domingo, 29 de agosto de 2010

Você acredita no que você diz?

      Eu gostaria de perguntar aos políticos se eles acreditam no que eles dizem. Sei que eles responderão sim, e eu acreditarei. Acreditarei porque sei que eles mentem tanto que devem acabar acreditando na própria mentira.

      Há oito anos os então candidatos em campanha Lula e Mercadante estiveram na empresa em que trabalho. Mantive-me distante como o faço com todas as celebridades que por lá aparecem, mas algo diferente ocorreu. Fui ao banheiro e lá encontrei um amigo que também trabalha lá e que frequentemente jogamos tênis juntos. Começamos a falar sobre política e eu comentava sobre o tempo que o PSDB estava no poder em São Paulo. Nesse momento entrou o Mercadante e teceu comentários a respeito do absurdo do continuísmo e a falta da alternância no poder.

      Ele é primo de um amigo que estudou comigo na Federal e eu o tinha em alta conta, pois acredito mais nas pessoas do que nos partidos. Com sinceridade eu disse a ele: Senador, eu ainda não sei se votarei no Lula, mas o senhor tem o meu voto. Ele me agradeceu e pediu para que eu votasse também no Lula, pois eles tinham um projeto diferenciado de desenvolvimento. Eu complementei: como o senhor terá muitos votos espero que o senhor exerça a sua liderança e não permita que roubem o nosso dinheiro. Ele disse que eu poderia ficar tranqüilo, pois PT se pautava pela ética na política

      Não votei no Lula, mas votei no Mercadante e me decepcionei com os dois, com o PT, e com o conceito que eles têm de ética. No episódio do mensalão decepcionei-me também com o Palocci, cujo trabalho eu estava aprovando, mas que foi apeado do cargo por conta da quebra ilegal de sigilo bancário do caseiro Francenildo, decepcionei-me com Suplicy, que havia tido o meu voto quatro anos antes, que não se omitiu, mas também não foi veemente na defesa da moralidade. Por sua força dentro do partido não foi expulso quando o PT fechou questão na votação e ele apenas se absteve, e decepcionei-me muito mais com o Mercadante, que não teve o cacife do Suplicy, ameaçou renunciar ao partido como o fez a Marina Silva, mas voltou atrás, votando pela defesa dos envolvidos.

      O Suplicy, o Palocci e o Lula não são candidatos, mas fazem campanha e pedem apoio para o Mercadante que quer ser governador de São Paulo; e diariamente me deparo com eles nas propagandas e nos programas eleitorais pedindo votos. Sei que o meu voto não fará nenhuma diferença na vida deles, mas fará na minha, dessa vez não serão eles que irão me enganar, e eu gostaria de encontrá-lo novamente, e nem precisa ser no banheiro, apenas para perguntar-lhe: o senhor acredita no que o senhor diz?

      E por falar nisso, como está difícil escolher dois senadores por São Paulo!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

WebTV

      Vi em minha tortura predileta uma candidata a deputada por um desses partidos que se arvoram ser de extrema esquerda, que esbravejava contra a invasão da polícia militar na reitoria da USP, ocorrida durante a greve de parte dos estudantes no ano passado, e comparava o tal “ato fascista” aos mais negros períodos da ditadura militar. Ela deve ter os seus 20 e poucos, mas poucos mesmo, anos e queria demonstrar sua autoridade no conhecimento do ocorreu nos idos anos 70.

      O tal partido político é um dos ativos participante do Fórum de São Paulo, criado pelo PT, e que recentemente se reuniu na Argentina e cujo expoente foi o presidente deposto e fugitivo da potência econômica, social e militar: Honduras. O modelo de desenvolvimento pregado é cubano, o de liberdade é o da Coréia do Norte e o exemplo de democracia é a Bolívia, onde falar mal do governo dá cadeia e se for algum canal de comunicação será fechado, aliás, com tão boas companhias deve-se adicionar o justíssimo Irã, onde se apedreja as viúvas que buscam um novo relacionamento. Por outro lado, é necessário lembrá-la que o partido do qual ela é representante só existe porque vivemos em uma democracia, sim, defeituosa, incipiente e hilariante em certos aspectos, mas democracia. Bem ou mal, muitas vezes mais mal do que bem, as instituições funcionam, o governo quase governa, os legisladores às vezes legislam, se muito que em causa própria, o judiciário às vezes faz justiça, e o conjunto inferniza a vida dos cidadãos, mas podemos dizer qualquer idiotice que quisermos, ela inclusive, e temos mobilidade, incluindo a social, a imprensa é livre e a internet não tem barreiras, a não ser as das limitações técnicas.

