Não como estudioso, mas como palpiteiro contumaz, costumo dizer que não existe crime perfeito, existe crime mal investigado. O que mais se aproxima de um crime perfeito é aquele praticado por uma só pessoa, pois, se mais de uma o conhece, a possibilidade de não haver segredo aumenta em muito. Certa vez disse isso a um amigo e ele foi pronto em responder: crime perfeito é o metrô de Salvador. Só foi feita a metade, demorou o dobro do tempo, custou o triplo e ninguém foi preso. Ele se referia à linha 1 que vai da estação da Lapa a Pirajá.
Há umas duas semanas fiz esse trajeto para conhecer e foi uma boa experiência. Ainda é tudo novo, cuidado, limpo, organizado, sinalizado, com segurança e funcionou corretamente. Não fiz isso em horário de pico, mas como não fiquei procurando pelo em ovo não tenho o que criticar. As estações não possuem a sofisticação de muitas das suntuosas existentes em Moscou, mas também não são tão simples como várias plataformas abertas de Amsterdam, mas são bastante funcionais.
Está em implantação a linha dois que já tem umas 8 estações funcionando e outras 4 devem ser inauguradas até o final do ano chegando a Mussurunga, uma estação antes da futura estação do aeroporto. Essa linha está avançando rapidamente, mas tecnologicamente falando, foi facilitada porque, além de não ser subterrânea, a maior parte está sendo construída no canteiro central da avenida Paralela, logo, sem muita desapropriação escavação ou remanejamento.
Apesar de ter destruído um belo jardim que era o canteiro central da avenida, a cidade está ganhando um bom transporte de massa, aliás, que também é muito necessário. Como não se faz omelete sem quebrar os ovos, algum inconveniente é esperado e aceito durante o período da construção, como desvios, engarrafamentos e sujeira, muita sujeira. Porém tenho críticas a algumas das atitudes tomadas pelos construtores. Há um desrespeito intenso na questão do trânsito no entorno da obra que passa da simples, mas irritante, lentidão a até mesmo colocar em risco as vidas dos usuários da via.
São esperados os remanejamentos das pistas de rolamento e até mesmo o bloqueio de algumas, porém falta sinalização adequada. Em muito lugares, uma simples marcação do piso ajudaria na segurança e disciplinaria o trânsito tonando-o mais fluido, esse é o caso da LIP, região conhecida como Ligação Iguatemi Paralela. Também, de uma hora para outra aparecem blocos de concreto limitando a passagem, e esses são colocados sem critério e sem sinalização. No filme abaixo, que foi gravado no sentido centro antes do trevo de São Cristovão, há um exemplo. Houve a redução de uma faixa de rolamento, a marcação no solo não foi alterada e não há nenhuma sinalização anterior que indique a modificação. Se o motorista seguir a faixa visível na direita irá colidir com os blocos que estão à frente, se fizer a curva para a direita irá jogar o carro sobre o que está ao seu lado. Fiz a gravação em um horário de pouco movimento para não comprometer a segurança, mas é suficiente para para mostrar. A tal pista que desaparece volta a aparecer no final do vídeo, no lado esquerdo.
Há ainda os holofotes que eles colocam para iluminar a obra, muitas vezes, tais equipamentos potentes, estão voltados para o sentido oposto de direção da via ofuscando a visão dos motoristas.
Às vezes soluções simples e pouco dispendiosas como a colocação correta dos holofotes e a pintura de faixas no solo podem reduzir o incômodo e evitar acidentes. Creio que em uma situação de acidentes com vítimas fatais poder-se-ia até mesmo responsabilizar os autores por homicídio com dolo eventual, onde não havia a intenção de matar mas foi o causador por imprudência e por riscos conhecidos, ou seja, é a negligência de quem executa e a omissão de quem deveria fiscalizar.
Não sou contra o metrô, de seus benefícios e até aceito bem os transtornos, mas não concordo com essa irresponsabilidade.