terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Prato cheio.

      Li recentemente um artigo do conhecido Frei Leonardo Boff, doutor, teólogo e expoente da Teologia da Libertação, no qual ele dizia que os governos priorizam a economia em detrimento às pessoas, e que aquilo que era um meio em si, transformou-se em fim. Como sempre defendeu o governo Lula como sendo o governo de mudança e coisas afim. Concordo em gênero, número e grau sobre a questão da economia e desprezo o abismo existente na distribuição de renda passado ou atual, mas como fazer melhor? Sendo Robin Wood, tirando à força dos ricos para dar aos pobres? E o que fazer com aqueles que sabidamente apenas esperam pelas benesses? Pois se ele, ou alguém, imagina que isso não existe, posso afirmar categoricamente: existe sim. Como já disse anteriormente, o capitalismo é um péssimo sistema, mas qual é melhor e mais bem sucedido?

      No entanto discordo dele quanto ao governo Lula ser um governo de mudança. Reforço ainda a ideia de que a economia vai bem não por causa do Lula, mas apesar do Lula. Ela iria bem até mesmo se um incompetente como eu tomasse conta, o difícil foi vencer a inércia, o que foi feito pelo FHC, o que veio depois foi conseqüência, e explico. A economia brasileira, após o controle da inflação, é baseada em 3 princípios: câmbio flutuante, metas de inflação e manutenção do superávit primário. Qual foi a contribuição do Lula nessas questões? Nenhuma, mas a inflação em crescimento e a mudança no método de cálculo do superávit primário para gastar um pouco mais, que é muito, no ano eleitoral pode comprometer o próximo ano do futuro governo. Quem paga as contas do governo é o setor produtivo, que se desonerado poderia investir mais em estrutura aumentando a produtividade e a produção. Em que o governo mudou? Nada. Não reduziu impostos e não modificou leis arcaicas. Nesses oito anos foi reduzida a diferença de renda significativamente? Não. Se os pobres melhoraram, os ricos o fizeram muito mais. Estão cada vez mais ricos, basta ver os últimos balanços das grandes empresas e principalmente dos 3 maiores bancos nacionais. Com relação às taxas de juros, saímos da maior taxa de juros do mundo para onde? Para a maior taxa de juros do mundo. Caiu? Sim, é verdade, mas mudou? Não. E a reforma agrária avançou? Nadinha, nadinha.

      Saindo da agenda econômica e verificando a social, qual foi a contribuição do governo para a redução da violência? Meia dúzia de presídios e a criação da força nacional, o que é muito pouco. Continuamos com uma legislação obsoleta que pune apenas os pobres, entope cadeias, e entulha o judiciário de processos que se arrastam por anos a fio. O governo criou algumas universidades federais, distribuiu vagas baseadas em cotas, ampliou o programa de crédito universitário e modificou o sistema de avaliação dos cursos e de ingresso às universidades, ou seja, investiu novamente de forma errada, pois no modelo atual se investe muito mais em educação superior do que na básica e o resultado é péssimo, assim o correto seria investir na educação básica, aumentando o nível de conhecimento médio da população, permitindo que o ingresso nas universidades se desse apenas pelo mérito e por fim, também com maior aproveitamento.

      Na área de infraestrutura, nada significativo para comemorar, pois os tais Programas de Aceleração do Crescimento não passaram de peças de marketing integrando um monte de obras já planejadas ou iniciadas que estão sendo inauguradas sem mesmo terem sido terminadas, e que não modificaram em um milímetro sequer as questões básicas. Continuamos sem portos, aeroportos, estradas, saneamento básico, e distribuição desigual de energia elétrica. E quanto a saúde? É preciso comentar? Vemos todos os dias reportagens sobre o mau atendimento nos hospitais, das intermináveis filas de espera para fazer exames e da falta de remédios. Enquanto isso a dengue e a malária avançam, e até a Hanseníase (lepra) voltou a dar as caras. E no setor ambiental? Devemos comemorar a redução no índice de desmatamento? Oras, isso significa apenas que está se desmatando menos do que se fazia, o que precisamos é celebrar a recuperação de áreas desmatadas, o que também não ocorreu.

      O governo Lula teve méritos? Sim, muitos. Em primeiro lugar foi um governo de continuação. Continuou com a política econômica, continuou, ampliou e renomeou os programas sociais, continuou e ampliou as avaliações do sistema de ensino, mas principalmente domou o próprio partido não permitindo a ruptura, o que levaria o país ao desastre, além disso, tomou também as rédeas dos chamados movimentos sociais como os Movimentos dos Sem alguma coisa, que pode ser terra, emprego, moradia, bancos, etc e tal. Fazia muito tempo que não tínhamos uma sequência tão grande de tranquilidade. As invasões foram apenas pontuais e não sistemáticas.

