O Brasil já foi colônia e reino unido, e após a
independência, monarquia. Vivemos hoje o mais longevo período de democracia
desde que em 1.889 o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a república. Foram
muitos governos, golpes e regimes de exceção, e por mais que com razão reclamemos
dos nossos políticos, pior do que um congresso ruim é a falta dele.
É anormal a nossa normalidade. Não se compara a outras
nações. Os regimes militares da década de 60 do século passado na Argentina e
Chile foram muito mais sanguinários e a transição para a democracia no Brasil
não foi feita com ruptura abrupta, mas com lenta distensão, muito mais branda.
Os militares, com o apoio dos americanos sequestraram,
torturaram e mataram. Cerca de mil pessoas foram mortas para que se mantivesse
o regime capitalista e diversas dessas vítimas continuam desaparecidas. Houve
também ações de guerrilha urbana e rural, com assalto a bancos e enfrentamentos
armados, esparsos e isolados. Alguns enfrentaram o militarismo para restaurar a
democracia, mas a maioria das organizações desejava mesmo tomar o poder para a
implantação do comunismo, que, como sabemos é, por natureza, autoritário, e o
número de vítimas causadas pelas esquerdas brasileiras foi infinitamente menor
que as produzidas pelo estado.
No último governo militar foi proposta a Lei da Anistia que acabou
sendo promulgada em 1.979 e beneficiou os agentes dos dois lados, como se dizia
naquela época, foi ampla, geral e irrestrita. Recentemente houve o
questionamento ao STF se torturadores poderiam perder o benefício, e em 2.010,
por sete votos a dois a anistia foi mantida a todos.
Com a finalidade de “ apurar graves violações de direitos
humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1.946 e 5 de outubro de 1.988” foi
criada em 2.010 a Comissão Nacional da Verdade (CNV) que foi empossada somente
em 2.012. A Comissão da Verdade, como ficou conhecida, tem reunido documentos e
entrevistados os atores daquele período mas não tem caráter punitivo, apenas
elucidativo. Há os que torcem para que tudo fique como está e o resultado seja
apenas um livro, porém há muito mais gente interessada em rever a Lei da
Anistia e punir os culpados, principalmente os agentes do estado.
Muitas das famílias das vítimas da ditadura recebem uma
indenização pecuniária, que eu diria simbólica, pelas perdas, mas o que se quer
mesmo é justiça. As pessoas têm o direito de saber o que houve com seus
familiares e espera-se que o estado, que não pode ser punido, se desculpe pelos
crimes. O que não deve se esperar é revanche ou vingança, pois isso nada de
positivo acrescentaria ao país e à sua população.