segunda-feira, 31 de maio de 2010

Missão cumprida.

      A partir de hoje as cidades de São Carlos e Araraquara passaram a contar com a transmissão digital de televisão. No fórum oficial do sistema brasileiro de televisão constam apenas 29 cidades onde já existe esse serviço, e estamos falando de um universo de mais de 5.500 municípios do país.


      Vimos trabalhando na infra-estrutura a um bom tempo, mas efetivamente esse projeto foi iniciado no apagar das luzes do ano passado, assim, em cerca de seis meses o concebemos, negociamos, recebemos os equipamentos, os instalamos e fizemos com que funcionasse. Hoje foi um dia de celebração e de vermos o resultado no ar: tecnicamente perfeito.

      Foi mais uma realização em minha carreira de engenheiro, mas é também um momento de reflexão. Hoje fiquei contente, mas a alguns dias fiquei feliz. Fiquei feliz porque ao chegar de viagem, ainda no pátio, várias  pessoas da equipe vieram falar comigo sobre o trabalho, e senti na voz e nos olhos deles a motivação e a vontade de vencer os desafios. Naquele momento reconheci tudo aquilo que já havia lido em livros sobre administração: esse é o meu papel. Além de ser um facilitador de recursos e de montar uma boa equipe, mantê-los motivados é o segredo.

      Apesar de possuir uma longa estória em televisão analógica, hoje estou aprendendo com eles o que é TV digital; eles conhecem isso muito mais do que eu, eles aprenderam, trabalharam muito e mereceram todos os muitos elogios e os parabéns que recebemos. Eles fizeram por merecer o reconhecimento, não apenas pelo resultado excelente, mas também pela qualidade da execução. Para os leigos só o produto final importa, mas para aqueles que são da área, entendem o que foi feito e conhecem as minúcias, aqui tiveram uma aula de qualidade. Essa equipe vale ouro!

      Todos da equipe trabalharam e também recebemos algumas ajudas pontuais de pessoas de fora. Cada um com a sua capacidade, cada um com a sua habilidade, cada um com a sua contribuição, e a soma se fez altamente positiva. Todos foram importantes e escreveram com méritos seus nomes nessa estória bonita. Fica meio estranho citar nomes pois o mérito é de todos, mas tenho outra preocupação, também faz parte do meu trabalho formar alguns para que estejam prontos para assumir a minha posição, já que atualmente tenho mais passado que futuro. Com esse espírito, e apesar da indiscrição, há cinco pessoas que se mostraram diferenciadas nessa tarefa: nosso diretor Wilson Martins que não mediu esforços para aprovar o projeto e esteve conosco muitas vezes, mesmo aos sábados e domingos, e inclusive, também sem almoço! Ao Donizetti, Supervisor da Retransmissão, que já trabalhou nesse ano mais de 400 horas além da jornada regular. Ao Rodrigo, Engenheiro de Manutenção, o nosso Google, o que tudo sabe, e que realmente assumiu o trabalho com uma garra indescritível. O Fábio, Técnico de Retransmissão, que em Araraquara sempre tinha, a meu ver, as melhores respostas. E a Andresa, que realizou os nossos processos de importação e que, apesar do vulcão na Islândia, colocou todos os equipamentos em nossas mãos a tempo de serem instalados. É evidente que sou grato a todos e me orgulho de todas as tarefas realizadas, mas entre todos os que vão para a guerra há sempre aqueles que colocam a faca entre os dentes e mostram para o que vieram.

      Eu sei que exagerei em alguns momentos nas críticas e nas cobranças, mas faço isso porque eu posso. Posso porque estou com eles, se peço para refazer um trabalho é para que eles fiquem com raiva de mim que estou junto, mas quando alguém de fora vir o trabalho realizado, não façam críticas, mas lhes dêm o que tivemos hoje: um dia pleno.

      Parabéns meus amigos, vocês se superaram e me surpreenderam, e isso me trouxe uma dúvida: será que a empresa conseguirá nos pedir algo difícil?

domingo, 9 de maio de 2010

O dia das mães.

          Quem criou o dia das mães provavelmente o fez por razões comerciais, e por isso há aqueles que são contra e se manifestam utilizando a forma mais simples de negá-lo: todos os dias são das mães. Claro que está correto, mas me pergunto, que mal há em ter um dia em que se presta uma homenagem declarada? Qual é o problema em se dizer: parabéns mãe pelo seu dia? Será que é um problema fazer isso só porque muita gente está fazendo o mesmo e o comércio vendeu bastante? Não creio; e isso me parece secundário.


          Assim como ser pai, ser mãe é um compromisso de longo prazo, é para toda a vida. Se bem que há aqueles que não merecem o rótulo ou título de pai ou mãe, e se é para estender, há também aqueles que não merecem a designação de filho ou filha, caberia a esses o que diz a letra da música conhecida: melhor ser filho da outra.

