sábado, 18 de novembro de 2017

O Melhor Da Refeição

      Não sou referência para nada e muito menos quando o assunto é paladar, pois nem mesmo sei dizer qual é a comida de que mais gosto, quando muito consigo enumerar as que prefiro não comer. Das comuns, fígado e giló, das exóticas, prefiro nem falar, mas não gosto de me arriscar, testar sabores, enfim, prefiro a certeza do que a proeza. No entanto, vendo o quanto as pessoas gostam de preparar, de comer, de comentar, de postar fotos, pensei um pouco e resolvi enumerar algumas boas lembranças. 

      A mais antiga foi um castigo que recebi; eu não tinha 5 anos quando minha mãe fez curau e eu queria comer ainda quente, ela mão deixou e fiquei enchendo a paciência. Meu pai chegou em casa e resolveu o problema: me deu um pouco e quando acabei ele perguntou se eu queria mais, sim, ele repetiu a dose, e ao final perguntou novamente, eu não quiz, mas ele colocou mais no prato e me fez comer. Fui até certo ponto e comecei a chorar, chorar muito... Hoje prefiro pamonha a curau.

      Depois dessa me lembrei da casa vizinha, uma família tão pobre quanto a nossa, mas eles eram em maior número, logo, sobrava menos para cada um, mas a dona Rute fazia uma sopa de feijão com macarrão que eu sempre comia. Nem me lembro se era tão boa assim, mas eu nunca a dispensava.

      Se tem uma comida que lembra a casa dos meus pais é o kibe cru. Moía-se o trigo úmido com a carne crua e os temperos vários vezes em máquina manual. Era sempre servido com muita cebola e hortelã.

      Já maiorzinho, na pré-adolescência, quando passava as férias em São Paulo, meu tio nos levava a alguns bares na Penha que às quartas-feiras servia feijoada. Arroz branco, couve refogada, laranja de sobremesa e feijoada em cumbuca de barro que chegava fumegando à mesa.

      Também nessa época, quando lutava judô eu tinha um amigo rico que morava perto de casa e em muitas das vezes eu voltava de carona com a pai dele, que na época tinha um Dodge Charger RT, o bólido esportivo daqueles tempos. Em uma dessas vezes fui convidado para ir até a casa dele onde havia, não sei por qual motivo, pois era uma noite de um dia útil, um churrasco, e me foi dada uma bisteca, grossa e mal passada. Te juro, nunca comi uma carne tão boa em toda a minha vida…

      Já morando em Campinas não posso me esquecer da lasanha que era servida no Macarronada Italiana que ficava em frente ao largo do Pará. Eram porções individuais em formas de barro, e o queijo vinha borbulhando. Havia também um risoto de camarão servido no Supermercado Eldorado que para mim era imperdível.

      Em umas férias em Ubatuba, no restaurante do próprio hotel nos servimos de uma lagosta ao Thermidor, para mim, até hoje, inigualável.

      Por tendências carnívoras e animalescas, teve uma época em que a minha preferência era Filet a Chateaubriand, mas não tinha um restaurante específico. Se tivesse no cardápio eu não ficava procurando por outro prato, e por ser mal passado é rápido para ser servido.

      No exterior, em várias cidades experimentei o New York Strip Steak,  rare, isso é, mal passado, o acompanhamento varia, mas a carne é sempre boa. Se aparecer no cardápio, acabou a minha dúvida, vou na certeza.

      A estação rodoviária de São Carlos fica praticamente no centro da cidade e há um pequeno estacionamento público ao lado que era comandado por flanelinhas. Quando eu precisava ir até lá eu preferia estacionar o carro nas ruas laterais e caminha um pouco. Certa vez fui buscar alguém na rodoviária por volta do meio dia. Estacionei o carro a uns 80m de distância e fui caminhando. Na esquina havia um bar que servia refeições, entre elas o famoso Prato Feito, PF para os íntimos. Ao passar por ali vi ser servido um pratão, com um bife acebolado, com muita cebola dourada e com um cheiro maravilhoso. Nunca comi lá e não sei dizer se o sabor condizia com o cheiro, mas a lembrança é muito boa.  

      Em casa, o prato que nunca encontrei melhor em nenhum lugar e que é um dos que mais aprecio é o inhoque de batatas à bolonhesa ou mesmo com molho de queijos. Tanto faz. Também em casa há muito tempo passamos a comer arroz integral e hoje esse é a nossa preferência, mas só o que é preparado pela Nega, pois em nenhum outro lugar ele fica tão bom.

      Tem gente que odeia e é sempre motivo de piadas na internet, mas gosto de maionese de legumes com maçã e uva passas, aliás sempre gostei de comer frutas com comida, banana, abacaxi, manga, pêssego, figo…enfim, para mim, bota lá que eu como.

      Não me apetece comidas muito secas, por isso quase sempre passo longe da farinha, mas pode misturar óleo de dendê e leite de coco que não perco tempo, assim, uma moqueca é sempre bem vinda. Mas não me venha com essa conversa de moqueca de ovo, coloque camarão ou pelo menos uma pescada amarela. 

      Sim, mesmo sem saber exatamente o que prefiro ou sem me dispor a ir a determinado restaurante por causa da comida, sou capaz de enumerar diversas boas experiências que tive, mas sempre durante as refeições me lembro que a parte mais gostosa é a Coca Cola, o puro suco natural do genuíno fruto do capitalismo…que pobreza!
 

domingo, 12 de novembro de 2017

Moinho de Reputações

      Dizer que o mundo mudou ou que as coisas não são mais como eram antigamente é lugar comum, pois sempre foi e será assim, o progresso de hoje é o atrasado do amanhã. As tecnologias tidas como revolucionárias e disruptivas, se vistas no curto espaço de tempo, foram, na verdade, gradualmente implementadas, isso ocorreu com a energia a vapor, com a energia elétrica e com a tecnologia da informação. Todas mudaram de maneira substancial, e sem volta, o modo de vida, e continuam evoluindo. Meu primeiro contato com computador foi em meu primeiro emprego com registro em carteira, isso há 42 anos. Está certo que o equipamento que tinha o tamanho de uma sala comercial era incapaz de executar um décimo do que um telefone celular de hoje faz, mas era um produto comercial. Uma das virtudes dessa tecnologia foi a agregação de funções, passando de simples executor de tarefas repetitivas para ser elemento de transformação social e do conceito de comunicação.

      Com a popularização da rede mundial de computadores a partir dos anos 90 do século passado a sociedade ganhou voz, e com o advento das redes sociais deram-se vários fenômenos, dos quais destaco dois:

1 - criação instantânea de celebridades, mesmo que, em muitas das vezes, efêmeras,

2 - destruidora de reputações.

      É dado valor a quem merece por alguém que daquilo gosta, comunga e compartilha, assim, mesmo que eu não reconheça alguns valores, a minha opinião não importa se aquilo é o que muitos desejam. Logo, mesmo que eu não os reconheça como célebres, os outros assim os determinam e ponto. São o que são.

