terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Prato cheio.

      Li recentemente um artigo do conhecido Frei Leonardo Boff, doutor, teólogo e expoente da Teologia da Libertação, no qual ele dizia que os governos priorizam a economia em detrimento às pessoas, e que aquilo que era um meio em si, transformou-se em fim. Como sempre defendeu o governo Lula como sendo o governo de mudança e coisas afim. Concordo em gênero, número e grau sobre a questão da economia e desprezo o abismo existente na distribuição de renda passado ou atual, mas como fazer melhor? Sendo Robin Wood, tirando à força dos ricos para dar aos pobres? E o que fazer com aqueles que sabidamente apenas esperam pelas benesses? Pois se ele, ou alguém, imagina que isso não existe, posso afirmar categoricamente: existe sim. Como já disse anteriormente, o capitalismo é um péssimo sistema, mas qual é melhor e mais bem sucedido?

      No entanto discordo dele quanto ao governo Lula ser um governo de mudança. Reforço ainda a ideia de que a economia vai bem não por causa do Lula, mas apesar do Lula. Ela iria bem até mesmo se um incompetente como eu tomasse conta, o difícil foi vencer a inércia, o que foi feito pelo FHC, o que veio depois foi conseqüência, e explico. A economia brasileira, após o controle da inflação, é baseada em 3 princípios: câmbio flutuante, metas de inflação e manutenção do superávit primário. Qual foi a contribuição do Lula nessas questões? Nenhuma, mas a inflação em crescimento e a mudança no método de cálculo do superávit primário para gastar um pouco mais, que é muito, no ano eleitoral pode comprometer o próximo ano do futuro governo. Quem paga as contas do governo é o setor produtivo, que se desonerado poderia investir mais em estrutura aumentando a produtividade e a produção. Em que o governo mudou? Nada. Não reduziu impostos e não modificou leis arcaicas. Nesses oito anos foi reduzida a diferença de renda significativamente? Não. Se os pobres melhoraram, os ricos o fizeram muito mais. Estão cada vez mais ricos, basta ver os últimos balanços das grandes empresas e principalmente dos 3 maiores bancos nacionais. Com relação às taxas de juros, saímos da maior taxa de juros do mundo para onde? Para a maior taxa de juros do mundo. Caiu? Sim, é verdade, mas mudou? Não. E a reforma agrária avançou? Nadinha, nadinha.

      Saindo da agenda econômica e verificando a social, qual foi a contribuição do governo para a redução da violência? Meia dúzia de presídios e a criação da força nacional, o que é muito pouco. Continuamos com uma legislação obsoleta que pune apenas os pobres, entope cadeias, e entulha o judiciário de processos que se arrastam por anos a fio. O governo criou algumas universidades federais, distribuiu vagas baseadas em cotas, ampliou o programa de crédito universitário e modificou o sistema de avaliação dos cursos e de ingresso às universidades, ou seja, investiu novamente de forma errada, pois no modelo atual se investe muito mais em educação superior do que na básica e o resultado é péssimo, assim o correto seria investir na educação básica, aumentando o nível de conhecimento médio da população, permitindo que o ingresso nas universidades se desse apenas pelo mérito e por fim, também com maior aproveitamento.

      Na área de infraestrutura, nada significativo para comemorar, pois os tais Programas de Aceleração do Crescimento não passaram de peças de marketing integrando um monte de obras já planejadas ou iniciadas que estão sendo inauguradas sem mesmo terem sido terminadas, e que não modificaram em um milímetro sequer as questões básicas. Continuamos sem portos, aeroportos, estradas, saneamento básico, e distribuição desigual de energia elétrica. E quanto a saúde? É preciso comentar? Vemos todos os dias reportagens sobre o mau atendimento nos hospitais, das intermináveis filas de espera para fazer exames e da falta de remédios. Enquanto isso a dengue e a malária avançam, e até a Hanseníase (lepra) voltou a dar as caras. E no setor ambiental? Devemos comemorar a redução no índice de desmatamento? Oras, isso significa apenas que está se desmatando menos do que se fazia, o que precisamos é celebrar a recuperação de áreas desmatadas, o que também não ocorreu.

      O governo Lula teve méritos? Sim, muitos. Em primeiro lugar foi um governo de continuação. Continuou com a política econômica, continuou, ampliou e renomeou os programas sociais, continuou e ampliou as avaliações do sistema de ensino, mas principalmente domou o próprio partido não permitindo a ruptura, o que levaria o país ao desastre, além disso, tomou também as rédeas dos chamados movimentos sociais como os Movimentos dos Sem alguma coisa, que pode ser terra, emprego, moradia, bancos, etc e tal. Fazia muito tempo que não tínhamos uma sequência tão grande de tranquilidade. As invasões foram apenas pontuais e não sistemáticas.

      Não creio que a nossa presidente vá se dar tão bem quanto se saiu o Lula, e também como eu já disse, ele deverá se candidatar novamente em 2014, e o melhor de tudo: como figura ímpar, carismática, matreira e tagarela, é um prato cheio para eu falar mal dele. Vou sentir falta.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Só dói quando respiro.

      Chegando a Luminosa, que faz parte do Caminho da Fé (www.caminhodafe.com.br), há uma descida longa e íngreme que permite desenvolver grandes velocidades. Ao percorrê-la de bicicleta entendi o perigo de deixar uma pessoa para trás, pois caso ela se acidente o socorro é difícil, porque aqueles que foram à frente esperam pelos últimos lá em baixo, e se um desses não aparecer, a volta é demorada, assim quem está atrás deve sempre estar acompanhado.

      Ontem fomos em cinco até Ribeirão Bonito num trajeto de cerca de 90km. A 28km de distância saindo da minha casa, há uma serrinha com piso de pedras soltas, ao descê-la alguns soltaram as bikes e fiquei reduzindo a minha velocidade para esperar pelo Alex. A todo instante eu olhava para trás a fim de localizá-lo até que me desequilibrei, caí e bati com a cabeça no solo. Fiquei com algumas escoriações no braço, perna e no rosto. A mão esquerda e o lado esquerdo do tórax ficaram muito doloridos, além disso, tive um corte na testa. Os colegas voltaram, mas eu já havia me levantado, mais tonto do que de costume e sangrando. Estanquei o sangue com uma toalha limpa, comi um pouco de sal, biscoito e tomei água. Como faltavam apenas 15 km até a chegada decidi ir até lá para ver se encontrava alguma ajuda, mas o posto de saúde estava fechado e na farmácia não faziam curativos. Comprei micropore e o colaram sobre o corte.



      Voltamos para casa. Almocei, tomei banho e fui ao pronto atendimento. Como havia se passado mais de 6 horas, o médico preferiu não suturar o corte, pois o risco de infecção é grande, foi feito então um curativo e foi tirada uma radiografia que não mostrou nenhum ferimento no peito, no entanto, como a região, segundo as palavras do médico, é bastante enervada, eu sentiria dores fortes por alguns dias e por isso ele prescreveu um antiinflamatório.

      No caminho apanhamos manga e trouxe algumas, comi Jambolão apanhado nos vários pés que existem ao longo da estrada e já planejamos refazer o caminho com uma estratégia mais produtiva, com paradas planejadas e para carregar menos peso, mas desde ontem estou de molho, improdutivo, entediado e com dificuldade para lavar a cabeça, pois não devo molhar o curativo. Mas estou bem, o peito só dói quando respiro. E onde estava o Alex? Ele havia parado para tirar algumas fotos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Oportunidade

      Tenho outros assuntos para escrever, mas não podia deixar passar essa oportunidade, factual, como dizem os meus amigos jornalistas. Hoje, ao descer as escadas na empresa, deparei-me com o Engenheiro, Tenente Coronel e Comendador Marcos Pontes, que veio divulgar que às 18h ele estará no shopping Center autografando o livro de sua autoria: É possível – Como transformar seu sonho em realidade. Para quem não se recorda, seu feito é ter sido o primeiro homem do hemisfério sul a habitar a Estação Espacial Internacional (ISS), ou seja, é o primeiro brasileiro a participar de uma missão no espaço, e popularmente falando, é o primeiro, e até agora único, astronauta brasileiro.

      Consultando o seu site: www.marcospontes.com.br podemos obter algumas informações. Ele participou de 40 cursos e treinamentos, possui 35 qualificações e tem 37 condecorações, homenagens e prêmios, isso aos 48 anos. De origem humilde e iniciando cedo a trabalhar, hoje, ainda novo, e desligado das funções militares continua residindo em Houston e ganhando a vida com um milhão de atividades como empresário, palestrante, escritor, consultor etc. e tal.

      Senti alegria ao rever as imagens de seu treinamento que ocorreu no Centro Espacial Johnson, que visitei em outubro e conheci todos aqueles lugares, e também fiquei com uma ponta de inveja, pois queria eu ter podido viajar ao espaço, mas como trabalho para ganhar o meu sustento e pago as minhas despesas, tive apenas alguns dólares para visitar o centro espacial, mas nunca terei 20 milhões de dólares, que é quanto o nosso governo pagou para que ele fizesse a tal viagem.

      Sobre a missão realizada em março de 2006 ele disse ter feito 8 experimentos científicos, dos quais destacou um para a Universidade Federal de Santa Catarina sobre o controle de temperatura em estruturas de satélites, e outra sobre DNA, para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, mas o que me lembro mesmo foi do feijão plantado em algodão como é feito por toda escola de ensino fundamental, ou seja, 20 milhões de dólares, fora o custo de todos os treinamentos, subsidiados para plantar feijão no algodão.

      Ele classificou o seu livro como sendo motivacional, mas eu o classifico como auto-ajuda, e com toda ajuda que ele pode dar a si mesmo. Agora na vida civil e bem mais gordo do que mostram as imagens do seu período de treinamento, ele está ganhando dinheiro. Assim, aquilo que investimos e que deveria retornar como conhecimento para desenvolver a nossa agência espacial, está retornando para os seus próprios bolsos. Não que eu imaginasse que isso não pudesse ocorrer, mas sinceramente, que fosse com idade mais avançada, depois de ter dado a sua contribuição ao desenvolvimento da ciência no país, mas já? Em idade ainda produtiva? Só posso concluir que ele sabe realmente como se auto-ajudar.

      Espero que ele como piloto de combate e especialista em armamento aéreo não me declare como sendo seu inimigo e faça um disparo sobre a minha cabeça.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A primeira guerra cibernética.

      Ainda farei um balanço do ano e estou me contendo para não escrever sobre economia e, principalmente, sobre política, mas o governo não me dá folga, é uma trapalhada após outra. No entanto tentarei ser econômico ao atacar o governo e o usarei apenas na introdução. Não sei se vocês se lembram, mas no início do governo Lula houve a tentativa de expulsão de um repórter americano que escreveu sobre o etílico paladar do nosso presidente. A essa seguiram-se outras tentativas de calar os críticos ao governo, e ainda está em gestação, na forma de projeto de lei a criação de um órgão de controle da imprensa. Motivos que provocaram o meu estranhamento quando da apologia ao direito de informação apregoado pelo presidente, que defendeu enfaticamente o físico australiano Julian Assange, criador do site WikiLeaks. O presidente termina o governo como começou, desdiz à noite o que foi dito pela manhã e que amanhã cedo poderá ser diferente.

      Cables é o termo que os americanos utilizam para se referir a mensagens que em português nós chamaríamos de telegramas e, no caso, são correspondências trocadas entre pessoas de organizações do governo americano e que tornaram notório o site de Assange, no ar a cerca de 3 anos. Mais de duzentas e cinquenta mil dessas mensagens foram recentemente gravadas por dois militares já identificados, e que as disponibilizaram nos servidores do WikiLeaks. Com o objetivo declarado de tornar transparentes as iniciativas dos governos, o site publica as mensagens da maneira que lhes são entregues, sem nenhuma verificação, sem ouvir a outra parte e sem nem mesmo exigir a identificação daqueles que as enviam, simplesmente as classificam de acordo com os assuntos e as tornam públicas.

