendo. De qualquer maneira não tive a minha demanda atendida, era necessário ligar para o um determinado número. Não o fiz de imediato e na conta desse mês veio o débito de R$ 318,00, mas com a greve dos correios não recebi a fatura e por isso demorei para reclamar, mas o fiz, e esse foi o calvário.

      Às 11:37h da quarta-feira fiz a ligação e fiquei esperando por 12 minutos sem ser atendido. Desliguei, liguei novamente e fiquei mais 15 minutos até ser atendido. Foi um procedimento burocrático longo e para resumir permaneci ao telefone até às 13:45 e não sei se resolvi o problema. Insisti que não solicitei o serviço, não o utilizei, exigi que o bloqueassem e me devolvessem o dinheiro. Autorizei que se fizesse em crédito nas contas futuras. Deixei claro para a atendente que, aliás, foi simpática, solícita e que aparentemente tentava a solução, que o meu problema era com a empresa e não pessoal.

      A minha reflexão a respeito é a seguinte: uma empresa que tem 20 milhões de assinantes e que quer fazer caixa pode proceder dessa maneira com apenas 10% de seus clientes distribuídos geograficamente. Se eles forem taxados em apenas R$ 200,00 cada um estamos falando de um montante de 400 milhões, que reclamados apenas no mês seguinte representa um empréstimo sem juros por um mês. Se apenas 50% exigirem o ressarcimento imediato em dinheiro, serão 200 milhões em caixa por mais um mês e sem o pagamento de juros. Essa é uma boa maneira de se administrar uma empresa. Capital de giro sem mexer no fluxo de caixa e financiado sem juros.

      Visto dessa forma vocês podem pensar que sou contra a privatização, mas não sou. As estatais são mais ineficientes e os custos que nos impõem são muito maiores, haja vista a situação inicial que descrevi, sem telefones e serviço ruim. Ou seja, o governo não é provedor e nem regulador, é incompetente.

      E para encerrar, me parece que o problema é sistêmico, pois em casa quando falei com a minha filha sobre o caso, ela, no mesmo dia, ficou tentando resolver a taxação de aproximadamente R$ 500,00 em débito em sua conta corrente pela operadora Claro que lhe taxava por 900 torpedos supostamente enviados no mês anterior.

      Se não tivermos as nossas demandas atendidas iremos reclamar formalmente junto a Anatel.

domingo, 16 de outubro de 2011

Animal Político.

      A política, como a conhecemos, nasceu na Grécia antiga e estava relacionada a todos os assuntos da Pólis (cidade estado). Os cidadãos defendiam os seus interesses perante os seus pares, ou seja negociavam, assim como negociamos desde o nascimento chorando para mamar. Como definiu Aristóteles, o homem é um animal político, e não é possível, dessa forma, imaginar que as recentes manifestações em diversas partes do mundo possam estar desprovidas de política.

      Em outubro de 1.929 uma sequente venda de ações derrubou os preços das ações da Bolsa de Nova Iorque resultando no que ficou conhecido como Crash, queimando a economia de milhões de investidores e trazendo conseqüências à economia mundial. Mas naquele tempo as crises locais demoravam para se espalhar, pois a economia viajava de navio, hoje se transporta quase que à velocidade da luz, e as distâncias são vencidas no tempo de um simples clique. Não é novidade que as economias sejam interligadas, os grandes impérios antigos já comercializavam intercontinentalmente. A diferença é que a escala hoje alcançada é sem precedentes, e além de bens de consumo, de produção, ou duráveis, há também os financeiros, esses voláteis e ariscos. Com o desenvolvimento da tecnologia, a informação e a comunicação passaram a ser imediatas e quase impossíveis de serem bloqueadas, ainda que os ditadores assim desejem.