      Somos complacientes com o que nos afeta e críticos contumazes daqueles que nos desagradam, e esse comportamento criou uma engrenagem informal que deu velocidade à maledicência. Os destacados Fake News são um exemplo. Não importa se não é verdade, a aparência é o que valida. O curioso é que nesse mecanismo nos associamos com os amigos em alguma causa e com os inimigos em outra, por exemplo, podemos defenestrar os torcedores do time adversário, mas sermos seus aliados políticos. Os xingamos no primeiro caso e os aplaudimos no segundo, e podemos mudar de lado quando nos aprouver.

      A boa reputação sempre foi difícil de ser construída e fácil de ser desmanchada e ainda demora uma vida para que alguém possa ser bem avaliado, mas a duração de um clique é suficiente para destruí-lo. E nesse sentido, aquilo que pode ser classificado como politicamente incorreto é campeão, veloz, certeiro e destruidor.

      Tivemos recentemente dois casos que tiveram o racismo como condição e o resultado foi devastador. A Ministra da Pasta do Direitos Humanos, reivindicando o direito de manter a sua aposentadoria como desembargadora e o salário de ministro, função em que efetivamente atua, disse em sua petição “…sem sobra de dúvida se assemelha ao trabalho escravo”. A tal frase foi lapidar. Jogou por terra toda a carreira construída ao longo de décadas de trabalho, estudo, promoções e ativismo. Não importa o que foi construído, o que importa é ter associado o termo escravo a um salário somado de cerca de R$ 33.700,00. Foi um argumento errado? Admitamos que sim. Foi uma colocação desastrada? Sim, foi. Ela perdeu uma boa oportunidade de ficar calada? Sim, perdeu, mas a carreira dela não tem valor? Se visto de outra maneira isso poderia ser diferente? Vejamos: se a Ministra estivesse liderando uma manifestação de valorização das minorias pobres e negras e dissesse que o salário recebido por essa parcela da população é insuficiente e que para sair dessa miséria que se assemelha a escravidão cada um teria que receber pelo menos R$ 30.000,00 de salário nada teria acontecido. Nada mesmo. Para mim a reação contra ela foi exagerada, mas essa marca será sempre lembrada em detrimento a tudo mais que ela construiu.

      Na semana passada passou a circular o vídeo gravado há um ano em que um jornalista, embora com parte inaudível, mas dedutível, parece dizer  ”…é preto... coisa de preto". De acordo com o contexto pode ser considerado racismo? Sim, pode. Ele pode vir a ser processado e condenado? Pode. Pode perder o emprego? Tanto pode que afastado da função já está, mas eu duvido que de fato ele seja racista. Que ele não tenha amigos negros, que não admire e tenha se inspirado em negros, que não respeite pessoas de raça negra. Reconheço que para os negros isso é um acinte, mas o caso foi amplificado justamente pelo fato de que ele é um jornalista culto, inteligente, competente, referência, e por trabalhar em um veículo de credibilidade e grande penetração. Haverá negros que se sentirão ofendidos e outros que poderão classificar como bobagem, mas muitos não negros que o acusam podem ter feito coisas piores, porém não foram flagrados. Será que esses nunca contaram ou riram de uma piada sobre negros, gays, argentinos ou portugueses ou ainda, não praticaram bulling na escola? Não haverá no meio desses acusadores uma grande parcela de falso-moralistas que se aproveitam da oportunidade para simplesmente se manter em evidência? Não estou aqui para defender o jornalista, pois ele é muito mais capaz e competente para fazer isso, além do que nunca precisou ou precisará de mim, mas será que nós precisamos ser assim?

      Eu gostaria que internet e as redes sociais fossem lembradas muito mais por aquilo que elas podem construir do que que pelas reputações que elas podem arrasar, mas esses são apenas os meios, o que importa são as pessoas que os utilizam. Quanto às celebridades meteóricas, bem, deixem pra lá…

domingo, 1 de outubro de 2017

Sem Censura

     Pense em alguém que não entende de arte. Eu! Quando criança fui o primeiro selecionado para o coral da igreja, escolhido para ficar de fora! Não toco nem berimbau que tem uma só corda. Um poste dança melhor do que eu. Nunca consegui atuar, nem mesmo nas simulações de aulas de inglês. Em uma das atividades de um treinamento de criatividade me deram uma massinha, consegui fazer uma bolinha, meio oval, claro! Quando me falam de poesia a única que consigo lembrar é o verso, e somente esse, da Canção do Exílio, de Gonçalvez Dias: Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá;. Na pintura, não sou capaz de fazer um O com um copo. Sei disso, sou uma negação, mas falar... até papagaio fala...

Night Watch - Rijksmuseum

      Não entendo de arte mas gosto de museus. Visitei vários e em alguns fui várias vezes, e se tiver oportunidade, irei novamente. Eu gostava do Museu da Língua Portuguesa, estive na Pinacoteca do Estado, no MAM, no MASP (várias vezes), e no Museu Paulista (algumas vezes), que conheci quando ainda era o Museu do Ipiranga. Nesse, mesmo sem entender nada, pela primeira vez me vi atraído e emocionado com uma tela, na verdade fiquei arrepiado com Independência ou Morte, de Pedro Américo. Podem falar que é tudo mentira, e claro que é mesmo, até o próprio está no quadro que foi concluído mais de 60 anos depois do fato, podem dizer que ele é quase um plágio da Batalha de Friedland, de Ernest Meissonnier, mas, não importa, além de grandioso não só pelo tamanho, mede 4,15m X 7,60m, o quadro é realmente bonito.

T-Rex - National History Museum

      No Museu de História Natural de Nova York fui muitas vezes, em uma delas não paguei para entrar, quando percebi a falha continuei a visita e paguei na saída, ainda que ninguém me tivesse cobrado, pois ele merece. Adoro ver os dinossauros, e tem uma sequoia cortada que mostra a idade da árvore. Isso me impressiona. Ao seu lado há o Hayden Planetarium, uma maravilha. E a coleção de armaduras medievais e as  telas do Metropolitan? Gosto de ver as clássicas, aquelas pinturas que parecem fotografia. O que dizer dos museus administrados pelo Smithsonian Institute em Washington? E o Air and Space Museum? Nesse tem parte do Enola Gay, o avião que jogou a bomba atômica em Hiroshima e o módulo da Apolo 11 que retornou do espaço, nesse também estive diversas vezes, mas sempre decepcionado com a ínfima referência ao Santos Dumont. Visitei vários outros nos Estados Unidos. Mas gosto muito também do Rijksmuseum de Amsterdam onde há Night Watch de Rembrandt, impressionante, como disse um professor que tive no curso de mestrado, só ficar olhando esse quadro vale a viagem. Encontrei lá uma "Vista de Olinda em PE, de Frans Jansz Post pintada em 1662. Também estive algumas vezes no Van Gogh Museum, é legal, mas Rembrandt me toca mais. Conheci a Tretyakov Gallery, em Moscou, e também o Space Museum, que tem até foto do Marcos Pontes, o astronauta brasileiro. No primeiro havia grupos de crianças junto com seus professores, coisa rara de se ver por aqui.

