quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O Meu 2014

     Há tempos fui informado, embora eu não saiba o que isso significa (nem procurei saber), que sou filho de Xangô, e nos primeiros dias do ano que Xangô iria reger 2014, portanto, um ano de mudanças, e elas vieram, e vieram forte. Mas vamos começar pelo que não deu certo.

      Ao contrário dos anos anteriores perdi o meu condicionamento físico, perdi massa muscular e ganhei peso, comecei com 72,8 kg e terminei com 77,7 kg. Ganhei também uma alergia, que pela primeira vez em 55 anos me levou a um plantão médico sem ter sido por acidente. Me exercitei apenas 111 horas em 92 exercícios e pedalando 10% do que fiz em anos anteriores, muito pouco para a minha vontade. Não estudei, não assisti a shows e fui, em um bate-e-volta, aos Estados Unidos sem nenhum lazer.

      Por outro lado, tive logo no início do ano três demonstrações de que há sensação, como o reconhecimento, que dinheiro algum compra. Em anos anteriores, por falta de opção, fui escalado para apresentar alguns temas em encontros de engenheiros, fui bem avaliado pelos organizadores que me convidaram para fazer outra apresentação, dessa vez em um treinamento, e acho que me saí bem. Um projeto criado pela equipe da qual eu fazia parte em São Carlos foi o vencedor de um concurso nacional de desenvolvimento tecnológico. Esse merecia ter sido patenteado. Por fim, fui convidado pela empresa para a qual eu trabalhava a mudar de emprego, cidade e estado. Roubando o título de um blog que eu costumava ler posso dizer que hoje "Eu moro onde você tira férias". Tudo isso junto logo no início do ano me deu a sensação de que a minha carreira fez sentido, que estou no bom caminho.

                                                                 Igreja de São Francisco

      Profissionalmente não foi um ano de entregas, mas de aculturação. Estou me adaptando às demandas, processos e estrutura, mas já deixando algumas marcas, e a característica que me apontaram é que sou paulistanamente, “muito direto”, logo, preciso me policiar. Não posso dizer que esteja feliz profissionalmente, estou é inquieto, mas com muita vontade e determinação. Uma das melhores partes da mudança é saber que deixei amigos por onde passei e que estou fazendo amigos onde estou. Sempre admirei as equipes com as quais trabalhei e aqui também conheci profissionais competentes, inteligentes, dedicados e que me receberam com muita hospitalidade. Não dá ainda para saber se a minha proposta de trabalho será vitoriosa, mas já estou contente por ter o sentimento de pertencer a mais uma boa equipe.

      Há três lugares que conheço bem aqui na Bahia, a casa onde moro, o meu local de trabalho e o aeroporto de Salvador. Por ter voado mais de 60.000km gastei muito tempo em aeroportos, o que me deu tempo para leitura. Ao contrário dos últimos anos voltei a ler e a reler, mas não voltei a estudar. Estudar não me dá prazer, mas ler e saber, sim.

      Eu achava feia a cidade de São Carlos, mas as daqui são piores. Estou morando em Lauro de Freitas, cidade vizinha a Salvador, onde trabalho, e não podia imaginar que em pleno século XXI eu iria viver em um local que não tem rede de esgotos, tratamento de esgotos e coleta seletiva de lixo. Tratamento de resíduos, então, nem pensar. Essa é a realidade, ainda que eu esteja na parte mais rica do estado, assim concluí que para São Carlos falta apenas o mar. Como eu já havia dito quando visitei São Francisco, na Califórnia, o mar conserta tudo. Aqui não tem um mar apenas, tem um oceano, o que propicia lugares maravilhosos apesar da falta de infraestrutura adequada. Por ser uma região metropolitana, tive que me adaptar ao trânsito, longas distâncias, congestionamentos e ao planejamento para sair de casa, essa é a parte ruim, mas também tive que aprender a ver, além da previsão do tempo, a tábua das marés, prá saber quando a praia está melhor. Que chato!

                           É melhor um dia ruim na praia do que um dia bom no escritório

      A pior parte da mudança foi ter deixado a minha filha. Ela, que se casou, seguirá o seu destino longe da gente, mas entendo que assim é a vida. A parte boa foi o apoio do meu filho e da minha esposa. Essa sim paga um preço alto, pois nós todos deixamos o conforto, a estabilidade, a rotina e os amigos, mas eu tenho a atividade profissional que me ocupa, mas ela, a princípio, só tem a mim e é quem nos dá suporte, e nos incentiva.

      Não costumo fazer promessas para o ano vindouro, mas dessa vez, além do empenho para fazer tudo dar certo, não irei tomar refrigerantes até o próximo natal e voltarei a treinar, pois já estou ficando preguiçoso e sentindo falta, também continuarei ensaiando, já falei um “Oxi” quase espontaneamente. De qualquer maneira me sinto privilegiado, assim, novamente, nada a pedir, mas muito, e a muitos, agradecer.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Com muita sede ao pote

      É estarrecedor ver a notícia que, nessa semana, um bando de malucos criminosos no Paquistão fuzilou mais de 130 crianças e adolescentes. Além da barbárie, a notícia impressiona pela quantidade, mais de uma centena de mortes de uma só vez, e também pela idade das vítimas. No entanto não gera comoção saber que cerca de 50.000 mortes são causadas anualmente no trânsito brasileiro e que essa também é a ordem de grandeza dos crimes violentos em nosso país, que ceifam, principalmente, a vida de jovens com menos de 30 anos.

      Sob qualquer ângulo são cifras absurdas, e embora eu não saiba dimensionar, imagino que sejam ainda em quantidade inferior a quanto se mata, se destrói, ou se deteriora a nossa sociedade com o produto da corrupção a que estamos assistindo, e que parece cada vez mais com a ponta de um iceberg, ou seja, o que virá amanhã será muito maior do que vimos hoje.

      Cansa ver todos os dias o cartel dos trens, o mensalão que nunca acaba, os roubos na Petrobras e até na direção do voleibol nacional. Um rápido olhar nas notícias e já se especula com investigações na Eletrobras e já falaram também do BNDES, enfim, onde tem dinheiro público há suspeita de roubalheira, mas como se diz, não existe dinheiro do governo, existe dinheiro de quem paga imposto, ou seja, nosso. O dinheiro é nosso mas o benefício é de quem?

      O saber que muitos daqueles que recebem a nossa autorização para nos conduzir para uma sociedade melhor, mais justa, mais igualitária, estão envolvidos nessas falcatruas não produz apenas o sentimento de perplexidade, mas também de desamparo e desesperança. Não dá para criticar aqueles que durante toda a vida trabalharam arduamente e que, nesse momento, perdem até o sentimento de indignação, pois parece mesmo que não tem jeito, e que somente o crime compensa.

      Os nossos valores estão deteriorados e a nossa sociedade corrompida. Somos uma nação de percepção infantil, egocêntrica, na qual não importa o outro, não importa o futuro, importante sou eu e agora. É triste dizer, mas não sei se dá para desejar um bom Natal e um feliz ano novo.

sábado, 8 de novembro de 2014

Liberdade, igualdade, justiça e internet.

Gosto muito da frase de Descartes que inicia o meu blog: "O bom senso é a coisa melhor dividida no mundo..." e creio que rivaliza com essa verdade o senso de liberdade. Todos desejam e procuram ser livres, porém, livres de fato, poucos são.

      Outro conceito que me prende é o da igualdade, pois, vivendo em um meio capitalista a desigualdade espanta e indigna. Quando estabeleço uma relação entre liberdade e igualdade torço para estar errado em minha conclusão. Não há convivência possível entre esses dois valores. Sociedades como foram as comunistas e nas que hoje ainda são como a Coréia do Norte e Cuba se busca a igualdade, mas essas são sociedades totalitárias nas quais a população não exerce nem mesmo o direito básico de sair do país. Nos demais, ditos democráticos, a desigualdade é monstruosa. A riqueza não espanta pelo que consegue produzir para seus proprietários, porém é vexatória quando se trata dos miseráveis. Mesmo nos países ditos ricos, a miséria existe, e só não é maior porque em todos eles o inverno é rigoroso e o frio mata muito mais do que o calor.

      É fácil defender o conceito de igualdade, pois ele embute algo como justiça. No entanto não é justo tratar igualmente os desiguais. Nem mesmo os nosso filhos tratamos de maneira idêntica, e quando fazemos isso erramos,  cometemos injustiça, ou os dois simultaneamente. Talvez fosse justo que as oportunidades fossem igualmente distribuídas, porém o reconhecimento pelo esforço, trabalho e desenvolvimento devesse ser mesmo dado por mérito.