      Após constranger pessoas e governos, o site chegou a ser tirado do ar, mas foi restabelecido com os servidores abrigados em Estocolmo, na Suécia, em um bunker da época da guerra fria. Por tendências políticas algumas empresas cessaram o repasse de dinheiro doado ao site, tais empresas como as de cartão de crédito Visa e Master Card, e o site PayPal, criado pelo milionário de origem sul africana Elon Musk que o vendeu ao e-Bay por 1,5 bilhão de dólares, foram alvos de ataques cibernéticos. Hackers solidários ao WikiLeaks (Hacktivistas) emitiam vírus a computadores chamados mestres que os distribuíam a uma rede imensa de outros computadores chamados escravos, cujos usuários continuavam trabalhando sem saber que a sua máquina estava acessando os servidores das companhias e causando um colapso, tirando-os do ar. Essa talvez seja a primeira guerra cibernética mundial, que não produz mortos, mas causa prejuízos.

      Não tenho ainda ideia formada sobre essa questão, a princípio sou favorável à divulgação de todos os dados para que a população tenha controle sobre os governos, e, dessa maneira, se a divulgação é garantida, cabe aos detentores das informações preservá-las, até porque a grande maioria das notícias vazadas tem valor risível, não passa de fofoca digna da novela das sete. Por outro lado, democraticamente elegemos nossos governantes e demos a eles autoridade para negociar em nosso nome e, como sabemos, negociação, seja comercial ou diplomática, exige certo sigilo, um jogo de cena, um poder de blefe, e desnudando essas informações pode-se quebrar a confiança e os resultados podem não ser alcançados, além do que, quando se trata de informações classificadas, como as relativas a alvos e operações militares, pode-se por em risco muitas vidas.

      Preso na Inglaterra pela Interpol onde deverá prestar depoimento por causa de duas acusações de supostas violências sexuais ocorridas em Estocolmo em agosto, antes, portanto, da atual divulgação dos cables, Julian Assange terá que enfrentar a seriedade da justiça sueca, ainda que seus defensores vejam uma orquestração política para tirá-lo de ação. Estivesse em um país a governado ditatorialmente, Julian Assange já teria sido despachado para o cemitério, mas no mundo ocidental, uma única pessoa é capaz de colocar de joelhos a nação econômica e militar mais poderosa do planeta e que não encontra uma maneira de processá-lo. Essa é a vantagem da democracia.

      Ainda que essa seja a reportagem de capa da revista Veja dessa semana, fiz questão de não lê-la antes de escrever esse artigo para não me sentir contaminado por suas opiniões. Caso você queira acessar o site WikiLeaks segue o IP: http://213.251.145.96/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Amigos

      Por definição, amigos são as pessoas ligadas por sentimento de amizade, e essa, segundo o Aurélio, é o sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas que geralmente não são ligadas por laços de família ou por atração sexual. Dessa forma posso dizer que tenho muitos amigos, pois ao longo dos anos pude me relacionar, dentro desse conceito, com um número grande de pessoas, no entanto, em espaços curtos de tempo tenho sempre poucos amigos. Há amizades que duram toda uma vida, e outras que, de intensas num momento, tornam-se apenas boas lembranças, e há também aquelas das quais não se quer lembrar mais. Como assim? Não se tratava de um sentimento fiel de afeição e coisa e tal? Sim, tratava, mas as coisas mudam, as pessoas mudam e os sentimentos mudam.

      Conquistar é mais fácil que manter já ensinava Maquiavel, e a manutenção da amizade exige uma boa dose de renúncia recíproca. Não renunciou, acabou, mas uma amizade bem alimentada pode resultar em muitos benefícios, principalmente psicológicos, pois são essas as pessoas com as quais podemos contar sempre. Amigos não devem ser amigos apenas para nos satisfazer, mas, principalmente para, de certa maneira, nos conter quando estamos extrapolando o limite do razoável. Nesse momento cabe ao amigo dizer não, você não está fazendo o certo. É claro que tal atitude pode gerar alguma tensão, mas se a experiência anterior tiver sido sadia e proveitosa, o momento será superado fazendo-nos crescer.

      Amigos entram e saem das nossas vidas constantemente e seria muito bom se nunca os perdêssemos, mas para um filho de Xangô com Oxum como eu, isso não é possível. Sou perseverante e trabalho muito para criar as amizades, mas melindroso, não lido bem com a contrariedade, e tenho enorme dificuldade em pedir algo mesmo a amigos, mas se chego a pedir e recebo um não como resposta, o espírito de Xangô predomina e é guerra que quero, e depois disso é difícil me convencer do contrário. Não sinto orgulho por isso, mas assim já estraguei muitas amizades. Arrependo-me de ter perdido a maioria delas, e de várias, se eu tivesse oportunidade de reescrever a estória, eu o faria, mas como isso não é possível, paciência, amigos vão, amigos vêm. Também considero a perda pelo simples afastamento, seja por interesses distintos, ou seja, por causa da distância. Ainda que a comunicação e a rede mundial de computadores nos coloque sempre em contato, nada supera a convivência real e física, mas também nesse caso, paciência, acontece.

      Melhor que falar de perda é falar de ganho, por isso, seja por aquelas amizades que estão sendo construídas ou por aquelas que estão sendo consolidadas, sou muito grato, espero que essas possam se enquadrar na categoria dos eternos, que mesmo à distância física ou temporal, quando se estabelece contato, que seja intenso, e mais do que me servir de vocês eu possa servir a vocês, pois isso me faz muito bem.

      Eu havia planejado escrever 12 artigos em meio ano, mas em quase oito meses esse já é o de número cinquenta, e ainda que eu tivesse tido a oportunidade e assunto para escrever, preferi deixar esse número simbólico para prestar uma homenagem a todos os meus amigos e principalmente agradecer a vocês que lêem, comentam por mensagem, telefone ou pessoalmente. Se vocês me suportarem, escreverei mais uns cinquenta. Muito obrigado.

O link abaixo é da música A Lista, de Oswaldo Montenegro. Vale a pena ouvir.
http://www.youtube.com/watch?v=mJ-28ZiiExw&feature=fvsr

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Na sua casa.

      Pessoas não são boas ou ruins simplesmente por serem pessoas, mas as pessoas moldam as suas personalidades de acordo com fatores genéticos e sociais que, ao longo do tempo, determinam o seu comportamento, e, como a água, sem barreiras para bloqueá-las, as pessoas expandem os seus limites. Deriva daí a necessidade de se criar regras para a convivência em grupos. Não há como atender a todos em tudo, e muitos deixam de serem atendidos, em muitos casos, em suas básicas necessidades, em outros, em caprichos. A insatisfação, seja por um ou outro motivo, às vezes faz com que comportamentos sejam radicalizados tornando pessoas oponentes da convivência civilizada, seja por distorções apenas morais ou também por coerção física, e nesse caso, resultando em violência. Nessa categoria encontram-se todos os envolvidos com a criminalidade, seja ela ligada ou não ao tráfico de drogas, e para combatê-los há o chamado estado de direito, que detém o poder de polícia e o seu respectivo departamento de justiça.

      Há uma comoção geral na imprensa sobre a ocupação de favelas e ações policiais que há pouco mais de uma semana enfrenta, com notadas vitórias, a bandidagem carioca. O balanço das operações mostra números superlativos de apreensão de drogas, armas e de delinquentes além de dezenas de mortes, sem dúvida trata-se de uma vitória para um estado desacreditado, que se via obrigado a pedir licença aos bandidos para fazer obras de infraestrutura nas favelas, situação que se mostrava extremamente vexatória. No entanto, tal cenário nos remete a alguns questionamentos. Como tal situação se estabeleceu? Como um poder paralelo pode atuar durante tanto tempo se, como se viu, uma ação para desalojá-los não foi nenhum bicho-de-sete-cabeças e que em uma hora estava concluída? Claro que foi com a conivência de autoridades corruptas e com membros da própria sociedade, que não vêem em delitos menores conexões com o crime organizado.

      Quando se compra um CD pirata, se faz um download não autorizado, ou até mesmo compras no comércio regular sem a devida emissão da nota fiscal, está se alimentando o crime. Não é possível se passar por inocente quando se sabe que em nosso país a carga tributária é escorchante, o que faz com que nossos produtos sejam caros, logo, se algo tem um valor muito baixo de revenda, é de suspeitar que algo está errado, e sim, algo está errado. Quem participa desse tipo de ação pode estar economizando míseros reais no curto prazo, mas está pagando muito caro durante toda a vida, pois o custo para manter uma máquina policialesca é alto, e a manutenção da população carcerária é exorbitante.

      Pior ainda é o caso daqueles que direta ou indiretamente estão ligados ao consumo de drogas ilícitas, pois além de porem em risco a própria saúde e pendurar parte dessa conta para toda a sociedade, está financiando o tráfico diretamente. Não dá para passar a mão na cabeça de um usuário só porque ele é legal, pois o fornecedor dele pode um dia vir a balear alguém da sua família. Aquele necessita de tratamento e não adianta pregar a ladainha que deveria haver campanhas de prevenção, clínicas públicas de recuperação, pois esperar esses benefícios de uma cadeia de governo que não consegue distribuir água e fazer rede de esgotos é tapar o sol com a peneira, tais pessoas precisam é da ajuda da própria família. É fácil constatar que a maior parte dos criminosos vem de famílias pouco estruturadas, mas grande parte dos financiadores faz parte de famílias regularmente constituídas, instruídas e com um relativamente alto poder de consumo, assim, não é apenas em sua estrutura a deterioração da família, mas, principalmente, em seus valores. Enfim, a solução não está apenas nas ações do estado ou da polícia, esses podem ser os pilares, mas a base está em sua casa.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Live & Let Die

      Eu ia descrever em detalhes a viajem que fiz para assistir ao show do Paul McCartney no Morumbi em São Paulo, e desde que saí de casa comecei a elaborar mentalmente um texto com todos os detalhes dos acertos e de todas as dificuldades: comprar ingresso, planejar a logística, tempo de espera e cansaço, sono, fome, sede, falta de banheiros e coisas assim, mas depois de assistir ao show todos esses detalhes se tornaram desimportantes. No Brasil a pontualidade britânica atrasou 5 minutos, mas no total foram 2:45h de boa música, equipamentos de boa qualidade, interpretação impecável e participação maciça da plateia.

      Paguei para assistir a uma pessoa cantando e ouvi 64.000. E esses não cantavam apenas o refrão, cantavam completamente todas as músicas; eu devia ser o único que não conhecia todas as letras. Dos 8 aos 80 anos, de todos os cantos do país e de alguns países vizinhos, de todos os tipos, de todas as tribos e sem confusão, esse foi o público presente. Apesar dos aproveitadores de sempre, como cambistas – Compro e vendo ingresso, dos ambulantes que vendiam produtos piratas como camisetas oficiais com fotos horríveis de outras turnês, dos tradicionais churrascos de filé Miau e dos vendedores de cerveja que fugiam do “rapa”, dentro do estádio foi tudo tranquilo, lógico que com preços superfaturados, como uma garrafa de meio litro de água por 3 reais, a cerveja em lata, quente, que não tomei mas meu sobrinho sim, por 5 reais, o mesmo preço do amendoim, do Doritos ou da batata frita.

      Fiquei longe, para mim o Paul é menor que o Nelson Ned, mas os dois telões tinham boa definição para aquela distância. Vendo do alto, os únicos locais onde não havia pessoas eram atrás do sistema de torres que suportava a iluminação e da cabana que abrigava as câmeras da Globo, de resto, o estádio estava tomado, e como diz a Renata, era até bonito de se ver. Eu nunca havia assistido, ao vivo, a um show dessa proporção, sempre os vi pela TV, DVD ou internet, e ouso dizer que a estrutura, apesar de compatível com a dimensão desse show era simples, o sistema de som também, mas todos eram corretos e funcionaram perfeitamente. A única falha foi do próprio artista que depois do segundo bis se despediu do público do nosso lado, correu para o extremo oposto do palco e fez o mesmo, pegou uma bandeira do Brasil e correu para o centro, mas nesse momento canhões jogavam papel picado e iluminado por luz verde e o Paul tropeçou, escorregou, derrubou a bandeira e caiu de barriga. Eu vi em tempo real a queda de um Beatle de 68 anos! Ele se levantou fez um aceno de positivo, apagaram-se as luzes e fomos todos embora.