Armaduras - Metropolitan Museum 

      Da mesma forma que falei de museus eu poderia falar de shows de música, de Paul Mccartney, Celine Dion, Cher, Elton John, Dire Straits, sem me esquecer da Sinfônica Brasileira e da OSESP além de vários artistas nacionais, mas falaria também de peças como CATS, Fantasma da Ópera, Chicago e Cirque du Soleil (vários) e muito mais, Evidentemente não gostei de tudo o que vi, porém paguei assim mesmo. Paguei porque eu queria ver. Criar é premissa de quem faz, valorizá-la é de quem deseja. É do seu público, é de seus fãs.


Vista de Olinda - Rijksmuseum

      A arte pode ser provocativa, intrigante, irreverente e não pode ser censurada pelo estado. A expressão deve ser livre, afinal, estamos em uma democracia. Eu posso não gostar, mas não posso proibir que seja feita e, principalmente, que alguém goste, aprecie, aprove. Porém da mesma forma que quem a faz, a produz e a executa pode e deve divulgá-la, quem não gosta pode fazer a propaganda negativa, e pode até ser que o tiro saia pela culatra. Mas os direitos são iguais e disponíveis para os dois lados. Se eu gostar eu posso falar bem, se eu não gostar eu posso falar mal. E hoje é muito fácil, pois os canais são vários e poderosos, além de gratuitos.

Estudantes - Tretyakov Gallery

      Para mim, tanto a malfalada exposição no sul que não acompanhei, mas vi pelo menos dois dos quadros, se é que se podem assim ser chamados, polêmicos, que para mim eram uma porcaria de dimensão infinita, quanto aquela caracterizada por instalação do camarada pelado em São Paulo, podem ser realizadas, vai quem quer e que paguem por isso. Agora, fazer com dinheiro captado junto a empresas que terão abatimento em impostos, isso não. Eu não concordo. Aliás, aqui a conversa é mais profunda, para que é mesmo que existe o Ministério da Cultura? O presidente Temer não iria constituí-lo, recuou sob pressão “dozartistas” e fez um bem, o ex ministro delatou o outro ex ministro que caiu em desgraça e agora está preso. Mas foi a ação da pessoa, não do ministério. O presidente Temer poderia aproveitar o alto dos seus 97% de impopularidade e acabar de vez com essa excrescência, ele não perderia nada e ainda deixaria de onerar o estado.

      Para o que hoje existe e depende puramente de dinheiro estatal deve-se fazer um período curto de transição até que seja totalmente administrado pela iniciativa da sociedade, pois ao governo cabe cuidar de casa, comida, saúde, educação e segurança, pois o resto é negócio, e como tal deve ser tratado. Com tanto subsídio e pseudo proteção, hoje nosso país gravita em torno da posição de número 80 de criatividade e inovação. Isso é muito pouco para uma nação possui a economia entre as 10 maiores do mundo.

sábado, 23 de setembro de 2017

Palmas Para Quem Merece…

       Há duas semanas tivemos um problema no encanamento da pia da cozinha e lá pelas 15:30h fui verificar. Não consertei, apenas constatei o problema, mas fiz uma sujeira… Bem, tive que limpar, porém molhei parte da garagem. Estava tirando a água quando escorreguei, caí e bati com a cabeça no chão. Levantei tonto e com um pequeno sangramento na orelha e na lateral da cabeça. Entrei, tomei banho e fiquei sentado na cama. Por volta das 18h tomei leite com torradas, a cabeça ainda doía assim como a articulação da mandíbula. Por volta das 19h tomei um analgésico e mais ou menos às 20:30h dormi.

      Acordei às 3:30h aproximadamente e ao abrir os olhos o mundo começou a girar. Girava velozmente e comecei a suar e a sentir náuseas. Esperei uns instantes, me levantei fui ao banheiro, tomei água, me deitei e adormeci. Depois de uma hora tornei a acordar com os mesmos sintomas e não consegui controlar, vomitei água. Escovei os dentes, tomei água e tornei a dormir até umas 7h da manhã. Acordei e tudo se repetiu. Decidi ir para o setor de emergência do Hospital São Rafael, que é relativamente próximo de casa e do qual eu havia ouvido falar bem.

      Cheguei à recepção às 8:14h e um minuto depois já estava preenchendo o cadastro, recebi uma pulseira branca com a minha identificação e fui encaminhado a outra sala de espera. Não fiquei nem 5 minutos sentado quando fui levado para um setor de triagem onde uma enfermeira fez o básico, mediu a minha pressão sanguínea, mediu a temperatura, verificou a pulsação e fez perguntas e me colocou uma pulseira amarela e me levou para um ambulatório. Tudo muito rápido. Fiquei em uma maca e uma médica me examinou e seguiu um protocolo de testes básicos, outra enfermeira tomou as mesmas medidas que a primeira e colocou uma agulha em meu braço na qual foi injetado um analgésico e um remédio contra enjoos. A médica disse que era um quadro normal para o evento porém me encaminhou para um neurologista e disse que seria feita uma tomografia do crânio.

      Aqui houve uma pequena falha. O neurologista ficou me esperando e eu esperando por ele, pelo menos foi o que ele me disse. Ao chegar me examinou e realizou vários testes para testar reflexos, reação e sensibilidade. Me encaminhou para o exame de tomografia, procedimento para o qual precisei ser “internado”. Fiquei em uma pequena ala para observação onde enfermeiras realizaram as mesmas medidas, fui atendido por outra médica e por uma nutricionista. Demorou um pouco, mas fui conduzido ao tomógrafo e o exame foi feito. Retornei para a mesma sala de observação e esperei por uma meia hora. O neurologista voltou com o resultado do exame, me disse que não havia maiores consequências, fez novos testes incluindo de equilíbrio e direção, e me deu alta. O exame eu só poderia pegar durante a semana porque faltava fazer o laudo, o que não fiz até hoje. Em 10 minutos fui liberado e por volta das 12:30h eu já estava em casa, mas com a prescrição de medicamento contra enjoo e analgésico, para eu usar  somente se eu voltasse a me sentir mal, e com a recomendação expressa de não dirigir.

      Passei a tarde em casa e tomei um analgésico e o remédio contra enjoo antes de dormir. Na segunda-feira pela manhã não fui trabalhar, terminei de preparar uma apresentação em casa mesmo, e à noite fui ao centro de Salvador, já dirigindo, onde fiz a apresentação e acho que me saí muito bem. Por problemas na organização do evento acabei ficando até o final, cerca das 23:30h e ao sair, fiquei, por alguns minutos, preso em um engarrafamento, fui parado em uma blitz da PM e tive que assoprar no bafômetro e fui liberado. Cheguei em casa por volta da meia noite, a partir daí a vida foi normal.

