sábado, 31 de dezembro de 2011

O Meu 2011.


      Mais um ano do qual não tenho muito a reclamar mas tenho muito que agradecer. Não estou acostumado a ficar tanto tempo sem comemorar um título significativo do SPFC, mas não foi dessa vez. Um querido tio de 72 anos teve diagnosticado um problema de saúde que está sendo tratado, e uma cunhada teve infarto mas já se recuperou. Em agosto tomei um susto quando a minha filha sofreu um acidente de trânsito na rodovia, mas não passou disso, um susto, e de mais grave, só isso. Aborrecimentos, sim, tive alguns, mas fazem parte da convivência, da profissão, e do dia-a-dia, servem até mesmo de referência para medir o quanto a vida me deu de bom.

      Em termos de família temos avançado, cada vez mais unidos, maduros e fazendo planos. Em 2012 minha filha terá uma clínica só dela, minha esposa continuará com os trabalhos voluntários e meu filho está cada vez mais próximo da gente. Através de uma rede social fui encontrado por um amigo que há muito não tínhamos contato mas que foi determinante em minha formação. O considero como sendo um dos meus primeiros bons professores. Foi com aquela turma, e principalmente com ele, que tomei gosto pela leitura e conheci alguns autores clássicos de filosofia, religião e história. E o melhor de tudo é que pude dizer isso a ele. Como trabalho com tecnologia tenho uma ideia de como essas coisas funcionam, mas fiquei encantado por ter conversado e visto a imagem ao vivo de uma amiga que estava em um navio russo de pesquisas próximo do polo norte e eu no sofá de casa. Incrível.

      Profissionalmente foi um ano produtivo. Em gestão melhorei alguns resultados que não havia alcançado em 2010 e fizemos muita coisa, inclusive criando alguns postos de trabalho. Nem tudo andou na velocidade que eu gostaria, mas dentro das possibilidades, até que fomos bem e cumprimos as metas estabelecidas. Há mais cidades recebendo o sinal digital e outras com a instalação pronta aguardando apenas pelas autorizações. Por atraso no fornecimento de equipamentos não conseguimos iniciar as produções em alta definição, mas as instalações estão preparadas e em poucos dias isso ocorrerá. Devo tudo isso à excepcional equipe com a qual trabalho. É assim mesmo, eles trabalham e eu levo a fama.

      Como esperado, passadas as eleições a economia piorou e o governo vagueia entre pagar as contas e se manter no poder. O povinho corrupto esse brasileiro! Quanta roubalheira, pouca vergonha, desfaçatez. Não é justo que gente honesta e trabalhadora se faça de joguete na mão desses cínicos travestidos de autoridades, e o pior, não há solução fácil, indolor ou rápida. Nesse quesito temos que nos lembrar do título do filme: À Espera de Um Milagre.

      Estive nos Estados Unidos duas vezes. Na primeira para trabalhar mas tirei alguns dias para me distrair. Voltei à Nova York onde fiz compras e visitei museus, como o imperdível Metropolitan, e em Washington fui ao Aeroespacial, História Natural, da Espionagem e ao aquário, além de ter ido a alguns memoriais, ao Capitólio e à Casa Branca. No Arizona fui ao Grand Canyon e à usina Rover Dam e em Nevada, a Las Vegas, onde assisti a 3 shows, incluindo o Cirque De Soleil: Viva Elvis, e o Rei Leão. A esse último eu não teria ido a não ser, como diz a música: O que a gente não faz por amor! Pois fui com a minha esposa e ela queria muito. Nessa viagem passamos 10 dias juntos e sem brigar. Divertimo-nos bastante, foi excelente.

      Do ponto de vista físico me saí muito bem.  Preparei-me como planejei e em setembro com dois amigos percorri os 540km do Caminho da Fé em apenas 4,5 dias. Senti orgulho em conseguir sprints de mais de 20km a mais de 20 km/h com mountain bike em estrada de terra depois de ter percorrido mais de 100km com muita subida. A resposta do meu corpo foi fantástica. Como preparação andei muito, e só em agosto pedalei mais de 1200km. Saia para pedalar às 6 da manhã mesmo com chuva e frio, ou mesmo com muito frio, mas deu resultado. Fiquei mais forte, mais resistente e com menos gordura no corpo. Como valeu muito a pena, terá mais no próximo ano. Estou editando para contar um fato que ocorreu no dia 13 de agosto. O Rodrigo, o Alex e eu estávamos treinando para o Caminho da Fé e fomos de São Carlos aVargem Grande para nos testarmos. Entre Tambaú e Casa Branca, em um trecho de asfalto com forte descida formou-se um redemoinho com uns 10m de diâmetro. Imagino que o vento estava a uns 60km por hora e não tivemos opção. Passamos pelo seu interior. Ao entrar a bicicleta foi deslocada lateralmente, freio bruscamente e no lado oposto foi deslocado para o lado oposto. Havia muita poeira, folhas e galhos rodando em torno da gente. Foi uma sensação indescritível.

      Ainda não consegui uma boa desculpa ou uma boa maneira para voltar a cursar algo sério, que faça diferença em minha vida, e isso está me fazendo falta, mas com os planos que tenho estou impossibilitado de levar isso adiante. Esse tema será recorrente até que eu o encare de frente, e falando nisso, também não estou satisfeito com a minha escrita. Preciso urgentemente de alguém que me ensine a escrever. Já vi que posso relatar, mas não sei escrever, e como não tenho talento preciso de técnica, e como não gosto de estudar, mas apenas de aprender, vou ter que cair na mão de alguém. Também não estou estudando inglês ou espanhol, mas estou querendo aprender um pouco de russo.

      Essa é a minha maneira. Confusa? Misturada? Sim, mas está dando certo. Que venha 2012.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Para Quem Não Tem Tempo.


      A morte é a única certeza da vida. Depende! Para os católicos há a ressurreição, para os espíritas há a reencarnação, quanto a outras religiões, seitas ou filosofias não sei o que pensam, e para os céticos, a imortalidade humana está na transmissão genética. Quanto a vida do indivíduo do nosso estado, aqui e agora, o Censo 2010 (IBGE) diz que a expectativa é de 74,8 anos e poderia ser maior não fossem as causas externas de morte como as que ocorrem por armas e por acidentes de trânsito que vitimam principalmente homens jovens, e fazendo as contas ainda tenho um pouco mais de 20 anos para gastar, e vou fazê-lo.