      Se não é possível conciliar por si só a justiça, a igualdade e a liberdade, a solução deve estar na política. Hoje o chamado mercado comanda, mas não pode ser dele a última palavra, há que haver mecanismos de controle estabelecidos por um governo forte, e que esse realmente represente a sociedade. Em sistemas grandes e complexos como os de hoje não é possível que algum partido ou líder, mesmo que carismático, acerte sempre e possa ditar as regras pelas quais a população deva ser conduzida. A sociedade deve ditar as regras e aos partidos cabe segui-las organizando assim a estrutura social. Essa é uma solução que conceitualmente parece acertada, mas a prática mostra que a desigualdade carrega, em seu bojo, a desinformação, logo, a organização para tomada de decisão não é uma tarefa fácil.

      As tendências vem dos mais ricos para os mais pobres, e as ondas estatizantes ou liberalizantes chegam ao Brasil sempre depois de terem passado pela Europa ou pelos Estados Unidos. Da mesma maneira ocorre dentro do Brasil. Falando apenas daquilo que vivi, os estados mais ricos foram os primeiros a apoiar a ditadura militar, também foram os primeiros a lutar pela democratização, aderiram primeiro às candidaturas do PT e são os primeiros que as está abandonando, já os estados mais pobres estão ainda na fase anterior como vimos nas últimas eleições.

      A diferença do que vivi e do que estou vivendo é a velocidade com que as mudanças ocorrem. A cultura digital acelerou os processos e os governos, de forma geral, não estão capacitados para acompanhar as mudanças, assim corre-se o risco de ruptura, pois o carro pode passar à frente dos bois. Ou os governantes passam a ouvir e entender os recados das ruas cibernéticas ou serão atropelados.

domingo, 2 de novembro de 2014

Deep net ou internet cabulosa ou mantenham seus filhos longe disso.

      A internet é o produto do compartilhamento de conteúdos mantidos em computadores públicos e privados que são interligados por uma rede de dados. Cada dispositivo que a acessa o faz através de um ponto que é identificado por um número, logo é passível de ser rastreado, e isso pode ser mais fácil ou mais difícil de ser feito dependendo da tecnologia utilizada e, por ser uma rede global, do acesso que os países dão aos dados armazenados em seus componentes.

      Dizem, embora eu não tenha dados e, lógico, não tenho certeza disso, que a porção da internet pela qual você está lendo esse artigo e também acessa as redes sociais, os sites mais conhecidos, e envia mensagens é somente a ponta visível do iceberg, e que que o maior trafego está escondido naquilo que se chama de deep internet e que também é conhecida, em português, por internet cabulosa.

      Usando um tipo especial de programa de navegação, que é fácil de ser encontrado, e conexão máquina a máquina chamada P2P é possível acessar uma porção da rede que se distribui por componentes hospedados em locais cuja legislação dificulta a identificação e, portanto, facilita todo tipo de transação ilegal. O conteúdo dessa rede não pode ser acessado pelos mecanismos de buscas usuais, mas tudo o que é porcaria pode ser encontrado lá como pedofilia, tráfego de drogas e de armas.

      Eu não tinha conhecimento dessa rede mas em uma semana ouvi falar sobre isso duas vezes, a primeira em um telejornal e a segunda em um filme, assim resolvi me informar. Quando pensei em escrever esse artigo queria recomendar que não permitissem que seus filhos pequenos a acessassem, mas pensei bem e achei melhor tirar o termo “pequenos”, pois é melhor que todos permaneçam o mais distante possível dela.

      Quem age legalmente não precisa se esconder, assim, só acessa essa porção da internet quem não deseja ser identificado, logo, não deve estar procurando emprego ou fazendo caridade.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Deep_web

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Tchau Aécio, vá descansar e volte daqui a quatro anos com um plano melhor.

          Desde que ouvi, na Voz do Brasil, o Aécio dizendo que o voto não poderia ser facultativo porque a nossa democracia ainda não está madura, eu já sabia que ele não teria o meu voto. No entanto, se eu tivesse que decidir entre ele e a Dilma eu votaria nele. Não o farei pois estou no limbo. Quando me mudei para a Bahia já havia terminado o período para a transferência do domicílio eleitoral, e é muito alto o custo para ir a São Carlos para votar. Assim, o Aécio perdeu o meu voto e, provavelmente, o de minha família.

          Eu votaria no Aécio contra a Dilma porque acho que a presidente faz um péssimo governo e eu poderia passar horas discorrendo sobre isso, e mais, o PT, partido da presidente, montou uma quadrilha, instrumentalizou as funções públicas e seus objetivos não são republicanos, seu valor maior é assaltar o erário, o que faz com maestria.

          Usando minhas faculdades de vidente ouso arriscar um palpite: a Dilma ganhará as eleições no próximo domingo. Fundamento a minha previsão em dois motivos, primeiro, o atual modelo de campanha não prioriza programas ou ideias, mas apenas a sensação e emoção. Segundo, a oposição de hoje não tem capilaridade comparável à do PT.

          Apesar de ser uma colcha de retalhos e fisiológico, hoje, o PMDB, é o único partido no Brasil capaz de tirar o PT do governo, mas como ele faz parte da coalizão, aqueles continuarão no comando da nação.

          Para ganhar as eleições o candidato precisa estar próximo do voto e o PMDB está. É um partido grande em todos os sentidos, tem grandes bancadas em todas as esferas de poder e em todos os cargos e isso ocorre porque é organizado em todos os municípios. Essa malha é capaz de alavancar qualquer candidatura e minar a adversária.

          No Brasil ninguém consegue governar sem o PMDB, e ele descobriu uma fórmula infalível, sendo o coadjuvante, participa do bonus dos acertos e se desconecta do onus dos erros. Nunca é vidraça e sempre é estilingue. Ataca os adversários e faz muxoxo para aumentar a sua participação. Se passa por cordeiro mas, na verdade, é predador, tanto contra os adversário quanto contra os aliados. Gera o “fogo amigo" e não pode ser punido, pois sempre ameaça pular do barco deixando-o à deriva.

          Como ninguém é tonto para cortar a própria carne, não se deve esperar dos políticos uma reforma eleitoral drástica que corrija todos os vícios hoje existentes, assim, não haverá mudança significativa a curto prazo. Logo, tchau Aécio, vá descansar e volte daqui a quatro anos com um plano melhor.

sábado, 11 de outubro de 2014

Os meus livros, não, ainda não!

 Costumo dizer que tudo piora com o passar do tempo, e se há alguma coisa boa em ficar velho é olhar para determinadas situações e poder dizer: já assisti a esse filme. O filme completo é o das nossas próprias vidas, parece que o nascer e o envelhecer são as duas pontas da mesma corda que eram emendada e que em algum momento foi cortado. Quem morre por velhice precisa dos mesmos cuidados e da mesma assistência que o recém nascido, e também, igualmente, nada possui. É um como ciclo.

      Hoje, que tenho muito mais passado que futuro, mas ainda, provavelmente, algum futuro, conheço o significado de acumular, e de várias coisas tenho mais do que preciso. Quando saí da casa de meus pais, aos dezoito anos, tudo o que eu tinha cabia em uma pequena e velha mala que nem minha era, e tinha também muitos sonhos. Hoje possuo muito mais do que várias malas, e os sonhos, que podem não mais ser os mesmos, também são muitos.

      Fazia tempo que eu não me mudava, e na última, no mês passado, não trouxemos os maiores objetos que se tem em uma casa, e mesmo assim os nossos pertences vieram distribuídos em muitas caixas. Mesmo se passando quase um mês há várias caixas a serem abertas.

      Não sei dizer se esse acúmulo me faz mais feliz, mas, com certeza, me trás mais segurança e conforto, não apenas conforto físico, mas também espiritual. É aquela sensação de sair de casa em viagem e passar vários dias fora. Viajar é muito bom, mas voltar para casa, para a família e para as próprias coisas é muito melhor.

      Tenho certeza que eu viveria muito bem com muito menos, mas embora eu tenha desprendimento para certas coisas não consigo me desfazer de outras, por exemplo, tenho três bicicletas e pode ser que eu compre mais uma. Tenho uma para estrada e uma para trilha, até aqui é fácil de explicar, pois são equipamentos diferentes para duas atividades diferentes, a que eu compraria é porque não conseguiria ir a uma padaria e deixar qualquer uma das duas anteriores na rua, pois podem ser furtadas. Como as rodas são presas com o que se chama de blocagem, se eu as prendo pelo quadro podem furtar as rodas ou, se eu as prende-las pelas rodas, furta-se o quadro. Já a última é uma Caloi 10 de mais de 35 anos que mandei reformar. Não serve mais para as atividades que pratico, mas não achei um motivo para me desfazer dela. Há algum tempo consegui doar os meus discos de vinil e um toca discos com amplificador e caixas acústicas. Só fiz isso porque foi para o Marcelo, meu sobrinho que é músico e adora músicas. Achei que esse material, que continha até várias porcarias, estaria muito melhor com ele do que comigo.