      Diante das mazelas que o país atravessa e para as quais sou muito crítico, e às vezes até muito ácido, me vi agora diante de um ambiente bem cuidado, tão agradável quanto um hospital pode ser, com pessoas profissionais e profissionais pessoas, muito atenciosas e competentes. Senti segurança estando lá e, mesmo com o meu jeito de sempre colocar defeito em tudo, devo reconhecer que fui muito bem cuidado. Dessa vez não tenho nada a reclamar, só a elogiar e agradecer. À equipe que me atendeu no Hospital São Rafael no último dia 09, meu muito obrigado, os meus parabéns e o meu reconhecimento pela qualidade, competência, profissionalismo e humanismo com que me receberam.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Canário Enjaulado Também Canta...

      Essa natureza… quem disse que canário na gaiola não canta? Ontem um canário vermelho, do núcleo duro do PT, enjaulado há um ano trinou, e trinou bonito…O canário preso, da língua presa, soltou o verbo. Com cara de assustado e necessitando fechar um acordo para reduzir o período de exílio quiz mostrar serviço e abriu o bico. Foi o primeiro desse círculo tão hermético até então, e se for bem sucedido, outros virão.

      Pelo que entendi até o governo do PT vários políticos nos roubavam, a partir deles são poucos aqueles em que ainda podemos confiar e a diferença do atual governo para os do PT é que esse entende mais de economia e está colocando a economia no caminho certo. A inflação está caindo, os juros também, consequentemente há a redução da dívida pública, a economia deixou de cair e até ensaia um pequeno crescimento, já é o terceiro mês consecutivo em que o número de vagas abertas supera o número de demissões, enfim, só o fato de ter deixado de piorar já pode ser considerado uma boa notícia.

      Já ouvimos a chiadeira contra a privatização da Eletrobrás. É pouco. Se fosse por mim eu fecharia o BNDES e venderia o Banco do Brasil, os Correios e a Petrobras, no mínimo, pois ainda estou pensando sobre as universidades federais . Reduzir o tamanho do estado é primordial para o desenvolvimento do país, além do que, em todos os organismos que o governo controla abre-se a possibilidade de corrupção.

      Os mais de 50 milhões de reais (mais de 2 milhões de dólares incluídos) encontrados no apartamento na Graça, aqui em Salvador, é um tapa na nossa cara. Isso é mesmo que dizer pra gente, vocês são uns idiotas, uns merdas… e tenho que admitir, somos mesmo. E até podemos pensar: é só isso? Haverá mais escondido? Não é difícil imaginar a resposta…

      Como dizia um amigo, para o Brasil só tem duas saídas: Cumbica e Galeão. Por força das minhas atividades atuais percorri alguns bairros de Salvador e até algumas ruas centrais nas quais eu havia passado de carro apenas. A minha conclusão foi: nós levamos uma vida higienizada, quase que vivemos dentro de uma bolha. Não temos a dimensão da realidade. Nas ruas as pequenas corrupções são muitas, mas isso será tema para outro post, por agora basta dizer que a ladroagem está impregnada na nossa sociedade, de cima abaixo. Das pequenas nas ruas às malas de dinheiro em apartamentos, restaurantes de luxo, gabinetes e em contas no exterior. 

      Não será a nossa geração que irá ver o fim desse descalabro, portanto, devemos criar condições para que nossos filhos e netos possam viver em um país melhor.

domingo, 13 de agosto de 2017

Abrigo Dom Pedro II

      Não tenho nenhuma habilidade para cuidar de criança e de idosos. Me saio relativamente bem com adolescentes e adultos. Também não sei celebrar e nem como me comportar em eventos sociais. Eu travo. Me incomoda. Acho que a minha vocação é mesmo para ser escravo. Nasci para trabalhar, e trabalhar para os outros porque também não sou empreendedor.

      Por força das circunstâncias e razões profissionais nessa semana fui ao Abrigo Dom Pedro II em Salvador. Instituição de 130 anos e que outrora chegou a atender a mais de 400 idosos, hoje são cerca de apenas 60, pois os belíssimos edifícios não estão bem conservados, destacadamente o principal que é o maior. Os dois laterais, menores, sofreram alguma intervenção, são habitáveis mas são, por demais, simples.


Fachada do edifício principal. Prédio sem uso por falta de condições de ser habitável

      Alguém disse que os prédios são tombados por pertencerem aos patrimônios históricos, ficam ao lado da praia em uma área suburbana, mas que pela sua localização e dimensão são, do ponto de vista comercial, muito valorizados. A revitalização custaria algo em torno de 21 milhões de reais e como esse dinheiro não aparece, vão se reduzindo o número de leitos.

Detalhe do vaso de decoração.
      
      Não vi nenhum dos internos reclamando do tratamento que a eles é dado e nem da falta de material ou comida, pelo contrário, só ouvi elogios à equipe e ao local. A instituição é mantida pela prefeitura e por doações. Ouvi que há pessoas lá há mais de 30 anos e isso é de cortar o coração. Também há pessoas que, mesmo tendo como ir morar com a família, prefere ficar lá, mas há também os que não têm nada ou alguém, o abrigo é a única opção. Ainda que estejam em grupo, para muitos a companhia é a televisão. Eles gostam de vários programas, tanto de entretenimento quanto de notícias.

      Participei, ainda que timidamente de uma pequena cerimônia, e por causa disso mal dormi na noite anterior, aliás cheguei a sonhar com o meu comportamento desorientado. Fico feliz em saber que ao contrário de mim, há pessoas que sentem bem ajudando àquelas pessoas. Para mim eles são heróis.

sábado, 24 de junho de 2017

O Metrô De Salvador

      Não como estudioso, mas como palpiteiro contumaz, costumo dizer que não existe crime perfeito, existe crime mal investigado. O que mais se aproxima de um crime perfeito é aquele praticado por uma só pessoa, pois, se mais de uma o conhece, a possibilidade de não haver segredo aumenta em muito. Certa vez disse isso a um amigo e ele foi pronto em responder: crime perfeito é o metrô de Salvador. Só foi feita a metade, demorou o dobro do tempo, custou o triplo e ninguém foi preso. Ele se referia à linha 1 que vai da estação da Lapa a Pirajá.

      Há umas duas semanas fiz esse trajeto para conhecer e foi uma boa experiência. Ainda é tudo novo, cuidado, limpo, organizado, sinalizado, com segurança e funcionou corretamente. Não fiz isso em horário de pico, mas como não fiquei procurando pelo em ovo não tenho o que criticar. As estações não possuem a sofisticação de muitas das suntuosas existentes em Moscou, mas também não são tão simples como várias plataformas abertas de Amsterdam, mas são bastante funcionais.

