sábado, 30 de abril de 2011

Gentileza

      Há uma gravação antiga do tempo em que o Jorge Ben Jor só se chamava Jorge Ben, na qual ele diz que "ser simpático é tudo o que se precisa ser para a vida te ser mais simpática", e li nessa semana que simpatia é sinônimo de gentileza, e sobre isso tenho uma estória, simples, mas que merece o registro.

      Em pelo menos 200 dias no ano almoço na empresa onde trabalho. É um restaurante pequeno, com pouco mais de 20 lugares nos quais nos revezamos, mas que é organizado, limpo e bonito. As refeições são preparadas diariamente na cozinha ao lado por pessoas de uma empresa especializada nesse tipo de atendimento.

      É claro que gosto de comida boa e gostosa, mas não me considero um gourmet. Tenho minhas preferências, não gosto de comida seca, com cheiro de queimado, e não como fígado nem jiló, além do que, sempre brigando com a balança, procuro fazer, quando possível, apenas refeições mais leves, sacrificando, em muitas das vezes, o paladar, mas claro que há ocasiões em que não resisto e me empanturro de tanto comer.

      Via de regra considero a refeição que nos servem de ótima qualidade, tanto no que diz respeito à qualidade, variedade e sabor, e por isso, apesar de não manter nenhuma intimidade com as pessoas do restaurante, procuro ser educado e sempre os cumprimento, me despeço e agradeço, além do quê, em minha opinião, eles fazem mais do que o necessário, pois sempre estão inventando moda: é o dia disso, dia daquilo e daquilo outro, e eles preparando refeições especiais. Eu duvido que as pessoas que lá fazem as suas refeições têm em suas casas a mesma quantidade, qualidade e variedade. Podem sim ter outro tipo de tempero, mas apenas isso, e fico indignado, pois há sempre alguns que reclamam.

      Eu pedi algumas vezes e eles passaram a nos oferecer, ainda que sem muita frequência, arroz integral, que é o que utilizamos em casa, e na primeira vez que eles o prepararam ficou uma delícia. Eu nunca havia comido um tão gostoso, e quando coisas desse tipo acontecem costumo verbalmente elogiar, e nessa semana, por duas vezes, a variedade e o equilíbrio estavam tão bons que procurei pela Nutricionista responsável pelo serviço e manifestei a minha satisfação, e ela, num gesto de espontaneidade, disse-me: mande um e-mail. Assim o fiz.

      Ao voltar para a sala escrevi uma mensagem simples e objetiva, elogiando e agradecendo, e a enviei. Passou-se cerca de um minuto somente e tocou o telefone. Atendi, e era ela, no outro lado da linha chorando e agradecendo pelas palavras. Ora, os papéis haviam se invertido, pois quem deveria agradecer era eu por tudo o que, todos os dias, eles fazem por nós.

      Ficou claro para mim a força da gentileza.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Onde e o quê você estava fazendo nesse dia?

      Retornei domingo de uma viagem aos Estados Unidos onde trabalhei e também me diverti. No período livre fui a museus, shows e assisti a vídeos incríveis com projeção em 360° e também em 3 dimensões. Como os óculos necessários para a visualização em 3D são bizarros não guardei nenhuma foto para registrar o momento. É claro que também, como todos os brasileiros, fiz compras. Durante essas visitas e visualizações me veio à mente um tema: Onde e o que você estava fazendo nesse dia? O dia em questão se refere a momentos específicos da nossa vida. É claro que datas como nascimento, casamento, morte e assemelhados são marcantes, mas essas são individuais, ou, no máximo, comuns a poucos. E quero me referir às grandes datas. Àquelas que transformaram as nossas vidas, e tenho excelente recordação de duas especiais.

      Costumo fazer uma pergunta às pessoas com as quais tenho mais contato: qual é o feito mais extraordinário já produzido pelo homem? Normalmente as pessoas não estão preparadas para responder a essa questão e começam a chutar respostas que vão desde a invenção da roda, passando pelo elevador, vacinas, avião e coisas assim. Para mim, o máximo se deu no dia 20 de julho de 1969. Eu não tinha ainda completado 11 anos e estava em Fernandópolis, SP, na casa de minha tia, e fiquei acordado até tarde da noite para assistir às imagens instáveis e geradas em preto e branco da chegada do homem à Lua. Pela primeira vez toda ciência humana havia sido utilizada para levar 2 passageiros ao satélite do nosso planeta e poucos dias depois eles estavam de volta, vivos!

      No dia 9 de novembro de 1989 eu estava assistindo à TV quando o Fernando Carvalho, que trabalhava comigo veio até a sala onde eu estava para falar coisas de trabalho e eu perguntei: dá para esperar um pouco? Estou assistindo a construção da estória. Tratava-se de imagens ao vivo da queda do Muro de Berlim. A força do momento me impressionou, pois psicologicamente o muro já havia caído desde a Glasnost (transparência) e a Perestroika (reconstrução), movimentos do governo da antiga União Soviética liderada pelo então Premiê Mikhail Gorbachev. Cerca de 10 anos depois, o mesmo Fernando me visitou em São Carlos e me lembrou dessa passagem das nossas vidas.

