Li recentemente um artigo do conhecido Frei Leonardo Boff, doutor, teólogo e expoente da Teologia da Libertação, no qual ele dizia que os governos priorizam a economia em detrimento às pessoas, e que aquilo que era um meio em si, transformou-se em fim. Como sempre defendeu o governo Lula como sendo o governo de mudança e coisas afim. Concordo em gênero, número e grau sobre a questão da economia e desprezo o abismo existente na distribuição de renda passado ou atual, mas como fazer melhor? Sendo Robin Wood, tirando à força dos ricos para dar aos pobres? E o que fazer com aqueles que sabidamente apenas esperam pelas benesses? Pois se ele, ou alguém, imagina que isso não existe, posso afirmar categoricamente: existe sim. Como já disse anteriormente, o capitalismo é um péssimo sistema, mas qual é melhor e mais bem sucedido?
No entanto discordo dele quanto ao governo Lula ser um governo de mudança. Reforço ainda a ideia de que a economia vai bem não por causa do Lula, mas apesar do Lula. Ela iria bem até mesmo se um incompetente como eu tomasse conta, o difícil foi vencer a inércia, o que foi feito pelo FHC, o que veio depois foi conseqüência, e explico. A economia brasileira, após o controle da inflação, é baseada em 3 princípios: câmbio flutuante, metas de inflação e manutenção do superávit primário. Qual foi a contribuição do Lula nessas questões? Nenhuma, mas a inflação em crescimento e a mudança no método de cálculo do superávit primário para gastar um pouco mais, que é muito, no ano eleitoral pode comprometer o próximo ano do futuro governo. Quem paga as contas do governo é o setor produtivo, que se desonerado poderia investir mais em estrutura aumentando a produtividade e a produção. Em que o governo mudou? Nada. Não reduziu impostos e não modificou leis arcaicas. Nesses oito anos foi reduzida a diferença de renda significativamente? Não. Se os pobres melhoraram, os ricos o fizeram muito mais. Estão cada vez mais ricos, basta ver os últimos balanços das grandes empresas e principalmente dos 3 maiores bancos nacionais. Com relação às taxas de juros, saímos da maior taxa de juros do mundo para onde? Para a maior taxa de juros do mundo. Caiu? Sim, é verdade, mas mudou? Não. E a reforma agrária avançou? Nadinha, nadinha.
Saindo da agenda econômica e verificando a social, qual foi a contribuição do governo para a redução da violência? Meia dúzia de presídios e a criação da força nacional, o que é muito pouco. Continuamos com uma legislação obsoleta que pune apenas os pobres, entope cadeias, e entulha o judiciário de processos que se arrastam por anos a fio. O governo criou algumas universidades federais, distribuiu vagas baseadas em cotas, ampliou o programa de crédito universitário e modificou o sistema de avaliação dos cursos e de ingresso às universidades, ou seja, investiu novamente de forma errada, pois no modelo atual se investe muito mais em educação superior do que na básica e o resultado é péssimo, assim o correto seria investir na educação básica, aumentando o nível de conhecimento médio da população, permitindo que o ingresso nas universidades se desse apenas pelo mérito e por fim, também com maior aproveitamento.
Na área de infraestrutura, nada significativo para comemorar, pois os tais Programas de Aceleração do Crescimento não passaram de peças de marketing integrando um monte de obras já planejadas ou iniciadas que estão sendo inauguradas sem mesmo terem sido terminadas, e que não modificaram em um milímetro sequer as questões básicas. Continuamos sem portos, aeroportos, estradas, saneamento básico, e distribuição desigual de energia elétrica. E quanto a saúde? É preciso comentar? Vemos todos os dias reportagens sobre o mau atendimento nos hospitais, das intermináveis filas de espera para fazer exames e da falta de remédios. Enquanto isso a dengue e a malária avançam, e até a Hanseníase (lepra) voltou a dar as caras. E no setor ambiental? Devemos comemorar a redução no índice de desmatamento? Oras, isso significa apenas que está se desmatando menos do que se fazia, o que precisamos é celebrar a recuperação de áreas desmatadas, o que também não ocorreu.
O governo Lula teve méritos? Sim, muitos. Em primeiro lugar foi um governo de continuação. Continuou com a política econômica, continuou, ampliou e renomeou os programas sociais, continuou e ampliou as avaliações do sistema de ensino, mas principalmente domou o próprio partido não permitindo a ruptura, o que levaria o país ao desastre, além disso, tomou também as rédeas dos chamados movimentos sociais como os Movimentos dos Sem alguma coisa, que pode ser terra, emprego, moradia, bancos, etc e tal. Fazia muito tempo que não tínhamos uma sequência tão grande de tranquilidade. As invasões foram apenas pontuais e não sistemáticas.
Não creio que a nossa presidente vá se dar tão bem quanto se saiu o Lula, e também como eu já disse, ele deverá se candidatar novamente em 2014, e o melhor de tudo: como figura ímpar, carismática, matreira e tagarela, é um prato cheio para eu falar mal dele. Vou sentir falta.
ISLAND? Qual é a pronúncia adequada?
Há 4 meses