O Censo demográfico de 2010 aponta, com 80 milhões de habitantes, a região sudeste como a mais populosa do país, e no lado oposto estão o centro-oeste e a região norte que possuem populações da ordem de 15 milhões de habitantes, sendo o estado mais populoso dessa região, o Amazonas. Em 1.970 a população do Amazonas era de aproximadamente 721.000 habitantes e em 2.010 de 3.483.985. A maior parte da população brasileira vive onde existiu a Mata Atlântica da qual hoje restam menos de 10% da vegetação original, ou seja, o aumento da densidade demográfica destrói a vegetação nativa. Se nada for feito, como ocorreu na Mata Atlântica, o simples aumento populacional da Amazônia irá dizimar a chamada maior floresta tropical do mundo. Porque o povo corta as árvores, vende os troncos, queima os galhos, cultiva pastagens e cria gado. Essa população não pode ser ignorada e precisa de energia elétrica que hoje é mal suprida, e, em muitos casos, gerada a partir de motores alimentados com óleo diesel, que vem de longe e torna-se, além de poluente, uma maneira cara.
Assinei digitalmente há algum tempo uma petição da ONG Avaaz.org para que não fosse dado início à construção da Usina de Belo Monte, um colosso hidrelétrico que se propõe a ser a terceira maior usina geradora de energia elétrica do mundo, atrás apenas da Três Gargantas, na China, e Itaipu, na divisa do Brasil com o Paraguai. Não sou contra nem a favor da usina, simplesmente não sei o que é melhor. Desejo que isso seja debatido por especialistas comprometidos com o desenvolvimento e que tenham visão ampla, não apenas da solução presente, mas principalmente do futuro. Se por um lado é fato que a floresta está sendo dizimada, também o é a necessidade de suprir as demandas estruturais da população, e nesse aspecto vale o que produzir energia de maneira mais barata e de forma menos agressiva ao meio ambiente, porque algum impacto sempre há.
Não é correto dizer que existe geração de energia elétrica limpa, há apenas aquela que produz menor dano ao meio ambiente. Existe uma dinâmica na geração e consumo de energia elétrica e as usinas necessitam se adaptar a isso de alguma maneira, por exemplo, a geração longe do ponto de consumo obriga a construção de extensas linhas de transmissão, que abrem clareiras por onde passam e impõem perda considerável da energia gerada. Além disso, nem sempre o horário de maior geração é o de maior consumo, e para essa adaptação as usinas eólicas e solares devem acumular energia, sendo essa acumulação feita através de baterias cuja tecnologia teve um desenvolvimento expressivo nos últimos 20 anos, mas necessita de muito produto químico e óxidos metálicos extraídos de minas que podem devastar extensas áreas, e sua produção e a grande quantidade de resíduos resultantes ao final de sua vida útil, que por sinal é relativamente pequena, podem produzir diversos tipos de contaminação. Usinas nucleares podem ser construídas próximas do local de consumo e a geração pode ser ajustada à demanda, mas existe a mineração do urânio, e em caso de acidente na usina ou no processamento desse, as proporções podem ser catastróficas, além do que, o resíduo nuclear é de difícil e perigoso armazenamento. Em nosso estado se produz muita energia elétrica a partir da queima dos resíduos das usinas de açúcar e álcool e esse combustível pode até ser pouco poluente, mas a própria produção da cana gera desequilíbrios ambientais altamente indesejados próprios das monoculturas, como vemos onças e macacos invadindo áreas urbanas por terem sido destruídos os seus habitats primitivos.
As hidrelétricas modificam o bioma existente, mexem com o fluxo abaixo da construção e principalmente na área represada. Rios de corredeira se transformam lagos e a área alagada passa a ser um enorme produtor de gases poluentes que por muitos anos são liberados. A vida selvagem passa por transformações, paisagens são destruídas e outras construídas, populações são expulsas e outras se formam, enfim, a soma das ações não é nula, mas por outro lado, a operação da usina, desde que tenha sido construída de maneira adequada, é segura e responde bem à equação geração e demanda.
O desenvolvimento tem seu preço, assim como a geração de energia também o tem, e não me sinto confortável em formar juízo sobre um tema tão complexo, pois não podemos colocar uma cerca em volta da Amazônia, expulsar a população e deixar que o mato cresça e os nativos que se virem, e é muito provável que nem os nativos queiram isso. Para que tomem essa decisão elegemos gestores que, em tese, podem se assessorar de equipes competentes, e para equilibrar o jogo temos de um lado os interessados empreiteiros, evidentemente com vistas somente ao dinheiro que receberão, e de outro, as associações civis, entre elas várias ONGs que também contam com assessoria científica, e mediando o processo temos as plataformas de divulgação, como as mídias impressas, digitais e radiofônicas. Enfim, interessados são muitos, então que prevaleça o equilíbrio, para que além de um Belo Monte tenhamos boa qualidade de vida.