      A coincidência nos dois casos foi tê-los assistidos através da televisão. Televisão que, aliás, é a minha profissão há 34 anos. E há ainda outra coincidência, a televisão foi inaugurada no Brasil do dia 18 de setembro de 1950, dia e mês em que eu nasceria 8 anos depois. Dessas datas também não me esqueço, mas não me lembro dos detalhes.

domingo, 3 de abril de 2011

Um Dia De Fúria.

      Não ando armado, não tenho 2m de altura e sim 1,73m, não peso 95kg, mas 71kg, e essas devem ser as razões pelas quais não gosto de discussões, barracos e coisas assim. Ainda que a minha sexta-feira tenha sido muito ocupada a cada segundo desde as 5:30h até às 19:30h, esse não foi um dia de aborrecimentos, além do que, dormi bem e bastante, logo não encontro justificativa para algumas das minhas atitudes no dia de ontem, a não ser que o governo deixou de perseguir o centro da meta de inflação, criou mais uma secretaria com status de ministério com 80 cargos nomeados e que custará 5 milhões por ano, além disso o nosso glorioso parlamentar por São Paulo e membro da comissão de Educação da Câmara que contratou 2 humoristas como assessores e que ganham 8 mil por mês sem trabalhar, e por ter exercido a nobre missão de visitar parentes no nordeste se hospedando em um resorte e apresentando a conta para que a Câmara pague. Após 52 anos eu deveria estar acostumado com a nossa pouca educação e a mesquinha cultura “do primeiro eu”, que com mediocridade faz com que as nossas cidades, com exceção de algumas ilhas urbanas, sejam feias, sujas e mal cuidadas.

      Ontem acordei cedo e com vontade de pedalar, mas aceitei o convite da minha esposa para caminharmos juntos, pois no circuito de 10km que fazemos de forma vigorosa e que cronometro e controlo os batimentos cardíacos, temos a oportunidade de colocar as conversas em dia em um ambiente e momento diferentes do nosso dia-a-dia. Comecei a ficar chateado com a sujeira e com as calçadas quebradas e intransitáveis. Passei a ficar com raiva pelo desrespeito que os motoristas têm pelos pedestres, por várias vezes, quando estávamos sobre a faixa para pedestres quase fomos atropelados pelos irresponsáveis. Voltando para casa, ao cruzar a avenida São Carlos na Praça Itália, isso ocorreu em um dos lados da rua, e no outro uma moto parou, um carro parou e um terceiro nem reduziu, o motorista, um jovem de uns 19 anos, no máximo, simplesmente jogou o carro em nossa direção. No reflexo meti o pé na porta do carro. Ele não parou e nós seguimos em frente e passei a ouvir um sermão da minha esposa.

      Esse local vocês conhecem, uma casa próxima do sindicato da Faber na qual se desenvolve a científica ocupação de astrologia, tarologia e outras charlatanices afins. Pois bem, um senhor começou a tirar um carro bom e novo daquela garagem e deixou parte do mesmo dentro da garagem, parte na rua, e fechando toda a calçada. Parei ao lado da porta do passageiro esperando que ele completasse a manobra. Ele disse: podem passar, indicando a traseira do veículo. Continuei parado e ele novamente nos “permitiu” a passagem. Eu disse, quero passar pela calçada, e ele determinou: então vai ter que esperar a minha esposa chegar, e sabe-se Deus onde ela estava. A minha vontade foi de passar por cima do carro, mas a minha esposa não deixou e começou novamente com o sermão. Fui grosso com ela.

      Chegamos à nossa casa, tomamos banho, e fomos ao shopping, pois eu precisava comprar algumas roupas, mas a loja que eu gostava fechou. Decidi não comprar nada e voltamos pra casa. Tomei outro banho e dormi por uns 40 minutos. Almoçamos e fomos, a pedido da minha esposa, à locadora de vídeo, e de lá eu iria deixá-la no supermercado. Chegando à XV de novembro para cruzá-la há duas possibilidades, ou ficar à esquerda para seguir em frente ou ficar à direita para entrar na XV, mas um motorista de táxi, vice dono da rua, pois os donos são os motoqueiros, resolveu que ele poderia passar pela direita por todos os otários que educadamente esperam a sua vez. Comprei a briga. De propósito larguei uns poucos mili-segundos após ele, pois no outro lado da rua ele teria três opções: bater no carro que estava estacionado em frente, virar para esquerda e bater no meu carro ou ficar atravessado no meio da XV, o que ele fez. Propositalmente reduzi a velocidade para deixá-lo exposto por um tempo mais longo. Permaneci na esquerda, pois na próxima esquina, onde tem um semáforo, eu iria entrar à esquerda, e ele, que continuaria em frente, passou-me pela direita me encarando com “cara de poucos amigos”. Deixei a minha esposa no supermercado e fui trabalhar das 13:30h até às 19:30h, numa tarde muito produtiva.

      Apesar de ter vivido isso não me reconheço nessas atitudes, pois não sou o dono da verdade e tampouco o redentor da humanidade, mas tenho certeza que todos aqueles que assistiram ao filme estrelado pelo Michael Douglas, Um Dia De Fúria, em algum momento deve ter pensado: às vezes dá mesmo vontade de fazer isso.

      Nega, me desculpe pelas atitudes infantis e por ter sido ríspido contigo.