domingo, 28 de abril de 2013

Vai Sobrar Pouca Gente


      Em um planeta com 7 bilhões de habitantes tem gente de todo jeito. Dos que prestam e se prestam a tudo aos que não prestam e não se prestam à nada. Há divisões de todas as maneiras: geográficas, políticas, culturais, econômicas, religiosas e assim vai...mas de qualquer forma, há que se ter regras. Bem ou mal, certas ou erradas elas traduzem o momento de cada sociedade e a sua dinâmica é natural, se a sociedade muda, as regras mudam, se um pouco de ousadia faz bem, o total desrespeito faz mal, isso considerando sociedades relativamente educadas e civilizadas, pois as autoritárias nem merecem comentários.

      Logo após a primeira eleição vencida pelo Lula, em uma entrevista o FHC disse que a agenda do governo do PT não deveria ser a econômica e sim a violência. Ele estava certo. A economia não saiu de pauta e está indo para o buraco e a segurança pública, que foi abandonada afundou mais rapidamente. Se a política econômica foi inclusiva e a criminalidade está aumentando algo está muito errado, e não é o cidadão comum que irá resolver, mas sim os governantes das três esferas.

      Não sou especialista, mas a visão comum é que o sistema prisional está falido, a justiça é lenta tardia e falha, parte da polícia é corrupta, se a polícia prende a justiça solta, e rico não vai preso. Nossa constituição determina que o legislativo faça as leis, que o judiciário julgue e que o executivo puna. Se isso não funciona ou a constituição está errada ou os poderes são incompetentes ou tudo isso ao mesmo tempo. Em arroubos de patriotismo e marketing nossos governantes se vangloriam das nossas leis, temos as melhores e mais avançadas do mundo, como o estatuto do idoso e o das crianças e adolescente. Tudo bem, elas são ótimas, mas funcionam? Nossas cadeias educam? Se as escolas nem ao menos alfabetizam e nem ensinam fundamentos de matemática, como se pode dar o nome de educação, e o que dizer então das cadeias e sistemas de correção para jovens infratores?

      É claro que é melhor investir em escola do que em cadeia, mas na situação atual, onde uma vida não vale nada, se mata por banalidade, não dá para compactuar com o criminoso. Não há pai de família que se sinta seguro ou que possa deixar sua família em segurança. Não se pode deixar a criança brincar na rua ou o jovem sair à noite durante o fim de semana sem que o coração fique apertado de medo. Portanto é necessária uma intervenção séria e imediata. Para crimes violentos há que ter punições severas e rápidas, não importa a idade do criminoso, se tem 10, 20 ou 80 anos. Não dá mais para admitir que um condenado a 100 anos deixe a prisão após 5 anos, e na cadeia tenha facilidades e até “visitas íntimas”. E se o criminoso tinha até 17 anos quando cometeu a atrocidade passe apenas 3 anos “internado”.

      Tais facilidades ocorrem porque nosso sistema político é vagabundo e os governantes só fazem enriquecer e pensar na próxima eleição para continuar enriquecendo ainda mais. O exemplo vem de cima e se quisermos uma sociedade melhor não podemos compactuar com que está dando errado, isso é, precisamos expurgar do congresso todos os vagabundos e mal intencionados. Vai sobrar pouca gente...

sábado, 20 de abril de 2013

Boston - Os Pais.


      Na última segunda-feira, 15/04, cheguei ao aeroporto JFK em nova Iorque às 4 da tarde e tomei um taxi rumo a Manhatam. O rádio estava ligado e comecei a ouvir os comentários sobre 2 explosões consecutivas, número de vítimas e movimentação policial, mas não consegui identificar o local nem as circunstâncias. Chegando ao hotel liguei a TV e fiquei sabendo sobre o atentado na Maratona de Boston e que havia 3 mortos e centenas de feridos. Ao sair caminhando notei intenso patrulhamento e policiais em todos os cantos.

      Minha atenção se voltou a dois fatos: a morte de um menino de 9 anos e o que leva uma pessoa a ter essa atitude. Sentia a dor dos pais daquele menino e imaginava que o saldo poderia ter sido muito pior se as explosões tivessem ocorrido na largada e não na chegada, pois no início a aglomeração é muito maior. Vendo o noticiário me vi envolvido na busca, desejando que o culpado fosse detido, afinal, aquilo não foi acidente, foi deliberado. Algumas pessoas foram detidas e liberadas e dois suspeitos foram identificados e a caçada começou, mas havia a dúvida se deveriam ou não divulgar os nomes. Na quinta feira embarquei para o Brasil ainda sem saber do assalto à loja de conveniência, do roubo de um carro e sequestro de seu motorista, da morte de um policial e de um dos suspeitos. Ao chegar na sexta-feira ainda se fazia o cerco ao segundo suspeito que acabou sendo preso depois de ter sido ferido.

      No Jornal Nacional vi depoimentos de colegas dos dois rapazes, de seus pais e de alguns de seus parentes e fiquei muito mais triste, imaginando que um já está morto e o segundo provavelmente o será depois de julgado. São muitas vidas jovens desperdiçadas. Não sei se eles são mesmo os culpados pelo atentado, mas parece que não há dúvidas sobre os assaltos e troca de tiros, além do que foram encontradas armas e explosivos em suas residências. O mais velho era casado e tinha uma filha pequena e assim como seu irmão mais novo era inteligente e culto. Ambos são de origem russa e foram criados e estudaram nos Estados Unidos. Portanto, qual seria a razão para atacar o país que os acolheu? 

      No Central Park, na quinta feira, passei por uma manifestação de indianos, não sei identificar a que grupos pertencem, mas eram todos homens, alguns meninos, e os adultos vestiam ternos, uma espécie de turbante e tinham barbas longas. Gritavam por justiça e por liberdade na Índia. Eram acompanhados por policiais americanos e crianças distribuiam panfletos. Peguei um deles e perguntei do que se tratava e o menino me disse que estavam apoiando um professor. Ainda andando me deparei com grupos de diversos lugares, muitos turistas e vários residentes. Os dois taxis que tomei eram conduzidos por pessoas de origem árabe. No sul da ilha vi muitos orientais e seus comércios, e no centro, muitos hispânicos. Os Estados Unidos podem ter errado muito em sua política externa, mas certamente é um dos países mais tolerantes quando se trata de imigração e agora tem que conviver com um drama, quanto mais se protege, mais está exposto.

      Como esportista me sinto infeliz com um atentado em uma prova tão democrática, pois a corrida é o único esporte onde a pessoa comum participa junto com o ídolo, e como pai fico pensando no sentimento dos pais dos garotos. Daquele inocente que apenas se divertia e daqueles que podem ter praticado esse ato. Os primeiros serão sempre vítimas e os segundos serão culpados para sempre sem ter tido nenhuma participação no episódio. Terão aquele sentimento "de onde foi que errei?". Se forem mesmo culpados, e ainda que não o sejam, como será a vida da filha daquele mais velho? É muita dor por nada, era perfeitamente possível ficar sem isso.