Fazia muito que eu estava acordado e não eram ainda seis da manhã em São Carlos. A Nega dormia ao meu lado em um hotel simples mas bem equipado. Ao invés do barulho do televisor preferi ler as mensagens e acessar a web até que ela acordasse. Às sete tomamos café e exagerei no carboidrato pois sabia que o dia seria longo e as refeições irregulares. Após me barbear, tomar banho e arrumar as malas deixamos o hotel para nos encontrar com nossa filha, genro e neto.
Romeo dormindo em meu colo.
Entre conversas e planos recebemos a visita de uma amiga que há um ano eu gostaria de ver. Foi rápido, mas acalentador, pois é bom saber que ela está bem. Às dez da manhã e após ter tomado banho, o neto, de uma semana, se pôs a chorar e parou no colo do avô babão, que andava feito tonto pela casa e conversava com ele assistindo àqueles olhinhos admirados. Foram quarenta e cinco minutos curtos e com os três quilos mais leves que há tanto tempo eu não carregava. Chegou nova visita, uma família de amigos que já são de casa. O meu prazo se esgotou. É hora de ir para a rodoviária, não sem antes me lamentar pelas despedidas.
Com cinco minutos de atraso chegou o ônibus, novo, limpo, refrigerado e confortável. Veio cheio de estudantes, principalmente garotas que dormiam esparramadas pelas poltronas. Como é linda a juventude, e seria mais ainda se não se excedesse nas bebidas alcoólicas. A parada de vinte minutos é mais do que suficiente para uma alimentação de bom sabor e baixa qualidade. Mas o posto, assim como atestei na ida, quanta diferença com os da realidade da Bahia. Grande, limpo, decorado, confortável, refrigerado, com muita opção, inclusive de comida saudável, onde o wifi funciona, o 3G funciona, e sob a marquise de 80m x 5m não se fuma. Apesar de ser dia de retorno do feriado prolongado o movimento foi tranquilo e as estradas, Washington Luis, Anhanguera e Bandeirantes são boas.
Aproveito o conforto e o tempo para ler Dostoiévski enquanto ouço uma sequência em ordem alfabética das quase mil músicas armazenadas no telefone. Entre estrangeiras e nacionais comecei onde havia parado, na letra I e terminei na M, muito antes de Metamorfose Ambulante, do baiano Raul Seixas. A chegada a São Paulo foi com chuva e trânsito bom. Tudo muito rápido no Terminal Rodoviário do Tietê, por onde o Brasil inteiro passa. Só dá para ficar contrariado com o preço do taxi, R$ 120,00 para ir até o aeroporto de Guarulhos. Há outras opções, mas para não perder tempo, é melhor pagar. Sem problemas cheguei à sala de embarque com uma hora de antecedência o que me fez ler um pouco mais. Os terminais 1 e 2 foram ampliados, remodelados e não estão dos piores, mas falta sinalização, escadas rolantes e fingers, pois ainda há embarques em que se toma um ônibus para se chegar até o avião. Como não ia ter janta em casa, tive que morrer com o preço elevado da comida ruim daqui mesmo.
Área de embarque doméstico do aeroporto de Guarulhos.
Quando você for de São Paulo a Salvador aconselho a pegar uma poltrona na janela do lado direito. Durante o dia e mesmo à noite, a chegada é bonita. O sobrevoo na Ilha de Itaparica, em grande extensão da Bahia de Todos Os Santos, a vista do Farol da Barra, da orla, da via Paralela são de se admirar. Durante o dia, se olhar bem vai aparecer muita coisa feia, mas a parte bonita se sobressai. O estacionamento contíguo ao aeroporto de Salvador é prático, mas além de ruim é caro, nunca vi um atendimento tão ruim. Ali não se faz jus à fama de ser, o povo baiano, acolhedor. Das muitas dezenas de vezes que passei por lá em apenas uma a atendente me cumprimentou. Dessa vez utilizei um estacionamento mais distante por ser mais barato, mas que disponibiliza um serviço de van para os clientes. Não é tão prático, mas para estadias mais longas o preço compensa o desconforto. A via de saída da área do aeroporto sob os arcos de bambus é particularmente bonita durante o dia e até mesmo à noite tem seu charme.
Tempo bom, trânsito tranquilo e rapidamente cheguei à nossa casa para rever e conversar com nosso filho. Saber e contar as novidades, jogar um pouco de conversa fora, ler as mensagens e dormir cedo para acordar cedo que amanhã é dia de voltar a trabalhar, e trabalhar muito. No próximo dia cinco completarei um ano trabalhando em Salvador e essa foi a primeira vez que deixei de trabalhar por quatro dias seguidos. Por várias pessoas eu faria isso, mas dessa vez foi especial, foi pela filha e pelo neto. Chego ao final do dia cansado, já com saudade mas muito feliz.