domingo, 20 de novembro de 2011

Hidrelétrica de Belo Monte.

      O Censo demográfico de 2010 aponta, com 80 milhões de habitantes, a região sudeste como a mais populosa do país, e no lado oposto estão o centro-oeste e a região norte que possuem populações da ordem de 15 milhões de habitantes, sendo o estado mais populoso dessa região, o Amazonas. Em 1.970 a população do Amazonas era de aproximadamente 721.000 habitantes e em 2.010 de 3.483.985. A maior parte da população brasileira vive onde existiu a Mata Atlântica da qual hoje restam menos de 10% da vegetação original, ou seja, o aumento da densidade demográfica destrói a vegetação nativa. Se nada for feito, como ocorreu na Mata Atlântica, o simples aumento populacional da Amazônia irá dizimar a chamada maior floresta tropical do mundo. Porque o povo corta as árvores, vende os troncos, queima os galhos, cultiva pastagens e cria gado. Essa população não pode ser ignorada e precisa de energia elétrica que hoje é mal suprida, e, em muitos casos, gerada a partir de motores alimentados com óleo diesel, que vem de longe e torna-se, além de poluente, uma maneira cara.

      Assinei digitalmente há algum tempo uma petição da ONG Avaaz.org para que não fosse dado início à construção da Usina de Belo Monte, um colosso hidrelétrico que se propõe a ser a terceira maior usina geradora de energia elétrica do mundo, atrás apenas da Três Gargantas, na China, e Itaipu, na divisa do Brasil com o Paraguai. Não sou contra nem a favor da usina, simplesmente não sei o que é melhor. Desejo que isso seja debatido por especialistas comprometidos com o desenvolvimento e que tenham visão ampla, não apenas da solução presente, mas principalmente do futuro. Se por um lado é fato que a floresta está sendo dizimada, também o é a necessidade de suprir as demandas estruturais da população, e nesse aspecto vale o que produzir energia de maneira mais barata e de forma menos agressiva ao meio ambiente, porque algum impacto sempre há.

      Não é correto dizer que existe geração de energia elétrica limpa, há apenas aquela que produz menor dano ao meio ambiente. Existe uma dinâmica na geração e consumo de energia elétrica e as usinas necessitam se adaptar a isso de alguma maneira, por exemplo, a geração longe do ponto de consumo obriga a construção de extensas linhas de transmissão, que abrem clareiras por onde passam e impõem perda considerável da energia gerada. Além disso, nem sempre o horário de maior geração é o de maior consumo, e para essa adaptação as usinas eólicas e solares devem acumular energia, sendo essa acumulação feita através de baterias cuja tecnologia teve um desenvolvimento expressivo nos últimos 20 anos, mas necessita de muito produto químico e óxidos metálicos extraídos de minas que podem devastar extensas áreas, e sua produção e a grande quantidade de resíduos resultantes ao final de sua vida útil, que por sinal é relativamente pequena, podem produzir diversos tipos de contaminação. Usinas nucleares podem ser construídas próximas do local de consumo e a geração pode ser ajustada à demanda, mas existe a mineração do urânio, e em caso de acidente na usina ou no processamento desse, as proporções podem ser catastróficas, além do que, o resíduo nuclear é de difícil e perigoso armazenamento. Em nosso estado se produz muita energia elétrica a partir da queima dos resíduos das usinas de açúcar e álcool e esse combustível pode até ser pouco poluente, mas a própria produção da cana gera desequilíbrios ambientais altamente indesejados próprios das monoculturas, como vemos onças e macacos invadindo áreas urbanas por terem sido destruídos os seus habitats primitivos.

      As hidrelétricas modificam o bioma existente, mexem com o fluxo abaixo da construção e principalmente na área represada. Rios de corredeira se transformam lagos e a área alagada passa a ser um enorme produtor de gases poluentes que por muitos anos são liberados. A vida selvagem passa por transformações, paisagens são destruídas e outras construídas, populações são expulsas e outras se formam, enfim, a soma das ações não é nula, mas por outro lado, a operação da usina, desde que tenha sido construída de maneira adequada, é segura e responde bem à equação geração e demanda.