      Não creio que a nossa presidente vá se dar tão bem quanto se saiu o Lula, e também como eu já disse, ele deverá se candidatar novamente em 2014, e o melhor de tudo: como figura ímpar, carismática, matreira e tagarela, é um prato cheio para eu falar mal dele. Vou sentir falta.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Só dói quando respiro.

      Chegando a Luminosa, que faz parte do Caminho da Fé (www.caminhodafe.com.br), há uma descida longa e íngreme que permite desenvolver grandes velocidades. Ao percorrê-la de bicicleta entendi o perigo de deixar uma pessoa para trás, pois caso ela se acidente o socorro é difícil, porque aqueles que foram à frente esperam pelos últimos lá em baixo, e se um desses não aparecer, a volta é demorada, assim quem está atrás deve sempre estar acompanhado.

      Ontem fomos em cinco até Ribeirão Bonito num trajeto de cerca de 90km. A 28km de distância saindo da minha casa, há uma serrinha com piso de pedras soltas, ao descê-la alguns soltaram as bikes e fiquei reduzindo a minha velocidade para esperar pelo Alex. A todo instante eu olhava para trás a fim de localizá-lo até que me desequilibrei, caí e bati com a cabeça no solo. Fiquei com algumas escoriações no braço, perna e no rosto. A mão esquerda e o lado esquerdo do tórax ficaram muito doloridos, além disso, tive um corte na testa. Os colegas voltaram, mas eu já havia me levantado, mais tonto do que de costume e sangrando. Estanquei o sangue com uma toalha limpa, comi um pouco de sal, biscoito e tomei água. Como faltavam apenas 15 km até a chegada decidi ir até lá para ver se encontrava alguma ajuda, mas o posto de saúde estava fechado e na farmácia não faziam curativos. Comprei micropore e o colaram sobre o corte.



      Voltamos para casa. Almocei, tomei banho e fui ao pronto atendimento. Como havia se passado mais de 6 horas, o médico preferiu não suturar o corte, pois o risco de infecção é grande, foi feito então um curativo e foi tirada uma radiografia que não mostrou nenhum ferimento no peito, no entanto, como a região, segundo as palavras do médico, é bastante enervada, eu sentiria dores fortes por alguns dias e por isso ele prescreveu um antiinflamatório.

      No caminho apanhamos manga e trouxe algumas, comi Jambolão apanhado nos vários pés que existem ao longo da estrada e já planejamos refazer o caminho com uma estratégia mais produtiva, com paradas planejadas e para carregar menos peso, mas desde ontem estou de molho, improdutivo, entediado e com dificuldade para lavar a cabeça, pois não devo molhar o curativo. Mas estou bem, o peito só dói quando respiro. E onde estava o Alex? Ele havia parado para tirar algumas fotos.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Oportunidade

      Tenho outros assuntos para escrever, mas não podia deixar passar essa oportunidade, factual, como dizem os meus amigos jornalistas. Hoje, ao descer as escadas na empresa, deparei-me com o Engenheiro, Tenente Coronel e Comendador Marcos Pontes, que veio divulgar que às 18h ele estará no shopping Center autografando o livro de sua autoria: É possível – Como transformar seu sonho em realidade. Para quem não se recorda, seu feito é ter sido o primeiro homem do hemisfério sul a habitar a Estação Espacial Internacional (ISS), ou seja, é o primeiro brasileiro a participar de uma missão no espaço, e popularmente falando, é o primeiro, e até agora único, astronauta brasileiro.

      Consultando o seu site: www.marcospontes.com.br podemos obter algumas informações. Ele participou de 40 cursos e treinamentos, possui 35 qualificações e tem 37 condecorações, homenagens e prêmios, isso aos 48 anos. De origem humilde e iniciando cedo a trabalhar, hoje, ainda novo, e desligado das funções militares continua residindo em Houston e ganhando a vida com um milhão de atividades como empresário, palestrante, escritor, consultor etc. e tal.

      Senti alegria ao rever as imagens de seu treinamento que ocorreu no Centro Espacial Johnson, que visitei em outubro e conheci todos aqueles lugares, e também fiquei com uma ponta de inveja, pois queria eu ter podido viajar ao espaço, mas como trabalho para ganhar o meu sustento e pago as minhas despesas, tive apenas alguns dólares para visitar o centro espacial, mas nunca terei 20 milhões de dólares, que é quanto o nosso governo pagou para que ele fizesse a tal viagem.