      Diz o ditado que todos são revolucionários aos dezessete e conservadores aos setenta, e sob essa ótica ela está correta, deve sim buscar a reinvenção do sistema, mas bem que eles poderiam ser mais atuais. Depois da derrocada da União Soviética em 1989 e da quase abertura comercial da China, que passou da condição de miserável coadjuvante a player da economia mundial, não dá mais para dizer que o futuro é o comunismo ou o socialismo, pois ele é a antítese disso, tais sistemas são apenas o passado.

      Longe de mim defender o capitalismo, mas na falta de outro melhor, o que deve ser feito é aprimorá-lo e isso é ser revolucionário nos dias atuais. Já critiquei os malefícios que a internet trouxe para nossas vidas, entre eles a necessidade constante de se manter conectado e acabando com o sossego, no entanto, é através dela que tomamos conhecimento dos fatos que ocorrem em qualquer parte do mundo, e em situações extremas, até mesmo nos mais fechados regimes há sempre alguém que consegue uma conexão e se comunica com o exterior. Foi através da internet que surgiu a denúncia da desastrada invasão de um navio de ativistas pelas forças militares de Israel. Esses são exemplos de atuação contra as forças de opressão, mas há aquelas que reinventam o capitalismo. Quando temos acesso a livros, textos, estudos, vídeos e músicas via web estamos praticando um novo modelo econômico, pois no modelo de alguns anos atrás, teríamos que pagar os royalties sobre tudo, e essa barreira está sendo quebrada, ou seja, é o capitalismo contra si próprio. Os do velho modelo não querem as mudanças, mas os criadores das novas ferramentas estão querendo sepultar as práticas anteriores.

      Ainda hoje li um novo artigo sobre a Google TV. Não é a primeira vez que entro em contato com o tema, mas agora ele está se tornando mais claro e as informações estão se avolumando. A rede como está desenhada deverá estar saturada em pouco tempo e os tempos de acesso não satisfarão aos usuários, e a Google, com toda a sua expertise e poder econômico deseja criar uma nova rede com acesso pago, mas que operaria com altíssimas taxas de transferência de dados, aquilo que o marketing denominou de velocidade da rede. Agora eles tentam convencer os produtores de conteúdo como os grandes estúdios de cinema e as grandes redes de TV a aderirem ao projeto. Todos estão ainda assustados com o potencial de criação e destruição do projeto. Se por um lado essa implementação permitirá que os conteúdos sejam acessados sob demanda em tempo real, sem cortes e em alta definição, por outro gera a dúvida: quem vai ganhar dinheiro com isso? Porque depois que o conteúdo chegou à rede, a distribuição passa a ser gratuita, mesmo que por hora seja considerada pirata, mas quem nunca fez um download não autorizado? A Google pode fazer dinheiro cobrando pelo acesso, mas e os produtores? Como esses terão suas remunerações e poderão continuar operando? O que ocorrerá com o próprio negócio televisão ou cinema se o usuário não dependerá do meio atual de distribuição? Ele será o dono do seu tempo e do seu conteúdo e o melhor, no sofá da sua sala e na distância de um clique!

      Esse é mais e um exemplo da tecnologia aplicada que subverte o sistema dominante, ou seja, é revolucionário. Não é possível ainda dizer o quê e como vai ocorrer, mas com certeza esse é o futuro.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sou masoquista.

      Definitivamente admito: tenho tendência a ser masoquista. Trato bem quem me trata mal, sempre gosto de quem não liga para mim e, principalmente, assisto ao horário eleitoral na televisão e o ouço no rádio do carro. O pior é que não aprendo. Esse é um filme que já sei o final, conheço as personagens, já decorei os argumentos, mas continuo repetindo esse comportamento a cada dois anos.