      Está em implantação a linha dois que já tem umas 8 estações funcionando e outras 4 devem ser inauguradas até o final do ano chegando a Mussurunga, uma estação antes da futura estação do aeroporto. Essa linha está avançando rapidamente, mas tecnologicamente falando, foi facilitada porque, além de não ser subterrânea, a maior parte está sendo construída no canteiro central da avenida Paralela, logo, sem muita desapropriação escavação ou remanejamento.

      Apesar de ter destruído um belo jardim que era o canteiro central da avenida, a cidade está ganhando um bom transporte de massa, aliás, que também é muito necessário. Como não se faz omelete sem quebrar os ovos, algum inconveniente é esperado e aceito durante o período da construção, como desvios, engarrafamentos e sujeira, muita sujeira. Porém tenho críticas a algumas das atitudes tomadas pelos construtores. Há um desrespeito intenso na questão do trânsito no entorno da obra que passa da simples, mas irritante, lentidão a até mesmo colocar em risco  as vidas dos usuários da via.

      São esperados os remanejamentos das pistas de rolamento e até mesmo o bloqueio de algumas, porém falta sinalização adequada. Em muito lugares, uma simples marcação do piso ajudaria na segurança e disciplinaria o trânsito tonando-o mais fluido, esse é o caso da LIP, região conhecida como Ligação Iguatemi Paralela. Também, de uma hora para outra aparecem blocos de concreto limitando a passagem, e esses são colocados sem critério e sem sinalização. No filme abaixo, que foi gravado no sentido centro antes do trevo de São Cristovão, há um exemplo. Houve a redução de uma faixa de rolamento, a marcação no solo não foi alterada e não há nenhuma sinalização anterior que indique a modificação. Se o motorista seguir a faixa visível na direita irá colidir com os blocos que estão à frente, se fizer a curva para a direita irá jogar o carro sobre o que está ao seu lado. Fiz a gravação em um horário de pouco movimento para não comprometer a segurança, mas é suficiente para para mostrar. A tal pista que desaparece volta a aparecer no final do vídeo, no lado esquerdo.



      Há ainda os holofotes que eles colocam para iluminar a obra, muitas vezes, tais equipamentos potentes, estão voltados para o sentido oposto de direção da via ofuscando a visão dos motoristas.

      Às vezes soluções simples e pouco dispendiosas como a colocação correta dos holofotes e a pintura de faixas no solo podem reduzir o incômodo e evitar acidentes. Creio que em uma situação de acidentes com vítimas fatais poder-se-ia até mesmo responsabilizar os autores por homicídio com dolo eventual, onde não havia a intenção de matar mas foi o causador por imprudência e por riscos conhecidos, ou seja, é a negligência de quem executa e a omissão de quem deveria fiscalizar.

      Não sou contra o metrô, de seus benefícios e até aceito bem os transtornos, mas não concordo com essa irresponsabilidade.

domingo, 4 de junho de 2017

O Presidente Temer Não É Inocente.

      Inocentes não sobrevivem tanto tempo na política, ainda mais na de Brasília, logo, o presidente Temer não é inocente, ele é, isso sim, experiente. Experiente mas vacilou. Caiu na armadilha do empresário, se é que só disso que esse senhor pode ser chamado, que, se fosse condenado em todos os possíveis inquéritos teria que cumprir mais de 100 anos de cadeia.

      Para nós que estamos nos acostumando a viver de escândalo em escândalo parece lógico entender que o tal empresário não agiu sozinho. Ele deve ter sido muito bem assessorado para ter recebido a garantia da Procuradoria Geral da República (PGR) de que não será condenado e que poderá viver, como um nababo, incluindo jatinho e iate, fora do país.

      Foi uma trama bem urdida, pois o que se ouviu do presidente dá a entender que há maracutaias, mas friamente, os áudios, pelo menos os que ouvi, não provam absolutamente nada. Parodiando o presidente americano, até um estudante ruim do segundo grau é capaz de desconstruir os argumentos, pois como sabemos, em caso de dúvidas, a decisão é pró-réu. Mas o estrago político foi feito, e pior do que isso, o econômico também. 

      Como disse o outro empresário que está puxando cana e deve estar furioso, pois o acordo que ele fez poderia ter sido melhor para ele, “...ninguém foi eleito nesse país sem o caixa dois, o cara pode até dizer que não sabia, mas recebeu dinheiro do partido e o partido recebeu pelo caixa dois...”. O presidente pode se enquadrar nesse caso, pois ele foi eleito como vice da chapa PT/PMDB que deverá ser julgada por ter recebido, digamos, "doações não contabilizadas”. No julgamento do Mensalão houve a declaração de uma Ministra do STF dizendo que “…não é só caixa dois. Caixa dois é crime!…”

      Oras, todos os suspeitos devem ser investigados e julgados na forma da lei e, se condenados, devem pagar o que a lei determinar, não importa quem seja o indivíduo, mesmo que seja o presidente, os ex-presidentes ou qualquer outro, político ou não. Porém o momento em que mais esse escândalo estourou foi ruim para o país.

      Graças às equivocadas ideologias e às errôneas políticas econômicas aplicadas nos últimos 15 anos o país retroagiu em cerca de oito ou 10 anos. E agora, quando alguns indicadores começaram a mostrar um certo equilíbrio e alguma possibilidade de dar partida em um ciclo de crescimento, a instabilidade política jogou a confiança no brejo. Vamos ficar enfurnados nesse lamaçal por um bom tempo.

      As empresas, para sobrevier, irão se defender. Com a receita baixa os investimentos continuarão a ser postergados e as despesas reduzidas, e isso significa desemprego. Há um forte movimento de “juniorização”, isso é, a substituição dos empregados mais antigos e com salários mais altos por jovens que recebem menos. Logo, haverá menos dinheiro em circulação no mercado e um número maior pessoas mais velhas dependentes do governo. Talvez eu volte a escrever especificamente sobre esse tema.

      É possível que o único beneficiado tenha sido o sujeito que fez a gravação e, indiretamente, também quem ele colocou no mesmo barco (ou avião). Existe a possibilidade, menos pelo conteúdo da gravação, mas sim pelo impacto político que ela causou, que o presidente venha a ser afastado do cargo, porém se ele é mesmo experiente, pode até terminar o mandato, e nada disso importa agora, o que importa é que o sofrimento e a desesperança de quem trabalha só aumentam. Infelizmente.

domingo, 28 de maio de 2017

Ainda Resta Esperança?

     Tempos difíceis esses. Tenho insistido que hoje impera a falta de tolerância, o partidarismo do nós contra eles, da predominância da política rasteira e despreparada e da falta de segurança, e isso está nos levando a uma situação difícil.

      Eu gostaria muito de poder dizer que existe um bom sistema de governo que levará todos ao progresso e à igualdade, mas não é possível viver na utopia. É poético, é bonito, é defensável, mas é impraticável. Como engenheiro sou pragmático: o passado nos mostra como chegamos aqui, mas o que importa é como sairemos dessa e como poderemos fazer melhor.