      Antes da mudança joguei fora muitos cadernos, trabalhos, xerox e apostilas de diversos cursos dos quais participei. Na mesma leva foram revistas e artigos que eu acumulava. Me livrei de tudo, mas foi com dor no coração. Agora, dentre as caixas que esperam para ser esvaziadas estão os meus livros. Há os que gosto muito, há os que não gostei, há os que ainda não li e, dentre esses,alguns que, provavelmente, não irei ler. Há, inclusive, vários livros técnicos, mas ainda não me sinto confortável para dispor deles. Não tenho o mesmo apreço por móveis, roupas, sapatos, tênis, que também tenho vários, e por eletrônicos como tenho por aquele amontoado de páginas que eu poderia facilmente substituir por arquivos eletrônicos, mas, os meus livros, não, ainda não! 

domingo, 14 de setembro de 2014

Eu Sei Que Vou Chorar

      Tenho um sentimento muito forte de pertencimento. Eu não possuo, eu pertenço. Pertenço às coisas, pertenço aos lugares, e, principalmente, pertenço às pessoas.

      Meu primeiro e significativo ponto de inflexão foi fácil. Saí, ainda adolescente, rebelde e arrogante da minha cidade natal, com seus 45 mil habitantes para estagiar em uma grande empresa em São Paulo. Deixava a família, era um jovem assustado mas destemido e desejoso de mudar uma estória de privações. Após alguns meses e já iniciando uma carreira de muito trabalho, liderança, viagens e hotéis me fixei em Campinas, uma cidade de 600 mil habitantes e onde já moravam o meu irmão, um técnico em ascensão profissional e a minha, então namorada e até hoje, esposa. Foi uma felicidade só.

      Quatro anos depois, com uma carreira profissional sendo encaminhada, casado e com uma filha, fizemos a mudança para Ribeirão Preto. A transição levou cerca de 3 meses, e como se repetiria, fui primeiro para trabalhar, mas retornando para casa aos finais de semana até que a mudança definitiva se efetivasse. Com grande senso de responsabilidade e profissionalmente progredindo senti a primeira perda. Fui de uma cidade muito maior para uma pior que tinha a metade da população de Campinas, além de ser suja, quente, empoeirada e fedida. Ribeirão fedia a plantação de cana e sofria com as populações migratórias de andorinhas. A praça central era imunda e cheia de fezes das aves que faziam uma bela revoada, mas emporcalhavam a cidade e a tornava mais fedida. Mesmo sem revelar a insegurança, fui entristecido. Deixava para trás um forte ambiente no qual me sentia totalmente inserido.

      Mas também deu certo. Depois de 8 anos, já com um filho, casa própria e exercendo cargo de liderança nos mudamos para Varginha. Novamente saia de uma cidade com cerca de 400 mil habitantes, rica, crescendo e da qual eu já conhecia os lugares bonitos para outra que contava os seus 80 mil habitantes. Longe, feia e com péssimas estradas. Comecei a trabalhar e a frequentar a cidade em fevereiro de 1988 e a mudança se concretizou em agosto. Me recordo como se fosse hoje, quando a transportadora carregou a nossa mudança, eu, sozinho, dei uma volta no anel viário de Ribeirão e chorei. Chorei de saudade daquilo que eu deixaria para trás.

      Também deu certo. Em Varginha por apenas dois anos e meio a família não cresceu, não comprei casa, mas avancei profissionalmente, pois já liderava um departamento e não apenas uma área. Novamente nos mudamos. Para exercer a mesma função porém em uma cidade maior, São Carlos, que então estava com 170 mil habitantes, o meu sentimento era de ganho e praticamente não teve transição. Em dezembro de 1990  tomamos a decisão, em 2 de janeiro comecei a trabalhar e no dia 23 do próprio mês já estávamos na nova casa. Porém a mesma situação se repetiu. No último dia em Varginha, novamente sozinho, ao dar uma volta no entorno da cidade, chorei. Chorei pelo que construí e pelos amigos que estava deixando.

      Foram 23 anos em São Carlos, onde meus filhos estudaram e cresceram, a Nega e eu também estudamos, crescemos e fincamos raízes. Profissionalmente estabilizado e muito satisfeito iniciei nova negociação que durou cerca de 5 meses, e com outros 5 meses de transição me encontro em nova mudança. A partir de amanhã meu endereço passa a ser na Bahia. Estou trabalhando em Salvador e iremos residir na vizinha Lauro de Freitas. Salvador é imensa, com mais de 3 milhões de habitantes e com a pobreza e a riqueza convivendo lado a lado. Lauro de Freitas, muito menor, parte da região metropolitana e caminho da chamada Linha Verde que liga a capital ao litoral norte é movimentada e feia, mas o oceano conserta tudo.

      Além do que construí em São Carlos não estarei deixando apenas o maior período que vivi em uma só cidade, mas também a minha filha, que aqui continuará residindo para seguir a sua própria vida. Tive muitos motivos para fazer essa escolha, e como tudo que ocorreu até agora, acredito que, assim como fui muito feliz aqui, também serei lá. Trabalho e desafios não me faltarão, mas como bem sei, “no pain, no gain”.

      Há duas semanas, quando voltava a São Carlos para ver a família bateram em meu carro, assim, hoje, não conseguirei dar uma volta na cidade e ainda sairei por um caminho inesperado, através do aeroporto de Araraquara. Caminho que muitas vezes fiz e refiz de bicicleta. Caminho que conheço bem, onde fiz muita força tentando superar meus limites e o de hoje será o maior esforço de todos, o de conter o choro, pois sei que irei chorar, aliás, já estou chorando. 

domingo, 31 de agosto de 2014

Aécio, Dilma ou Marina?

      A maioria dos meus amigos não tem atuação política, mas alguns gostam, fazem campanhas e até participam da vida pública. Eles torcem pelos 3 candidatos que aparecem em melhor colocação nas pesquisas: Aécio, Dilma e Marina - citei-os aqui em ordem alfabética, nada relacionado com a minha preferência. De alguns vejo até mesmo o fervor de militante que torce e sofre; eles exercem plenamente o seu direito e estão certos na tática, mas, a meu ver, muito longe da estratégia.

      Esse sistema de presidencialismo de coalizão está causando muito mal ao país. O poder legislativo que deveria ser o mais importante, pois é ele que determina a direção do país, se apequenou, se tornando apenas um chancelador do poder executivo, que com tantas medidas provisórias que trancam a pauta do congresso, legisla quase que por decreto. O poder judiciário, com o sistema deturpado de nomeação, passou a ser também uma extensão do executivo, basta ver que as duas últimas nomeações de ministros do supremo absolveu os acusados, e condenados por alguns crimes do mensalão, por formação de quadrilha. Havia quem comandava, quem negociava, quem pagava e uma instituição financeira que fazia a transação bancária, se isso não caracteriza uma quadrilha não sei mais como definir, pois que era ilegal ficou provado.

      Mas a origem do problema está no poder legislativo. Deputado não tem que se vangloriar de “conseguir verba” para quadra de esporte ou viaduto, deputado tem que fazer lei. Lei de boa qualidade e que garanta o avanço social. O mesmo vale para os senadores, mas pensando bem, para que senadores? Eles deveriam exercer um poder moderador, já que representam em quantidade igual todos os estados mais o distrito federal. O distrito federal tem o mesmo poder de um estado pequeno como o Piauí e de enorme população e economia como São Paulo. Há Algo muito errado aqui, e que se estende à câmara federal, já que a proporcionalidade também é deturpada. Que tal reduzir o número de congressistas? proponho um a cada 500 mil habitantes, assim ao invés de 513 deputados teríamos cerca de 400. Na pior das hipóteses, já que eles são inúteis, teria menos gente para roubar.

      Em nome da pluralidade foram criados mais de 30 partidos políticos que só servem para fazer barganha: recebem dinheiro para se alinhar com alguma coligação e que produz outra excrescência: a divisão de tempo no horário eleitoral. Como pode a coligação do PT ter o dobro de tempo do PSDB e esse o dobro de tempo do PSB? Bastariam 5 partidos: um de extrema esquerda, um de esquerda, um de centro, um de centro direita e um de extrema direita, todos com o mesmo tempo de propaganda, já que não dá para viver sem ela. Quem quiser participar da vida pública que se encaixe em um desses partidos.

      O que dizer então da proporcionalidade do voto? Vota-se em um candidato folclórico e se elege nessa esteira outros ilustres desconhecidos e sem votos. Esses nos representam? E os suplentes a senador? Normalmente é um parente do candidato ou o financiador da sua campanha. Ou seja, outro sem voto que assume um mandato para o qual não recebeu voto nenhum. Sobre o senado é bom nem comentar mais nada, o melhor é acabar com ele.