      Saúde, educação e segurança fazem parte das plataformas sinceras ou não de todos os candidatos porque ninguém é tonto de ser contra, mas e as propostas? Ninguém fala seriamente em investir em saneamento básico que reduz a mortalidade infantil, a internação hospitalar, e que produzirá economia no futuro, pois implantar tubulações, para eles é, literalmente, enterrar dinheiro, pois não dá visibilidade e os resultados serão dos adversários que virão depois. Preferem fazer pontes e viadutos nominando-os com os nomes de parentes e sem falar do malfadado trem bala. Quer ilusão maior que essa? Resultado zero, marketing, 10! Dados divulgados hoje apontam que 20% da população não têm água potável em casa e, pasmem: 50% não têm rede de coleta de esgoto. Repetindo: metade da população não tem esgoto coletado. Esgoto tratado então é uma miséria! E vem dizer que trem bala é solução?

      Morro de raiva quando ouço que o papel do deputado ou senador é lutar para trazer verbas para a sua região. Que pensamento pobre. Eles devem criar uma regra para que os recursos sejam divididos com algum critério aceitável e que os repasses sejam automáticos, estando o valor empenhado, cabe ao poder executivo proceder como quando se tem um carnê na mão, no dia do vencimento, paga-se. Simples assim. A não ser alimentar a corrupção não existe motivo plausível para que o dinheiro fique parado na burocracia que se alimenta da máxima: criar dificuldades para vender facilidades.

      Desde a Grécia antiga a nobreza dos legisladores está na ação de criar leis para que a sociedade se organize e a população se defenda do estado. Aqui somos reféns do estado e recebemos as migalhas que eles nos dão como se nos fizessem favores. Oras, por que os nossos nobres legisladores não se preocupam em limpar o código do processo civil tornando mais simples a vida do cidadão e dos empreendedores? Por que não reformulam o código penal para que os criminosos perigosos sejam mantidos presos e a população seja livre novamente? Por que não atualizam a CLT para adaptá-la às atividades e tecnologias atuais? Por que não reescrevem a lei eleitoral exigindo compromissos e metas dos executivos e punindo os ineptos e corruptos?

      Só tenho uma fonte de renda sobre a qual são recolhidos 27,5% de imposto descontado na fonte, e somando todos os demais impostos embutidos naquilo que consumo, trabalho 6 meses para o governo, e com a outra metade do salário mantenho a minha família e pago novamente por aquilo que eu deveria receber de graça: saúde, educação e segurança, pois o que o estado oferece é uma lástima, e para piorar, já estou começando a acreditar que eu mereço, logo, sou masoquista.

domingo, 15 de agosto de 2010

Pílulas

      Minha esposa decidiu comprar parte do almoço e fui com ela até um restaurante. Enquanto ela fazia as compras eu estacionava o carro, e nesse momento vi uma família saindo do restaurante e um senhor que tomava café em um copo plástico enquanto andava. Fiquei imaginando o que ele faria com o copo. Não errei! Cinquenta metros à frente ao entrar em seu carro ele jogou o copo no meio fio. Tomava todo o vidro traseiro de seu carro um adesivo de um candidato, que não sei se era o próprio e cujo nome não consegui identificar, mas vi o número: 1234. Esse com certeza não teria o meu voto e agora menos ainda. No mesmo instante uma senhora fumava na calçada em frente ao restaurante e ao terminar não teve dúvida: jogou o cigarro no chão e pisou em cima. Essa tem o meu voto: está eleita a porca do dia.

      Quatro dias após ter percorrido o Caminho da Fé fui a Araraquara assistir a uma palestra do grande Amyr Klink. É evidente que não posso me comparar a ele, mas quando ele falou do planejamento, preparação, perseverança e o sabor de ter conseguido, eu sabia exatamente o quê ele queria dizer, pois eu ainda saboreava aquela vitória. O que posso dizer dele? Achei-o autoritário, arrogante e egoísta e não deve ter sido sem motivos que uma de suas tripulações quis matá-lo a facadas, mas ele é muito bom no que faz, isso pra não dizer que excelente é pouco. O engraçado é que tive essa mesma impressão hoje ao ler as páginas amarelas da Veja que trás a entrevista com o Galvão Bueno, afinal não deve ser nada mal ganhar R$ 1.000.000,00 por mês para narrar apenas as corridas de fórmula 1 e os jogos da seleção.

      A esperteza matreira do nosso presidente só funciona mesmo com os pouco instruídos que lhe dão apoio incondicional. Novamente o Itamaraty, que sempre foi visto como um celeiro de bons quadros e intelectuais, fez papel de idiota perante a comunidade internacional e parece que não aprendem. Foram novamente enganados pela teocracia iraniana no caso da condenada à morte Sakineh Ashtiani e que agora, novamente solicita a intermediação do Brasil no caso das inspeções às instalações nucleares. E falando da pobre moça, por mais que seja vítima e que mereça a comoção internacional, porque a nossa sociedade não age com a mesma indignação com relação aos milhões de miseráveis e desamparados brasileiros?