      O desenvolvimento tem seu preço, assim como a geração de energia também o tem, e não me sinto confortável em formar juízo sobre um tema tão complexo, pois não podemos colocar uma cerca em volta da Amazônia, expulsar a população e deixar que o mato cresça e os nativos que se virem, e é muito provável que nem os nativos queiram isso. Para que tomem essa decisão elegemos gestores que, em tese, podem se assessorar de equipes competentes, e para equilibrar o jogo temos de um lado os interessados empreiteiros, evidentemente com vistas somente ao dinheiro que receberão, e de outro, as associações civis, entre elas várias ONGs que também contam com assessoria científica, e mediando o processo temos as plataformas de divulgação, como as mídias impressas, digitais e radiofônicas. Enfim, interessados são muitos, então que prevaleça o equilíbrio, para que além de um Belo Monte tenhamos boa qualidade de vida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Invasão da USP

      Não estou por dentro do assunto porque estava viajando em férias quando o movimento começou, mas ouvi opiniões controversas sobre a invasão de um prédio da USP por alunos e a desocupação feita pela polícia. Não sei se estou falando besteira, mas me parece que alguns alunos foram detidos por fumarem maconha no estacionamento da universidade e por solidariedade outros tomaram um dos prédios administrativos. A partir daí se seguiu o rito de sempre, a reitoria pede à justiça a reintegração de posse e, assim concedida, a polícia a executa com os recursos disponíveis. E a discussão é acalorada.

      Por princípio sou contra a violência e também contra os extremos, pois os acho perigosos, o equilíbrio me parece mais adequado, e nesse caso, são cerca de 200 envolvido num universo de mais de 70 mil, logo é um extremo inferior de representatividade. Se é um ato de violência ser desalojado pela polícia no meio da noite, também o é tomar de assalto as dependências de um aparelho público que presta serviço a muito mais pessoas do que a apenas o grupo em questão. Também por se “sensibilizarem” com o “movimento”, alunos da Unesp de Rio Claro impediram na semana passada o acesso de estudantes, professores, funcionários e  convidados às dependências do campus. Oras, sejamos razoáveis, qual é o direito dessas pessoas em impedir que pesquisas tenham continuidade? Pesquisas teóricas podem ser atrasadas, mas e naquelas biológicas onde há horários determinados para avaliação? Os manifestantes podem impedir que outros estudantes concluam os seus trabalhos e coloquem em risco seu futuro na escola e na profissão?
      Repetir bordões contra o autoritarismo, clamar por democracia e liberdade também não me parecem adequados quando o propósito é apenas se apoderar das dependências da instituição para promover festas e consumir drogas, lícitas ou não. Parece-me que falta conteúdo ideológico a essa reivindicação.
      Chamar os manifestantes de infantis, ingênuos ou descompromissados até que passa, agora querer tachá-los de mauricinhos e patricinhas e que deveriam sim estudar em escola particular deixando vaga para outros mais necessitados, não posso concordar, mesmo vendo que essa é a opinião da maioria com quem conversei. O assalariado paga três vezes por tudo o que o estado deveria fornecer. A primeira através dos impostos embutidos nos produtos e serviços, a segunda no recolhimento do imposto de renda, e a terceira na contratação de serviços que o estado não provém, como segurança privada, saúde complementar e nas escolas particulares que seus filhos frequentam até chegar à universidade. Assim vejo a universidade como um direito. Posso até não concordar com o critério do vestibular, mas se não há escola para todos há de haver um critério para a admissão e o mérito me parece mais justo. Dessa maneira, se a vaga foi conquistada por quem teve oportunidade de estudar em melhores escolas, ele merece a vaga.
      Por outro lado, pode ser até a minoria dentro da minoria, mas há alunos que não são exatamente estudantes, como o caso citado daquele que foi jubilado em Letras após 8 anos sem concluir o curso e prestou novamente o vestibular para ingressar no mesmo curso. Isso não é um direito, é uma afronta, é um acinte.
      Esse cenário foi criado porque temos uma legislação sofrível, educação precária e rebeldes sem causa.