      Quando um deputado ou senador deixa a função para exercer um cargo no executivo o suplente assume. Já houve casos em que foi feita a exoneração do servidor apenas para que ele pudesse retornar ao congresso dar o seu voto em um determinado projeto ou comissão, pois o suplente não “era confiável”. Seria razoável que se um membro do poder legislativo trocasse de poder, ficasse aquele cargo vago até a próxima eleição.

      Vejam o absurdo que é a eleição ocorrer a cada dois anos. Esse sistema acabou com a política de estado, pois o país passou a ser governado pela próxima eleição. Se fica difícil fazer uma só eleição para todos os cargos a cada 4 anos ou outro período que o valha como 5 ou 6, que seja feita uma parte em outubro e outra em dezembro do mesmo ano. Seria muito mais produtivo e mais barato.

      Enfim, há muito mais a dizer, porém o principal é que esse sistema se auto-alimenta. Quem está no poder não quer mudá-lo pois se beneficia dele. Ou se provoca a mudança por uma forte pressão popular, ou se espera por um político messiânico que tenha força para produzi-la. Esses dois fatores estão em falta. 

domingo, 24 de agosto de 2014

Inferno Astral

Não gosto de filmes de ficção, a não ser que que as tramas sejam factíveis, por isso prefiro aqueles baseados em estórias reais. Gosto de ciências, principalmente das exatas, pois me encanta poder mensurar: dimensão, distância, velocidade, ângulo, temperatura, enfim, gosto de ter dados para comparar, assim é lógico, não acredito em previsões astrológicas. Também sei que é normal entender, das situações, o que o que queremos, desprezando, em muitas das vezes, a razão. Assim vejo que há coincidência de comportamento em pessoas nascidas em períodos próximos, aquilo que os astrólogos chamam de signos.

Sou virginiano, metódico, perfeccionista, enfim, um chato e há tantos virginianos chatos como eu. E segundo a astrologia entrei na semana passada em meu “inferno astral” que se inicia um mês antes do aniversário, e por coincidência, tive uma semana infernal!

Estou envolvido em vários problemas simultâneos e de difícil solução, daqueles em que se anda em círculos, às vezes para os lados, para trás, mas nada de ir para a frente e resolver. É desgastante, mas devem ser vividos. Eu tinha planos de vir para casa descansar e ficar com com a família, e na sexta-feira, deixei o trabalho atrasado e quase perco o vôo. Cheguei ao aeroporto aos 44 do segundo tempo, mas tudo certo, embarquei, a viagem foi tranquila e até dormi um pouco. Vindo de Salvador desembarquei em Campinas, tomei um taxi, fui até o estacionamento onde estava o meu carro e comecei a curta viagem para casa.

Eu era o último de uma fila que andava a 100km/h na pista da esquerda da Anhanguera, e não havia percorrido nem em 15km quando um irresponsável veio por trás em alta velocidade e percebendo que haveria a colisão, saiu para a direita e enfiou o pé no freio, perdeu o controle, rodou, bateu no meu carro duas vezes, rodou novamente e saiu para a direita. Meu carro foi jogado contra a mureta de proteção, onde raspou levemente, e consegui controlá-lo com facilidade, mas devido ao fluxo intenso de veículos, percorri uns 200m até poder parar em um local menos perigoso.

Estacionei no acostamento, liguei o pisca-alerta, coloquei o triângulo e fui ver o que havia acontecido com o outro motorista, mas ele havia sumido e como estava escuro não identifiquei nem mesmo o modelo do carro que provocou o acidente. Liguei para casa, liguei para o seguro e pedi resgate. Esperei uns 10 minutos e chegou um guincho da concessionária e depois outro carro de suporte. Fui levado a um posto de combustível reduzindo tanto o risco de nova colisão quando o de assalto e chegou também o guincho enviado pela seguradora. Assim viajei uns 140km na boléia de um caminhão que também transportava o meu carro.

Cheguei tarde em casa e além do prejuízo material e do desconforto por não poder contar com esse carro por um longo tempo, ainda perdi um tempo precioso do meu final de semana, e o pior, ainda falta muito para o meu aniversário.


domingo, 17 de agosto de 2014

O que não falta é opção

      É inverno, e em Salvador a amplitude térmica é pequena, a temperatura tem variado entre 21 e 27 graus Celsius, mas também é um período de muita chuva e vento. Choveu em todos os dias da última semana, mas não hoje durante o dia, porém, pela manhã, ventava muito.

      Como irei à academia amanhã cedo não quis fazer atividade física, apenas caminhei uns 10km em ritmo lento, assim pude observar que, viver em uma grande cidade ladeada por um oceano propicia grande diversidade de opções ao ar livre. Pensei em fazer um registro fotográfico, mas fiquei com preguiça.

      Há os que passeiam com os cachorros, os que levam os filhos pequenos para passear. Tem a as crianças com os seus carrinhos ou motos elétricas, tem turma do skate, do patinete, do patins in line, os que caminham, os que correm, que são muitos, a turma da bicicleta, esses com bikes vários tipos, incluindo as elétricas e pessoal das motos.

      Há os banhistas, os nadadores, os mergulhadores, a turma da pesca submarina, os da observação com snorkel, a turma do body board, os surfistas que também são muitos, o pessoal do standup paddle e os pescadores, desde os que ficam nas pedras, os que pescam com caiaque até os profissionais com seus barquinhos, e tem ainda a turma do iatismo a vela. Observando somente nessa região não vi os grandes iates. Mas quem comanda mesmo é o pessoal do baba (futebol de areia). Eles chegam trazendo a bola e as traves que são feitas com canos de PVC, mas não sei de onde sai a “cavadeira” para fixar as traves, mas elas existem.

      Como se vende coisas! Coisas de todos os tipos, a começar pela água e não poderia faltar a cerveja e o sorvete, mas tem também o acarajé, o milho, o amendoim, o queijo coalho e a água de coco, além de alguns doces, claro! Há protetor solar, bronzeador e cremes de vários tipos, roupas, óculos e chapéu. Há também os que oferecem excursões e passeios de barco. Além de vender, também alugam-se cadeiras e barracas.Todos esses são ambulantes, e há muitos bares, restaurantes e lojas. Impossível faltar o flanelinha, já que estacionamento é artigo raro.

      Há cenários ocupados por grupos de estudantes posando para foto de formatura, corais, religiosos distribuindo panfletos, brinquedos para crianças, vendedores de imóveis com seus stands móveis e sem falar dos grupos de capoeira.

      As opções são muitas, mas, faço parte apenas dos que caminham, correm e às vezes, uma voltinha de bike. Por enquanto ainda não sou baiano, pois não comi acarajé e espontaneamente não falei um Oxe!

domingo, 3 de agosto de 2014

Dom

      Todos têm pelo menos um dom, isso é, sabem fazer algo com excelência, e o meu é ser técnico. Nunca tive muito conhecimento, mas sempre tive uma habilidade inata. Mesmo não sabendo como ou o porquê, tenho facilidade para entender o fluxo de uma manutenção, e para isso destaco saber separar a causa da consequência. Essa mesma característica é o que torna um médico diferenciado.

      Tanto os técnicos como os médicos procedem da mesma maneira, verificam os sintomas, fazem uns testes, aplicam uma correção, monitoram os resultados e se estiver dando certo, prosseguem, do contrário, mudam a abordagem e o processo se repete. Porém ao contrário dos técnicos, os médicos tratam de pessoas, aqueles, de sistemas e equipamentos.

      Eu não poderia ter sido médico por alguns motivos, primeiro porque não gosto de estudar, segundo, porque não posso ver sangue. Sou a favor da doação, mas por duas vezes já desmaiei tentando fazê-lo. Foram várias as vezes em que a minha pressão arterial caiu somente por eu ter entrado no hospital para visitar alguém. Já dei trabalho! Mas há ainda uma terceira característica que me impede até mesmo de considerar qualquer outra: acho que é uma profissão que endurece as pessoas.

      No início da minha carreira resolvi consertar equipamentos em casa, perdi tempo, perdi dinheiro e não sabia cobrar. Ou cobrava pouco ou não cobrava nada. Da mesma maneira acho que nunca teria um restaurante, pois se aparecesse alguém pedindo comida iria conseguir e acredito que a fila só faria crescer. Afinal, um copo d’água, um prato de comida e a senha do WiFi não se nega a ninguém.

