sexta-feira, 1 de junho de 2018

Não Apoiei A Greve Dos Caminhoneiros - 3 Motivos


      Não apoiei a greve iniciada pelos caminhoneiros por três simples motivos, a saber:

      1 – Os caminhoneiros não têm tanta força quanto supõem ter e se divulga. Não vi na imprensa nenhum comentário nesse sentido, pois ficou clara a força de paralisação. Com uma campanha iniciada não sei por quem, mas inflamadas por mensagens e lideranças difusas, o país ficou estático e atônito. Faltou combustível, alimentos, remédios, insumos hospitalares, matéria prima, alimento para aves e animais, bloquearam os portos, aeroportos e paralisaram transporte público entre outras consequências? Sim, estrondosamente, sim! Mas isso é como vela acesa e protegida, se autoextingue. O governo não poderia se omitir, mas se não fizesse nada, absolutamente nada, como costuma fazer nas greves de professores, o fluxo de transportes seria retomado automaticamente.  Ocorre que todo desabastecimento que nos atinge também atinge as famílias dos caminhoneiros. Eles também têm pais que precisam de hospital, têm filhas que precisarão da maternidade, têm parentes, filhos até, que perderão emprego e seus próprios boletos não ficarão parado nas estradas, virão via internet e eles terão que honrá-los. A própria população que, em sua maioria, faz uma leitura diferente da situação, e em primeiro momento apóia a paralisação pois está contra tudo o que aí está: preços altos, desmandos, corrupção, etc, a partir de um certo momento será brutalmente penalizada e cada um vai defender o atendimento à sua própria necessidade, além disso, grande parte dos caminhoneiros, seja por entender que o foco não está correto ou por pura necessidade, partirá para o confronto a fim de se deslocar para sua casa. Por si só, esse movimento não duraria trinta dias.

      2 – O foco está errado. A redução do preço do diesel não ocorre por decreto. O preço é consequência, não causa. Comprar a briga dessa maneira é como tratar de gripe com antitérmico e analgésico, quando sabemos que esses são os sintomas, e o necessário é atacar a causa com alimentação adequada, hidratação, repouso e, dependendo do caso, se já atingiu ouvido e garganta, anti-inflamatório e antibiótico. O preço só estará adequado se baixarem os juros e houver concorrência. Para baixar os juros precisamos de um estado menor, que custe menos, que se renegocie a dívida pública, enfim, o que não se faz do dia para a noite. Para haver concorrência são necessárias medidas adequadas, o próprio CADE mostrou uma lista que faz sentido, seria útil, mas por motivos eleitorais, não se falou na privatização da Petrobras. Ninguém é doido de dizer isso publicamente em um período de campanha eleitoral,  mas deveriam. Privatizar a Petrobras significa transferir propriedades, dívidas, equipamentos e até conhecimento, mas não os campos de petróleo. Esses devem ser cedidos através de contratos adequados, não vendidos. E pensando a longo prazo, o petróleo perderá a importância. Já há outras diversas maneiras de se produzir energia renovável e a cada dia essas estão se tornando mais viáveis, o que limitará a importância do petróleo a outros produtos refinados, mas de menor produção.

      O valor baixo do frete também tem explicação. Em 2009 o governo Lula criou o PSI (Programa de Sustentação de Investimentos) oferecendo crédito subsidiado através do BNDS para a compra de caminhões e que poderiam ser pagos em até 8 anos. Entre 2008 e 2014 a venda de caminhões cresceu 4,9% ao ano e o PIB expandia a uma taxa de 2,4% ao ano, ou seja houve um excedente de 288.000 novos caminhões, o que fez com que o frete caísse, 2,9% ao ano. O frete é baixo porque tem muito caminhão. Para se tornar um caminhoneiro não é necessário ter o refinamento de um médico, a precisão de um físico, o rigor de um filósofo, precisa sim de alguma habilidade motora, o que a maioria da população tem, de um nível de instrução básico e muita coragem e determinação. O que muitos têm, enfim, apesar de ser uma vida difícil. Se tornar um caminhoneiro é fácil, é uma opção, e tem muito! Ainda que muitos sejam honrados, distintos e necessários, outros nem tanto, a verdade é que a concorrência é predatória.

      Para não me estender muito nem comentarei o erro estratégico sobre o modal de transportes.

      3 – A paralisação deve ocorrer por livre e manifesta vontade, não por imposição. Não concordo com o tempo que os médicos me tomam na fila do consultório, como posso concordar com que alguém me impeça de realizar qualquer atividade, por mais prosaica que seja, ainda mais quando o direito de ir e vir é cláusula constitucional? Se houver um caminhoneiro queira passar e ir para casa, ou que queira trabalhar, que seja livre para ir. Ele tem esse direito e tem que ser respeitado. Ele não pode ser obrigado a permanecer onde não deseja. Não se pode bloquear estradas e, por benevolência, deixar uma pista para veículos de passageiros; somente às autoridades competem, em alguma circunstância, tomar esse tipo de decisão, não aos donos da greve. Onde já se viu tamanha desfaçatez de civis parando caminhão para verificar a nota fiscal, examinar a carga e decidir se permite ou não a passagem? Isso é crime! Isso não é manifestação. Com criminoso não se deve ter complacência. É cadeia.

      Essa paralisação expôs muita fragilidade. A da nossa infraestrutura, a do nosso governo, a pouca compreensão, pela população, da macro-situação. Além disso, causou grandes transtornos, provocou perdas imensas, irá retirar verbas dos serviços essenciais como saúde e educação, provocará um aumento no custo da gasolina, criou uma crise na Petrobrás, que estava se recuperando, e não se garante que atingirá o resultado. Os tais R$ 0,46 de desconto na bomba não é possível garantir. Será efêmera. Como o governo fiscalizará mais de 38.000 postos existente? Com a promessa de multas, suspensão, cassação e fiscalização? Isso não funciona nem aqui e nem na China.