      Praticar atividades físicas requer disponibilidade e determinação, e como as demandas da minha família são as de uma família adulta tenho a possibilidade de reservar algum tempo para mim, e determinação nunca me faltou. Tenho um projeto para pedalar bem em julho de 2013, ou seja, a partir de agora terei 18 meses para me preparar, assim, como sempre, vou estabelecer metas e pretendo cumpri-las. O próximo ano terá 366 dias que correspondem a 52 semanas completas o que é tempo suficiente para uma boa preparação. Vejamos.

      Eu gosto de correr e o resultado cardiorrespiratório de uma corrida equivale a cerca de três ou quatro vezes o mesmo tempo pedalando. Ocorre que o meu joelho direito reclama muito, mas acredito que eu consiga manter uma corrida leve em esteira onde o impacto é reduzido, assim a marca de 200km me parece factível, pois como a minha velocidade normal é de 10 km/h, preciso correr só meia hora uma vez por semana durante 40 semanas.  Ainda assim terei 3 meses de folga.
Vou caminhar 300 km no próximo ano e não será tão difícil. Eu moro a 3,5 km do meu trabalho, e se em um dia da semana eu for a pé, em 43 semanas terei cumprido o meu objetivo, e para isso gasto cerca de 40 minutos para ir e 30 minutos para voltar. Quando me dirijo ao trabalho vou mais devagar para não chegar suado.

      Também quero melhorar o meu desempenho em subidas e para isso farei spinning na academia do clube, no mínimo uma hora por semana durante umas 45 semanas. O que também não é tão difícil. Aqui pode ser que eu exceda um pouco, mas o mínimo está garantido.

      Para equilibrar a musculatura e tornar-me mais resistente continuarei com os treinos de força, esses continuarão sendo 2 horas por semana num total de 90 vezes. Isso é fácil, pois terei uma folga da academia de quase 2 meses completos. Faço esses exercícios com prazer.

      E o principal: vou pedalar. Um profissional de primeiríssimo nível chega a pedalar cerca de 25.000 km por ano. Os tops brasileiros cerca de 15.000, e farei uma fração disso, vou me contentar com 8.000km, o que corresponde a pedalar 800 km por mês, durante 10 meses, o que equivale a 32 km por dia pedalando 25 dias por mês. Para esse percurso com dificuldade leve e de mountain bike levo cerca de 1:30h, com a speed 1:10h.

Treinando no Swiss Park    

      Resumindo, são: 20 horas de corrida, 50 horas de caminhada, 45 horas de spinning, 90 horas de musculação e 375 horas de bicicleta, totalizando 580 horas de exercícios e parece muito, mas o ano terá 8.784 horas, ou seja, estarei investindo em meu maior patrimônio, que é a minha saúde, cerca de 6,6% do meu tempo e acho que vale a pena. Dá para encarar?


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Vencedor.


      Era a crônica de uma tragédia anunciada. Quem assistiu à final do campeonato mundial de futebol organizado pela FIFA no último domingo viu a superioridade técnica da equipe do Barcelona sobre a do Santos, sim o Santos de Pelé. Mas não somos o país do futebol? Os únicos pentacampeões mundiais? Não temos o mais difícil campeonato nacional do planeta? Tudo isso é correto, mas só a fama não resolve os nossos problemas, pois não temos a cultura de vencedores, nos sentimos mais gratificados com o esforço do que com a vitória, afinal somos latinos, emotivos e malevolentes. Já o esporte é razão e resultado e que premia somente os melhores.

      Também é lugar comum dizer que não existe almoço grátis e no esporte não é diferente. Não se chega a um resultado expressivo sem talento, técnica apurada e muito trabalho. Talento temos de sobra, mas são poucas as opções onde se cultiva a boa técnica e é principalmente com relação ao trabalho que temos a maior dificuldade, pois nossa cultura é a da autopiedade.

      No futebol são incontáveis os casos dos atletas que fogem das concentrações, que chegam atrasados aos treinos e que não aceitam a reserva. Como a cobrança da torcida é imediata troca-se o técnico, pois é mais fácil e barato trocar um do que vários, além do que, o técnico é um empregado, já os jogadores são parte do patrimônio do clube, e assim o trabalho não tem continuidade. Somando-se a desorganização de calendário, horários inadequados dos jogos e a política extracampo, além do excesso de jogos, ingressos pouco acessíveis, estádios com infraestrutura precária, dificuldade de acesso e a violência gratuita, temos a receita do fracasso.

      A maior parte dos esportistas não possui estrutura suficiente para lidar com a fama e com a riqueza, e em muitas das vezes ao final da curta carreira onde ganharam rios de dinheiro e os despejaram em cachoeiras de bebidas e drogas entre outros excessos, se vêm falidos.

      São poucos os clubes que investem seriamente nas categorias de base de maneira profissional buscando a formação integral do atleta e do cidadão. E com uma legislação permissiva os atletas ainda garotos são cooptados pelos chamados agentes que passam a representá-los e os vendem a clubes que não investiram em sua formação, trazendo prejuízos para os primeiros. Os garotos sem a formação adequada ao invés de treinar fundamentos e se prepararem para uma vida profissional, se deslumbram com a fama e a moda.

      Ainda que de família melhor estruturada e ter sido formado por uma das boas instituições brasileiras e possuindo também consultoria de imagem, o maior talento do Santos, um fenômeno jogando bola e fazendo marketing, usa brincos grandes e brilhantes, bonés e roupas de marcas ostensivas e consagradas, cabelo ridiculamente cortado e pintado, e sempre aberto a aparecer e a ostentar de maneira inconsequente, tanto que aos 19 anos já é pai. Já o argentino, craque do Barcelona, e que deve ganhar pela terceira vez consecutiva o premio da FIFA de melhor jogador do mundo é apenas 5 anos mais velho, é igualmente talentoso, muito mais rico, porém recluso e circunspecto, e ao invés de aprender dancinhas, aprendeu a ser vencedor.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Quem Pode Nos Salvar?