      Há alguns dias assisti a um jornal na TV que mostrou um homem que agonizou na rua até morrer, ele estava deitado na calçada, na porta do hospital que era particular e o homem não tinha plano de saúde. É possível até que os médicos nem tivessem conhecimento, porque o caso poderia não ter passado da portaria, mas esse endurecimento é do grupo. Eles se habituam a lidar com tanta desgraça que essa é somente mais uma, um número apenas. Sabemos que a quantidade de leitos em hospitais é insuficiente e o de leitos de UTIs então, nem se fala, o que gera, em alguns casos, a possibilidade do médico ter que escolher quem irá viver ou morrer.

      Apesar de não ser uma profissão boa para mim, ainda bem que existem pessoas que conseguem lidar com essas situações e possam realiza-las apesar de todos os problemas envolvidos e as conseqüências que eles geram. Essas pessoas possuem esse dom.

domingo, 13 de julho de 2014

A regra é perder.

      Já ouvi muitas vezes dizer que o futebol é coisa mais importante entre as coisas desimportantes, e talvez seja mesmo, pois movimenta anualmente milhões de pessoas e bilhões de dólares, trazendo consigo uma indústria que emprega e paga impostos, mas como em todas as atividades existe o lado ruim, a desonestidade e a corrupção. Ainda que tenha a relativa importância, o futebol é apenas isso, só mais um esporte. Entendo que o esporte de competição, dentro de suas regras, é a atividade que tornou civilizado o comportamento belicoso do ser humano. Ao invés das guerras, das matanças e das caçadas, disputa-se alguma bobagem com regras estabelecidas e, supostamente, condição inicial igual para as partes.


      Eu gosto de esportes e apóio as competições, inclusive a própria realização da copa do mundo no Brasil. Vejo que em qualquer atividade esportiva a regra é perder. Perde-se sempre. Perde-se muito. Qualquer campeão, por melhor que seja, e por mais longevo que se torne, perdeu e perdeu muito. Perdeu no início da carreira, perdeu durante os períodos de glória e perdeu em seu ocaso. Também perdeu outras oportunidades enquanto se preparava e sofreu. Sofreu muito. Para ser campeão é preciso treinar, e treinar dói. Treinar cansa, treinar enjoa e quem treina sofre. O melhor sempre será o alvo, ganhar do melhor é o troféu que ou outros almejam, e o melhor, mais cedo ou mais tarde, fracassa. Assim, não é possível dizer que há o melhor, mas apenas dizer que há alguém que está melhor.

      Há muito as competições esportivas de alto nível deixaram de ser feitas apenas com paixão, hoje há ciência, há planejamento. Não há mais espaço para o “jeitinho”, para a malandragem. Nome não ganha jogo e talento só não basta. Às vezes, e em poucas oportunidades, e em competição individual, um talento pode superar outro de mesmo nível porém mais preparado, mas em competições por equipe é difícil que isso ocorra. A competência e a determinação supera o talento puro e a fama.

      Em qualquer competição as regras são feitas para que haja um campeão, mas no fundo ela diz que a regra, aquela que vale mesmo, é perder. Na copa do mundo são 32 equipes e somente uma será a vencedora, logo, são 31 perdedores. Assim, perder faz parte do jogo, aliás, esse é o próprio jogo, pois ganhar é que é a excessão. O problema não é, portanto, perder, o problema é como se perde. Perder sem lutar, perder sem determinação, perder sem preparo, isso sim é humilhante, e esse foi o retrato da nossa seleção, naquela que deveria ser a nossa consagração. Ganhar o sexto título em um campeonato feito em nossa terra. Fomos mal em todos os jogos iniciais e péssimos nos dois finais.

      Não adianta ficar discutindo de quem é a culpa, pois sempre em nossa cultura, depois dos desastres aparecem os engenheiro de obra pronta, aqueles que já previam, os que tudo sabiam, e os que, com nada, concordavam. Há os que tinham as receitas mas que não foram ouvidos e os que ficaram de fora e queriam ter estado lá, pois, “comigo seria diferente”. Todos esses podem estar certos, estar errados, ou qualquer mistura disso, porém o fato é: em alto nível não dá para improvisar. Ou se estuda, se prepara e se planeja, ou fica de fora para não ser humilhado. 

domingo, 22 de junho de 2014

As Gordinhas de Ondina - A história que muitos soteropolitanos não conhecem

      Pela primeira vez, há duas semanas, escrevi dois artigos no mesmo dia, um dos quais publiquei hoje. Da mesma maneira, eu nunca havia publicado dois artigos no mesmo dia como estou fazendo hoje. Não se trata de algo factual, mas de oportunidade. Oportunidade que a Nega, que está comigo, me deu, pois ela conduziu as pesquisas.

      A maioria dos turistas e dos próprios soteropolitanos só veem as estátuas da avenida Adhemar de Barros como as ”Gordinhas de Ondina” e que alguns mal educados insistem em pichar.


      Trata-se de uma obra da reconhecida artista plástica baiana Eliana Kertész ( http://www.elianakertesz.com.br ) que inspirada na canção de Moraes Moreira e Fausto Nilo: As meninas do Brasil, retrata a miscigenação. https://www.youtube.com/watch?v=nT8IPG7T9BI 

      Com estátuas de bronze de 3 metros de altura e pesando cerca de 1 tonelada cada, elas representam as três principais raças que deram origem ao povo brasileiro. A Catarina, com feição indígena, está voltada para o interior do Brasil, a Damiana, da raça negra, contempla a África e a Mariana, branca, olha para Portugal, e todas enfeitam a orla de Ondina, próximo à residência do governador do estado.

      Mesmo que as formas volumosas chamem mais a atenção, nunca mais as verei apenas como gordinhas.


Segurança Cibernética

      A segurança cibernética é um caso sério. Não dá para fugir, seremos cada vez mais dependentes do ambiente virtual, e queiramos ou não, nossa vida será vasculhada pelos governos, companhias e toda sorte de pessoas de má fé. Para dizer a verdade, não seremos, já somos.

      Assim como colecionamos documentos: RG, CPF, Reservista, Eleitor, CTPS e Passaporte, também colecionamos cartões: banco, crédito, saúde, odontológico, supermercado, farmácia, posto de combustível, e também colecionamos senhas. E tem de todo tipo: 4 dígitos, 6 dígitos, mínimo de tantos dígitos, letras e números, letras, números e símbolos, pelo menos uma maiúscula, não pode haver certas sequências, não se pode repetir mais que tantos números e assim vai. É preciso um arquivo para os logins e senhas e uma senha para proteger o arquivo. Ainda não tenho tal arquivo, mas considero criá-lo, já me cadastrei em tanta coisa que sempre esqueço alguma senha.

      Resolvi me cadastrar no programa de milhas da Gol e preenchi o formulário. O site me informou que já existe um cadastro com esses dados. Pedi para recuperar o meu login, que nesse caso é um número. Recebi-o com facilidade. Retornei à página e pedi para recuperar a senha. Não tive sucesso. Entrei no chat e conversei com um robot, que me direcionou para um link. Não deu certo. Só fui até um ponto e depois disso o teimoso do computador sempre pede as mesmas informações.

      Até imagino o porquê, é que uso um computador da Apple que tem como default o navegador Safari e nem todos os sites são produzidos e testados com todos os navegadores, assim a página me aparece incompleta e eu não forneço o que, em tese, me é solicitado.

      Tento várias vezes e por caminhos diferentes mas sem sucesso. Resolvo sair da página e aparece um questionário para avaliação do serviço eletrônico com três perguntas.

É a primeira vez que usa o serviço? Sim!
Sua pergunta foi respondida? Não!
Dê a sua avaliação ao serviço, com algumas opções. Extremamente insatisfeito!

Enviar….

! Desculpe, houve um erro ao processar seu pedido

      Assim mesmo. Com um triângulo enorme contendo o ponto de exclamação antes da frase e sem ponto final.

domingo, 8 de junho de 2014

Ser grande e forte já me bastaria

      Faz um mês que mudei de emprego e estou em processo de mudança de cidade. Isso me faz gastar muito tempo em lugares públicos como aeroportos, restaurantes e shoppings centres e nada chama mais a minha atenção do que a falta de educação.

      Ainda não passei por nenhuma situação difícil ou constrangedora, nem mesmo presenciei algo absurdo, a não ser a de um garoto que arrancou uma correntinha do pescoço de uma moça e fugiu de bicicleta no meio do trânsito com manobras que colocou em risco a sua própria vida, mas são muitas as pequenas atitudes que me decepcionam.

      Há o despreparo de muitos profissionais, seja no checkin de hotéis e de companhias aéreas como o de garçons e caixas de restaurantes e de outros estabelecimentos comerciais, porém, vários deles, mesmo que mal treinados, apresentam boa vontade. Mas não dá para aceitar banheiro sujo e demais formas de desrespeito às pessoas.