      Devido a grande dimensão da economia americana o déficit financeiro de seu governo há muito põe em risco a economia mundial. Seu par em dimensão, a Europa, onde os governos de alguns países são lenientes com a austeridade fiscal, se envereda pelo mesmo caminho, assim, a bonança expansionista da economia terá uma retração e não haverá imunes, em maior ou menor escala todos sentirão, como já está sendo visto desde 2008 nos Estados Unidos, desde o ano passado está claramente identificado na Grécia e mais recentemente no bloco conhecido como PIG (porco em inglês) Portugal, Itália e a própria Grécia, além da Espanha, cujos bancos já tiveram as suas avaliações de riscos aumentadas.

      Por outro lado, desde o final do ano passado vemos no oriente médio e norte da África uma sucessão de revoltas populares contra governos ditatoriais que em alguns casos já os derrubaram como na Tunísia, Egito e Líbia, e há um número muito maior em andamento, movimentos que geraram o nome de Primavera Árabe, ainda que nem todos os países sejam Árabes.

      Já vimos no início do ano a revolta dos estudantes na Inglaterra, o quebra-quebra na França, novamente os estudantes no Chile, o movimento Ocupem Wall Street em Nova Iorque, o Ocupem a City em Londres, o movimento na Plaza Mayor em Madrid, ontem ocorreram as manifestações na Itália que terminaram em vandalismo e quebradeira e também há cerca de um mês temos visto os tímidos protestos contra a corrupção no Brasil.

      Há muita coisa comum em todos esses movimentos, a começar pela política que está na necessidade de ser ouvido, de ter, por cada um, os seus interesses defendidos. Tem também a economia. Ninguém reclama quando está abastado e sem ameaças, a economia em si embute o conceito de administrar a escassez, não a fartura. Há também a forma de comunicação que utiliza primordialmente a Internet como plataforma e as redes sociais como veículos para a mobilização e demonstração da sua força a fim de ganhar mais adeptos e engrossar as vozes.

      Cada um vê esses movimentos por sua própria ótica, para uns, a revolta contra a ditadura representa a superioridade da democracia, para outros a ocupação por populares do maior centro financeiro do globo significa a derrocada do capitalismo e há os que acreditam que a simultaneidade de todos os eventos é um cataclismo. Para mim o mundo não acabará em 2.012. Não sei dizer se os governos que sucederão os depostos serão melhores que os anteriores, até porque em 1.979 achei que nada seria pior para o Irã do que o Shah Reza Pahlev, mas veio o Khomeini e os seguidos governos teocráticos, e hoje temos lunáticos quase nuclearmente armados. Também não acredito em governos provedores de bem estar social, pois não é possível haver justiça se tudo é provido, haverá sempre os que merecem e nada recebem e os que nada produzem mas sempre se ajeitam. Assim acredito no governo regulador e na sociedade produtiva e recebedora de benefícios por mérito. Acredito ainda que o capitalismo não será extinto, será reformulado para a sua própria sobrevivência e a tecnologia que é um de seus produtos estará mais forte e presente a cada dia.

      Particularmente sou simpático às manifestações brasileiras, mas cético de seu alcance, pois somos capazes de brigar por um time de futebol, mas não de nos engajarmos em uma causa que demande exposição, disponibilidade e privação. No Brasil apenas o PT tem força de militância para fazer uma causa sair da inércia, mas como na essência a manifestação é contra o desgoverno do PT e seus aliados, não iremos a lugar algum. Eu, que sou muito orgulhoso, ficaria muito feliz por estar errado nesse último parágrafo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ah Meus Dentes!

      Tudo tem um preço e às vezes podemos escolher se vamos pagar antes, depois ou antes e depois. Ao contrário do meu filho que tem 28 anos, nenhuma cárie e nenhum dente obturado, eu, quando criança, por ignorância, desinformação, falta de recursos ou por tudo junto não cuidei bem dos meus dentes. Ainda adolescente, mas já quase adulto, negligenciei um tratamento ortodôntico e hoje estou pagando por isso.
Em 1976 antes de colocar o aparelho

       Até que o alinhamento dos meus dentes não era tão ruim aos 17 anos e os que necessitavam haviam sido tratados e obturados, mas por causa da mordida posterior esquerda cruzada inventei de colocar aparelho ortodôntico, e para se conseguir a movimentação necessária foram extraídos os dois pré-molares superiores, dentes bons jogados fora. Naquele tempo “bandava-se” com metal todos os dentes e na tal banda era soldado um “bracket” que suportava os fios que, por sua vez, eram presos por pinos. Esse arranjo machucava, descolava, dessoldava, entortava, era um horror. Durante o estágio como técnico em eletrônica ganhei do supervisor o apelido de “boca-de-ferro”.

