Sabe aquela zombeteira resposta à pergunta: o que fiz de errado? Nada, só nasceu! Pois é hoje não fiz nada de errado mas claramente colaborei, apenas por estar na rua, para um acidente que por muito pouco não foi sério e ao qual assisti de camarote, ou melhor, do selim da bicicleta.
Às 6:35 da manhã saí de casa com a mountain bike para o percurso básico, ir até Ibaté por dentro dos canaviais e voltar a tempo de tomar café e chegar cedo ao trabalho. São cerca de 30 km que percorro em aproximadamente 1:30h, pois se trata de um trajeto relativamente fácil. Normalmente rodo uma quadra e meia na contra-mão da rua de casa e ao chegar na rua Riachuelo acelero um pouco, mas logo tenho que reduzir, pois no cruzamento com a Marginal tenho que virar à direita num ângulo superior a 90 graus. Apesar de a descida ser em uma rua preferencial, fico atento aos 2 cruzamentos, pois não custa muito para um desavisado cortar a frente. A Riachuelo, em 3 quadras, tem um desnível de uns 40m onde se atinge facilmente 60km/h.
Hoje ao chegar à Riachuelo vi à minha direita um pedreiro, que poderia ser um ferreiro, ou carpinteiro, enfim um trabalhador de obra, descendo com uma bicicleta em alta velocidade, sem segurar, e com as mãos cruzadas sobre o peito. Lógico que a proteção da cabeça era um boné de propaganda. Sem nenhum risco, pois ele estava a uns 70m acima, cortei-lhe a frente posicionando-me à direita e acelerei. Imagino que ele tenha pensado: esse playboy, ou coisa que o valha, pois eu estava trajado como ciclista esportivo e pedalando em uma bicicleta de boa qualidade, não vai ficar na minha frente. Tenho que passá-lo! Duas quadras abaixo ele me alcançou já com as duas mãos apoiadas no guidão e a uns 65km/h e acelerando. Nesse momento eu já estava reduzindo para fazer a curva e pensei: o cara é louco, ele não vai parar. E ele não parou.
Simplesmente desrespeitou a sinalização de parada obrigatória pois não vinha ninguém à esquerda e avançou. Cruzou a primeira rua e após cruzar o canteiro foi atingido por uma moto, cujo condutor também não havia obedecido à sinalização de obrigatória parada. Apareceu uma labareda de fogo no momento do impacto e várias outras menores produzidas pelas batidas da moto sobre o asfalto. Cada um para o seu lado foi arremessado ao chão e assisti à queda dos dois. Eles levantaram-se cambaleando e atordoados. Na moto quebraram-se as coisas de praxe: espelho, tanque, mata-cachoro e a bicicleta, que era uma Treck, ficou um treco: câmbio destruído e a roda traseira ficou um “oito” entre outros danos.
Fui atendê-los e os dois mostravam-se “ralados” mas sem fraturas. Nenhum queria o auxílio da polícia e nem do resgate e iniciaram um diálogo. O condutor da moto, um rapaz de uns 25 anos que pelo traje deve trabalhar como vigilante, tentava ser educado, cordial e responsável, admitindo arcar com os prejuízos, mas em primeiro lugar preocupado com a saúde do atingido, e esse, enquanto procurava por seus óculos, analisava a bicicleta e só resmungava uma coisa: filho da p...
Muitas pessoas que passaram de carro, moto ou bicicleta se propuseram a ajudar, mas os envolvidos recusavam, e eu por ter sido o primeiro tinha também tomado essa iniciativa, e apenas fui útil quando cedi um pedaço de papel para que eles trocassem os endereços para contato e logo fui embora, pois a polícia já tinha sido acionada.
Por uma questão de milésimos de segundo o acidente não foi fatal. A moto que estava também, sem nenhuma dúvida, acima de 70km/h bateu imediatamente atrás do eixo traseiro da bicicleta. Fosse cerca de 60cm mais à frente teria havido o choque contra o corpo do ciclista e a estória teria sido muito diferente. Não me dando importância mais do que costumo me dar, se eu não tivesse aparecido, provavelmente o tal pedreiro não teria tentado me passar e teria chegado ao cruzamento uns 10 segundos depois da moto e nada teria ocorrido. Pois é, mas eu existo, e apareci ali naquele horário.
ISLAND? Qual é a pronúncia adequada?
Há 4 meses