      As verdades, assim como as certezas, são efêmeras. Essa é uma das lições que aprendi e imputo todo o seu peso à idade. O novo é que move o mundo, mas o novo também envelhece e é descartado para que outro mais novo predomine. Sempre vejo vantagem naquilo que é novo: é mais bonito, completo, eficiente, ágil, refinado, enfim, sempre supera o antigo, mas se aquele é melhor, esse é imbatível na sabedoria. Mesmo para aqueles cujo limite do conhecimento foi, por alguma razão, limitado, a sabedoria compensa. Há os que lutam ingloriamente contra o envelhecimento e se tornam azedos, mas aqueles que o aceitam até se divertem. E se divertem principalmente quando assistem a muitas situações com aquela sensação de De J’ai vu.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Entrei pelo cano II

Tenho formação cristã, minha família é católica, tenho as minhas crenças e muitas dúvidas sobre as religiões, e uma delas é: ainda não estou convencido que exista vida após a morte, seja de qualquer maneira, com ressurreição, com reencarnação ou algo mais que eu não saiba descrever, no entanto acredito na vida eterna. Talvez eternizada fosse o termo mais adequado, pois as transmissões genéticas e morais constroem as gerações seguintes, que aliada à tecnologia criada a partir do conhecimento acumulado, não deverá permitir a extinção da espécie humana. Para que a vida possa prosseguir devemos tomar atitudes para melhorar o nosso ambiente, e foi assim que despertei para o caso do gesso da publicação anterior.

Para concluir essa estória quero acrescentar três informações:

1 – Como resolvi o caso do gesso retirado de minha casa?
Esse problema não foi totalmente resolvido, foi apenas adiado, pois o pedreiro que está trabalhando em casa “troca” serviços com outra pessoa que instala gesso em construções e tem uma montanha desse material em casa esperando oportunidade para o descarte apropriado. Essa montanha foi acrescida de mais um quarto de metro cúbico de gesso retirado da minha casa.

2 – Qual será o material do forro do banheiro?
O novo forro será de PVC, que cumpre bem a função e é reciclável.

3 – O que foi feito para modificar essa situação?
Além de escrever no blog para os meus amigos que perdem o seu tempo lendo o que escrevo, conversei com outro amigo que nem sabe do meu blog, mas que tem um poder relativo. Ele é o Chefe de Reportagem da emissora de TV local, e eles produziram uma matéria que tomou quase a totalidade de um bloco do jornal, foram 10 minutos do assunto para um público próximo de 2.000.000 de telespectadores distribuídos por 42 municípios. Houve entrevistas com aplicador de gesso, empresário de caçambas, moradores, secretário municipal de São Carlos e ambientalista de Araraquara, sendo essas duas últimas ao vivo.

Resolver a questão não é tão fácil, mas espero que pelo menos algumas pessoas tenham suas consciências despertadas para o problema e que as autoridades saibam que existem pessoas que cobram atitude.

domingo, 8 de agosto de 2010

Entrei pelo cano.

      Moro em apartamento faz muito tempo e no atual já se passaram mais de 12 anos. Um grupo de pessoas se juntou para construir suas próprias moradias e por esse motivo os serviços foram feitos lentamente por umas quatro diferentes construtoras. Eu o comprei antes de ter sido instalado o acabamento, portanto sou o primeiro morador de um apartamento razoavelmente grande, confortável, bonito e bem localizado, mas três, entre os 20 apartamentos do prédio, o meu e os dois abaixo, tiveram uma péssima qualidade na execução dos serviços de hidráulica, assim faz mais de uma década que luto contra vazamentos.

      Por várias vezes já foram quebradas as paredes da cozinha, da área de serviço, do banheiro de serviço e do banheiro do meu quarto, isso sem falar das infiltrações que ocorreram em três janelas e também na junção de duas paredes. O último quebra-quebra se deu há umas duas semanas para consertar o que já havia sido consertado. Não deixei taparem o buraco, ele está lá, parecendo uma janela entre a parede da cozinha e a área de serviços e somente será reparado quando eu tiver certeza que as paredes secaram e que não há um novo vazamento no mesmo lugar, essa também foi a estratégia que usei no banheiro do meu quarto. Após o último vazamento mandei quebrar todas as paredes, substituir todo o encanamento, deixei os buracos abertos e demos um jeito de utilizá-lo mesmo com as paredes arrebentadas.

