sábado, 15 de dezembro de 2018

Imbecis, Idiotas

      Em um espaço relativamente curto de tempo a tecnologia sepulta algumas coisas, mas nem tudo. O cinema ainda existe, o rádio ainda existe, a televisão ainda existe, os jornais impressos ainda existem, assim como também as revistas. Em tese, tudo isso seria suplantado pela internet. Pode até ser que isso ainda ocorra, mas não será tão breve. Até mesmo a internet poderá ser suplantada por outra tecnologia que ainda não nos é acessível. No entanto, ela sempre provocou mudança nos costumes.

      Até bem pouco tempo atrás a imprensa tradicional e seus veículos ditavam a ordem. Era uma comunicação unidirecional. Se não saiu no Jornal Nacional não é notícia! Em qualquer programa de televisão uma celebridade, mesmo que efêmera, vaticinava conceitos e juízos que eram seguidos, ditava-se a moda! Agora não é mais exatamente assim. Essa imprensa ainda pode muito, mas não pode tudo, há uma voz de retorno. Sempre há alguém para contestar e, em muitas delas, há a reverberação massiva, rápida e dura. Que pode até estar errada, mas faz um estrago...

      Como disse Humberto Eco “As redes sociais deram voz aos imbecis”. É verdade, mas também deram voz aos intelectuais que não tinham acesso às mídias tradicionais. Além do que, podemos conceituar imbecil como sendo aquele que discorda da gente. E mais, o imbecil em um assunto por ser o cara legal em outro. Ele pode ser meu adversário político, logo, imbecil, mas pode torcer para o mesmo time que eu, portanto, legal, correto!

      Humberto Eco também disse “A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia”. Aqui tocou em um ponto importante, a hierarquia. Quem determinava essa hierarquia? A academia que se reune para a escolha do prêmio Nobel? O presidente Americano? Russo? Chinês? A imprensa tradicional? Sim, todos esses, porém sem exclusividade, agora deve-se ouvir também o anônimo, ou nem tão anônimo assim, mas cuja opinião que possui enorme penetração na sociedade conectada, barulhenta, também formadora de opinião.

      A imprensa tradicional, além de sofrer com a concorrência dos conteúdos mais ágeis e numerosos das redes sociais, padece por ter que partilhar o mesmo “teatro de operações”. Migrou parte do seu efetivo para a rede e perdeu uma grande porção da autoridade que lhe restava, pois abriu mão da qualidade em troca dos "likes e views”. Hoje temos excesso de textos com erros crassos de português, de dados não verificados, de citações de fontes não confiáveis, e o pior, de desinformação. Ou seja, desceu a um terreno que não domina, onde não tem experiência, logo, perdeu a primazia da narrativa, e bem ao estilo da frase atribuída a Mark Twain “Nunca discutas com um idiota. Ele arrasta-te até ao nível dele, e depois vence-te em experiência”.

      Nem todo elemento da mídia tradicional é ruim, assim como apenas uma ínfima parte do que se encontra na internet tem boa qualidade, além do que, há bons jornalistas nos dois lados. A nós, simples consumidores de informação, nos compete apenas avaliar cuidadosamente a fonte e depois o seu conteúdo, já que imbecis e idiotas, todos somos. 

      Citações do Humberto Eco extraídos do link: https://www.huffpostbrasil.com/2016/02/20/as-redes-sociais-deram-voz-aos-imbecis-veja-as-17-frases-mais_a_21683863/

As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

“A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar”.