          Apesar das mulheres demonstrarem publicamente maior afeto, e contrariando o senso comum, não vejo o amor de mãe por seus filhos como sendo maior do que o dos pais, estou aqui defendendo a causa própria, também não sinto que mães sejam mais fortes, ou mais dedicadas, pela simples razão de que não é possível medir a intensidade dos sentimentos, no entanto, mesmo sendo cientificamente errado, me parece que se é mãe por mais tempo, porque sinto que a profissão de mãe se inicia na gestação enquanto que a de pai, somente após o parto, além disso, a longevidade das mulheres supera em muito a dos homens.

          Embora eu sempre tenha mais dúvidas do que certezas, uma me parece indiscutível, não se pode dizer que homens sejam mais inteligentes que as mulheres ou vice-versa, mas certamente as mulheres são mais sábias. Elas se cuidam melhor, convivem melhor, se envolvem menos em mortes violentas seja no trânsito ou em conflitos, se posicionam sempre de maneira mais equilibrada em debates públicos e quando a situação aperta, utilizam a emoção de maneira tão intensa que esse uso parece até ser racional. Por isso tudo o marketing feminino supera em muito o masculinho e com louvor.

          Presto aqui a minha homenagem a todas as mães e também a aquelas que ainda o serão, porque mais do que um estado, ser mãe é um sentimento. Parabéns mamães.

domingo, 2 de maio de 2010

Sobre direitos e deveres

          Passei a infância e a adolescência num tempo em que tudo era proibido. Ninguém fazia nada sem antes perguntar se podia fazer. Hoje é diferente, tudo é permitido, se for proibido, alguém há de dizer, mas se essa proibição vai ou não ser respeitada é outra estória.


          Eu mudei, as cidades em que morei mudaram, nosso país e o mundo mudaram muito mais; então é natural que o comportamento também tenha mudado.

          Cresci no período da ditadura militar, mas na escola tínhamos aula de religião, educação moral e cívica, música, artes, contabilidade, desenho técnico, oficina, que eram oferecidas pela escola pública em aulas no período oposto ao da grade normal. Naquele tempo se dizia que o ensino na escola pública era melhor que o da escola privada, e quem não iria conseguir a aprovação, já no terceiro bimestre se transferia para a particular, pois, pagou, passou. No entanto, o chamado ensino de qualidade não era universal, não havia vagas para todos, e no grande número de escolas rurais a grade curricular era inferior. Porém a maior diferença que vejo entre aquele e o período atual é que em determinadas circunstâncias os professores batiam nos alunos e esses, depois, em casa, apanhavam dos próprios pais, hoje são os professores que apanham dos alunos quando também não são espancados pelos pais desses.

          Na adolescência, éramos proibidos de nos reunir e por isso algumas vezes fugimos da cavalaria. Aqueles a quem chamávamos de “alienados” podiam se juntar para tomar cerveja, assistir ao futebol ou praticar a subversiva arte da pesca. Para os “engajados”, o ponto de encontro mais seguro era a igreja, onde os clérigos seguidores da ala progressista como os da Teologia da Libertação abriam espaço e garantiam, com o peso da instituição, alguma segurança. Adotamos então o lema: É Proibido Proibir, e quando nos tornamos adultos fomos os responsáveis pelo liberalismo e pela proliferação dos estatutos. Hoje tem estatuto disso, estatuto daquilo, direito desses e daqueles, e nessa semana ouvi dizer que até os ratos têm direitos, pois não se pode utilizar veneno para combatê-los. Assisti também a uma entrevista de um célere presidiário e fugitivo contumaz, na qual ele disse que fugir é um direito do preso.

          É incrível como todos têm e clamam por seus direitos e são apoiados pela mídia, mas e na mão oposta? A quem cabe suprir todas as demandas? A nós mesmos, é claro, pois de uma ou de outra maneira somos nós que escolhemos nossos governantes e que por sua vez são nossos empregados, ainda que muitos deles não pensem assim. Mas se nós estabelecemos os direitos também somos os responsáveis por dizer qual é o dever de cada um, e devemos fazer isso através das leis. Ocorre que os direitos são assegurados aos indivíduos, e os deveres à vaga ideia de estado, como se o estado não fôssemos todos nós. Assim, o meu direito é sagrado, mas o dever é dos outros. Por esse raciocínio torto ninguém é responsável por nada, embora tenha todos os direitos possíveis.

          Não sou contra os direitos, ao contrário, apenas acho que a conta não fecha. Se há um direito há também um dever, e se existe uma demanda existe também um custo, e se hoje há uma distorção entre os direitos e deveres, a obrigação de corrigir é da minha geração que não soube construir o equilíbrio. Esse é, portanto, o nosso maior dever.