quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Reforma do Ensino

      Nunca se produziu e disponibilizou tanto conhecimento quanto agora. Segundo o IBGE, em 2013, 85,6 milhões de brasileiros com idade acima de 10 anos (49,4% da população) tinham usado a internet pelo menos uma vez nos 90 dias que antecederam a pesquisa. Quadro muito diferente da época em que frequentei o ciclo básico, quando nem computador existia.

      O computador transformou o trabalho, do computador também derivou a rede que transformou a sociedade. Na internet tem de tudo, do melhor que a humanidade pode produzir até a grande quantidade de lixo digital. As redes sociais deram voz a todos, trouxe a democratização da opinião, mas também trouxe o radicalismo, a pobreza do raciocínio e as posições extremadas. Hoje, sem-cerimônia, todo mundo pode opinar, como aprendi na Bahia, de parto de onça a atracamento de navio. A todo instante há uma nova polêmica, e sobre algumas, também exerço a minha opinião, ainda que ignorante sobre o (qualquer) tema.

      O governo sinalizou que quer modificar a grade do ensino médio e a gritaria foi grande. Apareceu mais incendiários do que bombeiros. Não poderia faltar o espírito de corpo, aqueles que politizam para manter seus próprios privilégios. Os sindicatos, de qualquer área, ainda vivem no século 18 e representam o atraso do país. Em qualquer ranking de educação o Brasil fica perto dos piores, seja em matemática, ciências ou linguagem, e os sindicatos dos trabalhadores da educação têm uma grande parcela de culpa pela lastimável ignorância em que o país vive.

      Fui um bom aluno nos ciclos fundamentais, medíocre em matemática e competente em engenharia e em uma pós graduação, além de diversos outros cursos de curta duração. Em todos observei o trabalho dos professores e tive de tudo. Dos excelentes aos medíocres, dos péssimos aos piores: os péssimos doutores. Não é apenas a formação e a capacidade de ser admitido através de concurso que faz o bom professor, é preciso ter talento, é preciso querer trabalhar na educação. Após a segunda grande guerra a Alemanha estava destruída física e organizacionalmente, e eles adotaram uma prática, todo mundo que sabia algo passava a ensinar em casa, ou seja, cada casa era uma escola. Não se exigia diploma, especialização ou concurso, e hoje a Alemanha é uma potência no conhecimento, na economia e na qualidade de vida. Portanto, há muita mudança a ser feita no nosso sistema de ensino, e dar mérito a quem produz é fundamental.

      Também como aluno pude ver o perfil do público (alunos) em cada curso. O destaque foi para o ensino superior. Na Universidade Federal havia muitos excelentes a maioria era mediana e alguns muito ruins que buscavam, principalmente, os cursos em que a relação candidato/vaga era pequena. Já na engenharia, que estudei em escola privada, o nível era muito baixo. A grade era excelente, os professores, em sua maioria muito bons, mas os alunos…E a culpa não era exatamente deles, mas da formação que tiveram na educação básica. Estou falando do final do século passado e de lá para cá só piorou.

      Para acompanhar a oferta de informação a grade dos ciclos básicos é extensa e pouco atraente. Muitas das escolas de educação infantil se transformaram em depósito de filhos que os pais não têm onde deixar. Os levam para que alguém cuide. Os diretores pedagógicos são os próprios executivos que lutam contra a burocracia, contra a falta de recursos e com profissionais mal remunerados e desmotivados. Tal conjunto não pode dar bom resultado.

      O argumento de que a reforma não foi amplamente discutida com a população e que não é democrática, também não me convence. Essa é só mais uma maneira de manter do jeito que está, pois nunca se chegará a um consenso. Faz parte da democracia eleger alguém para tomar decisões em nosso nome, e esse é o caso, é, portanto, democrático. Se o que o governo está propondo é bom ou não eu não sei, mas há especialistas competentes para julgar e fazer um bom plano.

      Se tem que ensinar biologia, educação física, filosofia, ou como estudei: educação moral e cívica, ou ainda OSPB (organização social e política do Brasil) eu também não sei, mas a certeza de que tenho é que tem que haver mudança, do jeito que está há somente um resultado: a perpetuação da desigualdade social.