quinta-feira, 7 de março de 2013

Haja Petição.


      Venho do tempo antigo, ainda da “era do rádio” quando as comunicações pessoais eram feitas através de cartas, as urgentes por meio de telegramas e as músicas eram gravadas em discos espessos e pesados. Vieram a TV que se reinventou, mas o Fax e o Telex nem esquentaram a cadeira, e o DVD também teve vida curta. Comecei minha carreira trabalhando com máquina de escrever e em pouco tempo já estava utilizando computador que era um mostro em tamanho, porém com processamento infinitamente menor que o de um simples telefone celular utilizado hoje em dia. Naquela época havia protestos nas ruas, manifestações na imprensa e o instrumento do povo era o abaixo-assinado. Redigia-se um documento e quem concordava com a ideia “assinava em baixo” e quando muito contava-se em milhares os adeptos. O equivalente de hoje é a petição que elevou os assinantes a milhões.

      Adaptei-me muito bem com as novas tecnologias, perdi o sossego com a conectividade e até “assinei” algumas petições, mas no meu entendimento elas foram banalizadas. Há muitas organizações profissionais que estão se especializando em criar petições. Elas arrumam uma “causa” e através de mecanismos de spam espalham as mensagens. Após assinar a primeira o seu endereço é cadastrado e você não tem mais o menor trabalho para assinar a próxima e tampouco precisa ler o texto. Se você permitiu que o seu computador tivesse gravado o preenchimento automático, basta digitar uma letra, apertar o enter e, em seguida, o send. Acabou. Você é um manifestante. Mas a modernidade não para por aí. Você pode avisar os seus amigos que você é “engajado” pois há links para todas as redes sociais. Você pode também tornar-se um militante. Com um clique você pode se comprometer a arrumar um número de “assinaturas” ou enviar um convite a todos os seus amigos virtuais que já aparecem marcados para receber a mensagem. Basta outro clique e pronto: você já é um ativista.

      Há petições para tudo. Para salvar o urso panda, os golfinhos, os botos, os tigres, os elefantes, as mulheres, as crianças, e as minorias, sejam elas quais forem. Ainda hoje recebi uma mensagem que dizia: se você é um estudante endividado ou se importa com as abelhas, assine a petição. Em tese, ninguém consegue ser contra argumentos tão convincentes, mas duvido que todos tenham lido até o final os textos que te convidam a assinar. São pregações intermináveis dispostas em páginas carregadas e apelativas e para se livrar delas é melhor assinar logo, pois na maioria das vezes isso evita recebê-la novamente. Porém quem pode atestar a veracidade das mesmas?

      Há pouco tempo houve uma campanha de vídeo que em termos modernos tornou-se “viral”, espalhando-se rapidamente, e que por ter sido feita em português e disseminada em inglês teve interpretação completamente diferente da realidade. Chamada de “Cala a Boca Galvão” era uma brincadeira com um narrador esportivo e que foi interpretada como sendo uma campanha para salvar um papagaio da extinção. Teve outra campanha de vídeo estrelada por jovens atores e atrizes engajados em impedir a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Ela apresentava diversos dados e situações que foram desmentidos ponto a ponto por pesquisadores e estudantes, pois continha erros grosseiros. Independentemente do assunto ou do lado que se defenda é necessário ter seriedade,e não dá para acreditar em qualquer coisa. Como sempre foi, as afirmações devem ter sustentação e os dados precisam ser verificados.

      Apesar da aparente boa ideia e da boa vontade, o sem número de petições emitidas decretará a derrocada do instrumento, pois esse ficará desacreditado. Alguns podem surtir efeito, porém a maioria será simplesmente esquecida. Recentemente houve uma de sucesso que em poucos dias arregimentou mais de 1.600.000 assinaturas solicitando a renúncia do presidente do senado. E o que aconteceu? Nada! Recebeu a cobertura da imprensa durante a sua a entrega, foi recepcionada por senadores bem intencionados, foi comentada em blogs e pela imprensa em geral e morreu por aí, pois nem sempre da quantidade se extrai qualidade.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Doze Vezes Não.


     Não li todos os livros que eu gostaria, porém, dos que li, gostei de vários, muitos me foram indiferentes e alguns muito ruins.

      Não assisti a todos os filmes que imagino serem bons, mas assisti a vários que foram terríveis e nenhum foi excelente, pois sempre encontro defeitos.

      Não ouvi todas as músicas que me agradariam, pois creio que as melhores ainda não foram compostas, no entanto já me vi obrigado a escutar muita porcaria.

      Não assisti a muitos concertos, mas àqueles a que pude ir, em sua maioria, gostei, pois nesse quesito sempre fui seletivo.

      Não estive tanto quanto eu gostaria em teatros, peças e espetáculos, mas naqueles em que estive, apenas de poucos não gostei.

      Não estive em todos os lugares que eu gostaria de ter estado, e nem com todo o dinheiro do mundo e tempo disponível eu conseguiria, pois a vontade é maior do que uma vida. Entretanto já permaneci tempo demais em lugares que jamais quis estar.

      Não saboreei as melhores refeições, mas isso não me faz falta. Sinto falta da refeição, mas não dos sabores.

      Não disputei todas as partidas que me alegrariam, também, eu não jogo nada tão bem.

      Não voei de asa delta e nem pulei de paraquedas porque tenho medo, e não subi o Everest porque não tenho condição física adequada e muito menos quarenta mil dólares para isso, porém coragem não me falta.

      Não estudei tudo o que acho que eu precisaria, porque eu gosto de saber, não de estudar.

      Não conheci todas as pessoas que considero serem valiosas, e nem seria possível, pois a maioria é de outra época.

      Não confiei em cardiologista que fuma, preparador físico barrigudo e nutricionista gordo. Porque então acreditaria em político que mente e rouba?