      Assistimos novamente à agonia de um ministro caindo em desgraça, defenestrado pela imprensa, cozido pelo governo, abandonado pelos pares e que depois da queda saiu atirando. Atirando a esmo, pois credita a culpa não aos próprios desvios morais, mas àqueles que os denunciaram. Esse filme é tão antigo quanto a corrupção que solapa os cofres públicos, humilha os contribuintes e desassiste a sociedade que é carente dos serviços básicos: educação saúde, segurança e infraestrutura.

      O professor Sérgio Buarque de Holanda em sua obra de 1936, Raízes do Brasil, já descrevia o espírito cordial do brasileiro que pensa e faz tudo a partir da afetividade não distinguindo o público do privado. Daí para a impunidade foi um pulo. Todas as condutas amorais vistas hoje recebem o eufemismo de malfeito, de maneira que uma vez destituídos seus autores, as acusações cessem e não sejam dados prosseguimentos às investigações, pois não são crimes, são apenas malfeitos.

      O nosso modelo político está esgotado. O tal presidencialismo de coalizão se transformou em balcão de negócios partidários e personalistas que enche as burras dos próprios políticos e respectivas legendas. Em nome da governabilidade que traduzido para a linguagem comum significa apenas apoio irrestrito aos projetos de interesse do governo, os ministérios, secretarias e autarquia estão sendo sistematicamente entregues à chamada base aliada sem que dela seja cobrada eficiência e parcimônia, o que equivale a delegar o galinheiro à raposa . É impossível ser eficiente quando se conta com uma estrutura de primeiro escalão composta por quase 40 ministérios e cerca de 22.000 funcionários comissionados, e já se fala em 25.000. Estrutura criticada pela própria coordenação da Câmara de Gestão, Desempenho e Competitividade, órgão ligado à Casa Civil da Presidência da República.

      Como tudo que é ruim pode piorar os desmandos não são exclusividades do poder executivo, impregnam, e como, o poder judiciário e principalmente o legislativo. O compadrio e espírito de corpo permitem que até corrupção flagrante, denunciada, gravada e exibida em horário nobre por redes nacionais não seja considerada desvio de conduta, portanto não passível de punição ou perda de mandato, ou seja, liberou geral. Em menores montantes mas em maior quantidade a corrupção e a permissividade se espalham para os poderes estaduais e municipais onde os favorecidos zombam dos infelizes cidadãos.

      Perdeu-se a noção de que os governantes são servidores do público e não são servidos pelo público, logo a função de fiscalização que deles se esperava foi para o ralo vindo a ser assumida pela imprensa. Mal cai um administrador e um órgão da imprensa descobre a ponta de um fio, outros jornalistas desenrolam o novelo e pronto, já tem uma nova autoridade na capsula, pronta para ser detonada. Ainda que estejamos sujeitos a todos os males pelo menos a nossa incipiente democracia deixou a imprensa livre e que atualmente tem prestado bons serviços, ainda que o partido no governo assim não o deseje.

      Se esse é o exemplo propalado por nossas principais autoridades o que se pode esperar dos nossos jovens educandos? Como não podemos esperar ajuda dos superherois das estórias em quadrinhos só resta uma pergunta: quem pode nos salvar?

sábado, 3 de dezembro de 2011

A Palavra Dada


      Não foi por causa do santo que chamei de Santo Antônio e depois fui informado que era São Francisco, e muito menos pela qualidade do trabalho, mas já senti esse impulso algumas vezes. Não sou indeciso e tomar decisões faz parte do meu dia-a-dia, mas às vezes, não sei bem o por quê, fico adiando alguma coisa. Vejo, revejo e não faço nada até que em dado momento algo acontece e dou sequência. Por outro lado, também não sei por qual motivo, tomei uma atitude por puro impulso como já o fiz em outras ocasiões.

      Eu já o tinha visto há alguns meses e ontem, com tempo escasso, o vi em uma esquina da Carlos Botelho, fiquei mirando-o, mas segui meu caminho. Hoje levantei-me cedo e fui a academia. Ao terminar a minha sessão voltei à minha casa porque eu havia esquecido o monitor cardíaco e eu precisava dele para ir a academia do clube onde pedalei numa bicicleta de spinning e corri na esteira. Na saída fiz o meu recadastramento e estava voltando para casa quando resolvi mudar de direção e ir até a loja de bicicletas. Virei na Quinze de novembro e o encontrei em uma esquina. Lá estava um humilde senhor, artesão vendendo estátuas de santos feitas em madeiras.

      Voltei, olhei as estátuas e resolvi comprar uma, mas eu estava sem carteira, sem dinheiro e nem tinha como carregá-la na bicicleta. Conversei com ele, que me disse que talvez ficasse até amanhã se ainda tivesse estátua para vender e ele me fez uma proposta pois estava sem dinheiro. Abaixou o preço, ofereceu para dividir o valor em duas vezes e ainda queria trazê-la a em minha casa. Aceitei apenas o desconto e falei que eu poderia voltar em uma hora e meia. Mas ele ficou preocupado, pois a estátua que escolhi era a última e poderia aparecer alguém para comprá-la. Aqui se deu o impasse e o principal dessa narrativa, o valor da palavra dada.

      Minha preocupação não foi com relação à estátua pois nem sei o por que de estar comprando, mas principalmente com relação ao senhor. E se eu não aparecesse e ele perdesse a venda? Eu disse a ele: voltarei em meia hora com o dinheiro e levarei a estátua. Deixei de ir à loja de bicicletas e voltei para casa, tomei banho, saí de carro, passei no banco e voltei àquela esquina onde ele me esperava. Comprei a estátua e queria tirar uma foto dele, mas esqueci o telefone em casa, então fiz algumas perguntas. Ele tem 70 anos completados no dia 18 de novembro, se chama Sebastião. Faz estátuas há muito tempo e sobrevive disso. Mora no sul de Minas e vem para cá conforme sua palavra em 3: ele, o amigo, que também é artesão mas irá parar pois está com artrite que dificulta os movimentos e Deus. Eles se utilizam um caminhãozinho no qual dormem no estacionamento de um posto de gasolina na Washington Luiz e gasta uns 8 dias para fazer uma estátua como essa. De corpo franzino e todo marcado por uma vida sofrida, tem as mãos completamente calejadas e uma firmeza de caráter.

