domingo, 31 de agosto de 2014

Aécio, Dilma ou Marina?

      A maioria dos meus amigos não tem atuação política, mas alguns gostam, fazem campanhas e até participam da vida pública. Eles torcem pelos 3 candidatos que aparecem em melhor colocação nas pesquisas: Aécio, Dilma e Marina - citei-os aqui em ordem alfabética, nada relacionado com a minha preferência. De alguns vejo até mesmo o fervor de militante que torce e sofre; eles exercem plenamente o seu direito e estão certos na tática, mas, a meu ver, muito longe da estratégia.

      Esse sistema de presidencialismo de coalizão está causando muito mal ao país. O poder legislativo que deveria ser o mais importante, pois é ele que determina a direção do país, se apequenou, se tornando apenas um chancelador do poder executivo, que com tantas medidas provisórias que trancam a pauta do congresso, legisla quase que por decreto. O poder judiciário, com o sistema deturpado de nomeação, passou a ser também uma extensão do executivo, basta ver que as duas últimas nomeações de ministros do supremo absolveu os acusados, e condenados por alguns crimes do mensalão, por formação de quadrilha. Havia quem comandava, quem negociava, quem pagava e uma instituição financeira que fazia a transação bancária, se isso não caracteriza uma quadrilha não sei mais como definir, pois que era ilegal ficou provado.

      Mas a origem do problema está no poder legislativo. Deputado não tem que se vangloriar de “conseguir verba” para quadra de esporte ou viaduto, deputado tem que fazer lei. Lei de boa qualidade e que garanta o avanço social. O mesmo vale para os senadores, mas pensando bem, para que senadores? Eles deveriam exercer um poder moderador, já que representam em quantidade igual todos os estados mais o distrito federal. O distrito federal tem o mesmo poder de um estado pequeno como o Piauí e de enorme população e economia como São Paulo. Há Algo muito errado aqui, e que se estende à câmara federal, já que a proporcionalidade também é deturpada. Que tal reduzir o número de congressistas? proponho um a cada 500 mil habitantes, assim ao invés de 513 deputados teríamos cerca de 400. Na pior das hipóteses, já que eles são inúteis, teria menos gente para roubar.

      Em nome da pluralidade foram criados mais de 30 partidos políticos que só servem para fazer barganha: recebem dinheiro para se alinhar com alguma coligação e que produz outra excrescência: a divisão de tempo no horário eleitoral. Como pode a coligação do PT ter o dobro de tempo do PSDB e esse o dobro de tempo do PSB? Bastariam 5 partidos: um de extrema esquerda, um de esquerda, um de centro, um de centro direita e um de extrema direita, todos com o mesmo tempo de propaganda, já que não dá para viver sem ela. Quem quiser participar da vida pública que se encaixe em um desses partidos.

      O que dizer então da proporcionalidade do voto? Vota-se em um candidato folclórico e se elege nessa esteira outros ilustres desconhecidos e sem votos. Esses nos representam? E os suplentes a senador? Normalmente é um parente do candidato ou o financiador da sua campanha. Ou seja, outro sem voto que assume um mandato para o qual não recebeu voto nenhum. Sobre o senado é bom nem comentar mais nada, o melhor é acabar com ele.

      Quando um deputado ou senador deixa a função para exercer um cargo no executivo o suplente assume. Já houve casos em que foi feita a exoneração do servidor apenas para que ele pudesse retornar ao congresso dar o seu voto em um determinado projeto ou comissão, pois o suplente não “era confiável”. Seria razoável que se um membro do poder legislativo trocasse de poder, ficasse aquele cargo vago até a próxima eleição.

      Vejam o absurdo que é a eleição ocorrer a cada dois anos. Esse sistema acabou com a política de estado, pois o país passou a ser governado pela próxima eleição. Se fica difícil fazer uma só eleição para todos os cargos a cada 4 anos ou outro período que o valha como 5 ou 6, que seja feita uma parte em outubro e outra em dezembro do mesmo ano. Seria muito mais produtivo e mais barato.