      Não dá mais para prosseguir com ações paliativas tentando agradar a todos. Todo mundo vai ter que ceder. Todo mundo vai ter que abrir mão de alguma coisa ou não haverá saída. Vivemos um momento de exceção que exige medidas de exceção. Nosso sistema legislativo é imperfeito e, com boas intenções, criado para uma sociedade civilizada, mas conhecemos nossa cultura e sabemos como somos primários e que temos percepção até infantil, o que importa sou eu, ou o tal “levar vantagem em tudo, certo?”, ou ainda, “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Esse é um modelo que não se sustenta.

      Também não vejo saída sem políticos e sem instituições, isso significa que precisamos de uma base e essa é a lei. Não dá para seguir em frente ouvindo somente a voz dos estridentes, as redes sociais e a mídia. Há que se ter equilíbrio. É sabido que todas as esferas de governo estão contaminadas com vícios e por corrupção, mas vamos ter que aprender a moldá-la e utilizá-la em nosso favor, e não faremos isso quebrando tudo, tocando fogo ou sendo intolerante, mas negociando. Não devemos “passar a mão” na cabeça de malfeitores, esses devem ser punidos, todos eles, sem exceção, mas há que se entender que denúncia não é condenação e enquanto essa não ocorre há de existir a possibilidade de defesa, e nem mesmo os agentes do estado estão acima das leis.

      Precisamos ser tolerantes para negociar, ceder para conciliar, pensar no coletivo ao invés do individual, mas ser intransigentes com os criminosos, sejam simples delinquentes e baderneiros, passando pelos traficantes e assassinos e, principalmente, com os de colarinho branco.

      Não é mais o caso de eleição direta ou indireta, de fora esse ou fora aquele, o que importa nesse momento é negociar para que alguém, fiscalizado sempre, nos conduza por um caminho reto, honesto e seguro. Quem é, e como fazer eu não sei, mas sei que existe.


      Prefiro acreditar que ainda resta um pouco de esperança.

sábado, 15 de abril de 2017

Chamem o Batman

      O brasileiro é um povo interessante. Primeiro todo mundo foi  técnico de futebol, com a hiperinflação todo mundo virou economista, e desde o mensalão todo mundo é procurador de justiça, advogado e juiz. Mas como quem faz tudo não faz nada certo, se interpretam as informações açodadamente.

      Ainda que eu ache que algumas penas sejam pequenas pelo estrago que fizeram, a tal “delação premiada” está trazendo à luz anos e anos de contínuo descalabro e daquilo que já se sabia que existia mas que ninguém conseguia provar. Nesse caso teremos que nos contentar com o mal menor: pena pequena mas crimes expostos. Mas não se pode perder de vista que o delator é um criminoso que procura, entregando a mãe, Deus e o diabo, reduzir a sua condenação e, quem sabe, ter até mesmo a sua absolvição.

      Nos depoimentos que passaram a ser conhecidos integralmente nessa semana, (o que foi bom, porque estava me irritando a tal desculpa do “vazamento seletivo”) e olhem que essa é só a ponta do iceberg, pois trata-se de uma única organização que colocou em um só pacote todos os seus executivos envolvidos, e haverá outras pessoas e organizações buscando pelo mesmo recurso, apareceram cerca de duas centenas de pessoas citadas. O nosso senso de urgência, e por que não, de vingança, já considera todos os citados como sendo culpados, e mais, generaliza o comportamento criminoso: todo mundo é igual! Não é bem assim.

      Ainda que a gente não concorde plenamente, fazer justiça é fazer cumprir a lei, e na lei há várias possibilidades que às vezes são frustrantes, como a falta de provas e o decurso de prazo. Um conhecido criminoso contumaz pode não vir a ser condenado porque não se encontrou evidências do crime, houve erros técnicos na condução do processo ou a culpabilidade se extinguiu pelo tempo decorrido e, nesses casos, sim, o “ladrão" é inocente.

      É bom a gente ir se acostumando, pois várias dessas acusações não serão provadas e alguns implicados vão bater no peito e dizer que a justiça foi feita. Não devemos tomar tudo como verdade, mesmo quando os crimes foram narrados com tanta naturalidade, com tanta informalidade, com tanta desfaçatez  como se estivessem comentando sobre o clássico do domingo passado. O fato de aparecer na lista não significa condenação imediata.

      O moment é ruim? É, é péssimo, mas é melhor agora do que mais tarde, e poderia ter acontecido antes, o que seria melhor ainda, mas precisamos tomar cuidado, pois não devemos tomar o todo pela parte podre.  Pelo raciocínio rasteiro de relativizar as ações e colocar todos sobre a mesma pecha de ladrão, de bandido, a pergunta que fica é: sim e vai fazer o quê?

      Ainda confio que haja pessoas boas e bem intencionadas, e a gente sabe, e tem mesmo que saber que a nossa vida segue e que uma organização precisa haver, e que as instituições devem continuar funcionando. Quem está preparado para liderar? Eu não sei, mas só tenho uma certeza, não será o Batman.

terça-feira, 21 de março de 2017

Algo de Podre no Ar

      Na última sexta-feira quando foi divulgada a operação Carne Fraca da Polícia Federal, imaginei que alguma coisa não cheirava bem.
      
      Como já disse vária vezes eu cresci no tempo da ditadura militar, período em que muitas coisas eram proibidas, pessoas foram exiladas, havia censura à imprensa e não havia eleição direta. O pior dos casos foi a tortura e o assassinato de pessoas. Houve algum mérito dos governos militares? Provavelmente sim. Houve deméritos dos governos militares? Com certeza. Mas até nisso nos mostramos ruins, pois a nossa ditadura quando comparada a de outros países foi coisa de amador. Não que eu a apoie, não que eu ache insignificante uma vida, mas são os fatos. Quantas mortes ocorreram por motivos políticos no Brasil? Entre 1946 e 1988 foram contabilizadas pela Comissão da Verdade 434 mortos ou desaparecidos (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1560655-veja-a-lista-de-mortos-e-desaparecidos-do-regime-militar.shtml). A gente não precisa ir longe nos comparando com países do oriente médio ou com mortes as promovidas pelo comunismo russo. Basta olhar os nossos vizinhos e os quase vizinhos latino-americanos no mesmo período, por exemplo Argentina e Chile, que com população imensamente menor matou muito mais pessoas. Até mesmo a transição para a democracia no Brasil se deu de maneira suave, sem guerra, sem tomada do poder. Sim, mas o que isso tem a ver com a carne podre? Explico.

      Atribui-se ao Ulysses Guimarães o ensinamento de que o congresso que entra é sempre pior do que o antigo. E não é que ele tinha razão? Não dá para negar o avanço que o país teve nos últimos 150 anos, e a aceleração continua. Continua não por causa dos governos, mas apesar deles, e quando falo em governo falo dos 3 poderes. O que está em jogo não é o quanto avançamos, mas o quanto deixamos de avançar por causa de decisões erradas dos nossos dirigentes.