      Fazia parte do acordo, antes que se transformasse em divórcio, que minha esposa gerenciasse a reforma, mas como isso não se concretizou decidir resolver a questão. Contratei a mão de obra, compramos o material, pois não sou louco de comprar e ficar ouvindo que a louça não combina com a pia, que as pastilhas não são compatíveis com o piso e coisas semelhantes. Todo mundo sabe que as reformas sempre são um transtorno e que tudo é muito caro, mas isso não é o pior. O problema é: o que vou fazer com o entulho? É simples, diria a maioria das pessoas, contrate uma caçamba. Fiz isso, pois amanhã os serviços serão inciados, mas tive uma péssima notícia: não se pode depositar gesso na caçamba, e o forro que será retirado é de gesso.

      Em termos de restos de construção trata-se de uma quantia irrisória, são apenas 0,24 metros cúbicos de gesso, mas o que vou fazer com isso? O próprio locador da caçamba sugere: - faça como todo mundo, reduza-o a pequenos pedaços, misture-os ao entulho comum e deposite na caçamba, se a fiscalização não pegar, resolvido, caso contrário terei que pagar cerca de R$ 500,00 para que seja levado a Guatapará, onde há um local para descarte desse material. Em tempo, o aluguel da caçamba por uma semana custa R$ 70,00.

      Imagino que a tal proibição ocorra em função da poluição ambiental que esse tipo de material possa causar, portanto não me sinto confortável para seguir as instruções, mas também não posso ficar com um quarto de metro cúbico de gesso guardado em casa sem ter espaço para isso. Vejo aqui duas possíveis soluções que poderiam ser implantadas, já que esse não deve ser um problema apenas meu. Ou o município cria um espaço para armazenamento e posterior transporte para um local apropriado, ou os próprios empresários das caçambas o fazem, evidentemente, em ambos os casos, cobrando dos interessados de maneira proporcional ao volume do material.

      Conversando com outras pessoas sobre isso me deram duas soluções igualmente porcas: triturar o material e misturá-lo aos poucos ao lixo orgânico, ou jogá-lo no ralo mantendo a torneira aberta. Ora, nos dois casos estarei gerando poluição, o que não desejo, mas penso que muita gente deva fazer isso.

      Como dói a minha consciência, pensei em fazer uma proposta ao dono da caçamba, tudo bem, eu pago os R$ 500,00 para que isso seja levado ao local correto, deixe uma segunda caçamba em casa apenas para o gesso. Mas quem me garante que ele não irá pegar o meu dinheiro, misturar o gesso aos outros entulhos que ele retira na cidade, e jogará isso tudo no aterro local que proíbe essa prática?

      Com certeza o novo forro do banheiro não será de gesso, e ainda não sei o que fazer com o velho, mas sei que esse é um problema típico do subdesenvolvimento. Há pouca conscientização do problema, não há solução pública ou privada, mas há uma lei que proíbe sem que exista a contrapartida da solução.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Eu e a vírgula.

      Aulas de tênis e de inglês já tive muitas. Por inúmeras vezes comecei a ter aulas, as quais frequentei por um período e depois parei. Como estabeleci um objetivo a ser cumprido com a bicicleta não estou treinando ou jogando tênis, apenas pedalando. Com relação ao inglês há muito tempo não tenho aula, apenas procuro conversar com alguma frequência, pois sei que não sou aplicado o bastante para fazer lições, estudar, simular e submeter-me às correções e testes. Esse deve ser um dos motivos pelos quais não sou um bom jogador, mas que em períodos regulares consigo trocar algumas bolas, digamos, socialmente, e também me comunico com alguma desenvoltura em inglês, porém sem qualidade. Mas como dizem que o que se aprende não se esquece me lembro de uma frase que ouvi há muito tempo atrás de uma professora – a língua inglesa tem mais exceções do que regras. Não sei se é verdade, mas sei que não sou também muito afeito à gramática, seja na língua inglesa ou na portuguesa.