      Sobre a missão realizada em março de 2006 ele disse ter feito 8 experimentos científicos, dos quais destacou um para a Universidade Federal de Santa Catarina sobre o controle de temperatura em estruturas de satélites, e outra sobre DNA, para a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, mas o que me lembro mesmo foi do feijão plantado em algodão como é feito por toda escola de ensino fundamental, ou seja, 20 milhões de dólares, fora o custo de todos os treinamentos, subsidiados para plantar feijão no algodão.

      Ele classificou o seu livro como sendo motivacional, mas eu o classifico como auto-ajuda, e com toda ajuda que ele pode dar a si mesmo. Agora na vida civil e bem mais gordo do que mostram as imagens do seu período de treinamento, ele está ganhando dinheiro. Assim, aquilo que investimos e que deveria retornar como conhecimento para desenvolver a nossa agência espacial, está retornando para os seus próprios bolsos. Não que eu imaginasse que isso não pudesse ocorrer, mas sinceramente, que fosse com idade mais avançada, depois de ter dado a sua contribuição ao desenvolvimento da ciência no país, mas já? Em idade ainda produtiva? Só posso concluir que ele sabe realmente como se auto-ajudar.

      Espero que ele como piloto de combate e especialista em armamento aéreo não me declare como sendo seu inimigo e faça um disparo sobre a minha cabeça.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A primeira guerra cibernética.

      Ainda farei um balanço do ano e estou me contendo para não escrever sobre economia e, principalmente, sobre política, mas o governo não me dá folga, é uma trapalhada após outra. No entanto tentarei ser econômico ao atacar o governo e o usarei apenas na introdução. Não sei se vocês se lembram, mas no início do governo Lula houve a tentativa de expulsão de um repórter americano que escreveu sobre o etílico paladar do nosso presidente. A essa seguiram-se outras tentativas de calar os críticos ao governo, e ainda está em gestação, na forma de projeto de lei a criação de um órgão de controle da imprensa. Motivos que provocaram o meu estranhamento quando da apologia ao direito de informação apregoado pelo presidente, que defendeu enfaticamente o físico australiano Julian Assange, criador do site WikiLeaks. O presidente termina o governo como começou, desdiz à noite o que foi dito pela manhã e que amanhã cedo poderá ser diferente.

      Cables é o termo que os americanos utilizam para se referir a mensagens que em português nós chamaríamos de telegramas e, no caso, são correspondências trocadas entre pessoas de organizações do governo americano e que tornaram notório o site de Assange, no ar a cerca de 3 anos. Mais de duzentas e cinquenta mil dessas mensagens foram recentemente gravadas por dois militares já identificados, e que as disponibilizaram nos servidores do WikiLeaks. Com o objetivo declarado de tornar transparentes as iniciativas dos governos, o site publica as mensagens da maneira que lhes são entregues, sem nenhuma verificação, sem ouvir a outra parte e sem nem mesmo exigir a identificação daqueles que as enviam, simplesmente as classificam de acordo com os assuntos e as tornam públicas.

      Após constranger pessoas e governos, o site chegou a ser tirado do ar, mas foi restabelecido com os servidores abrigados em Estocolmo, na Suécia, em um bunker da época da guerra fria. Por tendências políticas algumas empresas cessaram o repasse de dinheiro doado ao site, tais empresas como as de cartão de crédito Visa e Master Card, e o site PayPal, criado pelo milionário de origem sul africana Elon Musk que o vendeu ao e-Bay por 1,5 bilhão de dólares, foram alvos de ataques cibernéticos. Hackers solidários ao WikiLeaks (Hacktivistas) emitiam vírus a computadores chamados mestres que os distribuíam a uma rede imensa de outros computadores chamados escravos, cujos usuários continuavam trabalhando sem saber que a sua máquina estava acessando os servidores das companhias e causando um colapso, tirando-os do ar. Essa talvez seja a primeira guerra cibernética mundial, que não produz mortos, mas causa prejuízos.

      Não tenho ainda ideia formada sobre essa questão, a princípio sou favorável à divulgação de todos os dados para que a população tenha controle sobre os governos, e, dessa maneira, se a divulgação é garantida, cabe aos detentores das informações preservá-las, até porque a grande maioria das notícias vazadas tem valor risível, não passa de fofoca digna da novela das sete. Por outro lado, democraticamente elegemos nossos governantes e demos a eles autoridade para negociar em nosso nome e, como sabemos, negociação, seja comercial ou diplomática, exige certo sigilo, um jogo de cena, um poder de blefe, e desnudando essas informações pode-se quebrar a confiança e os resultados podem não ser alcançados, além do que, quando se trata de informações classificadas, como as relativas a alvos e operações militares, pode-se por em risco muitas vidas.