      Parece aquela estória do ovo e da galinha, quem nasceu primeiro? As empresas simplesmente desrespeitam as pessoas ou o fazem porque não são respeitadas? Isso também não importa, pois como prestadores de serviços deveriam fazê-lo com excelência, mas a atitude de alguns prejudicam a todos. É como o caso dos juros, uma das componentes que os elevam é a incerteza do recebimento, sendo que todos pagam por alguns.

      Vejo que com o acesso fácil à internet a situação piorou, pois basta uma rápida olhada no ambiente que se percebe que ninguém está mais sozinho. A maioria não vê quem está ao lado, mas está avidamente conectada em chats e redes sociais. As pessoas não se olham, não se vêem, pois estão sempre de cabeça baixa olhando para os seus gadgets. Ontem presenciei uma cena em uma praça de alimentação. Em uma mesa com 4 pessoas 3 teclavam e a última ficava com "cara de paisagem”. Não concordo, mas isso não é um problema meu e nem o quero para mim.

      O que me irrita é o sujeito se sentar em uma cadeira, colocar a mala, ou bolsa, ou pacote, enfim, qualquer coisa, em outra cadeira e ainda colocar os pés em uma terceira. Eu já consideraria um absurdo se as pessoas fisicamente saudáveis ocupassem uma só cadeira e não dispusessem desse lugar em favor de pessoas idosas, pessoas com crianças de colo ou ainda, e porque não, a senhoras e moças. Mas não, ocupam várias cadeiras e enterram a cara em um smartphone.

      Em horários de pico em áreas de alimentação é comum ver pessoas com bandejas na mão procurando por lugar para se sentar e ter, ao mesmo tempo, muitas pessoas sentadas com pratos vazios e celulares ocupados. As empresas deverão considerar esse comportamento futuramente, destinando áreas maiores, o que, evidentemente, se refletirá nos preços.

      Despachar bagagem em companhias aéreas é perder tempo duas vezes, tanto no despacho quanto na retirada. Porém há regra para isso, volumes acima de determinados limites (a soma da largura, altura e profundidade não pode ultrapassar 115cm) e peso (5kg) devem ser despachados, e cada pessoa pode transportar consigo apenas 2 volumes, um que atenda à regra acima e outro pessoal, como bolsas femininas e também o mais comum, alguma bolsa para o transporte de computadores. Mas há sempre os que desrespeitam para ganhar tempo. O tempo deles é o importante, o resto que se ajeite. Com a conivência das empresas que não querem desagradar a alguns, levam volumes grandes e pesados, às vezes mais do que dois, e ocupam todos os espaços do bagageiro. Outro dia assisti a uma cena. Um senhor alto, forte e, imagino, educado, pois falava sempre baixo e no mesmo tom, se dirigiu ao seu assento e o bagageiro acima estava lotado. Ele começou a mudar  as malas de bagageiro quando outro passageiro reclamou: 

  • Essas malas são minhas!
  • Pois as coloque no bagageiro sobre a sua poltrona.
  • Não cabe.
  • Não posso fazer nada, mas esse é o meu lugar.

      E acabou aí. Eu nem queria ser educado, ser grande e forte já me bastaria.

domingo, 25 de maio de 2014

Se você pergunta como vai, ele responde, e explica!

      Minha mudança para Salvador se dará em etapas. A primeira é ficar morando temporariamente em um flat e mergulhar no trabalho. Como eu já iria trocar de carro resolvi não trazê-lo e comprar um aqui, e durante os finais de semana em que permaneço na cidade conhecer um pouco da região e aprender a me orientar. Depois disso trazer a Nega para escolhermos um local para morar, contratar o aluguel e, enfim, fazer a mudança. Nesse período volto a São Carlos a cada duas semanas e passamos o final de semana fazendo planos e preparativos.

      Minha mobilidade está limitada, pois somente terei um carro à disposição em 10 dias, e por enquanto faço o que posso à pé ou de taxi. Aqui tem um sistema bem organizado, há taxistas autônomos e afiliados a alguma empresa e há, que eu saiba, pelo menos três delas. Todas oferecem ao cliente, ou passageiro, o mesmo tipo de serviço. Liga-se para o telefone da empresa, identifica-se, deixa-se um número de telefone para contato, uma descrição para ser reconhecido e informa-se o local de origem e o de destino. A atendente dispara um sinal que é recebido pelos taxistas, e aquele que estiver livre e mais próximo, em poucos toques em um celular customizado se oferece para o serviço. A central então envia para o celular do passageiro um SMS dizendo o tempo previsto para a chegada do taxi e a identificação do mesmo, não apenas com o modelo do carro mas também com um número de registro que fica estampado na lateral do carro. Até agora só me utilizei dos serviços de uma empresa e estou satisfeito, mas não com a despesa.

      Já tomei muito taxi nessas três semanas em que estou aqui, e os taxistas são a minha referência, mas reconheço, o baiano é engraçado. Mais do que os brasileiros em geral, se você pergunta como vai, ele responde, e explica. Ao final da corrida você já é íntimo, irmão, quase indo para o churrasco ou pelada no final de semana. Aqui a pelada se chama baba. E tem de tudo.

      Tem aquele que quer te mostrar que conhece a cidade, aqui é isso, ali é aquilo, depois do entroncamento é Rio Vermelho e assim vai…

      Tem o torcedor do Bahia, ou Baea!, e também do Vitória, o leão, esses dirigem mais calmos ou mais agressivos de acordo com o último resultado do time.

      Tem o político, que não se conforma com a aliança do prefeito com um ex adversário, ah se fosse no tempo do avô dele, isso jamais aconteceria…

      Tem o “esperto” que conhece os atalhos… vou te levar por um lugar que você não deve ter passado, esse é mais perto e mais barato, por onde foi que te levaram? Pela Garibaldi? Só aquele retorno dá mais de um quilômetro… e vai se enfiando por uns becos e vielas. E ao invés da corrida custar R$ 14,00 sai por R$ 13,50.

      Tem o economista, o carro é meu, mas é vantagem me associar, pois trabalhando sozinho tiro uns R$ 3.000,00 por mês, associado consigo uns R$ 5.500,00 livres e trabalho menos, e tem mais, ser taxista não tem glamour, mas advogado e engenheiro que começa a trabalhar ganha, no máximo, R$ 1.500,00.

      Tem o estressado. Bibibiiiii, vai seu burro, não tá vendo que aqui pode entrar à direita mesmo com o farol fechado? Mas se ele não é daqui e não sabe disso? Ponderei. Tem placa, lá atrás tem uma placa. Realmente tem, mas já passei por aqui umas 4 vezes e só agora eu a vi, ela é pequena, fica escondida e está mal colocada. É, mas se ele tem medo que fique em casa! Vixe, hoje me dei mal!

      Tem o malandro. Não sai do celular enquanto dirige e isso vai me deixando irritado. Oi, onde você está? Estou indo aí deixar um cliente. Você está com os convites? Não? Preciso dele, o forró é hoje à noite, olhe... eu só vou trabalhar até às quatro. Depois vou tomar uma cerva. Comer um acarajézinho. Não,... tem umas moças lá… Com esse nem quiz conversa, como dizem aqui, só assuntei!

      Tem o intelectual. Estou aqui há 42 anos, desde que vim estudar na UFBA, e essa juventude está sem rumo, está sem referência. Ninguém quer trabalhar e se não ganhar dinheiro fácil vai roubar. Também o governo dá tantas bolsas que o povo só quer fazer menino. Há cada duas semanas vou para o interior, de onde vim, e lá, pagava-se R$ 40,00 por dia de trabalho durante a colheita, hoje se paga R$ 100,00, isso se encontrar alguém para trabalhar, e esses só trabalham até o meio dia. A maioria só quer ficar em casa recebendo do governo, e nós pagando os impostos…

      Só há uma unanimidade entre eles. O governador será apeado do governo nas próximas eleições, pois não fez nada pela Bahia nesses 8 anos. O Candidato que deverá ser eleito também é fraco, mas é o menos ruim entre todos. O prefeito está com aprovação altíssima e o anterior foi péssimo, abandonou a cidade e a população.

      As licenças para taxistas são limitadas e concedidas pelo poder público e não há novas concessões há muito tempo. As licenças são permanente e podem ser passadas como herança, mas não podem, oficialmente, ser vendidas, mas no mercado negro, com “contrato de gaveta" elas custam R$ 100.000,00.

      Tomando-se um taxi no aeroporto para o centro o valor é fixo, R$ 116,00, mas se não comprar o tíquete e negociar na porta pode-se conseguir por R$ 80,00. Já o percurso de volta depende do taxímetro, e como há muito engarrafamento pode custar até mais, mas também dá para negociar um valor antecipado que varia de R$ 70,00 a R$ 80.00.