 São Francisco

      Repetidamente me agradeceu por não tê-lo enganado. Por ter, segundo ele, honrado com a palavra, pois segundo o que disse, ele é do tempo em que a honra estava no fio do bigode e a palavra dada valia mais do que qualquer contrato.

      Lembrei-me imediatamente do período em que eu alugava casa para morar e ficava irritado com as cláusulas dos contratos, que tratavam a mim como um marginal sem caráter que deveria viver sob ameaças constantes para não atrasar os pagamentos. Já me passou a ideia de estudar direito para ter uma atividade autônoma quando me aposentar, mas há alguns dias precisei ler um contrato para a compra de uma atualização de software. Fiquei estupefato. Eram 14 páginas que me colocavam em cheque. Eu deveria pagar, receber, instalar e tudo de errado que pudesse ocorrer teria sido eu o culpado e deveria responder por isso. Não quero mais ser advogado, mas vou continuar honrando a minha palavra.

domingo, 20 de novembro de 2011

Hidrelétrica de Belo Monte.

      O Censo demográfico de 2010 aponta, com 80 milhões de habitantes, a região sudeste como a mais populosa do país, e no lado oposto estão o centro-oeste e a região norte que possuem populações da ordem de 15 milhões de habitantes, sendo o estado mais populoso dessa região, o Amazonas. Em 1.970 a população do Amazonas era de aproximadamente 721.000 habitantes e em 2.010 de 3.483.985. A maior parte da população brasileira vive onde existiu a Mata Atlântica da qual hoje restam menos de 10% da vegetação original, ou seja, o aumento da densidade demográfica destrói a vegetação nativa. Se nada for feito, como ocorreu na Mata Atlântica, o simples aumento populacional da Amazônia irá dizimar a chamada maior floresta tropical do mundo. Porque o povo corta as árvores, vende os troncos, queima os galhos, cultiva pastagens e cria gado. Essa população não pode ser ignorada e precisa de energia elétrica que hoje é mal suprida, e, em muitos casos, gerada a partir de motores alimentados com óleo diesel, que vem de longe e torna-se, além de poluente, uma maneira cara.

      Assinei digitalmente há algum tempo uma petição da ONG Avaaz.org para que não fosse dado início à construção da Usina de Belo Monte, um colosso hidrelétrico que se propõe a ser a terceira maior usina geradora de energia elétrica do mundo, atrás apenas da Três Gargantas, na China, e Itaipu, na divisa do Brasil com o Paraguai. Não sou contra nem a favor da usina, simplesmente não sei o que é melhor. Desejo que isso seja debatido por especialistas comprometidos com o desenvolvimento e que tenham visão ampla, não apenas da solução presente, mas principalmente do futuro. Se por um lado é fato que a floresta está sendo dizimada, também o é a necessidade de suprir as demandas estruturais da população, e nesse aspecto vale o que produzir energia de maneira mais barata e de forma menos agressiva ao meio ambiente, porque algum impacto sempre há.

      Não é correto dizer que existe geração de energia elétrica limpa, há apenas aquela que produz menor dano ao meio ambiente. Existe uma dinâmica na geração e consumo de energia elétrica e as usinas necessitam se adaptar a isso de alguma maneira, por exemplo, a geração longe do ponto de consumo obriga a construção de extensas linhas de transmissão, que abrem clareiras por onde passam e impõem perda considerável da energia gerada. Além disso, nem sempre o horário de maior geração é o de maior consumo, e para essa adaptação as usinas eólicas e solares devem acumular energia, sendo essa acumulação feita através de baterias cuja tecnologia teve um desenvolvimento expressivo nos últimos 20 anos, mas necessita de muito produto químico e óxidos metálicos extraídos de minas que podem devastar extensas áreas, e sua produção e a grande quantidade de resíduos resultantes ao final de sua vida útil, que por sinal é relativamente pequena, podem produzir diversos tipos de contaminação. Usinas nucleares podem ser construídas próximas do local de consumo e a geração pode ser ajustada à demanda, mas existe a mineração do urânio, e em caso de acidente na usina ou no processamento desse, as proporções podem ser catastróficas, além do que, o resíduo nuclear é de difícil e perigoso armazenamento. Em nosso estado se produz muita energia elétrica a partir da queima dos resíduos das usinas de açúcar e álcool e esse combustível pode até ser pouco poluente, mas a própria produção da cana gera desequilíbrios ambientais altamente indesejados próprios das monoculturas, como vemos onças e macacos invadindo áreas urbanas por terem sido destruídos os seus habitats primitivos.

      As hidrelétricas modificam o bioma existente, mexem com o fluxo abaixo da construção e principalmente na área represada. Rios de corredeira se transformam lagos e a área alagada passa a ser um enorme produtor de gases poluentes que por muitos anos são liberados. A vida selvagem passa por transformações, paisagens são destruídas e outras construídas, populações são expulsas e outras se formam, enfim, a soma das ações não é nula, mas por outro lado, a operação da usina, desde que tenha sido construída de maneira adequada, é segura e responde bem à equação geração e demanda.

      O desenvolvimento tem seu preço, assim como a geração de energia também o tem, e não me sinto confortável em formar juízo sobre um tema tão complexo, pois não podemos colocar uma cerca em volta da Amazônia, expulsar a população e deixar que o mato cresça e os nativos que se virem, e é muito provável que nem os nativos queiram isso. Para que tomem essa decisão elegemos gestores que, em tese, podem se assessorar de equipes competentes, e para equilibrar o jogo temos de um lado os interessados empreiteiros, evidentemente com vistas somente ao dinheiro que receberão, e de outro, as associações civis, entre elas várias ONGs que também contam com assessoria científica, e mediando o processo temos as plataformas de divulgação, como as mídias impressas, digitais e radiofônicas. Enfim, interessados são muitos, então que prevaleça o equilíbrio, para que além de um Belo Monte tenhamos boa qualidade de vida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Invasão da USP

      Não estou por dentro do assunto porque estava viajando em férias quando o movimento começou, mas ouvi opiniões controversas sobre a invasão de um prédio da USP por alunos e a desocupação feita pela polícia. Não sei se estou falando besteira, mas me parece que alguns alunos foram detidos por fumarem maconha no estacionamento da universidade e por solidariedade outros tomaram um dos prédios administrativos. A partir daí se seguiu o rito de sempre, a reitoria pede à justiça a reintegração de posse e, assim concedida, a polícia a executa com os recursos disponíveis. E a discussão é acalorada.