      Preso na Inglaterra pela Interpol onde deverá prestar depoimento por causa de duas acusações de supostas violências sexuais ocorridas em Estocolmo em agosto, antes, portanto, da atual divulgação dos cables, Julian Assange terá que enfrentar a seriedade da justiça sueca, ainda que seus defensores vejam uma orquestração política para tirá-lo de ação. Estivesse em um país a governado ditatorialmente, Julian Assange já teria sido despachado para o cemitério, mas no mundo ocidental, uma única pessoa é capaz de colocar de joelhos a nação econômica e militar mais poderosa do planeta e que não encontra uma maneira de processá-lo. Essa é a vantagem da democracia.

      Ainda que essa seja a reportagem de capa da revista Veja dessa semana, fiz questão de não lê-la antes de escrever esse artigo para não me sentir contaminado por suas opiniões. Caso você queira acessar o site WikiLeaks segue o IP: http://213.251.145.96/

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Amigos

      Por definição, amigos são as pessoas ligadas por sentimento de amizade, e essa, segundo o Aurélio, é o sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas que geralmente não são ligadas por laços de família ou por atração sexual. Dessa forma posso dizer que tenho muitos amigos, pois ao longo dos anos pude me relacionar, dentro desse conceito, com um número grande de pessoas, no entanto, em espaços curtos de tempo tenho sempre poucos amigos. Há amizades que duram toda uma vida, e outras que, de intensas num momento, tornam-se apenas boas lembranças, e há também aquelas das quais não se quer lembrar mais. Como assim? Não se tratava de um sentimento fiel de afeição e coisa e tal? Sim, tratava, mas as coisas mudam, as pessoas mudam e os sentimentos mudam.

      Conquistar é mais fácil que manter já ensinava Maquiavel, e a manutenção da amizade exige uma boa dose de renúncia recíproca. Não renunciou, acabou, mas uma amizade bem alimentada pode resultar em muitos benefícios, principalmente psicológicos, pois são essas as pessoas com as quais podemos contar sempre. Amigos não devem ser amigos apenas para nos satisfazer, mas, principalmente para, de certa maneira, nos conter quando estamos extrapolando o limite do razoável. Nesse momento cabe ao amigo dizer não, você não está fazendo o certo. É claro que tal atitude pode gerar alguma tensão, mas se a experiência anterior tiver sido sadia e proveitosa, o momento será superado fazendo-nos crescer.

      Amigos entram e saem das nossas vidas constantemente e seria muito bom se nunca os perdêssemos, mas para um filho de Xangô com Oxum como eu, isso não é possível. Sou perseverante e trabalho muito para criar as amizades, mas melindroso, não lido bem com a contrariedade, e tenho enorme dificuldade em pedir algo mesmo a amigos, mas se chego a pedir e recebo um não como resposta, o espírito de Xangô predomina e é guerra que quero, e depois disso é difícil me convencer do contrário. Não sinto orgulho por isso, mas assim já estraguei muitas amizades. Arrependo-me de ter perdido a maioria delas, e de várias, se eu tivesse oportunidade de reescrever a estória, eu o faria, mas como isso não é possível, paciência, amigos vão, amigos vêm. Também considero a perda pelo simples afastamento, seja por interesses distintos, ou seja, por causa da distância. Ainda que a comunicação e a rede mundial de computadores nos coloque sempre em contato, nada supera a convivência real e física, mas também nesse caso, paciência, acontece.

      Melhor que falar de perda é falar de ganho, por isso, seja por aquelas amizades que estão sendo construídas ou por aquelas que estão sendo consolidadas, sou muito grato, espero que essas possam se enquadrar na categoria dos eternos, que mesmo à distância física ou temporal, quando se estabelece contato, que seja intenso, e mais do que me servir de vocês eu possa servir a vocês, pois isso me faz muito bem.

      Eu havia planejado escrever 12 artigos em meio ano, mas em quase oito meses esse já é o de número cinquenta, e ainda que eu tivesse tido a oportunidade e assunto para escrever, preferi deixar esse número simbólico para prestar uma homenagem a todos os meus amigos e principalmente agradecer a vocês que lêem, comentam por mensagem, telefone ou pessoalmente. Se vocês me suportarem, escreverei mais uns cinquenta. Muito obrigado.

O link abaixo é da música A Lista, de Oswaldo Montenegro. Vale a pena ouvir.
http://www.youtube.com/watch?v=mJ-28ZiiExw&feature=fvsr