Venho do tempo antigo, ainda da “era do rádio” quando as
comunicações pessoais eram feitas através de cartas, as urgentes por meio de
telegramas e as músicas eram gravadas em discos espessos e pesados. Vieram a TV
que se reinventou, mas o Fax e o Telex nem esquentaram a cadeira, e o DVD
também teve vida curta. Comecei minha carreira trabalhando com máquina de
escrever e em pouco tempo já estava utilizando computador que era um mostro em
tamanho, porém com processamento infinitamente menor que o de um simples telefone
celular utilizado hoje em dia. Naquela época havia protestos nas ruas,
manifestações na imprensa e o instrumento do povo era o abaixo-assinado.
Redigia-se um documento e quem concordava com a ideia “assinava em baixo” e
quando muito contava-se em milhares os adeptos. O equivalente de hoje é a
petição que elevou os assinantes a milhões.
Adaptei-me muito bem com as novas tecnologias, perdi o
sossego com a conectividade e até “assinei” algumas petições, mas no meu
entendimento elas foram banalizadas. Há muitas organizações profissionais que
estão se especializando em criar petições. Elas arrumam uma “causa” e através
de mecanismos de spam espalham as mensagens. Após assinar a primeira o seu
endereço é cadastrado e você não tem mais o menor trabalho para assinar a
próxima e tampouco precisa ler o texto. Se você permitiu que o seu computador tivesse
gravado o preenchimento automático, basta digitar uma letra, apertar o enter e,
em seguida, o send. Acabou. Você é um manifestante. Mas a modernidade não para
por aí. Você pode avisar os seus amigos que você é “engajado” pois há links
para todas as redes sociais. Você pode também tornar-se um militante. Com um
clique você pode se comprometer a arrumar um número de “assinaturas” ou enviar
um convite a todos os seus amigos virtuais que já aparecem marcados para
receber a mensagem. Basta outro clique e pronto: você já é um ativista.
Há petições para tudo. Para salvar o urso panda, os
golfinhos, os botos, os tigres, os elefantes, as mulheres, as crianças, e as
minorias, sejam elas quais forem. Ainda hoje recebi uma mensagem que dizia: se
você é um estudante endividado ou se importa com as abelhas, assine a petição. Em
tese, ninguém consegue ser contra argumentos tão convincentes, mas duvido que todos
tenham lido até o final os textos que te convidam a assinar. São pregações
intermináveis dispostas em páginas carregadas e apelativas e para se livrar
delas é melhor assinar logo, pois na maioria das vezes isso evita recebê-la
novamente. Porém quem pode atestar a veracidade das mesmas?
Há pouco tempo houve uma campanha de vídeo que em termos
modernos tornou-se “viral”, espalhando-se rapidamente, e que por ter sido feita
em português e disseminada em inglês teve interpretação completamente diferente
da realidade. Chamada de “Cala a Boca Galvão” era uma brincadeira com um
narrador esportivo e que foi interpretada como sendo uma campanha para salvar
um papagaio da extinção. Teve outra campanha de vídeo estrelada por jovens
atores e atrizes engajados em impedir a construção da usina hidrelétrica de
Belo Monte. Ela apresentava diversos dados e situações que foram desmentidos ponto
a ponto por pesquisadores e estudantes, pois continha erros grosseiros. Independentemente
do assunto ou do lado que se defenda é necessário ter seriedade,e não dá para
acreditar em qualquer coisa. Como sempre foi, as afirmações devem ter
sustentação e os dados precisam ser verificados.
Apesar da aparente boa ideia e da boa vontade, o sem número
de petições emitidas decretará a derrocada do instrumento, pois esse ficará
desacreditado. Alguns podem surtir efeito, porém a maioria será simplesmente
esquecida. Recentemente houve uma de sucesso que em poucos dias arregimentou
mais de 1.600.000 assinaturas solicitando a renúncia do presidente do senado. E
o que aconteceu? Nada! Recebeu a cobertura da imprensa durante a sua a entrega,
foi recepcionada por senadores bem intencionados, foi comentada em blogs e pela
imprensa em geral e morreu por aí, pois nem sempre da quantidade se extrai
qualidade.