sábado, 24 de junho de 2017

O Metrô De Salvador

      Não como estudioso, mas como palpiteiro contumaz, costumo dizer que não existe crime perfeito, existe crime mal investigado. O que mais se aproxima de um crime perfeito é aquele praticado por uma só pessoa, pois, se mais de uma o conhece, a possibilidade de não haver segredo aumenta em muito. Certa vez disse isso a um amigo e ele foi pronto em responder: crime perfeito é o metrô de Salvador. Só foi feita a metade, demorou o dobro do tempo, custou o triplo e ninguém foi preso. Ele se referia à linha 1 que vai da estação da Lapa a Pirajá.

      Há umas duas semanas fiz esse trajeto para conhecer e foi uma boa experiência. Ainda é tudo novo, cuidado, limpo, organizado, sinalizado, com segurança e funcionou corretamente. Não fiz isso em horário de pico, mas como não fiquei procurando pelo em ovo não tenho o que criticar. As estações não possuem a sofisticação de muitas das suntuosas existentes em Moscou, mas também não são tão simples como várias plataformas abertas de Amsterdam, mas são bastante funcionais.

      Está em implantação a linha dois que já tem umas 8 estações funcionando e outras 4 devem ser inauguradas até o final do ano chegando a Mussurunga, uma estação antes da futura estação do aeroporto. Essa linha está avançando rapidamente, mas tecnologicamente falando, foi facilitada porque, além de não ser subterrânea, a maior parte está sendo construída no canteiro central da avenida Paralela, logo, sem muita desapropriação escavação ou remanejamento.

      Apesar de ter destruído um belo jardim que era o canteiro central da avenida, a cidade está ganhando um bom transporte de massa, aliás, que também é muito necessário. Como não se faz omelete sem quebrar os ovos, algum inconveniente é esperado e aceito durante o período da construção, como desvios, engarrafamentos e sujeira, muita sujeira. Porém tenho críticas a algumas das atitudes tomadas pelos construtores. Há um desrespeito intenso na questão do trânsito no entorno da obra que passa da simples, mas irritante, lentidão a até mesmo colocar em risco  as vidas dos usuários da via.

      São esperados os remanejamentos das pistas de rolamento e até mesmo o bloqueio de algumas, porém falta sinalização adequada. Em muito lugares, uma simples marcação do piso ajudaria na segurança e disciplinaria o trânsito tonando-o mais fluido, esse é o caso da LIP, região conhecida como Ligação Iguatemi Paralela. Também, de uma hora para outra aparecem blocos de concreto limitando a passagem, e esses são colocados sem critério e sem sinalização. No filme abaixo, que foi gravado no sentido centro antes do trevo de São Cristovão, há um exemplo. Houve a redução de uma faixa de rolamento, a marcação no solo não foi alterada e não há nenhuma sinalização anterior que indique a modificação. Se o motorista seguir a faixa visível na direita irá colidir com os blocos que estão à frente, se fizer a curva para a direita irá jogar o carro sobre o que está ao seu lado. Fiz a gravação em um horário de pouco movimento para não comprometer a segurança, mas é suficiente para para mostrar. A tal pista que desaparece volta a aparecer no final do vídeo, no lado esquerdo.



      Há ainda os holofotes que eles colocam para iluminar a obra, muitas vezes, tais equipamentos potentes, estão voltados para o sentido oposto de direção da via ofuscando a visão dos motoristas.

      Às vezes soluções simples e pouco dispendiosas como a colocação correta dos holofotes e a pintura de faixas no solo podem reduzir o incômodo e evitar acidentes. Creio que em uma situação de acidentes com vítimas fatais poder-se-ia até mesmo responsabilizar os autores por homicídio com dolo eventual, onde não havia a intenção de matar mas foi o causador por imprudência e por riscos conhecidos, ou seja, é a negligência de quem executa e a omissão de quem deveria fiscalizar.

      Não sou contra o metrô, de seus benefícios e até aceito bem os transtornos, mas não concordo com essa irresponsabilidade.

domingo, 4 de junho de 2017

O Presidente Temer Não É Inocente.

      Inocentes não sobrevivem tanto tempo na política, ainda mais na de Brasília, logo, o presidente Temer não é inocente, ele é, isso sim, experiente. Experiente mas vacilou. Caiu na armadilha do empresário, se é que só disso que esse senhor pode ser chamado, que, se fosse condenado em todos os possíveis inquéritos teria que cumprir mais de 100 anos de cadeia.

      Para nós que estamos nos acostumando a viver de escândalo em escândalo parece lógico entender que o tal empresário não agiu sozinho. Ele deve ter sido muito bem assessorado para ter recebido a garantia da Procuradoria Geral da República (PGR) de que não será condenado e que poderá viver, como um nababo, incluindo jatinho e iate, fora do país.

      Foi uma trama bem urdida, pois o que se ouviu do presidente dá a entender que há maracutaias, mas friamente, os áudios, pelo menos os que ouvi, não provam absolutamente nada. Parodiando o presidente americano, até um estudante ruim do segundo grau é capaz de desconstruir os argumentos, pois como sabemos, em caso de dúvidas, a decisão é pró-réu. Mas o estrago político foi feito, e pior do que isso, o econômico também. 

      Como disse o outro empresário que está puxando cana e deve estar furioso, pois o acordo que ele fez poderia ter sido melhor para ele, “...ninguém foi eleito nesse país sem o caixa dois, o cara pode até dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido e o partido recebeu pelo caixa dois...”. O presidente pode se enquadrar nesse caso, pois ele foi eleito como vice da chapa PT/PMDB que deverá ser julgada por ter recebido, digamos, "doações não contabilizadas”. No julgamento do Mensalão houve a declaração de uma Ministra do STF dizendo que “…não é só caixa dois. Caixa dois é crime!…”

      Oras, todos os suspeitos devem ser investigados e julgados na forma da lei e, se condenados, devem pagar o que a lei determinar, não importa quem seja o indivíduo, mesmo que seja o presidente, os ex-presidentes ou qualquer outro, político ou não. Porém o momento em que mais esse escândalo estourou foi ruim para o país.

      Graças às equivocadas ideologias e às errôneas políticas econômicas aplicadas nos últimos 15 anos o país retroagiu em cerca de oito ou 10 anos. E agora, quando alguns indicadores começaram a mostrar um certo equilíbrio e alguma possibilidade de dar partida em um ciclo de crescimento, a instabilidade política jogou a confiança no brejo. Vamos ficar enfurnados nesse lamaçal por um bom tempo.

      As empresas, para sobrevier, irão se defender. Com a receita baixa os investimentos continuarão a ser postergados e as despesas reduzidas, e isso significa desemprego. Há um forte movimento de “juniorização”, isso é, a substituição dos empregados mais antigos e com salários mais altos por jovens que recebem menos. Logo, haverá menos dinheiro em circulação no mercado e um número maior pessoas mais velhas dependentes do governo. Talvez eu volte a escrever especificamente sobre esse tema.

      É possível que o único beneficiado tenha sido o sujeito que fez a gravação e, indiretamente, também quem ele colocou no mesmo barco (ou avião). Existe a possibilidade, menos pelo conteúdo da gravação, mas sim pelo impacto político que ela causou, que o presidente venha a ser afastado do cargo, porém se ele é mesmo experiente, pode até terminar o mandato, e nada disso importa agora, o que importa é que o sofrimento e a desesperança de quem trabalha só aumentam. Infelizmente.