      Enfim, há muito mais a dizer, porém o principal é que esse sistema se auto-alimenta. Quem está no poder não quer mudá-lo pois se beneficia dele. Ou se provoca a mudança por uma forte pressão popular, ou se espera por um político messiânico que tenha força para produzi-la. Esses dois fatores estão em falta. 

domingo, 24 de agosto de 2014

Inferno Astral

Não gosto de filmes de ficção, a não ser que que as tramas sejam factíveis, por isso prefiro aqueles baseados em estórias reais. Gosto de ciências, principalmente das exatas, pois me encanta poder mensurar: dimensão, distância, velocidade, ângulo, temperatura, enfim, gosto de ter dados para comparar, assim é lógico, não acredito em previsões astrológicas. Também sei que é normal entender, das situações, o que o que queremos, desprezando, em muitas das vezes, a razão. Assim vejo que há coincidência de comportamento em pessoas nascidas em períodos próximos, aquilo que os astrólogos chamam de signos.

Sou virginiano, metódico, perfeccionista, enfim, um chato e há tantos virginianos chatos como eu. E segundo a astrologia entrei na semana passada em meu “inferno astral” que se inicia um mês antes do aniversário, e por coincidência, tive uma semana infernal!

Estou envolvido em vários problemas simultâneos e de difícil solução, daqueles em que se anda em círculos, às vezes para os lados, para trás, mas nada de ir para a frente e resolver. É desgastante, mas devem ser vividos. Eu tinha planos de vir para casa descansar e ficar com com a família, e na sexta-feira, deixei o trabalho atrasado e quase perco o vôo. Cheguei ao aeroporto aos 44 do segundo tempo, mas tudo certo, embarquei, a viagem foi tranquila e até dormi um pouco. Vindo de Salvador desembarquei em Campinas, tomei um taxi, fui até o estacionamento onde estava o meu carro e comecei a curta viagem para casa.

Eu era o último de uma fila que andava a 100km/h na pista da esquerda da Anhanguera, e não havia percorrido nem em 15km quando um irresponsável veio por trás em alta velocidade e percebendo que haveria a colisão, saiu para a direita e enfiou o pé no freio, perdeu o controle, rodou, bateu no meu carro duas vezes, rodou novamente e saiu para a direita. Meu carro foi jogado contra a mureta de proteção, onde raspou levemente, e consegui controlá-lo com facilidade, mas devido ao fluxo intenso de veículos, percorri uns 200m até poder parar em um local menos perigoso.

Estacionei no acostamento, liguei o pisca-alerta, coloquei o triângulo e fui ver o que havia acontecido com o outro motorista, mas ele havia sumido e como estava escuro não identifiquei nem mesmo o modelo do carro que provocou o acidente. Liguei para casa, liguei para o seguro e pedi resgate. Esperei uns 10 minutos e chegou um guincho da concessionária e depois outro carro de suporte. Fui levado a um posto de combustível reduzindo tanto o risco de nova colisão quando o de assalto e chegou também o guincho enviado pela seguradora. Assim viajei uns 140km na boléia de um caminhão que também transportava o meu carro.

Cheguei tarde em casa e além do prejuízo material e do desconforto por não poder contar com esse carro por um longo tempo, ainda perdi um tempo precioso do meu final de semana, e o pior, ainda falta muito para o meu aniversário.


domingo, 17 de agosto de 2014

O que não falta é opção

      É inverno, e em Salvador a amplitude térmica é pequena, a temperatura tem variado entre 21 e 27 graus Celsius, mas também é um período de muita chuva e vento. Choveu em todos os dias da última semana, mas não hoje durante o dia, porém, pela manhã, ventava muito.

      Como irei à academia amanhã cedo não quis fazer atividade física, apenas caminhei uns 10km em ritmo lento, assim pude observar que, viver em uma grande cidade ladeada por um oceano propicia grande diversidade de opções ao ar livre. Pensei em fazer um registro fotográfico, mas fiquei com preguiça.

      Há os que passeiam com os cachorros, os que levam os filhos pequenos para passear. Tem a as crianças com os seus carrinhos ou motos elétricas, tem turma do skate, do patinete, do patins in line, os que caminham, os que correm, que são muitos, a turma da bicicleta, esses com bikes vários tipos, incluindo as elétricas e pessoal das motos.