      Por princípio sou contra a violência e também contra os extremos, pois os acho perigosos, o equilíbrio me parece mais adequado, e nesse caso, são cerca de 200 envolvido num universo de mais de 70 mil, logo é um extremo inferior de representatividade. Se é um ato de violência ser desalojado pela polícia no meio da noite, também o é tomar de assalto as dependências de um aparelho público que presta serviço a muito mais pessoas do que a apenas o grupo em questão. Também por se “sensibilizarem” com o “movimento”, alunos da Unesp de Rio Claro impediram na semana passada o acesso de estudantes, professores, funcionários e  convidados às dependências do campus. Oras, sejamos razoáveis, qual é o direito dessas pessoas em impedir que pesquisas tenham continuidade? Pesquisas teóricas podem ser atrasadas, mas e naquelas biológicas onde há horários determinados para avaliação? Os manifestantes podem impedir que outros estudantes concluam os seus trabalhos e coloquem em risco seu futuro na escola e na profissão?
      Repetir bordões contra o autoritarismo, clamar por democracia e liberdade também não me parecem adequados quando o propósito é apenas se apoderar das dependências da instituição para promover festas e consumir drogas, lícitas ou não. Parece-me que falta conteúdo ideológico a essa reivindicação.
      Chamar os manifestantes de infantis, ingênuos ou descompromissados até que passa, agora querer tachá-los de mauricinhos e patricinhas e que deveriam sim estudar em escola particular deixando vaga para outros mais necessitados, não posso concordar, mesmo vendo que essa é a opinião da maioria com quem conversei. O assalariado paga três vezes por tudo o que o estado deveria fornecer. A primeira através dos impostos embutidos nos produtos e serviços, a segunda no recolhimento do imposto de renda, e a terceira na contratação de serviços que o estado não provém, como segurança privada, saúde complementar e nas escolas particulares que seus filhos frequentam até chegar à universidade. Assim vejo a universidade como um direito. Posso até não concordar com o critério do vestibular, mas se não há escola para todos há de haver um critério para a admissão e o mérito me parece mais justo. Dessa maneira, se a vaga foi conquistada por quem teve oportunidade de estudar em melhores escolas, ele merece a vaga.
      Por outro lado, pode ser até a minoria dentro da minoria, mas há alunos que não são exatamente estudantes, como o caso citado daquele que foi jubilado em Letras após 8 anos sem concluir o curso e prestou novamente o vestibular para ingressar no mesmo curso. Isso não é um direito, é uma afronta, é um acinte.
      Esse cenário foi criado porque temos uma legislação sofrível, educação precária e rebeldes sem causa.

domingo, 23 de outubro de 2011

A VIVO e Eu.

      Mudei-me para São Carlos em janeiro de 1.991 e tive que alugar um telefone, pois quem é novo não se recorda, mas naquele tempo o serviço de telefonia fixa era estatal, em São Paulo feito pela Telesp, e o serviço não atingia a todos. Dessa maneira, telefone era um bem passível de ser declarado no imposto de renda, e alguns investidores tinham tantas linhas que sua administração era feita por imobiliárias. No mercado informal o custo corrente de uma linha era de cinco mil dólares e o aluguel mensal girava em torno de meio salário mínimo, não estou considerando a tarifa pelo uso do serviço. E não adiantava querer comprar uma linha diretamente da concessionária, pois não havia. Era necessário se cadastrar em um plano de expansão que demorava vários anos para ocorrer e o pagamento era feito em, no mínimo, 12 parcelas. Telefone celular então ainda não existia, e esse serviço passou a ser oferecido por volta de 1.993 pela então chamada Telesp Celular. No primeiro semestre de 1.984 comprei nos Estados Unidos meu primeiro aparelho que era, claro, o famoso PT 100, da Motorola. Esse tinha a dimensão de meio tijolo, pesava mais de meio quilo e a bateria não durava mais que duas horas, e o pior, não havia linha disponível. Aguardei pelo segundo plano de expansão e no dia de seu início fui até Araraquara para habilitar o aparelho, pois foram disponibilizadas apenas 700 linhas para São Carlos que se somaram às 700 habilitadas no ano anterior.

      A Telesp foi privatizada, sendo comprada pela Telefonica e o custo de uma linha fixa gira em torno de cem reais e a compra pode ser feita pela internet, que naquele tempo também não existia. A telefonia móvel da Telesp foi vendida para a Vivo e como sou um típico consumidor burro, continuei fiel à marca e mantive o mesmo número. E devo confessar, as empresas adoram idiotas como eu, mesmo que a minha conta não seja elevada, a receita é certa e constante. Como utilizo pouco o telefone, pago pela disponibilidade, e a Vivo é a companhia que me dava maior área de cobertura, e acredito que até hoje ainda seja assim, e como não havia ainda a lei da portabilidade, eu não queria perder o meu número. Além disso, há apenas uns 3 anos eu tive um único e pequeno problema, passaram a tarifar alguns trocados por pacote de SMS. Reclamei alguns meses depois e resolveram.

      Faz uns quatro anos que tenho smartphone sem ter contratado plano de dados, acesso apenas em rede wireless. No ano passado comprei um tablet e reduzi em muito o uso do smartphone, mas na conta telefônica de do mês passado, que pago com débito automático, veio debitado R$ 102,00 por dados excedentes. Demorei alguns dias mas fui à loja da Vivo me informar. A atendente buscou uma listagem no banco de dados de todos os meus supostos acessos, inclusive constava o dia 13 de agosto no qual pedalei das 5 da manhã às 5 e meia da tarde. Para mim estava mais do que caracterizado que a tarifação era indevida. Questionei-a a respeito mas ela se limitou a mostrar a evidência: a listagem. Eu disse então que eles são os donos do banco de dados e eles podem colocar o que quiserem. Polidamente, mas firme, ela me respondeu que a Vivo não precisa disso. No mesmo tom retruquei: não precisa mas está fazendo. De qualquer maneira não tive a minha demanda atendida, era necessário ligar para o um determinado número. Não o fiz de imediato e na conta desse mês veio o débito de R$ 318,00, mas com a greve dos correios não recebi a fatura e por isso demorei para reclamar, mas o fiz, e esse foi o calvário.