      Há 3 anos a operação Lava-Jato vem desvendando a bandalheira e a roubalheira que dirigentes políticos, empresários, executivos e meliantes de toda sorte promoveram contra o erário e autarquias, isso em nome de poder político e riqueza pessoal. Ainda que eu discorde de algumas penas muito pequenas imputadas a criminosos convictos, palmas a esse lado da justiça que funciona, mas é preciso lembrar que a justiça deve ser pautada pelas leis, pelo que está escrito. Não podemos eleger salvadores da pátria e desprezar todos os demais colocando na vala comum os maus e os bons, sim porque, embora não pareça, há sim pessoas boas e bem-intencionadas. Apesar de que os bandidos e inocentes úteis disseminam a ideia de que todo mundo é igualmente ruim.

      Ocorreu de maneira atabalhoada a comunicação da operação Carne-Fraca. Colocou na mesma lata de lixo bandidos, transgressores e empresas e pessoas sérias. Não sou a favor da censura ou da omissão, mas como me ensinou um antigo chefe, só há uma maneira de se fazer as coisas: o jeito certo. Não houve uma avaliação do tamanho do mercado, da quantidade de indústrias, de funcionários das empresas e do governo, da dimensão do comércio envolvido, enfim, por causa de umas duas dezenas de empresas sujeitas a investigação, contaminou-se todo o mercado que abrange mais de 4.000 unidades de processamento. Os danos a curto prazo são irreparáveis. Foi o excesso de vaidade, talvez necessidade de holofotes que está levando ao descrédito uma operação necessária de combate à fraude, à corrupção e à saúde pública.

      O lado lúdico foi até bem-sucedido, pois houve piadas realmente criativas, porém, a melhor (ou pior) chacota será a mancha da imagem da Polícia Federal que promoveu o espetáculo, e que pelo bom trabalho que tem apresentado na Lava-Jato não merece isso. Pelo sim, ou pelo não, não deixei e nem deixarei de comer carne, aliás, no sábado comprei filet mignon a R$ 25,00 o quilo.
      Para que a democracia dê certo é necessário que a separação entre os poderes seja mantida. Quando um deles começa a semear em outra seara passamos a ter o mesmo risco que nos ofereceu a ditadura, e recentemente temos visto várias manifestações nesse sentido. Essa necessidade de protagonismo está levando as instituições, e nem só a Polícia Federal, a ultrapassar os seus limites. Como popularmente se diz, cada um deve ficar em seu quadrado.


      Ah! Só para lembrar, o descalabro produzido pela política é tão grande que a violência urbana assusta muito mais do que a ditadura. Entre 2011 e 2015 foram mortos de forma violenta 278.839 brasileiros, mais do que os 256.124 mortos na guerra (isso mesmo, na guerra!) da Síria no mesmo período. Isso significa que hoje, no Brasil, se mata em uma semana, 1.072 pessoas, mais do que o dobro do que a ditadura militar executou em seus nos 21 anos. (http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-10/brasil-tem-mais-mortes-violentas-do-que-siria-em-guerra-mostra).

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Um Bom Começo

      É muito difícil resolver grandes problemas, mas como toda longa jornada começa com o primeiro passo, divide-se o problemão em pequenos problemas para atacar um por vez.

      O Brasil está com um problemão. Vai mal na educação, na saúde, no transporte, na economia, na segurança e muito pior, na política. Não há resposta fácil e todos estamos perdendo, com excessão dos muito ricos. Não sei quantificar quantos escapam da crise, mas se chutar alto vale, vamos dizer que são 15%, isso dá cerca de 30 milhões. Na outra ponta deve existir um número igual de miseráveis, isso significa que pelo menos 70% pagam a conta.

      Talvez o mais difícil de resolver seja a política, pois suas excelências legislam em causa própria e detêm a força do estado. Mesmo se caíssem de paraquedas um exército de marcianos e os apartassem do poder e nos convocassem para organizar a bagunça nós não conseguiríamos, pois estamos tão acostumados à irracionalidade e a puxar a brasa para a nossa própria sardinha que não haveria acordo.

      Somente um povo educado pode pode discutir ideias e adotar o melhor para o conjunto, alguém deveria ceder para acelerar o desenvolvimento, mas isso está fora de questão atualmente, pois para se ter uma população educada são necessárias algumas gerações. E sabemos que patinamos nesse quesito há muitos anos.

      É lugar comum dizer que a saúde vai de mal a pior. É outro problema que para sanar vão gerações. Um programa de saneamento básico aliado ao planejamento familiar e atenção integral à saúde das gestantes e das crianças pode ser uma solução pragmática e de longo prazo, pois trabalhar-se-ia com prevenção, o que costuma ser mais barato. Para isso funcionar, diante do estado atual da economia, há que se abrir mão da saúde dos adultos, ou seja, deve-se escolher entre quem vai viver e quem vai padecer no falido sistema.

      Foi uma burrice histórica o programa econômico do PT. Mesmo os tão falados primeiros quatro anos. O governo do PT pegou um país minimamente organizado e teve a sorte de coincidir com um boom da economia mundial. O que fizeram? Venderam a janta para comprar o almoço. Foi como entrar logo cedo em uma corrente em que os primeiros ganham, mas a partir do rompimento do elo o prejuízo aparece. Hoje estamos sem a janta e o almoço é um pão dormido. Parodiando o folclórico recém empossado presidente americano, até um aluno ruim de economia (e de escola ruim - aliás é o que não falta) sabe que o modelo que que se tentou implantar era fracassado. Deu no que deu. Retroagimos, pelo menos, 8 anos e vai levar tempo até entrar nos trilhos novamente. Somente as polianas acreditavam que aquele armengue funcionaria. O transporte e a infraestrutura entram no bolo da economia desarrumada.

      Não dá para não falar da segurança. Hoje não há respeito pela vida. Hoje não há respeito pela pessoa. O sistema de segurança, incluindo os legisladores, os executores e os aplicadores de sentença (ou da falta dela) é caótico, falido e pouco operante. A gravidade da situação exige medidas efetivas e imediatas. A população de bem vê se maltratada, ultrajada e assinada por bandidos rasteiros e sofisticados, e sabe-se o mal exemplo vem de cima. Se 70% da população tem que pagar a conta, que pelo menos tenha sua integridade física garantida para que possa produzir. Isso não vai resolver tudo em curto prazo, mas é um bom começo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Para Ter O Meu Voto

      Para que o candidato tenha o meu voto é fácil. Basta se comprometer, no mínimo, com o seguinte programa:

      Voto é um direito, não obrigação, portanto deve ser facultativo, não obrigatório.

      Brasília não é estado, é apenas uma cidade de Goiás, portanto deve ter prefeito e vereadores, não deputados federais e senadores.

      O senado representa a igualdade entre os estados, não a câmara federal, mas são muitos os senadores. Dois por estado já está bom demais. Redução de 33% fácil.