      Acredito que ninguém tenha ido até lá para assistir a um Paul McCartney da carreira solo, tenho a impressão que todos foram para ver um dos líderes da banda mais famosa do mundo e por isso suponho que ele mesclava músicas das duas fases, sendo que no final do show só deu Beatles. Ele abriu cantando Venus and Mars seguida de Rock Show, Jet e o público adorou, e na sequência tocou All my Loving e o estádio tremeu de maneira alucinante com um hit de 40 e tantos anos. Em apenas uma música Live & Let Die, houve efeitos especiais, que se resumiram a um também correto número com fogos de artifício, porém nas demais teve apenas o ídolo cantando e tocando violão, guitarra, contra baixo, bandolim, creio eu, e piano. A banda era composta por apenas 4 instrumentistas, mas o resultado foi sensacional.

      Acho que o melhor elogio que posso fazer ao show é dizer que para colocar em êxtase todo o público o Sir Paul McCartney só precisou tocar e cantar, ao contrário de todos aqueles que conhecemos que necessitam de extrema pirotecnia, como pintar o corpo e o rosto, utilizar roupas estapafúrdias, arrancar cabeça de galinha com os dentes, jogar sangue na plateia, se atirar sobre o público ou quebrar a guitarra no palco. Eu que tenho a mesma idade e segui a carreira de dois também Mega Stars: a Madonna e o Michael Jackson, posso afirmar sem medo de errar, somados, os dois não são a metade do que foram os Beatles, e se há uma possibilidade de se equiparar ao McCartney, apenas o John Lennon, se esse ainda vivesse.

      Que inveja de quem tinha ingresso para o show da segunda-feira!

      Gravei esse video com câmera fotográfica amadora, com zoom limitado, com o ruído do público e trepidação minha, da arquibancada e esbarrões. Live & Let Die.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Conhecimento.

      Já comprei algumas brigas que não eram minhas, mas o fiz em situações em que pessoas simples estavam em desvantagem, pois os supostamente esclarecidos exerciam a sua deseducação para sobrepor-se aos primeiros, então desde cedo percebi a importância do conhecimento, da informação bem processada e da educação geral. Apesar de estar sempre buscando o conhecimento, formulo algumas teorias que se não são científicas, pelo menos, para mim, é cômodo acreditar nelas, e uma dessas é sobre a duração da vida.

      Suponho que para um grupo geneticamente avantajado o tempo de vida do indivíduo é determinado na concepção e não é possível, com a tecnologia atual, aumentá-lo, mas para reduzi-lo é muito fácil, cada atitude errada tem o seu peso, assim: é fumante, alguns anos a menos, é alcoólatra, reduz mais um pouco, usa outras drogas lícitas ou não, tira mais um pouco, e assim sucessivamente. Há, porém, um grupo que pode desenvolver alguma doença determinante, seja por transmissão genética ou por exposição a alguns fatores de risco, como câncer de pele, de mama ou de próstata, que se não forem precocemente detectadas podem levar a óbito, mas com a qualidade dos exames, dos diagnósticos precisos, das intervenções cirúrgicas e tratamentos de qualidade, podem estender, em muito, o período de vida.

      Esse tipo de enfermidade sempre aparece como coisa de cinema, novela ou noticiário, e parecem ser daqueles casos que só acontecem com os outros, mas muitas vezes o outro pode estar muito próximo. Em 2005, com 47 anos, a minha esposa teve o diagnóstico de câncer de mama que era do tipo carcinoma ductal incito, que foi descoberto após exames de rotina e detectado pela habilidade da sua médica. Obviamente depois do susto e dos questionamentos foi realizado o tratamentos, as reconstruções e acompanhamentos, e agora, cinco anos depois, a vida segue. Há duas semanas, também com 47 anos, minha irmã teve o mesmo diagnóstico e está seguindo o mesmo roteiro. Ontem foi feito o agulhamento e hoje pela manhã a primeira cirurgia, aquela que os médicos denominam quadrante, e a próxima etapa será a radioterapia.

      Como esse tipo de doença não se escolhe, pois é a doença que te escolhe, o que se deseja é que seja eliminada, e vale aqui ressaltar a importância dos exames de rotina e lembrar que sim, todos estamos sujeitos, e apesar do constrangimento de certos exames, para quem deseja viver por mais algum tempo e ter, nesse período, boa qualidade de vida, o diagnóstico feito precocemente simplifica os procedimentos além de torná-los mais baratos. E mesmo que o conhecimento não sirva para nada em muitas situações, nessa vale, e muito.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

As provas da lei.

      Há poucos dias vi uma notícia a qual dizia que o Supremo Tribunal Federal deu ganho de causa a um motorista que havia se negado a fazer o teste de dosagem alcoólica utilizando o argumento que ninguém está obrigado a produzir provas contra si mesmo. Depois de ter perdido em todas as instâncias inferiores ele obteve a decisão favorável do Supremo, o que pode agora se tornar jurisprudência, assim, todos os bafômetros adquiridos pelos estados podem ser jogados fora. A despeito do gasto inútil, a maior perda reside na qualidade da sociedade que está sendo criada, pois se os direitos individuais estão sendo mantidos, a impunidade está sendo agravada. Os doutos ministros da maior corte nacional podem ter entendido que o cidadão está protegido, mas a sociedade não está, pois não é difícil encontrar casos e mais casos de acidentes automobilísticos causados por pessoas embriagadas. Por outro lado, é difícil encontrar algum motorista embriagado que tenha causado um acidente e que tenha sido condenado por isso. Como é possível justificar isso a uma família que tenha sido vítima?

      Uma das manchetes de hoje é totalmente distinta, mas trilha pelo mesmo caminho. O deputado federal eleito com a maior votação no país, o Tiririca, se negou a fazer o teste grafotécnico que iria livrá-lo de um processo de entrega de documento falso ao Tribunal Regional Eleitoral utilizando a mesma alegação. Como o então candidato não apresentou provas de sua escolaridade como exige a lei para que a sua candidatura fosse homologada, ele apresentou uma declaração, supostamente de próprio punho, de que não é analfabeto, e a promotoria quer provas de que o documento tenha sido por ele produzido. Por ter se negado a reescrever o texto o deputado eleito foi submetido a um exame simples perante um juiz, onde escreveu o seguinte texto: “A promulgação do Código Eleitoral, em fevereiro de 1932, trazendo como grandes novidades a criação da Justiça Eleitoral”. Segundo o Promotor Maurício Antônio Ribeiro Lopes, de cada 10 palavras escritas o deputado errou 9, e segundo a imprensa, o Tiririca teria lido e comentado as seguintes manchetes de jornal: "Procon manda fechar lojas que vendem produtos vencidos" e "O tributo final a Senna". O absurdo é que para produzir essas pérolas foram necessárias mais de 12 horas de audiência, evidentemente pagas com o nosso dinheiro.

      Como já manifestei anteriormente, não tenho nada contra o Sr. Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, aliás, nem o conheço e até posso acreditar que ele seja uma boa pessoa, que tenha bons valores, que possa contribuir construtivamente na elaboração das nossas leis, mas com certeza esse não é um bom começo, e nem é isso o que estou discutindo, está em questão a qualidade e o cumprimento da lei.

      Se o próprio Supremo desautoriza as instâncias inferiores considerando irregular a obrigatoriedade da submissão ao teste do popular bafômetro nos casos de suspeita de embriaguês, e o TER dispensa o deputado de submeter-se à perícia, eles assim procedem de acordo com as próprias leis, ou seja, essas, da maneira como estão redigidas, não estão cumprindo o seu papel e o seu benefício é unilateral, pois se elas valem para inocentar os suspeitos, não servem para defender a sociedade. Essa baixa qualidade é o retrato do nosso congresso que as produzem, justamente onde quer estar no próximo ano o Tiririca, cuja estreia não poderia se dar de maneira pior, pois se hoje ele é uma autoridade eleita, deveria dar o exemplo sendo o primeiro a cumprir a lei. Não posso e nem aceito ser representado por quem não respeita as leis que eles mesmos produzem.

      E o Enem? Nem me diga!

domingo, 7 de novembro de 2010

Quatro motivos para não gostar do SAAE.

      Quando pensei em escrever esse artigo eu tinha apenas dois motivos para não gostar do SAAE, mas depois de visitar-lhe, ainda que superficialmente, a web page, as razões elevaram-se a quatro. Tenho até medo de inteirar-me de todos os detalhes, pois se o cheiro já não é bom, imaginem a substância. SAAE e o acrônimo da autarquia municipal do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de São Carlos, cuja especialidade é fazer o mesmo serviço várias vezes além de esburacar as já mal cuidadas ruas da cidade.

      As mountain bikes são confortáveis, possuem suspensão, pneus macios com apenas 40 libras de pressão, e são construídas para percorrer trilhas, passar por buracos e dar alguns saltos, já as speeds são projetadas para atingir alta velocidade, são duras, pneus com 100 libras, freios ruins e pouca aderência, logo, para provocar queda, uma pequena irregularidade no terreno é suficiente, e isso é o que não falta em São Carlos, pois o SAAE, travestido de agente de trânsito, se encarrega de reduzir a nossa velocidade. Aconteceu na minha rua o que se vê em toda a cidade. A prefeitura concluiu o serviço de recapeamento em uma sexta feira e na terça o SAAE já tinha aberto um buraco em toda a largura da rua, a poucos metros da minha casa. E o serviço é padrão: interdita-se a rua, utiliza-se ferramentas de cortes, de perfuração, de escavação, empesteia-se de lama o local e mais umas duas quadras à frente, coloca-se terra, deixa-se que os carros façam a compactação e depois aplica-se uma camada asfáltica vagabunda com uma compactação pior ainda que deixa um caroço no asfalto, e que após as primeiras chuvas já começa a perder as bordas. Dessa maneira, caroço após caroço, transitar de speed, além de arriscado, gera dor de cabeça de tanto chacoalhar o cérebro. Está bem, esse público é minoria, mas o que falar dos carros? Um carro que tenha apenas um ano de uso nesse piso dá a impressão que ira desmontar, pois a partir de 40 km por hora apresenta toda a sorte de ruídos e não ha encaixes ou fixações que resistam. O SAAE além de não nos deixar divertir ainda acaba com o nosso patrimônio.

      Quando temos que refazer algum trabalho costumo perguntar aos meus colegas se nós aprendemos a trabalhar no SAAE, pois esse, de cada quatro buracos que fazem nas ruas, três são em locais onde já haviam sido esburacados. Das duas uma, ou a rede subterrânea está podre e a administração não toma a decisão correta de refazê-la ou o serviço de manutenção corretiva é de péssima qualidade. Além do que, o tempo de resposta a um problema é longo. A rua à frente da minha casa é plana, mas as laterais são bastante inclinadas, e em uma delas, a umas 3 quadras acima da minha surgiu um vazamento. Dez dias depois ainda havia uma forte correnteza passando pela esquina. Adivinhem como ficou o local do vazamento após esse ter sido consertado. Adivinhem também se não quebraram no mesmo lugar onde isso já havia ocorrido. A aposta agora é quanto tempo se passará até que um novo vazamento venha ocorrer naquele local.

      Esses foram os meus desapontamentos iniciais, mas vendo o balanço financeiro da empresa, concluí que 81milhões de reais é compatível com o serviço em uma cidade com cerca de 230 mil habitantes. Quatrocentos e vinte e dois funcionários efetivos me parece ser pouco para fazer todo o trabalho, o que justifica o longo prazo para a solução dos problemas, 14 funcionários afastados por licença médica e licença gestante, OK, normal, mas 39 aposentados por invalidez, não sei avaliar, talvez haja alguma explicação plausível, no entanto, 88 funcionários comissionados! Imperdoável, um descalabro! A cada 5 contratados para trabalhar tem um contratado para receber. Não bastaria que os diretores e uns dois assessores para cada diretoria fossem nomeados? Um grupo executivo com cerca de 10 pessoas já seria suficiente, e não há nada no mundo que justifique moralmente essa quantidade de apaniguados. Para mim isso é revoltante.

