Não sou referência para nada e muito menos quando o assunto é paladar, pois nem mesmo sei dizer qual é a comida de que mais gosto, quando muito consigo enumerar as que prefiro não comer. Das comuns, fígado e giló, das exóticas, prefiro nem falar, mas não gosto de me arriscar, testar sabores, enfim, prefiro a certeza do que a proeza. No entanto, vendo o quanto as pessoas gostam de preparar, de comer, de comentar, de postar fotos, pensei um pouco e resolvi enumerar algumas boas lembranças.
A mais antiga foi um castigo que recebi; eu não tinha 5 anos quando minha mãe fez curau e eu queria comer ainda quente, ela mão deixou e fiquei enchendo a paciência. Meu pai chegou em casa e resolveu o problema: me deu um pouco e quando acabei ele perguntou se eu queria mais, sim, ele repetiu a dose, e ao final perguntou novamente, eu não quiz, mas ele colocou mais no prato e me fez comer. Fui até certo ponto e comecei a chorar, chorar muito... Hoje prefiro pamonha a curau.
Depois dessa me lembrei da casa vizinha, uma família tão pobre quanto a nossa, mas eles eram em maior número, logo, sobrava menos para cada um, mas a dona Rute fazia uma sopa de feijão com macarrão que eu sempre comia. Nem me lembro se era tão boa assim, mas eu nunca a dispensava.
Se tem uma comida que lembra a casa dos meus pais é o kibe cru. Moía-se o trigo úmido com a carne crua e os temperos vários vezes em máquina manual. Era sempre servido com muita cebola e hortelã.
Já maiorzinho, na pré-adolescência, quando passava as férias em São Paulo, meu tio nos levava a alguns bares na Penha que às quartas-feiras servia feijoada. Arroz branco, couve refogada, laranja de sobremesa e feijoada em cumbuca de barro que chegava fumegando à mesa.
Também nessa época, quando lutava judô eu tinha um amigo rico que morava perto de casa e em muitas das vezes eu voltava de carona com a pai dele, que na época tinha um Dodge Charger RT, o bólido esportivo daqueles tempos. Em uma dessas vezes fui convidado para ir até a casa dele onde havia, não sei por qual motivo, pois era uma noite de um dia útil, um churrasco, e me foi dada uma bisteca, grossa e mal passada. Te juro, nunca comi uma carne tão boa em toda a minha vida…
Já morando em Campinas não posso me esquecer da lasanha que era servida no Macarronada Italiana que ficava em frente ao largo do Pará. Eram porções individuais em formas de barro, e o queijo vinha borbulhando. Havia também um risoto de camarão servido no Supermercado Eldorado que para mim era imperdível.
Em umas férias em Ubatuba, no restaurante do próprio hotel nos servimos de uma lagosta ao Thermidor, para mim, até hoje, inigualável.
Por tendências carnívoras e animalescas, teve uma época em que a minha preferência era Filet a Chateaubriand, mas não tinha um restaurante específico. Se tivesse no cardápio eu não ficava procurando por outro prato, e por ser mal passado é rápido para ser servido.
No exterior, em várias cidades experimentei o New York Strip Steak, rare, isso é, mal passado, o acompanhamento varia, mas a carne é sempre boa. Se aparecer no cardápio, acabou a minha dúvida, vou na certeza.
A estação rodoviária de São Carlos fica praticamente no centro da cidade e há um pequeno estacionamento público ao lado que era comandado por flanelinhas. Quando eu precisava ir até lá eu preferia estacionar o carro nas ruas laterais e caminha um pouco. Certa vez fui buscar alguém na rodoviária por volta do meio dia. Estacionei o carro a uns 80m de distância e fui caminhando. Na esquina havia um bar que servia refeições, entre elas o famoso Prato Feito, PF para os íntimos. Ao passar por ali vi ser servido um pratão, com um bife acebolado, com muita cebola dourada e com um cheiro maravilhoso. Nunca comi lá e não sei dizer se o sabor condizia com o cheiro, mas a lembrança é muito boa.
Em casa, o prato que nunca encontrei melhor em nenhum lugar e que é um dos que mais aprecio é o inhoque de batatas à bolonhesa ou mesmo com molho de queijos. Tanto faz. Também em casa há muito tempo passamos a comer arroz integral e hoje esse é a nossa preferência, mas só o que é preparado pela Nega, pois em nenhum outro lugar ele fica tão bom.
Tem gente que odeia e é sempre motivo de piadas na internet, mas gosto de maionese de legumes com maçã e uva passas, aliás sempre gostei de comer frutas com comida, banana, abacaxi, manga, pêssego, figo…enfim, para mim, bota lá que eu como.
Não me apetece comidas muito secas, por isso quase sempre passo longe da farinha, mas pode misturar óleo de dendê e leite de coco que não perco tempo, assim, uma moqueca é sempre bem vinda. Mas não me venha com essa conversa de moqueca de ovo, coloque camarão ou pelo menos uma pescada amarela.
Sim, mesmo sem saber exatamente o que prefiro ou sem me dispor a ir a determinado restaurante por causa da comida, sou capaz de enumerar diversas boas experiências que tive, mas sempre durante as refeições me lembro que a parte mais gostosa é a Coca Cola, o puro suco natural do genuíno fruto do capitalismo…que pobreza!