      Amanhã tem mais… 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Parece Piada

      Há muito eu queria cancelar a conta da TV por assinatura que ninguém em casa assistia. Tomei a decisão depois da greve dos correios, pois como a conta não podia ficar em débito automático a fatura não chegou a tempo pelo correio e tive que pagar juros sobre um valor já inútil. No mês seguinte fiquei na fila para pegar o código de barras pois o site é muito ruim, e a perda de tempo, paciência e dinheiro levaram-me ao escritório. Eu sabia que poderia fazer isso por telefone, mas como a loja é próxima de casa fui pessoalmente achando que resolveria. Não. O cancelamento é feito exclusivamente por telefone. Ok, paciência. Liguei e até que foi rápido, não mais de 10 minutos e a maior parte do tempo foi para recusar as propostas mirabolantes para continuar como assinante e com “descontos incríveis” e todas foram recusadas. O destaque ficou para a última frase, mais uma daquelas ensaiadas e regadas de “gerundismo”: o sinal estará sendo desligado entre 20 minutos e 24 horas podendo ser de imediato. Por acaso não seria melhor algo do tipo: em até 24 horas o sinal será desligado?

      Eu havia decidido resolver algumas pendências e em seguida fui até o CREA, que é a associação de classe dos engenheiros. Fui me informar sobre quais providências eu devo tomar para exercer a profissão em outro estado. Aqui não preciso fazer nada, mas em outro estado preciso me registrar no escritório local que pode pedir alguns documentos daqui, porém posso consegui-los através do site. Ótimo, resolvido. Não! Ao me registrar em outro estado aquele passará também a me cobrar a anuidade. Devo decidir qual delas pagarei e sempre informar ao outro a que escolhi pagar, ou seja, arrumei um trabalho até o fim da vida. Todo ano vou ter que enviar um e-mail para um dos escritórios com a cópia do recibo de pagamento que fiz no outro estado. Isso significa que estou constando como inadimplente no CREA de Minas Gerais há 23 anos. Inaceitável para uma associação que é nacional e que congrega profissionais da área de tecnologia.

      Como passei 2 semanas viajando tive menos tempo para preparar a minha declaração de imposto de renda. Deixei-a quase completa no último final de semana, mas faltavam alguns detalhes e entre eles o CNPJ da Caixa Econômica Federal, pois eu havia retirado o extrato no caixa eletrônico e nele não constava o tal número, mas havia, com destaque, um telefone para atendimento ao cliente. Trata-se de um “zero oitocentos”, gratuito. Fácil? Não. Primeiro é a ladainha do disque x para isso, disque y para aquilo e z se não tiver mais paciência. Depois a primeira atendente que faz várias perguntas e gera um número de protocolo deeeessssseeeee tamanho, e depois passa para outra, que faz mais um monte de perguntas e te deixa um tempão esperando na linha. Mas consegui. Foram mais de 10 minutos para obter um simples 00.360.305/0001-04. Número esse que deveria fazer parte do estrato. Simples assim.

      Passei por essas três situações no mesmo dia e esses são apenas alguns exemplos de como nossos processos precisam ser aprimorados. Não precisamos das melhores leis do mundo, precisamos de procedimentos que funcionem e que estejam orientados para a solução dos problemas dos usuários, não para as métricas das entidades. Essas utilizam tais contagens para dar satisfação, atendemos a tantos milhares de chamados, resolvemos dezenas de situações por minuto e assim por diante, mas e o cliente, esse está satisfeito? Eu não. O atendimento ao consumidor parece piada.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Você É Livre?

      Não tenho bem resolvida a questão de religião, mas há palavras que me trazem lembranças e reflexões, por exemplo, vejam a beleza descrita em Mateus capítulo 6 e versículos de 25 a 30:

25 Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?
26 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?
27 E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?
28 E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam;
29 E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.
30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?

      Quando viajo e vejo andarilhos caminhando pelo acostamento das estradas essa mensagem sempre vem à minha mente, e sempre imaginei que eles sim são realmente livres. Sei que levam uma vida dura, mas são livres. Eu tenho uma vida confortável, mas sou preso a muita coisa.

      De certa maneira eu os invejo. Eu não vou aonde quero e quando quero, vou aonde posso e quando posso. Posso até ir mais longe que eles, posso ir a lugares que eles nunca alcançarão, e mais, posso ir a todos os lugares que eles vão, mas não é a mesma coisa, serei sempre preso à minha origem, à minha família, ao meu trabalho e ao meu círculo de modo geral.

      Há dias assisti a uma reportagem no Bom Dia Brasil e gostaria de compartilhar com vocês. Para mim esse é um exemplo de liberdade.


      Diga-me agora, e você, você é realmente livre?

      Caso não consiga visualizar o vídeo, você pode acessa-lo e fazer o download aqui:  

http://www.4shared.com/account/home.jsp#dir=if3fjYpI

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Apoio a Copa do Mundo no Brasil

      Há quem não goste de nada, mas há quem goste de espetáculos de dança, de música, de teatro, de cinema, de esportes e de tantas outras atividades. Todas elas têm os seus expoentes, os seus praticantes e os seus simpatizantes. Todas elas fazem parte de uma indústria que emprega muita gente e gera riqueza para os melhores. O que para muitos é lazer, para outros é profissão. Eu que não tenho nenhum talento gosto de várias delas, porém me identifico mais com os esportes.

      Já tentei várias modalidades porém não tive sucesso em nenhuma, nunca passei de um eventual praticante e invejoso, pois invejo quem faz algo muito bem. Especificamente sobre futebol sou apenas torcedor e gostaria muito de assistir a alguns jogos da Copa do Mundo no Brasil e ver de perto alguns dos melhores times e craques.

      Eu apoio a realização da Copa do Mundo no Brasil assim como apoio as Olimpíadas e tantas outras atividades. Se eu pudesse estaria mais do que apenas presente, seria a realização de um sonho poder participar. O que eu não vou gostar de ver é o nosso país passar vergonha.

      Sim, irão nos envergonhar a falta de estrutura, a exploração a que os turistas serão submetidos, a violência e as manifestações. A partir de junho a nossa imagem será revelada ao mundo como realmente somos, um país rico, desigual e despreparado. Além das chacotas por causa da nossa incompetência em preparar um evento tão grande seremos massacrados com notícias ruins. Serão assaltos, agressões e tomara que não haja mortes. Porém as imagens que correrão o mundo e tomarão conta das mídias mais importantes do mundo serão as das manifestações.

      As manifestações seriam apenas mostradas como democráticas se não fossem insufladas por bandidos anônimos, arrogantes e violentos. Esses eu condeno. Porém considero as manifestações legítimas pois um país carente de estrutura básica não se pode dar ao luxo de gastar bilhões dos cofres públicos com um evento privado que irá encher o bolso de muita gente rica e não oferecerá nada à população. Pareço incoerente, já que acima eu disse que um evento desse emprega muita gente. Sim, é verdade, mas empregaria da mesma maneira se a conta fosse paga pelos organizadores e não pelo erário.

      Nosso governo nos enganou. Nos prometeu um evento de primeiro mundo sem o uso de verbas públicas, o que, de fato, não ocorreu. O governo foi incompetente em todos os sentidos. Teve sete anos para se preparar e a não ser os estádios nada mais foi solucionado. Isso porque ao invés conceder as licenças e ceder à iniciativa privada a execução e deixando que essa arcasse com os custos, obtivesse os lucros e pagasse os impostos, o governo, inepto como sempre, gastou o dinheiro que não tinha principalmente na construção e reforma dos estádios se limitando em tudo mais a simples maquiagem.

      Além disso mostrou sua submissão à FIFA, entidade privada, com histórico de corrupção, a ponto de modificar a legislação para favorecer os patrocinadores daquela associação, como no caso da venda de bebidas alcoólicas nos estádios. O Brasil poderia ter autorizado a FIFA a realizar a Copa do Mundo aqui, mas ela que a organizasse e pagasse por isso, mas nunca que nos deixasse com os encargos e saísse com os lucros. Isso sem falar na arrogância dos seus membros que conseguiram até a destituição de ministro.

      Agora que o caso está consumado, iremos pagar mais uma conta pesada que será a de mobilizar todas as forças de segurança para, literalmente, descer o cacete em nossa própria gente e exibir o show sangrento mundo afora. Eu sei que não vai adiantar, mas em outubro tem eleição, o que é uma boa razão para nos lembrarmos de tudo isso.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Reeleição Ameaçada

      Há muito o Brasil se ressente da falta de um estadista que projete o futuro do país ao invés das próximas eleições, e sem nenhuma liderança significativa na oposição apenas dois eventos ameaçam a reeleição do PT no governo federal: as manifestações que estão previstas para ocorrer durante a copa do mundo e a falta de energia elétrica, os conhecidos apagões.