      Verificando o fluxo de caixa vi um pagamento de R$ 326 mil reais para uma agência de publicidade sob a rubrica "propaganda", mas para que? Essa empresa é a única concessionária do serviço público na cidade, não tem concorrência, logo, qualquer cidadão que deseje a conexão à rede de água ou esgoto deve a ela se dirigir, além disso não há nenhuma campanha educativa em andamento, qual seria o real motivo da tal propaganda? Eu nem considero a tarifa tão cara assim, costumo gastar muito mais com supérfluos do que com esse serviço essencial, mas quando assim o faço, eu tomo a decisão e uso o meu dinheiro, mas não os autorizei a utilizar o também meu dinheiro dessa forma. O que realmente houve eu não sei, mas que isso tem cheiro de campanha política, isso tem.

      Ainda que a qualidade da água seja boa, o que é obrigação, e que está em início de operação a usina que irá tratar 100% do esgoto doméstico, aliás, o que já não era sem tempo, o que se discute é a qualidade dos demais serviços e a qualidade administrativa, está faltando respeito para com aqueles que pagam a conta e que são, em última análise, os donos da empresa, ou seja, nós, a população.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Exagerado.

      Exagerado, talvez esse seja um termo que me define bem, pois possuo a chatice dos virginianos e, como diriam os mais polidos, a intensidade dos escorpianos, característica que descrevo mesmo como exagerado. Mesmo em minhas relações sociais, pessoais e profissionais não há meio termo, se gosto, gostar é pouco, eu amo, se não gosto, desgostar é muito pouco, eu odeio. Quando resolvi estudar matemática eu poderia ter me contentado com a licenciatura, mas para mim não bastava, fui fazer o bacharelado, onde já se viu, eu? Na licenciatura? Isso é pouco para mim! Pois sim, quase entrei pelo cano. Estive a um passo da desistência, decisão que cheguei a tomar, mas voltei atrás graças à Adriana, que foi um anjo salvador, além de me fazer mudar de ideia, me ensinou, e assim consegui concluir. Exemplos como esse transbordam em minha vida, e hoje não foi diferente.

      Faz um ano que comecei a pedalar, saí do zero, comprando uma boa mountain bike e me preparando para o caminho da fé, aliás, o que fiz bem, mas só trilhas, é pouco, é social demais, grupos, passeios, fotografias, não me bastava, comprei uma speed que é para treinar sozinho, correndo, se possível voando. Comecei a andar relativamente bem, mas não basta, troquei várias peças para obter melhor rendimento e estou conseguindo, mas tempo com a bunda no selim e pés nos pedais também conta muito, por isso eu estava angustiado, queria ir até Rio Claro, são cerca de 120km contando a ida e a volta e isso ainda é inatingível para mim, decidi ir até o trevo de Corumbataí que é no mesmo caminho, isso implica em descer a Serra dos Padres e subir de volta. Medi a distância no Google Earth, 80km, um bom percurso. Mentalizei o caminho, que já percorri de carro muitas vezes e senti, na barriga, a ansiedade. Pronto, era o que faltava. Seria hoje, pois aqui é feriado, aniversário da cidade.

      Levantei às 5:15h, comi um lanche de pão integral com queijo branco e peito de peru e tomei um copo de suco de uva. Preparei mais dois lanches iguais a esse para levar, 2 caixinhas de 250ml de suco de laranja ligth, um pacotinho de biscoito Club Social e uma alfarroba de banana, coloquei tudo na mochila chamada Kamel Back, uma garrafinha de água, e depois de barbear-me e tomar banho, às 6:10h lá estava eu na rua começando a pedalar.

      Me surpreendi, após 1:26h e 41,350k eu já estava fazendo o contorno no trevo de Corumbataí. Em uma hora eu havia percorrido 28km, uma boa média, haja vista que eu não estava forçando, pois teria que voltar, e assim, a maior velocidade atingida foi cerca de 60km/h. Resolvi parar para comer apenas após subir a serra, que em 4km tem uma elevação de pouco mais de 200m, e lá estou eu a 11kkm/h quando olho para trás, e a cerca de 4m vejo um rapaz de menos de 20 anos, todo paramentado, com luvas, capacete, óculos, Jersey, como dizem os americanos, sapatilhas, pedalando forte e que passou por mim muito rapidamente. Invejoso e competitivo resolvi acelerar prá não vender barato a ultrapassagem, mudei rapidamente a velocidade para 16 km/h mas o infeliz ficou em pé e se distanciou mais e mais. Desisti, afinal, aquele magricelo, pois devia pesar menos de 50kg, só podia ser da equipe de competição de ciclismo de Rio Claro e esse não é o meu nível, confesso, a contra-gosto. Prossegui em meu ritmo lento e ele sumiu das minhas vistas no trecho sinuoso. Alguns minutos depois, já depois do topo, há uma mureta de concreto e o vi sentado lá. Resolvi parar para conversar e comer o lanche.

      Fui chegando e prestando atenção no rapaz, ele era mais novo do que eu pensava e também mais magro, ele não era muito claro, e como se dizia ainda nos tempos em que não precisava ser politicamente correto, passou das 6 é boa noite, e ele beirava as 6 e meia, mas estava meio desbotado. Tudo bem? Perguntei. Ele apenas assentiu com a cabeça. Você está vindo de onde? De Rio Claro, foi a resposta, curta e seca. Você faz parte da equipe de ciclismo de lá? Novo aceno positivo com a cabeça. Você está se sentindo bem? Não, foi a resposta, estou com ânsia. Estava justificada a sua palidez. Ele trazia somente água e tinha tomado um pouco. Continuamos a conversar e ele tem 15 anos, treina com os profissionais, tinha percorrido apenas 22km e eu 45, ele faz aquele trajeto diversas vezes por mês, inclusive subir aquela serra por 8 vezes seguida faz parte do treinamento, e a velocidade dele naquela subida é de 18km/h. Fiquei tomando conta do equipamento enquanto ele foi vomitar no mato, depois continuamos a conversar e reparti o meu lanche, o suco e a bolacha, só guardei a alfarroba para comer mais tarde. Como ele já havia se recuperado, pedalamos 1,5 km juntos até um retorno e ele voltou para Rio Claro e eu vim embora.

      Acho que o vento nasce em São Carlos e se espalha em todas as direções, pois sempre pego vento contra quando estou voltando, não importa para que lado eu tenha ido, e dessa vez não foi diferente, e isso prejudica muito, pois ao voltar estou mais cansado. A velocidade média caiu, o que é natural, pois no trajeto de volta predomina a subida, e quando eu estava perto dos 75 km o pneu furou. Fazer o que? Parar e consertar. Fiz um serviço de porco, pois ficou um caroço, mas como já estava perto e eu não tinha força para correr, decidi continuar devagar. Cheguei em casa após 3:22h e 82,750km.

      Na próxima vez não precisarei levar tanto peso, mas nessa o exagero foi bom, pois ajudei a um colega de pedal.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Senhor Fernando Henrique Cardoso

      Senhor Fernando Henrique Cardoso, ou como acostumamos chamá-lo, Fernando Henrique ou simplesmente FHC, fui seu eleitor ao senado, primeiramente de maneira indireta, pois votei no Franco Montoro, do qual o senhor foi suplente, e com a renúncia desse para assumir o governo paulista o senhor foi alçado ao senado, depois diretamente em 1986, e também nos dois mandatos consecutivos de presidente. Confesso que acompanhando a sua vida pública de longa data, me envergonhei em alguns momentos, nem sei dizer se foi por fatos ou boatos, mas houve o episódio de sentar-se na cadeira de prefeito e perder a eleição no dia seguinte, ou o da maconha com o tal fumei mas não traguei, teve ainda aquela estória de ser ou não ateu muito bem explorada pelo Jânio Quadros, ou aquele sobre a mudança na idade mínima para a aposentadoria onde se referiu a alguns como vagabundos, e ainda ter que, em campanha, comer buchada de bode. Esses são momentos que a imprensa destaca para glorificar-se, e a oposição os utiliza como armas, mas são apenas questões menores, o pior foi ter que se aliar, a fim de que suas propostas fossem aprovadas, a um congresso adesista típico do PMDB que se serve do governo. Apesar de saber que não existe outra maneira a não ser ceder os dedos para salvar os braços, não me é fácil aceitar.

      Senhor Fernando Henrique, ainda que seus detratores digam que o senhor não foi exilado, mas que apenas fugiu para o exterior durante a ditadura, o que importa é o legado, e desde a sua notada participação na defesa das Diretas Já e na Assembleia Nacional Constituinte, passando depois pelo Ministério das Relações Exteriores e, para minha surpresa e incredulidade, como Ministro da Fazenda, pois juro que não acreditava que aquilo desse certo, principalmente em um governo de início pífio do titubeante Presidente Itamar Franco, no entanto aquela gestão foi a chave para a modernização do país. Ainda que tenha havido erros, como a demora na liberação do câmbio, ou a supervalorização do Real por um longo período, ou ainda a elevada taxa de juros que apesar de ser nociva se fazia necessária, além de alguns escândalos isolados como o vazamento de informações da desvalorização cambial e daquela estória mal contada do Sivam, o senhor mostrou autoridade quando não interveio no processo de liquidação do banco da família de sua nora, além disso, na crise conhecida como apagão, gerada por sucessivos descasos, falta de planejamento e prolongada estiagem, a atuação do seu governo como gabinete de crise foi determinante, ainda que impopular.

      Senhor Fernando Henrique, qualquer partidário do PSDB poderia cantar loas às suas realizações, mas a mim foram destaque as diretrizes, como o absurdo de ter que editar a lei de responsabilidade fiscal e a reforma do estado com a implementação das agências reguladoras, livrando os setores produtivos dos destemperos políticos, ganho que o atual governo enterrou submetendo-as à incompetência do corporativismo e do sindicalismo. Além disso, a visão de estado e de futuro, que alçou o Brasil de coadjuvante a protagonista das economias emergentes e membro do acrônimo BRIC cunhado pelo mercado financeiro e, principalmente pela estatura moral, fazendo-nos um postulante direto e legítimo a ser membro permanente do conselho de segurança da ONU. Sem falar é claro, da liderança política na América Latina e trânsito em todo o hemisfério norte.

      Senhor Fernando Henrique, hoje que saímos de uma eleição, na qual o populismo venceu, e a oposição débil além de ser incompetente, não fez jus aos avanços conseguidos em suas gestões, sou obrigado a reconhecer, eu que o critiquei durante todo o seu governo agora vejo que para o pior não tem limite, e afirmo que em nosso cenário político há falta de pessoas com a sua qualidade, formação e caráter, por isso, junto a outras poucas pessoas vejo o senhor como sendo uma daquelas a quem eu gostaria de conhecer pessoalmente e poder apenas dizer-lhe: obrigado por existir.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Senhor Aécio Neves.

      Senhor Aécio Neves, nunca votei no senhor, pois somos de estados diferentes, e não posso afirmar que o senhor teria o meu voto, porque eu teria que analisar a eventual situação, mas a despeito dos seus méritos, entendo que o seu individualismo dará, nesse ano, a vitória ao PT nas eleições presidenciais. Caso o senhor tivesse aceitado ser candidato a vice-presidente na chapa puro sangue com o José Serra, a possibilidade de vitória seria em muito aumentada, pois em seu estado, que é o segundo maior colégio eleitoral do país, o senhor desempenha o mesmo papel que o presidente no nordeste, elege até um poste, e em 2014 o senhor teria teria o apoio dos paulistas.