      Às 11:37h da quarta-feira fiz a ligação e fiquei esperando por 12 minutos sem ser atendido. Desliguei, liguei novamente e fiquei mais 15 minutos até ser atendido. Foi um procedimento burocrático longo e para resumir permaneci ao telefone até às 13:45 e não sei se resolvi o problema. Insisti que não solicitei o serviço, não o utilizei, exigi que o bloqueassem e me devolvessem o dinheiro. Autorizei que se fizesse em crédito nas contas futuras. Deixei claro para a atendente que, aliás, foi simpática, solícita e que aparentemente tentava a solução, que o meu problema era com a empresa e não pessoal.

      A minha reflexão a respeito é a seguinte: uma empresa que tem 20 milhões de assinantes e que quer fazer caixa pode proceder dessa maneira com apenas 10% de seus clientes distribuídos geograficamente. Se eles forem taxados em apenas R$ 200,00 cada um estamos falando de um montante de 400 milhões, que reclamados apenas no mês seguinte representa um empréstimo sem juros por um mês. Se apenas 50% exigirem o ressarcimento imediato em dinheiro, serão 200 milhões em caixa por mais um mês e sem o pagamento de juros. Essa é uma boa maneira de se administrar uma empresa. Capital de giro sem mexer no fluxo de caixa e financiado sem juros.

      Visto dessa forma vocês podem pensar que sou contra a privatização, mas não sou. As estatais são mais ineficientes e os custos que nos impõem são muito maiores, haja vista a situação inicial que descrevi, sem telefones e serviço ruim. Ou seja, o governo não é provedor e nem regulador, é incompetente.

      E para encerrar, me parece que o problema é sistêmico, pois em casa quando falei com a minha filha sobre o caso, ela, no mesmo dia, ficou tentando resolver a taxação de aproximadamente R$ 500,00 em débito em sua conta corrente pela operadora Claro que lhe taxava por 900 torpedos supostamente enviados no mês anterior.

      Se não tivermos as nossas demandas atendidas iremos reclamar formalmente junto a Anatel.

domingo, 16 de outubro de 2011

Animal Político.

      A política, como a conhecemos, nasceu na Grécia antiga e estava relacionada a todos os assuntos da Pólis (cidade estado). Os cidadãos defendiam os seus interesses perante os seus pares, ou seja negociavam, assim como negociamos desde o nascimento chorando para mamar. Como definiu Aristóteles, o homem é um animal político, e não é possível, dessa forma, imaginar que as recentes manifestações em diversas partes do mundo possam estar desprovidas de política.

      Em outubro de 1.929 uma sequente venda de ações derrubou os preços das ações da Bolsa de Nova Iorque resultando no que ficou conhecido como Crash, queimando a economia de milhões de investidores e trazendo conseqüências à economia mundial. Mas naquele tempo as crises locais demoravam para se espalhar, pois a economia viajava de navio, hoje se transporta quase que à velocidade da luz, e as distâncias são vencidas no tempo de um simples clique. Não é novidade que as economias sejam interligadas, os grandes impérios antigos já comercializavam intercontinentalmente. A diferença é que a escala hoje alcançada é sem precedentes, e além de bens de consumo, de produção, ou duráveis, há também os financeiros, esses voláteis e ariscos. Com o desenvolvimento da tecnologia, a informação e a comunicação passaram a ser imediatas e quase impossíveis de serem bloqueadas, ainda que os ditadores assim desejem.

      Devido a grande dimensão da economia americana o déficit financeiro de seu governo há muito põe em risco a economia mundial. Seu par em dimensão, a Europa, onde os governos de alguns países são lenientes com a austeridade fiscal, se envereda pelo mesmo caminho, assim, a bonança expansionista da economia terá uma retração e não haverá imunes, em maior ou menor escala todos sentirão, como já está sendo visto desde 2008 nos Estados Unidos, desde o ano passado está claramente identificado na Grécia e mais recentemente no bloco conhecido como PIG (porco em inglês) Portugal, Itália e a própria Grécia, além da Espanha, cujos bancos já tiveram as suas avaliações de riscos aumentadas.

      Por outro lado, desde o final do ano passado vemos no oriente médio e norte da África uma sucessão de revoltas populares contra governos ditatoriais que em alguns casos já os derrubaram como na Tunísia, Egito e Líbia, e há um número muito maior em andamento, movimentos que geraram o nome de Primavera Árabe, ainda que nem todos os países sejam Árabes.

      Já vimos no início do ano a revolta dos estudantes na Inglaterra, o quebra-quebra na França, novamente os estudantes no Chile, o movimento Ocupem Wall Street em Nova Iorque, o Ocupem a City em Londres, o movimento na Plaza Mayor em Madrid, ontem ocorreram as manifestações na Itália que terminaram em vandalismo e quebradeira e também há cerca de um mês temos visto os tímidos protestos contra a corrupção no Brasil.

      Há muita coisa comum em todos esses movimentos, a começar pela política que está na necessidade de ser ouvido, de ter, por cada um, os seus interesses defendidos. Tem também a economia. Ninguém reclama quando está abastado e sem ameaças, a economia em si embute o conceito de administrar a escassez, não a fartura. Há também a forma de comunicação que utiliza primordialmente a Internet como plataforma e as redes sociais como veículos para a mobilização e demonstração da sua força a fim de ganhar mais adeptos e engrossar as vozes.

      Cada um vê esses movimentos por sua própria ótica, para uns, a revolta contra a ditadura representa a superioridade da democracia, para outros a ocupação por populares do maior centro financeiro do globo significa a derrocada do capitalismo e há os que acreditam que a simultaneidade de todos os eventos é um cataclismo. Para mim o mundo não acabará em 2.012. Não sei dizer se os governos que sucederão os depostos serão melhores que os anteriores, até porque em 1.979 achei que nada seria pior para o Irã do que o Shah Reza Pahlev, mas veio o Khomeini e os seguidos governos teocráticos, e hoje temos lunáticos quase nuclearmente armados. Também não acredito em governos provedores de bem estar social, pois não é possível haver justiça se tudo é provido, haverá sempre os que merecem e nada recebem e os que nada produzem mas sempre se ajeitam. Assim acredito no governo regulador e na sociedade produtiva e recebedora de benefícios por mérito. Acredito ainda que o capitalismo não será extinto, será reformulado para a sua própria sobrevivência e a tecnologia que é um de seus produtos estará mais forte e presente a cada dia.