      Acontece que eu trabalhava em Campinas e o ortodontista, que era meu tio, tinha consultório em São Paulo, então quando havia um problema eu mesmo me virava: cortava os fios com um alicate, retirava o que havia sido danificado, eliminava a causa da dor ou incômodo e só voltava ao consultório quando possível. Depois de umas três ou quatro vezes decidimos retirar todo o aparelho e esquecer o assunto. Não sei avaliar a falta que me fizeram os dois dentes retirados e nem os aspectos ruins da mordida cruzada, mas sobrevivi assim até o ano passado.
Em 1988 sem o aparelho metálico e com a falha pré-molar

      A minha filha, ainda adolescente, fez um tratamento que foi muito bem sucedido e os dentes ficaram lindos. Depois dela, a minha esposa também se submeteu ao procedimento, corrigiu as falhas e o resultado foi excelente, e aqui entrei na estória. Primeiro a minha esposa me convencendo a fazer o mesmo. Para pagar os meus pecados minha filha estudou odontologia e ajudou no patrulhamento. Minha dentista engrossou o coro dizendo que eu só teria a ganhar.

      Pronto, enchi-me de coragem e procurei por um ortodontista. O profissional competente me deu todas as razões que eu precisava e lá fui eu. Escolhi um modelo que me pareceu ser mais discreto e confesso, se não há nada de agradável nisso, até que não é o pior dos mundos, o problema é que, além de descruzar a mordida, o que não foi tão difícil, estão sendo abertos espaços para implantar os dois pré-molares arrancados. Além do que, a movimentação dos dentes vai, evidentemente, modificando a mordida, e não sei se foi por isso, um dente posterior começou a apresentar dor em algumas vezes. Foi feito o possível, selante, troca da restauração, verificação através de radiografia e a vida ia seguindo, até que uma lateral do mesmo se quebrou e em uma semana a minha vida virou um inferno.
Em 2010 com o aparelho hi tech

      Como era sábado a minha filha fez um acerto provisório e na segunda-feira procurei pela dentista que o radiografou, analisou, e o preparou para receber um bloco que levaria uma semana para ficar pronto, enquanto isso não seria possível cobrir adequadamente a região preparada, pois caso houvesse a adesão química, seria necessário lixar o local modificando a superfície e perdendo assim as características moldadas. Esse dente começou a doer, apareceram reflexos nos ouvidos, comecei a tomar analgésicos, a perder o sono, a comer mal e a ficar muito mais mal humorado do que normalmente sou. Resumindo: na sexta-feira seguinte iniciei um tratamento de canal. Além de ser um procedimento dolorido esse somente será finalizado na próxima semana, quando então será feita uma nova preparação para a instalação de um bloco.

      O tratamento dentário é muito invasivo, além do mais, aquelas ferramentas se parecem com instrumentos medievais de tortura. Têm pontas para todo lado que enroscam em todo canto, barulho que ressoa ensurdecedor dentro da cavidade bucal, é muita mão e muito equipamento para tão pouca boca. O período que passo na cadeira do dentista equivale a umas três aulas de exercícios abdominais, pois fico o tempo todo contraído. E as anestesias então? Não consigo definir se a agulha é inserida na boca ou no ouvido e se o líquido vai para o nervo ou para os olhos, mas sei que pulei um palmo acima da cadeira quando foi feito o teste de percussão no tal dente.

      E para completar esse périplo, no próximo mês deverei me submeter a um enxerto de tecido ósseo para preencher a perda de densidade por ter ficado tanto tempo sem os pré-molares, depois de uns oito meses será feito o implante, e depois de mais uns seis ou oito meses será concluído o tratamento. Nesse caso estou pagando depois, mas eu mereci!