      Eu tinha certeza que eu conhecia apenas uma regra de português: toda proparoxítona é acentuada, até que há pouco tempo um colega me lembrou que eu sei mais uma: antes de p e b se usa a letra m e não n. É verdade, eu nem sabia que eu sabia. Não conheço as componentes das orações, não sei quais são as funções das palavras nas frases, por favor, não me peçam para fazer a análise sintática, não me lembro dos tempos verbais e muito menos sei conjugá-los, ou seja, sou um ignorante gramaticalmente. Não que eu tenha orgulho disso, mas, como no inglês, não pretendo estudar.

      No entanto, analisando os meus textos vejo que apesar de não ter um estilo definido, fazer algumas construções confusas, por ter freqüentado cursos de ciências exatas, de trabalhar com engenharia e de reconhecer que não tenho dom para ser autor, até que não escrevo tão mal, pois já vi coisas muito piores. Dos meus pares então, nem me falem, ô categoria ruim de escrita!

      Quando estou escrevendo até me divirto construindo as frases, mudo a ordem, o tempo, o sujeito, enfim, evito repetições de palavras, tenho tentado reduzir o uso do que, do mas, porém e etc, o que não é fácil, principalmente porque sempre coloco uma frase dentro de outra, e até imagino que se eu fosse escrever um livro a personagem principal iria contar uma estória dentro da estória, ou seja, assim como são as minhas orações. Mas se tem um símbolo com o qual eu não me entendo e que me aterroriza é a vírgula.

      Às vezes eu penso que distribuo as vírgulas na oração como quem salpica orégano sobre a pizza, onde cair caiu! Em outras tenho a impressão que tem vírgula demais, porém se as retiro e tento ler a frase me dá falta de ar, pois não tenho intervalo para respirar, é como se eu estive tentando conversar imerso em uma piscina. Ainda não consegui encontrar o equilíbrio, mas tomei uma decisão que é muito comum em minha vida: eu sigo as regras quando elas existem e eu as conheço. Se não há regras, e se eu puder, quero construí-las junto com quem pode, mas se não tem regra e ninguém irá fazê-las, faço eu! Assim, hoje coloco as vírgulas onde eu desejo que aquele que lê faça uma pausa. Por favor, me avisem se funciona.

domingo, 1 de agosto de 2010

A Arte da Guerra

      Sempre começo a trabalhar cedo, ainda de madrugada e mesmo antes de tomar banho para trabalhar ou para pedalar já leio os relatórios do meu departamento, que na primeira página traz a “frase do dia”, e a de hoje é: “Lutar e vencer todas as batalhas não é a glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem ter que lutar” que é atribuída a Sun Tzu e que foi extraída do livro A Arte da Guerra. Já ouvi falar do livro, me recomendaram a leitura e não conheço o autor. Mas senhor Tzu, será que a maior glória não consiste em simplesmente não ter inimigo? Não seria mais glorioso não ser preciso enfrentar alguém?

      Já me envolvi em diversos conflitos durante a minha vida e não me orgulho disso. Às vezes parece que a situação nos obriga e, com ou sem razão, com ou sem justiça, porém, mais por orgulho, somos impelidos ao confronto que depois de iniciado fica difícil abandonar. Na verdade o conflito deveria se resumir apenas ao debate de ideias e não se transformar em disputas pessoais, que às vezes toma essa dimensão por causa de ofensas, basta uma fagulha para a situação desandar.

      Para mim que preciso de desafios para me manter motivado, essas situações me deixam mais alerta e me trazem algum ensinamento, e nem sei se posso dizer que esse é um lado bom, mas de uma coisa eu tenho certeza, mesmo com aqueles com os quais eu briguei, sempre aprendi alguma coisa. Às vezes nem teve conflito, não teve um motivo específico, e nem foi pela minha vontade, mas não costumo ter um relacionamento de sucesso com pessoas do signo de peixes, e repito: não acredito em previsões astrológicas. Principalmente depois que percebi isso e por mais que eu me esforce para não deixar que se torne um estigma, não costumo ter sucesso, simplesmente não dá liga! Ainda não aprendi essa lição.

      Isso não me agrada, porque todos os meus relacionamentos tiveram a sua importância e às vezes deixei de me relacionar com pessoas que podiam me ensinar muito, e como eu sou um preguiçoso, gosto de aprender mas não gosto de estudar, sempre saio perdendo. Aliás, perco sempre quando deixo de ter um amigo mesmo quando ele não se transforma em inimigo. Talvez vocês possam me entender, mas o senhor Tzu não, pois ele viveu entre 544 e 496 AC.