      Particularmente sou simpático às manifestações brasileiras, mas cético de seu alcance, pois somos capazes de brigar por um time de futebol, mas não de nos engajarmos em uma causa que demande exposição, disponibilidade e privação. No Brasil apenas o PT tem força de militância para fazer uma causa sair da inércia, mas como na essência a manifestação é contra o desgoverno do PT e seus aliados, não iremos a lugar algum. Eu, que sou muito orgulhoso, ficaria muito feliz por estar errado nesse último parágrafo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ah Meus Dentes!

      Tudo tem um preço e às vezes podemos escolher se vamos pagar antes, depois ou antes e depois. Ao contrário do meu filho que tem 28 anos, nenhuma cárie e nenhum dente obturado, eu, quando criança, por ignorância, desinformação, falta de recursos ou por tudo junto não cuidei bem dos meus dentes. Ainda adolescente, mas já quase adulto, negligenciei um tratamento ortodôntico e hoje estou pagando por isso.
Em 1976 antes de colocar o aparelho

       Até que o alinhamento dos meus dentes não era tão ruim aos 17 anos e os que necessitavam haviam sido tratados e obturados, mas por causa da mordida posterior esquerda cruzada inventei de colocar aparelho ortodôntico, e para se conseguir a movimentação necessária foram extraídos os dois pré-molares superiores, dentes bons jogados fora. Naquele tempo “bandava-se” com metal todos os dentes e na tal banda era soldado um “bracket” que suportava os fios que, por sua vez, eram presos por pinos. Esse arranjo machucava, descolava, dessoldava, entortava, era um horror. Durante o estágio como técnico em eletrônica ganhei do supervisor o apelido de “boca-de-ferro”.

      Acontece que eu trabalhava em Campinas e o ortodontista, que era meu tio, tinha consultório em São Paulo, então quando havia um problema eu mesmo me virava: cortava os fios com um alicate, retirava o que havia sido danificado, eliminava a causa da dor ou incômodo e só voltava ao consultório quando possível. Depois de umas três ou quatro vezes decidimos retirar todo o aparelho e esquecer o assunto. Não sei avaliar a falta que me fizeram os dois dentes retirados e nem os aspectos ruins da mordida cruzada, mas sobrevivi assim até o ano passado.
Em 1988 sem o aparelho metálico e com a falha pré-molar

      A minha filha, ainda adolescente, fez um tratamento que foi muito bem sucedido e os dentes ficaram lindos. Depois dela, a minha esposa também se submeteu ao procedimento, corrigiu as falhas e o resultado foi excelente, e aqui entrei na estória. Primeiro a minha esposa me convencendo a fazer o mesmo. Para pagar os meus pecados minha filha estudou odontologia e ajudou no patrulhamento. Minha dentista engrossou o coro dizendo que eu só teria a ganhar.

      Pronto, enchi-me de coragem e procurei por um ortodontista. O profissional competente me deu todas as razões que eu precisava e lá fui eu. Escolhi um modelo que me pareceu ser mais discreto e confesso, se não há nada de agradável nisso, até que não é o pior dos mundos, o problema é que, além de descruzar a mordida, o que não foi tão difícil, estão sendo abertos espaços para implantar os dois pré-molares arrancados. Além do que, a movimentação dos dentes vai, evidentemente, modificando a mordida, e não sei se foi por isso, um dente posterior começou a apresentar dor em algumas vezes. Foi feito o possível, selante, troca da restauração, verificação através de radiografia e a vida ia seguindo, até que uma lateral do mesmo se quebrou e em uma semana a minha vida virou um inferno.
Em 2010 com o aparelho hi tech

      Como era sábado a minha filha fez um acerto provisório e na segunda-feira procurei pela dentista que o radiografou, analisou, e o preparou para receber um bloco que levaria uma semana para ficar pronto, enquanto isso não seria possível cobrir adequadamente a região preparada, pois caso houvesse a adesão química, seria necessário lixar o local modificando a superfície e perdendo assim as características moldadas. Esse dente começou a doer, apareceram reflexos nos ouvidos, comecei a tomar analgésicos, a perder o sono, a comer mal e a ficar muito mais mal humorado do que normalmente sou. Resumindo: na sexta-feira seguinte iniciei um tratamento de canal. Além de ser um procedimento dolorido esse somente será finalizado na próxima semana, quando então será feita uma nova preparação para a instalação de um bloco.

      O tratamento dentário é muito invasivo, além do mais, aquelas ferramentas se parecem com instrumentos medievais de tortura. Têm pontas para todo lado que enroscam em todo canto, barulho que ressoa ensurdecedor dentro da cavidade bucal, é muita mão e muito equipamento para tão pouca boca. O período que passo na cadeira do dentista equivale a umas três aulas de exercícios abdominais, pois fico o tempo todo contraído. E as anestesias então? Não consigo definir se a agulha é inserida na boca ou no ouvido e se o líquido vai para o nervo ou para os olhos, mas sei que pulei um palmo acima da cadeira quando foi feito o teste de percussão no tal dente.

      E para completar esse périplo, no próximo mês deverei me submeter a um enxerto de tecido ósseo para preencher a perda de densidade por ter ficado tanto tempo sem os pré-molares, depois de uns oito meses será feito o implante, e depois de mais uns seis ou oito meses será concluído o tratamento. Nesse caso estou pagando depois, mas eu mereci!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Caminho Da Fé

      Sobre crença e fé falarei em outra oportunidade, aqui quero relatar a minha terceira viagem pelo Caminho Da Fé, de São Carlos a Aparecida, percurso de aproximadamente 540 km que percorremos de bicicleta em quatro e meio dias. Digo meio dia porque no último foram apenas três horas e doze minutos pedalando. Voltamos a São Carlos utilizando uma Van que trouxe também as bicicletas sem que fosse necessário desmontá-las.