      A composição da câmara federal está, além de desequilibrada, muito grande. Regra simples: 1 deputado para cada 500.000 habitantes, ou seja, de 1 a 500.000 mil habitantes, um deputado. De 500.001 a 1.000.000 de habitantes, dois deputados, e assim por diante. A câmara seria reduzida a cerca de 400 deputados, a população seria melhor representada e economizaria, pois seriam pelo menos cem a menos para nos prejudicar.

      O poder legislativo deve fazer leis, não executá-las, portanto, saiu do congresso para ser candidato a cargo executivo em eleição ou para tomar posse no governo, perde a vaga. Fica sem, simples assim. Não deve existir o tal suplente.

      Parlamentares precisam de assessores, mas 15 já está muito bom. Atualmente são 25, assim acabaria a boquinha de 5.130 secretários parlamentares.

      A cada 2 anos o país pára por causa das eleições. Deve haver coincidência de mandatos, sendo uma eleição em setembro e a outra em novembro do mesmo ano. Assim o estrago seria feito de uma só vez e a cada 4 anos.

      O número de partidos deve ser limitado a 5. Um de extrema direita, um de extrema esquerda, um de centro-esquerda, um de centro-direita e um com o resto. Quem quiser que se arrume dentro de um desses. E que se criem dificuldades para mudar de partido, poder pode, mas deve ser difícil, incluindo a perda de mandato atual, caso o tenha.

      Cada partido deve se financiar. Que sejam criativos, façam jantares pagos, como nos Estados Unidos, vendam camisetas, cobrem mensalidade dos adeptos, ou seja, se virem. O tal Fundo Partidário deve ser extinto, desonerando a população.

      O partido deve ser responsabilizado pelo comportamento de seus filiados quando no exercício do poder. Quem aceitar bandido em seus quadros deve ser penalizado. Além da perda do cargo, deve pagar multa.

      Fim imediato do Foro Especial, ou Privilegiado. Deputado e senador é servidor público, portanto não deve ter regalia maior do que as de seus chefes, ou seja, que o povão.

      Todo servidor público deve se submeter ao regime comum de aposentadoria. INSS neles.

      Ainda há muito para sugerir, mas isso já é um bom começo.

domingo, 1 de janeiro de 2017

O Meu 2016

      Novamente não cumpri alguns propósitos, mas em um ano como 2016 não é de se estranhar e muito menos para que alguém se sinta envergonhado. Como eu já previa, 2016 foi um péssimo ano; novamente, para mim, nem tão ruim, foi muito pior para vários colegas e amigos que perderam o emprego, e, dessa vez, por causa da crise mesmo! Alguns brilhantes, os quais não apenas admiro, sou fã. Desejo à eles que 2017 lhes traga perspectivas e realizações. Como há muito corrupto solto a crise política ainda não foi debelada, mas alguns indicadores econômicos apontam para uma tímida estabilização, o que nessas horas passa a ser uma grande notícia, pois deixar de piorar já serve de alento. Se não der para ser melhor, que assim seja.

      Mal começou o ano, em janeiro, meu joelho foi operado e quando eu estava iniciando as atividades físicas apareceu um “esporão” no pé esquerdo que ainda não tratei e isso tem me impedido de correr e, eventualmente, até mesmo de andar com naturalidade, e em algumas das vezes, só o anti-inflamatório resolve. Comecei a treinar com regularidade e tive até algumas marcas expressivas, porém durou apenas até o final de setembro. De lá para cá parei completamente. Mas agora vai acabar a moleza, em 2017 farei pelo menos 300 treinos de, no mínimo, meia hora cada, e quero estender para um programa com um ritmo razoável até setembro de 2018, quando completarei 60 anos. No final do ano ainda tive um problema no estômago, algo como gastrite e pela primeira vez fiz endoscopia. Acho que a fama de “estômago de avestruz” está acabando...

      Não ocorreu nenhuma mudança significativa em nossa vida familiar. Para os mais velhos, apenas ficamos mais velhos e com as consequências da idade, mas para o nosso neto foi visível o incremento das habilidades. Ele ainda não está se comunicando de forma plenamente compreensível, mas demonstra muita coordenação, energia e uma alegria contagiante. Sou daqueles que acredita que a família é o maior patrimônio. É também a única instituição capaz de trazer felicidade.

Leitura, algo que me deixa feliz. Faltam alguns livros que emprestei ou doei.


      Com muito trabalho não tive uma vida cultural tão ativa, além das leituras regulares, algumas agradáveis, assisti apenas a um show, que valeu mais pela experiência do que pela qualidade, porém visitei o sensacional Rijksmuseum em Amsterdam. Não entendo nada de arte, mas as obras de Rembrandt me encantam, e não precisam de tradução, basta olhar! (Night Watch - https://www.khanacademy.org/humanities/monarchy-enlightenment/baroque-art1/holland/v/rembrandt-nightwatch). Sim, visitei Amsterdam com propósito profissional, mas tirei um dia para novamente visitar o museu que está completamente remodelado. Para mim é muito melhor do que o Van Gogh Museum, que já é muito bom!


Rijksmuseum
      Em dois anos e meio troquei de função 4 vezes na empresa, em cada uma comecei vários projetos mas não acompanhei a finalização de vários deles, é uma fase diferente da minha carreira, justo para mim que sempre fui um realizador. No próximo dia 03 de janeiro completarei 40 anos trabalhando na área de televisão, dos quais 39 foram voltados à operação, mas no último ano fiquei na área de infraestrutura, porém, ainda assim, muito voltado à manutenção do sinal no ar. A cada falha na exibição eu sempre me sentia como sendo o responsável, sempre achava que a culpa poderia ser minha e em várias vezes, até era, porém agora isso vai mudar. Estou iniciando o trabalho em uma área de apoio somente, sem estar envolvido com o dia-a-dia. Se por um lado deixo de ter algumas obrigações, o que aparentemente é bom, por outro, é como se eu estivesse perdendo algo, principalmente a utilidade. Sempre me pareceu que a gente morre quando deixa de ser útil. Mas há uma compensação que possui apenas valor, mas não preço. Na Bahia, até aqui, trabalhei com 3 equipes diferentes, e o carinho e respeito com que fui tratado são de dar orgulho a qualquer profissional.

      Em 2016 o que mais pratiquei foi o exercício da paciência, que foi no sentido oposto do que tenho percebido na sociedade que é a extrema intolerância, tanto da esquerda (ou o que isso quer dizer) ou seja da direita. Nosso compromisso tem que ser com o acerto, com o correto, com o justo, mas não pode ser a qualquer custo. Os direitos devem ser respeitados e as pessoas devem ser respeitadas. Não construiremos uma sociedade sólida com fundamentos fracos, corroídos, carcomidos. A sabedoria está e evitar o radicalismo.


      Não pude celebrar o ano de 2016, que além de ter um dia a mais teve também um segundo a mais, parecia que era para estender a dureza e testar a paciência, mas enfim acabou e para mim, ainda tenho muito a agradecer, nada a reclamar.