      Senhor Aécio Neves, sabemos que a sua fama de playboy carioca aos finais de semana não o impediu de ser um campeão de votos e elevar o seu estado ao nível da segunda maior economia nacional, mas ser um líder inconteste em Minas não lhe garante a maioria num pleito nacional, por isso, se o senhor apostou todas as fichas em sua provável candidatura a presidente em 2014 contra a mesma atual candidata, sinto muito lhe dizer, acho que o senhor errou, pois o provável adversário será o atual presidente, o que reduzirá as suas chances.

      Senhor Aécio Neves, o senhor pode ter herdado o eleitorado de seu avô, mas ainda não atingiu a mesma estatura política. Por mais que tenham sido bem sucedidas as suas três gestões no legislativo nacional e as duas no executivo estadual, o valor atingido se restringiu a boas administrações, ainda que o senhor tenha procurado dar transparência aos atos do poder legislativo e até mesmo por ter sido o responsável pela criação do pacote ético que retirou a imunidade parlamentar para crimes comuns, falta substância ideológica. A sua postura de flerte com o governo e com outros partidos, mas mantendo-se no PSDB, mostra muito mais o lado matuto e matreiro do que o líder que a nação precisa, aliás, de governante malandro com sorte já estou enjoado.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Senhora Dilma.

      Senhora Dilma, nunca votei na senhora e não será dessa vez, e nem é pelo fato de conhecer apenas superficialmente sua carreira política que começou em um estado que não me faz gosto, e pelo que me lembro a senhora abandonou a Secretaria de Fazenda de Porto Alegre no governo do Alceu Collares num momento caótico, sem relatórios gerenciais, sem um tostão em caixa, e lixo espalhado pelas ruas. Mas reconheço que tenho que admirá-la por ter apoiado a Carta aos Brasileiros, que determinava mudança de rumos do seu atual partido e pelo respeito aos contratos, mas para mim, isso ainda é pouco.

       Senhora Dilma, não tenho o preconceito de não aceitar uma mulher como presidente da nação, até mesmo porque considero as mulheres mais sábias que os homens e espero vê-las em maior número no congresso e no governo, e nem duvido da sua capacidade administrativa, mas apesar da sua fama de truculenta não acredito que a senhora possa conter alguns setores radicais de seu partido e de agremiações ilegais como o MST que fizeram a festa no governo atual e deverão se deleitar caso a sua vitória se concretize. A senhora não possui o carisma do atual presidente que traz à mão o partido, e nem me surpreenderia, caso a senhora seja eleita, que daqui a quatro anos ele venha a ser, de novo, o candidato.

      Senhora Dilma, a minha maior implicância não é pelo tom de sua campanha, pois entendo que uma coisa é governar e a outra é ganhar a eleição, mas não posso compactuar com algumas atitudes, dentre elas o de descaracterizar a verdade como foi uma marca desse governo em todos os escândalos, desde o dos cartões corporativos onde pegos com a boca na botija, vazaram informações pessoais do FHC apenas para justificar: nós fazemos apenas o que eles supostamente fizeram. Não justifica! Veja também o caso do mensalão, onde sistematicamente se pagava pelos votos aliados e foi reduzido ao nível de prática continuada cujo início se deu no governo Tucano em Minas. Oras, erros são erros e não importa de quem seja, devem ser combatidos naquele e nesse governo também. Ou a senhora defende a tese: aos amigos tudo, aos inimigos a lei?

      Senhora Dilma, não é aceitável que uma postulante ao maior cargo executivo da nação não siga a própria lei, e não podemos admitir que a sua campanha tenha recebido sete multas por ter desrespeitado a lei eleitoral. Se a lei não é adequada, que seja mudada de acordo com as regras, mas não cumpri-la e ainda fazer pouco caso da mesma é papel infantil, indigno de uma autoridade. Além disso, como acobertar os escandalosos casos dos dossiês? Seriam essas práticas justificáveis para se chegar ao governo? Se as mesmas apenas beiram a ilegalidade estão profundamente mergulhadas na imoralidade, e prefiro ter um governo pífio mas íntegro e que cuide apenas da educação, do que um antiético tocador de obras. E falando em obras, porque ainda não foram divulgados os balanços do PAC 2 que sabemos que já estão fechados? Seria porque o andamento não foi o esperado e não se quer dar munição ao adversário? Todos sabemos que os tais programas de aceleração são apenas rótulos para obras já previstas e iniciadas, e que nem por isso tiveram o desempenho esperado como seria normal em uma companhia privada.

      Senhora Dilma, a sua jóia da coroa é a Petrobras, da qual a senhora foi a presidente do conselho, mas como explicar para a população situações como o exemplo a seguir: durante o governo FHC os trabalhadores puderam investir parte do FGTS em ações da Petrobras e da Vale e eu fiz isso. Embora em tempos diferentes investi 15 mil na Petrobras e cheguei a ter cerca de 250 mil na conta, hoje tenho apenas 106 mil, ou seja, perdi mais de 50% do capital, nesse mês a perda é de 10% e o acumulado nos últimos 12 meses de 24%. Já com a Vale, onde só pude investir 3 mil, tenho 29,9 mil, o ganho nesse mês é de 5% e o acumulado no ano é de 28%. Eu sei que a aplicação em ações é um investimento de risco, eu arrisquei, ganhei, perdi e aceito, mas qual é a avaliação que a senhora, como ex-presidente do conselho de uma empresa que podemos considerar estatal, pois o governo tem a maioria das ações e comanda a empresa, faz da sua administração? Como o governo que a senhora defende e quer suceder pode condenar a privatização, se a estatal perde metade do seu valor e a privada valoriza 1000%? Eu tenho uma resposta para essa administração: um desastre! Se fosse uma companhia privada vocês todos estariam na rua.

      Senhora Dilma, a despeito da questão saúde, onde a senhora portou-se com galhardia frente aos problemas como convém a quem é responsável por sua história, não podemos dizer o mesmo sobre as mudanças de posturas. Ouvimos diversas vezes e foi incontavelmente repetida pelos meios de comunicação, a sua defesa ao direito de aborto e à união homossexual, o que a fez mudar de ideia? Ou elas não foram mudadas e apenas não podem ser admitidas? A senhora tem certeza de que não foi obrigada a fazer ouvidos de mercador para tentar se eleger? Se não, o que foi que houve? Se sim, onde está a sua autoridade?

      Senhora Dilma, eu acredito na tendência das pesquisas e a senhora provavelmente será a nossa próxima presidente, e espero estar errado quanto as minhas avaliações, pois não me importo de não acertar, prefiro ficar melhor, no entanto, o quadro que se adivisa não é animador, pois faça-me então mudar a minha opinião e no futuro poderá merecer o meu voto.

domingo, 24 de outubro de 2010

Senhor José Serra.

      Senhor José Serra, votarei no senhor no próximo dia 31 como o fiz no último dia 3 e em todas as últimas vezes em que o senhor se candidatou seja a presidência, senado, câmara dos deputado ou governado do estado. Faço isso porque acompanho a sua vida pública desde a sua primeira passagem pela Secretaria de Fazenda de São Paulo, e nem me lembro de qual gestão. Naquela época o senhor implantou um sorteio de prêmios entre aqueles que enviassem as notas fiscais de produtos comprados com o objetivo de aumentar a arrecadação e combater a sonegação fiscal. O processo não foi muito bem sucedido como o atual Nota Fiscal Paulista por vários motivos, dentre os quais a nossa cultura. Mesmo eu que aprovei e considerei inovadora a ideia, não enviava as notas, no entanto não é sobre isso que quero falar, vamos falar da sua atual campanha e de seus projetos.

      Senhor José Serra, se as suas gestões não foram lá essa maravilha, também não foram decepcionantes, apesar das críticas, tenho consciência do que é administrar o patrimônio público e ter que fazer escolhas sob pressão, pois a demanda é muito maior do que o capital disponível para implantá-las. Por isso, pela sua história e pela liderança em seu partido e coligação é natural o seu postulado. Também entendo a necessidade de coligações com adversários, como o Quércia, que eu também já apoiei, mas não devemos nos esquecer que ele é o tal que quebrou o estado para fazer o sucessor, mas não deveria ser esse tipo de alteração política fazer parte do seu programa de partido e de governo? Por que o senhor nunca fez nenhuma proposição dessa envergadura? Por que perde votos? Por que perde apoio? Mas isso não ocorreria apenas na esfera política, mas se tivesse apoio popular os interessados teriam que procurá-lo e o senhor poderia dizer-lhes um simples e sonoro não? Tanto isso é verdade que o Collor se elegeu com a sua própria força e apoiado por um partido minúsculo que hoje nem sei se existe mais, não é mesmo?

      Senhor José Serra, o senhor que nunca esteve envolvido em um grande escândalo, tem fama de trabalhador incansável, austero, líder e autoritário, tem o comando de seu programa de governo e de sua campanha? São suas as propostas do salário mínimo de R$ 600,00 e de 10% de aumento aos aposentados? Isso não lhe soa artificial? Isso não parece ser a tábua de salvação de um náufrago? O seu programa na televisão tenta nos vender a imagem que o senhor é uma pessoa humilde, do povo, mas todos sabemos que é uma imagem tão verdadeira como a nota de três reais. O senhor até pode ser boa pessoa, mas é sofisticado e pertence à classe daqueles que não precisam fazer contas para saber se o mês cabe dentro do salário, logo, é lícito tentar mostrá-lo de maneira inexata? Não seria mais sensato mostrar apenas projetos, propostas, ideias e não construir uma imagem irreal? Não seria mais produtivo mostrar os abusos do atual governo como a enormidade de cargos comissionados e prometer acabar com esse descalabro? Também não seria mais adequado reforçar a ideia da profissionalização dos cargos de comando das estatais e autarquias ao invés da sindicalização e aparelhamento hoje existentes.

      Senhor José Serra, por duas vezes o senhor foi, com muito sucesso, ministro do governo Fernando Henrique, que é reconhecido por importantes realizações, entre elas a estabilização econômica e a modernização do país, portanto, o senhor é um legítimo herdeiro desse patrimônio, então, porque o Fernando Henrique não participa do seu programa? Isso não é uma injustiça? Não lhe parece um descabimento que o senhor louve mais as bolsas misérias do atual governo do que os acertos do antecessor? Sim, eu sei que a atual campanha adversária, apesar de ter se apropriado das benesses criadas pelo governo de seu partido, ainda cria a imagem negativa das privatizações, ou seja, rifa a bola, joga para a torcida, mas eu conheço o bem que o processo de privatização fez à economia, pois por vários anos paguei meio salário mínimo de aluguel pelo uso de uma linha telefônica porque não havia linhas disponíveis para serem compradas, e se hoje há mais linhas de celular vendidas do que pessoas no país é porque as empresas foram modernizadas. Esses são apenas dois exemplos da ineficiência do governo atuando como empresário, mas desconstruir essa imagem é um processo que antecede o período de campanha, logo, não teria sido mais inteligente ter abordado esses temas massivamente durante os 4 anos, e hoje, com a população mais esclarecida, utilizá-las fazendo justiça ao trabalho bem feito?

      Senhor José Serra, o senhor pode até vir a ser o nosso próximo presidente, ter acertos e cometer erros como ocorre em toda administração, mas por essa ingratidão a história não o perdoará.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Senhor Presidente.

      Senhor Presidente, admito que votei no senhor apenas no segundo turno da eleição contra o Collor, mas no primeiro turno votei no Mário Covas. Também admito que não sou contra o seu partido, pois já votei em seus candidatos desde a sua criação ainda nos tempos do Airton Soares, e também votei no Suplicy, no Mercadante, no Machado, no Newton Lima, enfim, voto na pessoa e não na agremiação. Destaco no PT a força da militância, pois essa junto com o jornal A Folha de São Paulo e a revista Veja foram os responsáveis pela única deposição de presidente eleito já ocorrida no país.