      Em outubro do ano passado quando fizemos o planejamento das férias para 2011 previmos a coincidência de alguns dias para que o Rodrigo (35), o Alex (29) e eu (53) pudéssemos fazer o percurso em 5 dias e estabelecemos a data do início: 17 de setembro. Durante os primeiros 6 meses comecei a treinar mais assiduamente e com maior intensidade, e a partir de março comecei a frequentar uma academia duas vezes por semana e com um técnico para me orientar. Fiz exercícios para fortalecer as costas que são muito exigidas nas subidas, e para os ombros que doem quando os freios são muito utilizados em descidas fortes. Além disso, melhorei a técnica para pedalar e fiz exercícios de força para conseguir o equilíbrio muscular. Também, como faço todos os anos, continuei com as consultas com o cardiologista e fiz o exame ergométrico antes de viajar, e a conselho do médico busquei a ajuda de uma nutricionista ligada ao esporte que me orientou sobre a alimentação rotineira para período de treinamento e também com a suplementação alimentar para o percurso.

      Estudamos o trajeto que já conhecíamos verificando detalhadamente as distâncias e as altimetrias de cada trecho e assim planejamos a logística que incluía percorrer cerca de 150km no primeiro dia, e para testar, no dia 13 de agosto fomos até Vargem Grande do Sul, que seria o nosso primeiro ponto de repouso. Verificando que seria possível percorrer esse trajeto fizemos a divisão do que faltava e planejamos a redução de peso a ser transportado, já que não teríamos carro de apoio. Com a aproximação da data da partida a expectativa foi aumentando e o medo de não conseguir também.

      Deixei a minha casa às 4:10h da manhã do dia 17 e encontrei o Rodrigo, que estava meio resfriado e tinha quebrado um dente na noite anterior, ele estava meio abatido e com tendência a desistir. Pedalamos bem nesse primeiro dia, que apesar de longo não tem muita subida e chegamos por volta das 15:30h a Vargem Grande e ficamos no hotel Príncipe. O Rodrigo que tinha sentido dores na virilha não estava certo de continuar no dia seguinte, mas continuamos. No segundo dia, que era o meu aniversário, subimos forte logo cedo, por volta das 5:30h, a Serra da Fartura, depois descemos para Águas da Prata e subimos o Pico do Gavião, rumo a Andradas. Chegando a essa cidade seguimos um trecho pelo acostamento da pista asfaltada e na subida, por duas vezes fomos “fechados” e quase atropelado por um bêbado dirigindo um Fiat Uno com várias pessoas dentro que chamou o Rodrigo de “paceiro”. E ele apenas queria saber qual era a próxima cidade. Almoçamos em Andradas e subimos a Serra dos Limas, trecho difícil assim como também é difícil a descida para Barra, a próxima cidadezinha. Saindo de Barra tem uma elevação forte onde um Palio e um Gol 1000 não conseguiam subir, mas nós subimos a maior parte pedalando. Tocamos até Ouro Fino onde chegamos já anoitecendo.

      Saímos de Ouro Fino às 7h da manhã e o começo é tranquilo, a dificuldade começa perto de Borda da Mata e fica pior no caminho para Tocos do Mogi. Uma sucessão de subidas e descidas fortes que se estendem até Estiva, onde cruzamos a rodovia Fernão Dias e subimos a Serra do Caçador que também é muito difícil e chegamos a Consolação por volta das 6 da tarde. Tocamos pelo asfalto até Paraisópolis, pois a condição de hospedagem e alimentação é melhor e aonde chegamos às 19:41h. Durante o café da manhã nos encontramos com 2 peregrinos, um jornalista de Brasília que faz tai chi chuan pela manhã e caminha devagar conversando com os proprietários rurais “para saber dos seus problemas” e com um publicitário que é de Sorocaba mas que trabalha no Boticário em Curitiba. Eles iriam apenas até Luminosa nesse dia. Já tínhamos percorrido as 3 maiores distâncias, mas no quarto dia, com cerca de 60km até Campos do Jordão teríamos a maior diferença de altitude a ser vencida de uma só vez, cerca de 1000m na Serra da Luminosa, mas antes disso, a própria chegada a Luminosa já impunha um bom desafio para quem estava com as pernas doloridas, tanto na subida forte como na descida inclinadíssima. Na praça de Luminosa um rapaz perguntou ao Alex de onde éramos e ao saber, disse que conhecia São Carlos – tem uma droga boa lá! Perguntou se o Alex curtia e diante da negativa ele afirmou que aqui “tem um pó do bom”. O único pó que tínhamos era a poeira das estradas e fomos subindo a Luminosa até o Quebra Pernas. Nesse trecho a minha bike começou a apresentar problemas na transmissão. Chegamos à Pousada Barão Montês em Campista, onde o proprietário, Márcio, preparou para nós um ótimo almoço. Seguimos até Campos do Jordão já sabendo que encontraríamos um casal que estava caminhando. Encontramos-nos durante o jantar na pousada, ele um senhor de 65 anos, de corpo franzino, mas ativo. Disse que caminha muito todos os dias e que pedala mais de 20km recolhendo lixo. Ela uma senhora forte de uns 40 e poucos anos, bancária, 3 filhos quase adultos e que na semana seguinte iria a Portugal e Espanha, inclusive a Santiago de Compostela, mas que não iria fazer essa peregrinação. O marido dela iria buscá-los de carro em Aparecida. Na manhã seguinte durante o café às 6 da manhã encontramos com outro casal, ele com mais de 60 anos e ela por volta dos 30, ele seguia caminhando e ela ia de cidade em cidade de ônibus ou carona e o esperava. Ele não estava em boas condições, estava sentindo fortes dores nas pernas, mas estava propenso a concluir.

      Faltavam 14 minutos para as 7 da manhã quando deixamos a pousada e por volta das 10:30 já estávamos em Aparecida. Chegando ao Santuário a Van que havíamos contratado já estava nos esperando. Sinto sempre uma emoção muito grande ao receber o diploma que atesta o cumprimento do Caminho Da Fé e também pelo clima que tem na basílica. Depois de tomarmos banho, trocarmos de roupas e comprarmos algumas lembranças deixamos Aparecida por volta do meio-dia e chegamos a São Carlos às 5 da tarde.

      O Caminho Da Fé, percorrido dessa maneira, é o lugar onde você não vê a hora de terminar e quando termina não vê a hora de fazê-lo novamente. Já sabemos o que devemos fazer para percorrê-lo em apenas 4 dias.