      Há os banhistas, os nadadores, os mergulhadores, a turma da pesca submarina, os da observação com snorkel, a turma do body board, os surfistas que também são muitos, o pessoal do standup paddle e os pescadores, desde os que ficam nas pedras, os que pescam com caiaque até os profissionais com seus barquinhos, e tem ainda a turma do iatismo a vela. Observando somente nessa região não vi os grandes iates. Mas quem comanda mesmo é o pessoal do baba (futebol de areia). Eles chegam trazendo a bola e as traves que são feitas com canos de PVC, mas não sei de onde sai a “cavadeira” para fixar as traves, mas elas existem.

      Como se vende coisas! Coisas de todos os tipos, a começar pela água e não poderia faltar a cerveja e o sorvete, mas tem também o acarajé, o milho, o amendoim, o queijo coalho e a água de coco, além de alguns doces, claro! Há protetor solar, bronzeador e cremes de vários tipos, roupas, óculos e chapéu. Há também os que oferecem excursões e passeios de barco. Além de vender, também alugam-se cadeiras e barracas.Todos esses são ambulantes, e há muitos bares, restaurantes e lojas. Impossível faltar o flanelinha, já que estacionamento é artigo raro.

      Há cenários ocupados por grupos de estudantes posando para foto de formatura, corais, religiosos distribuindo panfletos, brinquedos para crianças, vendedores de imóveis com seus stands móveis e sem falar dos grupos de capoeira.

      As opções são muitas, mas, faço parte apenas dos que caminham, correm e às vezes, uma voltinha de bike. Por enquanto ainda não sou baiano, pois não comi acarajé e espontaneamente não falei um Oxe!

domingo, 3 de agosto de 2014

Dom

      Todos têm pelo menos um dom, isso é, sabem fazer algo com excelência, e o meu é ser técnico. Nunca tive muito conhecimento, mas sempre tive uma habilidade inata. Mesmo não sabendo como ou o porquê, tenho facilidade para entender o fluxo de uma manutenção, e para isso destaco saber separar a causa da consequência. Essa mesma característica é o que torna um médico diferenciado.

      Tanto os técnicos como os médicos procedem da mesma maneira, verificam os sintomas, fazem uns testes, aplicam uma correção, monitoram os resultados e se estiver dando certo, prosseguem, do contrário, mudam a abordagem e o processo se repete. Porém ao contrário dos técnicos, os médicos tratam de pessoas, aqueles, de sistemas e equipamentos.

      Eu não poderia ter sido médico por alguns motivos, primeiro porque não gosto de estudar, segundo, porque não posso ver sangue. Sou a favor da doação, mas por duas vezes já desmaiei tentando fazê-lo. Foram várias as vezes em que a minha pressão arterial caiu somente por eu ter entrado no hospital para visitar alguém. Já dei trabalho! Mas há ainda uma terceira característica que me impede até mesmo de considerar qualquer outra: acho que é uma profissão que endurece as pessoas.

      No início da minha carreira resolvi consertar equipamentos em casa, perdi tempo, perdi dinheiro e não sabia cobrar. Ou cobrava pouco ou não cobrava nada. Da mesma maneira acho que nunca teria um restaurante, pois se aparecesse alguém pedindo comida iria conseguir e acredito que a fila só faria crescer. Afinal, um copo d’água, um prato de comida e a senha do WiFi não se nega a ninguém.

      Há alguns dias assisti a um jornal na TV que mostrou um homem que agonizou na rua até morrer, ele estava deitado na calçada, na porta do hospital que era particular e o homem não tinha plano de saúde. É possível até que os médicos nem tivessem conhecimento, porque o caso poderia não ter passado da portaria, mas esse endurecimento é do grupo. Eles se habituam a lidar com tanta desgraça que essa é somente mais uma, um número apenas. Sabemos que a quantidade de leitos em hospitais é insuficiente e o de leitos de UTIs então, nem se fala, o que gera, em alguns casos, a possibilidade do médico ter que escolher quem irá viver ou morrer.

      Apesar de não ser uma profissão boa para mim, ainda bem que existem pessoas que conseguem lidar com essas situações e possam realiza-las apesar de todos os problemas envolvidos e as conseqüências que eles geram. Essas pessoas possuem esse dom.