      Senhor Presidente, admito que me surpreendi positivamente com o seu governo, pois o senhor num exemplo de rara inteligência não seguiu as recomendações do documento chamado A Ruptura Necessária que o PT editou antes de sua eleição e que afastou os investidores obrigando aquele governo a elevar a taxa de juros para conter o ataque especulativo contra a moeda, e mais ainda, além de não mudar a política econômica implantada pelo FHC, que o seu partido foi contra, o senhor colocou o então Tucano Henrique Meireles para comandar o Banco Central que aliado ao ex ministro Palocci, respeitaram os contratos e mantiveram o país no rumo do crescimento. Imagine então o senhor o que ocorreria se o seu partido não tivesse sido contra outras tantas medidas de saneamento que o Fernando Henrique tentou implantar, como a que aumentava a idade mínima para a aposentadoria. Todos sabemos que essa é uma bomba relógio que deverá ser desarmada, veja os exemplos pipocando em toda a Europa. Em 2012 irei adquirir o direito de me aposentar após 35 anos de contribuição e 53 de idade e mesmo tendo iniciado a trabalhar aos 16 anos, não me considero velho ou inválido para ter que vestir o pijama, e pretendo continuar ainda sendo produtivo por um bom tempo.

      Senhor Presidente, se o senhor acertou naquilo em que não mexeu, errou naquilo em que tentou ser diferente, pois sabemos que os resultados econômicos que o senhor colheu ocorreram não por causa do seu governo, mas apesar do mesmo. Mas veja, quando o senhor apoiou a China como economia de mercado para que em retribuição tivéssemos o apoio para um lugar no conselho de segurança na ONU, fomos enganados. Eles não nos apoiaram e nós apoiamos o trabalho de semiescravidão, a pirataria e a moeda local desvalorizada para que seus produtos sejam internacionalmente competitivos, o que prejudica a nossa indústria. Quando o senhor apoiou a tirania na Venezuela, perdeu a oportunidade de liderar politicamente a America Latina permitindo que eles se armassem até os dentes com equipamentos russos que poderão ser usados contra nós mesmos. Quando o senhor apoiou a ditadura na Bolívia apoiou também a plantação extensiva de coca cujo subproduto é trazido para cá e fomenta o tráfego e a violência. Quando o senhor mandou deportar os atletas cubanos que haviam desertados da delegação durante o Pan Americano condenou inocentes, mas quando manteve o foragido italiano em território brasileiro contribuiu para a impunidade, e pior, ao comparar as masmorras políticas de Cuba com as prisões paulistas o senhor deixou de intervir na morte certa e imediata do dissidente em greve de fome.

      Senhor Presidente, voltando às questões econômicas, mas dessa vez internacionais, podemos ver que o senhor governou mesmo sem oposição. Oposição que além de ser fraca em seus próprios quadros não presta nem para brigar. Na atual campanha para a presidência, o seu partido tem um único mote, a Petrobras e o pré-sal. Eles se mostram como os únicos defensores, mas o que ocorreu na invasão das duas refinarias na Bolívia? Elas foram entregues de graça e a oposição não fala nada? O que ocorreu quando o presidente eleito do Paraguai exigiu o reajuste da tarifa de energia elétrica que pagamos a eles? Os contratos foram simplesmente ignorados e nós que pagamos pela usina, damos energia elétrica a eles, pagamos pela energia que utilizamos ainda temos que reajustar os valores unilateralmente? É fácil fazer caridade com o dinheiro dos outros, não é mesmo? E cadê a oposição?

      Senhor Presidente, perder e ganhar, errar e acertar são situações normais em nossas vidas, mas há escolhas que comprometem a nossa biografia e por isso faço mais algumas perguntas: não basta ter tirado da cartola uma candidata e tê-la colocado no segundo turno das eleições? Prá que continuar praticando essa política rasteira de militante? Será que há algum esqueleto dentro do armário que o senhor não quer que apareça? Pois do contrário, o quê justifica violar todas as regras eleitorais e pagando apenas as multas? O simbolismo que tal atitude carrega é que tudo é possível para quem detém o poder. O quê justifica a sua participação no horário eleitoral acusando o candidato da oposição de forjar a agressão e logo em seguida ser desmentido pelo Jornal Nacional? Deixe que os candidatos de digladiem se eles assim o querem, mas preserve a instituição da presidência. Mais valeria uma manifestação contra a violência. Seria mais digno de um presidente se opor a qualquer tipo de violência e deixar que o povo fizesse juízo de valor. Seria mais digno de um presidente conduzir o processo sucessório como árbitro de uma disputa limpa, digna, da estatura de um país que tem riquezas e potencial para ser realmente grande e não ser classificado como uma república bananeira.

      Senhor Presidente, se o senhor teve a grandeza e a dignidade de não rasgar a constituição e conseguir, o que seria fácil, um terceiro mandato, não deixe que o sangue de torcedor fale mais alto do que a razão democrática. Seja visto como estadista e não como sinônimo daquilo que de pior representa a nossa classe política, baixa, sem escrúpulos e cujo objetivo é apenas servir-se do povo mantendo-o alienado com o velho pão e circo.

      Senhor presidente, o seu compromisso não é com o seu partido, mas com a história.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Messianismo

      Qual é a sua primeira lembrança sobre política? A minha recordação mais antiga é de fevereiro de 1.969, eu tinha 10 anos de idade e me lembro de estar deitado na cama de meus pais ouvindo pelo rádio uma lista de políticos cassados pelo governo militar respaldado pelo Ato Institucional número 6. O ato mais famoso é o AI5, editado em 1968, que deu ao governo poderes ditatoriais acima da constituição de 1.967 e fechou o congresso, já o AI6 promoveu a cassação de diversos políticos e colocou na ilegalidade outros tantos além de diversos intelectuais, sendo que muitos deles tiveram que deixar o país.

      Depois disso participei da política local como entusiasta e fazia oposição à ditadura como muitos jovens e adolescentes da minha época. Lembro-me da participação ativa, já com 16 anos, da campanha para eleição para o senado do Orestes Quércia contra o Carvalho Pinto. Naquela época o então ex-prefeito de Campinas representava a juventude, a renovação, a democracia e a oposição (MDB) contra o regime autoritário comandado pelos militares e referendado pela Arena. O Quércia tinha fama de político forte, aguerrido e de bom administrador, e ganhou; aliás, a oposição teve uma acachapante vitória, o que obrigou o governo em 1.978 a criar o cargo de senador biônico. Nessa eleição a Arena conquistou a grande maioria dos cargos pois metade seria escolhida em eleição indireta e a outra metade seria nomeada pelo governo.

      Sempre acompanhei a política e os políticos, vi avanços e retrocessos, bons e maus servidores e sempre estive atento aos sinais dados por eles. Hoje os mais de 22.000 cargos comissionados na administração federal e a leniência com as invasões de terra e de escritórios de administração são apenas a extensão do loteamento de um governo que se apoderou do estado, utilizando como regra o estado a serviço do partido e não o governo a serviço do povo. A primeira sensação que tive que esse seria o desenrolar do tal governo da esperança se deu nos primeiros dias do governo Lula, quando esse se aboletou no Planalto e mandou fazer uma estrela com flores vermelhas no jardim da residência oficial, esquecendo a simbologia que o palácio tem como sede de governo e não de diretório do partido, barracão de escola de samba ou sede de torcida organizada.

      O governo Lula acertou naquilo que não mexeu como na economia e errou em diversos setores como na política externa, no entanto, erros são perdoáveis, já que fazem parte do processo, mas a sucessão de escândalos acobertados e o loteamento de cargos estragou a sua biografia bonita. Se hoje ele consegue eleger até um cone e tem uma popularidade que beira a unanimidade, o tempo será o seu mais cruel detrator, pois se encarregará de trazer à tona o descaminho que a nação tomou. Esse tempo poderá ser mais longo se a situação ganhar as eleições ou mais curto se o novo governo for da oposição. É uma pena, pois com esse messianismo, perdemos todos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

On Vacations.

      Finally I took some days on vacations. I did not remember when I took more than two follow weeks to pleasure. I always work and take some days to rest. Since my wife has decided not to travel together this year I started to plan this trip to do the things that we can't do together, and I did.

      Two days before, a friend made a comment: it sounds like so alone, yes it is but I manage it well. I recognized that it was so difficult to me kept me so far from to my job. At the first days I continued to answering emails and reading the reports, thanks God I gave up and started to live some days just for me.

      The first stop was at the Clear Lake, near to Houston. It is a huge and flat city. Extremely organized, clean, with tall buildings on down town. I imagine they have serious troubles with the rain, because they have built a lot of small, and also big spaces to drains the water. There are a lot of freeways and the local TV stations share the attention with the traffic and the forecast. Most of homes are wood made and in front of there is a nice garden. The hotel where I stayed has a brief taking landscape, the sun rises over the lake and draws a nice picture, but it is not the reason of my choice, the NASA was. I spent three days to know the Johnson's Space Center. It is really fantastic. Of course I have thousands things to talk about it, but to resume in one phrase, I'm going to repeat one that I did not shoot but it is near to the first Skylab: To live at moon = building materials + energy + support to life + knowledge. Maybe I will write late about the NASA.

      I took the planes and arrived in San Francisco. My first impression wasn’t so good. I can say the architecture is singular; it mixed some different styles and just in the financial area there are big buildings. Although it is at the sea level, there are huge tops that they do something to make it useful and nice, as the Lombard Street. There are 8 severes curves to fall near to a hundred meters with 45 degrees of inclination, and then they plant some gardens to make it, as a phrase that I have been hearing frequently: colorful. But it did not convince me. The most crowded place is the Fisherman's Warf and the pier 39. There are a lot of stores, restaurants and art galleries. It is not beautified but the people likes. The stores remember me the nearest the city count market. About 8 pm the places are crowded but 11 pm it is empty. I should say: sometimes the smell is not so good, but as for all the American standard big cities the things are organized, and there are a lot of attractions.

      The sign of degradations appears at the entire small market dominated by the asian people and there are a lot homeless and jobless sleeping on the streets. Although the bad things, the ocean fixes everything. I was a really impressed with to contradictories things, there are a lot of bars and pubs and many people like running and cycling. The second one justified my trip. I biked the Mount Tamalpais. It is about 40 km far from San Francisco and is about 780m higher where it is possible to have a nice view of the entire bay. I was really prepared and did it well, although the bike I rented was not the best option to do that. I followed the recommendation of the rent store and they do it for beginners so I had a slow and heavy bike. Thousands bikers have passed to me as a fly and my competitive instinct fought against myself. Although the quality of the bike I got it because failure is not an option.

      So, I can say: I left a piece of my heart in San Francisco.

      As the teacher's day is coming, I want to say to all of them thank you so much for everything you did to me, because if I do everything I want I to do not it because I have a good health or good shape, but I have knowledge that I got with you.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alfândega.

      O limite de isenção na alfândega brasileira é de 500 dólares e eu, evidentemente, comprei eletrônicos que ultrapassam os 1.000. Usei então a conhecida tática: uma mala média, uma mochila pequena, apenas uma sacola no free shopping e esperei para entrar na fila logo atrás de um casal que transportava um monte de malas, não deu outra, mesmo na fila do nada a declarar eles foram barrados e eu liberado. Eu teria passado livre mesmo se tivesse trazido uma bateria e uma guitarra.

      Por aqui a gente começa a ver como nossas estruturas funcionam. Ainda no corredor anterior à passagem pela policia federal, as funcionárias reclamavam, para quem quisesse ouvir, sobre a escala de trabalho e o fato de ter que trabalhar em pleno feriado. No banheiro, acanhado para um aeroporto desse porte, um funcionário reclamava para outro sobre a falta de produtos de limpeza. Na esteira de bagagem, que é pequena, acumulam-se os carrinhos, tomando o espaço das pessoas. Parece que havia um monte de estagiários no free shopping, foi mais difícil do que o normal comprar as coisas, então desisti do champagne. No caixa havia um rapaz gordo, com falha nos dentes, careca e que arrastava uma das pernas ao se locomover, mas que insistia em, popularmente falando, chavecar todas as meninas que lá trabalham, incluindo a pérola de rimar meu coração que por você bate como algo que não compreendi mas que terminava em abacate, o problema é que eu estava com pressa e nem um pouco interessado na vida amorosa dele, isso sem falar que ele não tinha troco e saiu para buscar, teve que pedir um grampeador emprestado e a a moça que o emprestou disse: esse grampeador está "zoado".