      Se a copa do mundo fosse em setembro, nenhum governador e nem mesmo a presidente se reelegeriam, mas como as manifestações ocorrerão entre junho e o início de julho, pode ser que o movimento esfrie. As forças policiais e do exército tratarão de garantir o evento, mas longe dos estádios haverá problemas. As manifestações estão marcadas e os manifestantes treinaram durante a Copa das Confederações, já as polícias, que foram surpreendidas, não estão se preparando. As manifestações são legítimas, sejam apartidárias ou não, porém, sem controle por parte das lideranças, aproveitadores de todos os matizes pegarão carona na boa fé e o pau-vai-quebrar. A polícia que deveria estar presente para garantir os direitos dos manifestantes e a defesa do patrimônio terá que enfrentar a minoria enraivecida, destemida e que se utiliza muito bem da mídia para posar de vítima. Vários inocentes pagarão mais caro, pode haver vítimas fatais e a sociedade, como um todo, pagará a conta. O quebra-quebra em si irá desmanchar o movimento que não deverá chegar até as eleições. Nesse caso, nem a oposição nem o governo poderão se acusar, ambos estarão do mesmo lado, o errado.

      A falta de preparo da a polícia é apenas mais uma componente na falta de planejamento crônico em nosso país. Com sete anos para preparar a copa do mundo somente os estádios ficarão prontos. A tal infra-estrutura: hotéis, aeroportos, transportes urbanos e as  comunicações irão nos envergonhar, e os prestadores de serviços, que podem, aumentarão os preços se aproveitando do momento. Os problemas do passado não nos trazem boas lições. A restrição do consumo de energia ocorrida último governo FHC não fez com que a nossa matriz energética fosse ampliada. A capacidade de geração não aumentou de maneira que tivéssemos reserva, e continuamos dependemos de São Pedro. Mau sinal. Agora, em pleno verão, quando os reservatórios deveriam estar transbordando vivemos um calor infernal e com possibilidade real de racionamento de água em pleno sudeste. Se não há água nas torneiras imagine então para a geração de energia.


      É grande a possibilidade de que em pleno período de campanha eleitoral tenhamos que passar por um novo período de controle de consumo de energia elétrica e isso será nitroglicerina nas propagandas. O governo irá apanhar, e com muita razão,  feito tamborim no carnaval, e a reeleição estará seriamente comprometida. Afinal foram mais de 12 anos de propaganda e a única grande obra inaugurada foi um porto, em Cuba.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Poupa Tempo.

      Ontem e em setembro passado utilizei dos serviços do Poupa Tempo. No ano passado fui renovar a carteira de motorista e a experiência não foi de todo boa. Perto de como se fazia antes de se ter essa agência garanto que melhorou muito, pois, após o agendamento feito pela internet, os serviços são efetuados todos em um só local e de uma só vez. Mas tive azar e meu tempo foi tomado por aproximadamente cinco horas.

      Deve ter sido uma semana infernal para quem trabalha lá, pois eles ficaram por dois dias sem conexão para os computadores ou a conexão era muito limitada, assim quem tinha os seus horários agendados poderia voltar em outro dia qualquer e ter preferência no atendimento, isso significou que muita gente chegou depois de mim e tomou a minha vez na fila. Além disso, quando fui fazer o exame de vista a conexão caiu por cerca de 45 minutos e lá fiquei plantado lendo as propagandas, que não são poucas, da revista Veja que levei e já havia lido todos os artigos. Coincidiu também com a troca de turno de funcionários, o que atrasou um pouco mais.

      Ontem quando fui renovar a minha identidade na qual a minha foto é do tempo em que eu tinha dezessete anos, ao contrário, gastei apenas 40 minutos. Pelo número de pessoas atendidas até que foi rápido, correto e fui tão bem atendido quanto é possível quando se atende a um público tão grande e tão diverso. Mas, pois sempre tem um mas em minha vida, eu gostaria de saber por que no outro lado, o do Detran, as fotos e as impressões digitais são colhidas em processo digital e no setor de identificação a foto é entregue em papel e as impressões são colhidas com tinta e papel. Identidade todo mundo tem, ou deveria ter, e é por ela que são feitas as identificações mais importantes, esse processo sim deveria ser digital enquanto que a carteira de motorista, que é opcional, possui um processo mais adiantado.

      A nota triste, que não dependeu do serviço local, foi descobrir que há um outro sujeito que se utiliza do mesmo número de identidade que o meu. Assim, ao invés de pegar o meu documento na segunda-feira vou ter que esperar por uns 20 dias pois meu processo será enviado ao centro de identificação em São Paulo. Espero que meu problema seja apenas esse, a espera.

      Ainda que eu não tenha ficado completamente satisfeito nos dois casos, pude ver que com tanto serviço errado e ruim nesse país, o Poupa Tempo me parece exceção, em condições normais é um processo correto, eficiente e o pessoal se esforça para fazer um bom atendimento, mesmo com a presença de alguns usuários mal educados. Sei que os meus problemas foram pontuais, por isso devo parabenizar a equipe que trabalha aqui em São Carlos, pois fui muito bem tratado.

      Cômico foi apenas ter que responder qual a cor dos meus (poucos) cabelos. Eu disse que a moça poderia escolher entre preto, castanho, cinza ou branco e nem me preocupei em ver o que ela escreveu, pois todas as respostas são verdadeiras.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O Meu 2013

      Tenho muito a agradecer a muita gente, pois todos fizeram minha vida melhor e mais fácil no ano que passou. A maior conquista continua sendo a família, cada vez mais unida e construindo um bom futuro, o que muito me alegra.

      Ao contrário de 2012 cheguei ao final de 2013 me sentindo produtivo, ainda que eu tenha realizado o pior serviço da minha carreira como descrevi no artigo anterior, mas 2013 foi um ano bom. É chover no molhado dizer que a equipe com a qual trabalho fez tudo por mim, e é até covardia tomar para mim o mérito que é todo deles. Eles fizeram, refizeram, criaram, e colocaram em funcionamento vários recursos que possibilitaram mais eficiência e produtividade além de propiciar melhor qualidade de som e imagem aos telespectadores. Mas, assim como eu, eles também gostam de desafios e não se contentam com pouco.

      Continuo fraco quando o assunto é leitura. Li alguns livros sobre os anos de chumbo, reli alguns outros, mas nada de destaque, e para quem quer escrever bem, esse exercício faz falta. Tive oportunidade de assistir a alguns shows internacionais, mas acabei por não fazê-lo. Assisti no SESC à apresentação da Gal Costa. Nota 5. Quando assisti à Gal pela primeira vez eu tinha uns 16 anos e quanta diferença. Nessa última apresentação faltou entusiasmo, energia e a própria figura dela mostra algum desleixo. O local de apresentação foi totalmente inapropriado, uma quadra de esportes onde o público ficou em pé e as caixas de som, colocadas ao nível do solo, reverberavam em nossas canelas. Horrível e inadequado para uma artista de voz maravilhosa e excelente técnica musical. A abertura do show com funk feito pelo Caetano mostrou que é mesmo o ocaso de uma estrela. Lamentável. Levei minha mãe para assistir ao show do Roberto Carlos e ela adorou. Para mim a nota foi 7,5. Apesar do estilo musical e da voz pouco potente o capricho, o acabamento e a produção compensam. A acústica também não foi das melhores e houve uns 2 ou 3 intervalos curtos mas sem sentido durante a apresentação. Para um custo de primeiro mundo, cerca de 150 dólares para ficar sentado nas cadeirinhas de arquibancada e com uma grade na frente, dava para esperar mais. Mas acredito que ele é ainda o maior artista brasileiro em atividade.

       Fui aos Estados Unidos no início do ano e fiquei em lugares já bem conhecidos por mim. Em julho atravessei a Suíça pedalando e me preparei bem para enfrentar as subidas e foi um passeio. Em 7 dias percorremos 640km saindo de Genebra, quase divisa com a Itália e chegamos a Arbon, na divisa com a Alemanha incluindo uma passadinha pela Áustria. No grupo havia pessoas da Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Inglaterra e muitos americanos e essa diversidade foi enriquecedora. Subi pela primeira vez em uma montanha onde havia gelo e neve, só não fiz boneco de neve por pura vergonha, mas não deixei de "comer" um pouquinho de gelo. Também senti o ar rarefeito da altitude. 

      Na média anual emagreci um quilo e reduzi ainda mais a porcentagem de gordura corporal. Fiz 409 horas de atividades físicas, pedalei 5.025km, incluindo a ida até São Paulo, mas 500 km a menos que no ano anterior, porém corri 280 km, e para quem não treina corrida até que fui bem. Participei das provas do Sesc, Unicep, Volkswagen, Integração em Campinas e enfrentei a São Silvestre com 15 km e a subida da Brigadeiro. É, acho que está bom, e espero muito mais de 2014..