      Já dentro do ônibus que me levaria ao terminal do Tietê, o motorista que estava na porta reclamava do chefe, que pune por questões pessoais e não profissionais. Na poltrona de número 5, que comprei, já havia um senhor sentado, pedi licença e ele se mudou, chegou a dona donovo lugar e ele foi sentar-se nos fundos do ônibus, imagino que no lugar correto.

      Após comprar a passagem para São Carlos eu tinha ainda cerca de 15 minutos livres e decidi escovar os dentes, logo tive que ir ao banheiro pagando RS 1,25 e passando por uma catraca apertada com toda a bagagem. O piso estava molhado e um funcionário puxava a água com um rodo. Inacreditável era a cor da água, tudo bem, sobrevivi.

     Fui para a plataforma 19 onde se deu o embarque para casa, pelo menos isso, o motorista atendia a todos com simpatia. Mas alegria de pobre dura pouco, o rapaz que se sentou ao meu lado dormia com a boca aberta e roncava. Em São Carlos, o funcionário que retirava as malas de dentro do bagageiro era lento e me fez esperar até aparecessem todos os outros passageiros, pois havia malas na frente da minha e ele não queria afastá-las, queria entregá-las, resultado, fui o segundo a sair do ônibus e o último a deixar o terminal.

      Ufa, cheguei!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Deu certo?

      Estou lendo um livro interessante. O jornalista Laurentino Gomes escreveu uma reportagem histórica sobre a independência do Brasil chamada 1822. Às vezes um pouco repetitiva, mas sem que isso tire a vontade de chegar ao fim, na capa vem o resumo: como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado. Imediatamente vem a pergunta: mas deu certo? Como o próprio autor diz, a resposta depende do ponto de vista de cada um.

      Se considerarmos um universo composto por mais de 200 países, uma economia entre as 15, com grande extensão territorial, com riquezas naturais, com quase 200 milhões de habitantes e uma democracia instalada, é de se supor que sim, deu certo, mas comparando os indicadores sociais que o coloca em uma posição em torno do sexagésimo lugar, a resposta é: quase deu certo. E quando se vê o nível de tecnologia, de desenvolvimento e investimentos que vi nesses últimos dias, a resposta é um sonoro não.

      Além disso, já escrevi aqui algumas vezes sobre a limpeza dos lugares, das ruas e das estradas, e isso choca. Conheço uma dezena de cidades americanas e algumas européias, e quando as comparo com as nossas, dá vergonha e uma certeza, não deu certo. Não se trata apenas da limpeza, mas também da organização. Temos estruturas mínimas e nossos governantes não se preocupam com a infraestrura, e o resultado é um trânsito ruim, pouca segurança, locais feios e sujos. Não estou aqui falando do país de uma de maneira geral, do norte onde se viaja de canoa, ou do agreste onde a seca, a mula e a miséria ainda comandam o ritmo de vida. Estou falando do rico interior do estado mais rico da nação. Quando vejo as nossas ruas sujas, acanhadas, sem parques, sem ciclovias, com mato nos terrenos baldios e calçadas impraticáveis para os pedestres, desanima.

      Nos últimos dias tenho andado por ruas e avenidas organizadas, limpas, arborizadas, sinalizadas e onde o trânsito flui. Mesmo assim, as obras continuam, imagino que sejam para melhorar o que já é bom, e o que dá inveja é saber que esses mesmos princípios são colocados em todas as atividades. No atendimento às pessoas, nas estruturas de informações, na organização das atividades e até nos banheiros, que mesmo estando limpos, não se vê a todo o momento aquele aparato agressivo de limpeza composto por panos, rodos e baldes e um pobre coitado se esforçando para fazer o impossível, manter limpo o local. E logo vem a pergunta, se é possível funcionar direito, porque não conseguimos fazê-lo?

      Há algum tempo, retornando de Amsterdan, sentei-me ao lado de um professor holandês que vinha ao Brasil proferir uma palestra. Ao sobrevoarmos São Paulo para aterrisarmos em Guarulhos ele sentenciou: faltam áreas verdes. Senti-me envergonhado, pois afinal temos a maior floresta tropical do mundo, algumas das maiores reservas de água doce em estado líquido e potável do planeta, além de espaço de sobra. E o que ele provavelmente ainda iria descobrir mais tarde: faltam muitas outras coisas mais, principalmente conhecimento. E conhecimento é a base de tudo, inclusive, vi hoje escrito em uma das paredes da NASA: vida na lua = material de construção + energia + suporte à vida + conhecimento, esse, em negrito.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Eu uso óculos

      Parece que foi ontem, pois a lembrança me é muito clara, mas há 10 anos, eu assistia a uma aula do professor Marcelo sobre eletromagnetismo e fazia algumas anotações no caderno, aqui vai um parênteses, eu nem sei porque eu anotava, porque depois não consigo entender a minha letra e também nunca abro o caderno para estudar, mas enfim, eu lia o que estava na lousa e anotava, mas de repente, quando olhei para o caderno ele estava completamente fora de foco. Fiz um esforço, pisquei algumas vezes e consegui focá-lo. Voltei os olhos para a lousa e foi essa quem ficou desfocada, repeti a operação, vi a lousa mas perdi o caderno, e assim fui alternando. Não achei que isso seria definitivo, mas sim porque eu estava cansado e não havia dormido direito. Doce ilusão.

      Esse problema começou a se repetir continuamente até que decidi procurar por um oftalmologista que, depois de perguntar a minha idade, para minha decepção disse que isso era normal. Perguntei-lhe se isso iria parar por aí, mas ele disse que não, que era só o primeiro estágio, pois iria piorar, e piorou. Dependendo da iluminação e do tamanho das letras, estava ficando difícil de entender. Aí vieram aquelas piadas infames, não são os olhos que estão ruins, mas os braços que estão curtos, e por aí vai...

      Resisti bravamente por mais de 5 anos, até que, também me lembro bem, pedi a conta após um jantar e não consegui entender nada. Eu estava com alguns fornecedores americanos, eu era o único brasileiro e não tinha intimidade com eles, achei chato pedir para que eles lessem a conta para mim, assinei, meio que pelo rumo, o ticket do cartão de crédito que estava em dólares. Chegando ao Brasil procurei pelo médico e peguei a primeira receita. Procurei por uma ótica e fiz o meu primeiro par de óculos como se eu estivesse escolhendo a casa da minha vida, pois parecia que ele seria para sempre, cheio das frescuras, no tamanho, na forma, na cor, no modelo e na lente. Passei a usá-lo como quem está escondendo algo, mas tinha o lado bom: as letras ficaram grandes, claras e o braço ficava dobrado.

      Tudo ia bem até que a armação quebrou. Voltei à ótica e não tinha mais aquela armação,ou seja, tive que fazer outro, e depois outro e outro e hoje tenho uma coleção. Cada um com uma aplicação e cada um com uma armação diferente. Agora o que manda é a qualidade da lente, o modelo, tamanho, cor e etc, são secundários, o que importa é o resultado, pois estou numa situação que não posso mais sair sem ter um deles comigo, e até para ver a tela da câmera fotográfica preciso deles. Como a operação de colocar e tirar lentes de contato me parecem uma operação impossível, devo admitir: eu uso óculos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A lição das urnas.

      Com o processo eleitoral parcialmente concluído podemos aprender algumas coisas. Apesar da péssima qualidade da maioria dos nossos políticos, há uma renovação em curso, e parece-me, que alguns dos novos vêm com boa qualidade. Além disso, o sistema eleitoral é eficiente, em poucas horas surge o resultado de maneira incontestável. É claro que quando se trata de hardwares e softwares há a possibilidade de fraudes, mas submetido à auditoria internacional, isenta e de maneira aleatória, é possível afirmar que o processo é seguro.

      Estão enganados aqueles que dizem que os votos no Tiririca são votos de protesto. Em minha opinião são votos da ignorância. Não há espaço e nem tempo para protesto ou brincadeira, quanto mais tempo levamos para mostrar à classe política qual é o seu exato papel, mais cara fica a nossa conta, e essa é cobrada imediatamente, pois o campeão de votos já disse, plagiando o Zagallo, que teremos que engoli-lo. Ele está certo, serão quatro anos duros de passar.

      Ao PSDB que com sua estratégia negou o legado do Fernando Henrique, cabe refletir os seus valores, pois eles não herdaram do PT o título de guardiões da ética. Eles são o que sabemos, apenas um partido político com as suas qualidade e todos os seu muitos defeitos. Mesmo sendo formado por alguns bons políticos e administradores, para governar precisam se coligar com seguimentos que antes combateram, por exemplo, o apoio do Quércia em São Paulo foi fundamental para a eleição do Aloysio, seu Senador. Também devem reconhecer que parte da população suportou a expressiva votação do PT em São Paulo e também no sul do país. Logo, eles não possuem salvo-conduto para governar à parte da população. Eles possuem apenas autorização para tomar decisões, mas serão vigiados de perto.

      A estratégia do PT de desconstruir o que o PSDB fez não deu certo. Apesar de terem elegido a Marta em São Paulo, não foi o passeio que supunham, pois ela ficou em segundo lugar assim como o Mercadante, seu candidato a governador, que ficou sem cargo, e o Serra acabou levando a eleição para o segundo turno, já que inicialmente a Marina retirou parte dos votos do PSDB, mas no final, por causa do voto útil, tirou também do PT. Assim, por mais que o PT não queira admitir, a população de São Paulo aprovou o PSDB no governo desde a administração do Mário Covas, e nem adianta o Lula dizer que o Brasil só foi descoberto depois que ele assumiu o governo. O PT deve admitir que recebeu um país em rota de crescimento e com a economia em ordem. Se eles tivessem seguido a recomendação do FHC, feita logo após ter passado a faixa presidencial, que a agenda não era mais a economia e sim a segurança, hoje o resultado seria outro e o Brasil estaria muito melhor. Até nesse episódio o Fernando Henrique nos mostrou que ele era mais que um político, ele foi sim, um estadista.

      Agora que o circo acabou e o embate será feito por apenas dois candidatos com forças equivalentes, e com iguais condições, nos cabe analisar com equilíbrio, não apenas o que eles falam, mas aquilo que é factível, e decidirmos por aquele que melhor representa nossas aspirações.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Churrasco.

   Já vi essa cena inúmeras vezes. Todo atleta de ponta ao ser flagrado na contraprova do exame antidoping culpa o mordomo e jura que irá provar a sua inocência. Depois de alguns meses o comitê a que ele responde o pune de alguma maneira e alguns voltam à ativa e até tornam-se vencedores novamente, outros caem no ostracismo e alguns são banidos do esporte. Ontem foi a vez do Alberto Contador.

      Alberto Contador Velasco é um ciclista espanhol que corre pela equipe Saxo Bank e que nesse ano conquistou pela terceira vez a Volta da França (2007, 2009 e 2010). O tour de France, como também é conhecido é a mais famosa prova do ciclismo mundial. Trata-se de uma competição por equipes disputada geralmente no mês de julho, em diversas etapas que nesse ano foram 20 e totalizou 3.641km. A duração aproximada é de três semanas tendo algumas provas de velocidade e várias outras que ocorrem nos Alpes e nos Pirineus, onde atingem mais de 2.600m de altitude. Ela é famosa pela disputa acirrada e pelo elevado grau de dificuldade. Aos abismais aclives e declives somam-se também as condições irregulares do terreno e ainda os extremos climáticos, o que faz dela uma competição a ser disputada apenas por superatletas. No ciclismo nacional, apenas o Mauro Ribeiro ganhou uma etapa em 1.991.

      É comum ouvir estórias de doping no ciclismo, e não escapa nem mesmo o supercampeão Lance Armstrong, que após passar por cirurgias para combater o câncer nos testículos e no cérebro voltou às competições e venceu a Volta da França por 7 vezes consecutivas, de 1.999 a 2005. Há apenas duas semanas alguns de seus ex-companheiros de equipes o acusavam de utilizar substâncias proibidas que aumentam o tônus muscular.

      Ontem, Contador, que não havia participado do Tour em 2006 por causa de alegação de doping num episódio conhecido como Operación Puerto, disse que se havia alguma substância irregular em seu exame, ela havia sido ingerida na carne que ele comeu antes da última etapa da competição desse ano. Como estou pedalando bastante, quero fazer um churrasco com essa carne.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Reformas

      Assim como o capitalismo é o menos pior dos sistemas econômicos, a democracia é o menos pior dos sistemas políticos, até porque, a opção a esse é o autoritarismo. A democracia pode ser considerada a ditadura da maioria, pois ela aplica a vontade, o desejo e a opinião, e não a coerência e tampouco o melhor para o povo. Basta ver o que vem ocorrendo na Venezuela e mais recentemente também com a Bolívia. Através de artifícios legais e de plebiscitos, seus mandatários impõem a sua vontade de ditadores como se tratassem de democratas.

      Nas ditaduras as consequências são sempre mais rápidas, pois as ações não necessitam de negociação, mas sim de imposição, já nas democracias autênticas os processos são lentos e em muitas das vezes tem que se encontrar um meio termo, estando sempre sujeitos a serem revistos pela justiça, e isso impede rápidas transformações. E de mudanças é o que o nosso país mais precisa. É reforma tributária, fiscal, civil, penal, política e por aí vai. No meu entendimento, a política deveria preceder as demais, pois com políticos mais coerentes os avanços seriam mais rápidos.

      Em primeiro lugar: porque somos obrigados a votar? Porque o voto não é facultativo? O voto deve ser um direito e não uma obrigação. Vota quem quer. Qual é a necessidade do título de eleitor? Porque não temos apenas um documento e esse serve para tudo, inclusive para votar?

      Para que precisamos do senado se já temos a câmara dos deputados? A ideia embutida no sistema bicameral como o nosso apregoa que os deputados representam proporcionalmente a população, já o senado representa igualmente os estados. Claro, Brasília, que nada mais é do que uma cidade e também o pujante Amapá, tem 3 senadores como o estado de São Paulo, ou seja, o mesmo número de votos em questões importantes. Quem pé mais forte? O estado que tem 25% da população e responde por quase 40% da economia nacional ou um estado que tem uma população que é 1/5 do número de eleitores do nosso estado? Além disso, como se vota em um candidato a senador e ele, passando a exercer um cargo no governo, assume a vaga um suplente que normalmente é um parente ou financiador da campanha. Já houve caso que um senador que estava como ministro e cujo suplente votaria contra uma medida do governo, destituiu-se do ministério, voltou para o senado, votou e afastou-se novamente para exercer o ministério. Absurdo. Para mim não deveria haver o senado.

      Há uma pseudo proporcionalidade na câmara dos deputados, pois existe um limite máximo por estado, assim a região sudeste, a mais populosa, tem menos força que o nordeste que tem mais estados e a população menor. A regra deveria ser algo como um deputado para cada quinhentos mil habitantes com o arredondamento para mais. Assim, com quase duzentos milhões de habitantes, seriam cerca de 400 deputados ao invés dos 513 de hoje. Os estados deveriam ser subdivididos em distritos e cada distrito elegeria também um número proporcional, e com os deputados sendo da região, a cobrança seria mais direta. Além disso, caso o deputado vá para um cargo executivo, a vaga não deveria ficar para o partido, deveria ser extinta até a próxima eleição.

      Não há nem como falar nos partidos nanicos, sem representatividade e que alugam a legenda para os maiores ou para caciques. Deve-se criar um mecanismo para que todas as correntes que desejem participem da vida pública, mas de maneira que possam ir ganhando o direito de concorrer aos pleitos de acordo com a sua representatividade. Que comecem como vereadores e depois cresçam para deputados estaduais, federais e depois para as eleições majoritárias, o que não dá é ter 40 candidatos inexpressivos a presidente. Vários desses partidos são legítimos, mas a maioria é de um bando de espertalhões cujo único projeto é enriquecer a si próprios.

      Como diz a letra de um samba de enredo popular na década de 90, sonhar não custa nada.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sobre os tiriricas e os fichas limpas.

      Podemos pautar nossas vidas pela emoção, o que imagino ser uma maneira melhor de viver do que fazê-lo apenas pela razão. O custo que se paga depende do valor que se dá a cada momento, pois ela pode tornar-se por demais sofrida ou alegre, no entanto, para regular a sociedade, a razão deve prevalecer, ainda que para isso seja necessário tomar medidas antipáticas, e nessa semana dois casos chamaram a minha atenção como veremos a seguir.

      Mesmo perdendo três eleições seguidas e ganhando duas consecutivas, o nosso presidente não desceu do palanque para exercer a função para a qual foi autorizado pelo povo, e por isso não teve tempo nem capacidade para nomear o ministro do Supremo Tribunal Federal em substituição a um que se aposentou, o que gerou a notícia dessa semana: empate em 5x5 sobre a aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições desse ano. Houvesse ele feito a nomeação, o empate não seria provável, logo vocês podem imaginar a quem imputo a culpa, mas como o estrago está feito, podemos tirar algumas lições do caso.

      Imagino que a maioria da população apóie a aplicação da lei ainda esse ano, eu inclusive, mas trata-se de um regulamento que foi aprovado quando o processo eleitoral estava em curso, logo, sua validade está sujeita a interpretação, pois ninguém discute a sua aplicação para 2012, mas sim para o atual pleito, e por isso a discussão do mérito foi levada ao órgão máximo da magistratura que tem competência legal para julgar a sua constitucionalidade, assim, gostemos ou não, a decisão deve ser acatada, pois creio que as senhoras e os senhores, ministros do tribunal, têm capacidade técnica para decidir. O fato gerador da ação foi a eleição ao governo do Distrito Federal, onde um ex governador e atual candidato, enrolado com a justiça, recorreu da decisão do Tribunal Regional Eleitoral, mas para não ficar sujeito à decisão, para ele inesperada, resolveu sua situação argentinamente (vejam o caso dos Peróns e dos Kirchners), renunciou à sua candidatura em favor da sua esposa. Ainda bem que não deram essa ideia ao nosso presidente, do contrário, seria candidata a dona Marisa, não a senhora Dilma.

      Ontem postei o link da reportagem da Revista Época que denuncia uma suposta irregularidade no registro da candidatura do Tiririca, pois ele seria analfabeto. Li diversos comentários sobre isso, tanto a favor quanto contra, e o que chamou a minha atenção foram alguns que contém o seguinte teor: mensaleiros, aloprados, sanguessugas e corruptos de toda espécie podem se candidatar, já um humilde, honesto, trabalhador, ainda que folclórico, não pode. Não concordo, mas até que encontro alguma razão, pois o caráter da pessoa é o mais importante, e não saber ler ou escrever é um detalhe, pois se ele estiver bem assessorado não irá cometer barbaridades. Em outro nível podemos dizer que nosso presidente é analfabeto em idiomas estrangeiros, mas a sua assessoria faz com que ele disponha de todas as ferramentas para avalizar os acordos internacionais. No entanto, trata-se aqui também de uma questão técnica, e preconiza a lei vigente que analfabeto não pode se candidatar, e se for constato ser esse o seu estado, a candidatura deve sim ser impugnada.

      Embora todos os holofotes estejam nas eleições majoritárias, são as proporcionais as mais importantes, porque aguentar um administrador ruim por quatro anos é possível, mas ter que viver sob um deficiente sistema jurídico tem um custo muito mais alto. Se quisermos uma sociedade melhor, devemos saber escolher aqueles que farão as nossas leis.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O verde amarelou.

      Como diria um conhecido político profissional e presidente de plantão, nunca antes nesse país houve um início de primavera tão seco. Sem irrigação artificial não há em nossa região pastos, gramados ou jardins verdes, estão todos completamente desidratados. O fogo arde por todos os lados e rios da Amazônia estão desaparecendo. Aqui na região voltei a ver fogo nas laterais das pistas em quantidade, coisa que há muito tempo eu não via. O verde se tornou amarelo ou preto.

      Ver o verde Palmeiras amarelar não é novidade, ocorre com mais frequência do que a mudança de lua, e espero que continue assim até que o sol desapareça, daqui a uns 6 bilhões de anos.

      Não sou índio, xiita ou abraçador de árvores, mas considero ser, o Partido Verde, muito importante em nossa política. Apesar de seu radicalismo atrasado em algumas questões, seu contraponto é importante para equilibrar as forças legislativas. O seu ativismo e capacidade de mobilização da juventude e de organizações não governamentais locais e internacionais são capazes de reduzir o impacto das facções desenvolvimentistas irresponsáveis.

      Não pretendo, em nome do conservacionismo, voltar a viver no período da pedra lascada pois gosto de conforto e não abro mão do desenvolvimento tecnológico, e por isso sei que as nossas academias e empresas de pesquisa têm condições de responder com desenvolvimentos que, apesar da superpopulação do planeta, possam minimizar em um primeiro momento a agressão à natureza, e depois reverter vários processos, assim como ocorreu com o rio Potomac em Washington DC, que de tão poluído pegou fogo e hoje é novamente um rio de águas limpas. Se o sabão polui a água, muda-se para o biodegradável, se a energia provinda de fontes fósseis produz derivados tóxicos, cria-se energia de células de hidrogênio, se o plástico ou polietileno não se degradam facilmente, substitui-se por polímeros derivados de material orgânico como a cana de açúcar, se for necessário cortar 100 árvores aqui, planta-se 10.000 acolá, e assim por diante, solução tem, basta pagar por ela. Dinheiro para isso também tem, mas é necessário que a sociedade queira que isso seja feito, porque aqueles que lucram com os processos atuais não irão largar o osso, a não ser que sejam legalmente obrigados. O problema, portanto, é criar a legislação adequada, e é aqui que entra o nosso glorioso PV.

      Em nome de uma ilusão executiva foi decretada a morte temporária do partido, e não importa que eu venha a votar no seu candidato ao senado e também a deputado estadual, os melhores quadros do partido, e que são os únicos que têm possibilidade de agregar, em profusão, votos legislativos à legenda, estão se arvorando numa empreitada inútil, pois além de não ganharem as eleições majoritárias, irão destruir a sua força proporcional. E mesmo que remotamente tivessem a possibilidade de se elegerem aos postos executivos, não conseguiriam governar, pois pelo modelo presidencialista proporcional que temos nenhum partido consegue governar sozinho, e o único que têm militantes é o PT. Assim, o Collor, que foi um fenômeno de votos e se elegeu por um partido nanico, foi apeado do governo pela Folha de São Paulo e a revista Veja que denunciaram as irregularidades, e pelo PT, que naquela época não era tão mobilizado, não tinha tanto dinheiro, e nem estava incrustado no aparato estatal como hoje, e que colocou o bloco na rua e criou a indignação geral. E olhe que o tal escândalo da era Collor era da ordem de 5 milhões de dólares de um empréstimo fajuto chamado operação Urugai, de uma reforma na casa da Dinda e de um Fiat Elba, ou seja, dinheiro de troco perto dos escândalos atuais.

      Não importa qual partido seja, para governar tem que vender a alma ao diabo, ainda mais o PV que nem mesmo tem sustentação própria. Se ao invés de se aventurar na corrida presidencial a Senadora Marina tivesse mudado o seu domicílio eleitoral para São Paulo, seria a senadora mais votada do país com capacidade para exercer a liderança no senado. O Fernando Gabeira, no Rio, também ganharia, aumentando a capacidade de articulação e pressão, isso sem falar nos deputados federais, como o Fábio Feldman, que é candidato sem votos a governador de São Paulo, mas que se elege facilmente para deputado e ainda arrasta mais alguns, ou seja, abriram mão da real possibilidade por um sonho inútil, e perdemos todos nós.

      Por erro de estratégia o Partido Verde vai tornar-se tão irrelevante quanto a grama seca, mas espero que, como essa, tenha forças para, voltando as chuvas, reviver.